Fanfic: Felicidade Clandestina - Clarice Lispector | Tema: Ler é ser feliz!!!
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos muito crespos, meio avermelhados. Enquanto eu e minha turma éramos magrelas, ela tinha o que todas nós gostaríamos de ter: um busto grande. Mais do que isso, ela tinha um pai dono de livraria, o que para uma pessoa que gosta ler (assim como eu) era um verdadeiro tesouro.
Quem dera poder folhear alguns livros emprestados pois não tinha condiçoes de comprá-los.
O pior de tudo mesmo é que ela era muito antipática e não deixava que nos aproximássemos. Além da antipatia, parecia carregar um pouco de maldade. Percebia isso no seu jeito de olhar! Ás vezes mascando balas e fazendo barulhos e ao mesmo tempo parada olhando para os demais.
Parecia estar sempre planejando algo. E por esse motivo não me aproximava dela.
Até que um dia o meu interesse foi maior que o medo. E numa breve conversa ela disse que tinha em casa o livro "As reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato. Um livro grosso e que eu não poderia comprá-lo; mas se ela me emprestasse , eu ficaria feliz.
Que felicidade!! Mesmo que emprestado!
Mas o que eu não sabia é que nessa esperança de felicidade que eu tinha, morava a oportunidade da alegria dela: a maldade daquele olhar!
Criei coragem e pedi: __ você me empresta?
__ sim, vá buscá-lo em casa amanhã após o almoço.
Mais uma vez senti o gosto da felicidade! Batia forte no meu peito e eu parecia flutuar. Não conseguia sentir outra coisa até o dia seguinte chegar.
No dia seguinte, sai correndo e fui até sua casa. Ela abriu a porta e não me mandou entrar. Apenas disse que havia emprestado para outra menina e que eu voltasse no outro dia. Admirada, fui saindo devagar.
Mas de repente, a felicidade bateu novamente no meu peito ao lembrar que amanhã eu poderia ir buscá-lo. E sai pulando e andando ... sentindo novamente que flutuava no ar.
O plano da filha do dono da livraria era muito diabólico.
Fui a casa dela de novo e como num filme, a cena se repetiu: não me mandou entrar, falou que havia emprestado o livro e que eu voltasse amanhã. Cabisbaixa e depois de andar um pouco, meu coração se fortalecia novamente só de imaginar a possibilidade de ler o livro "um dia".
Ela era feliz, com a tortura chinesa. E eu era feliz em cada oportunidade que ela me dava.
Quanto tempo durou isso ? Nem sei dizer. Comecei a cansar e achar que ela me escolhera para ser seu brinquedinho de fazer sofrer.
E assim foi. Continuei a ir em sua casa, receber um "não" , sair e me recuperar.
Sua mãe percebeu as idas e vindas e resolveu me ajudar.
Contei que todo dia era a mesma desculpa que sua filha me dava. Ficou indgnada e pensativa por alguns instantes, parece que percebeu o que acontecia ali. Exclamou para a sua filha:__ mas esse livro nunca saiu daqui !
Pior de tudo era a mãe descobrir a filha que tinha. Perceber a perversidade nela.
Ordenou que me emprestasse e falou :__ você pode ficar por quanto tempo quiser.
Senti que naquele instante a minha felicidade chegara. Fiquei estonteada e recebi o livro na mão. Apertei contra o meu peito, pois meu coração voltara a pular novamente. Dessa vez parecia que sairia pela boca.
Horas depois peguei o livro, abria-o por instantes e logo o fechava. Só para continuar sentindo "aquilo". Afinal a felicidade sempre ia ser clandestina para mim . Eu já pressentia isso.
Ás vezes, só o carregava de um cômodo para o outro, sem abri-lo , em puro êxtase.
Não era mais uma menina, era uma mulher com seu príncipe !!!
ClaudiaM
Autor(a): claudiam
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