Fanfic: Felicidade Clandestina | Tema: A menina que amava livros

A menina que amava livros 

Celina Cordeiro 

Rechonchuda, pequena, com pintinhas em todo o rosto e de cabelos revoltos e ruivacento assim era ela. E ainda com uma estrutura grande que recheava os dois bolsos da blusa com balas, entretanto nós todas com corpos franzinos. E que   qualquer criança apaixonada por histórias amaria de ter: Algum familiar dono de livraria. 

A livraria intacta, pois não muito desfrutava, e muito menos nós; até em datas comemorativas nem um livrinho se quer e sim cartão postal da loja do pai que ela concedia e ainda mais era de visão do arrecife, onde habitávamos e que registrava decoração natalina e melancolia com letras garrafadas. 

Menina cruel e cheia de pura maldade, fazendo barulho enquanto sugava balas. Detestar a nós era sua necessidade, que por sinal éramos jeitosinhas, esbeltas e de cabelos soltos ao vento. Que comigo praticava o mau, com minha vontade ler, nem percebia ao rebaixamento que ela me fazia aceitar e continuava a suplicar os livros que ela não lia pra me conceder. 

Eventualmente, avisou-me que tinha As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Para começar a desempenhar sobre mim uma crueldade planejada por um tempo. 

Meu Deus, era um livro volumoso para continuar com ele o dia inteiro ao anoitecer até ao amanhecer e entre tarefas e refeições. 

Falou-me que emprestaria e que no dia subsequente pra pegar em sua casa. Entusiasmada até dia amanhecer: eu nem ao menos conseguia respirar de tanta ansiedade 

 . 

No dia mais esperado fui correndo para sua casa, e que casa. E da porta fiquei esperando o livro e ela simplesmente olhando bem pra mim, falou-me que tinha emprestado o livro a outra menina e que se quisesse mesmo, iria no dia seguinte, não acreditei, mas aceitei de imediato, pois fui tomada por um sentimento de esperança. 

A filha do dono da livraria não bastasse isso, com sua crueldade sem tamanho, planejaria um ato de maldade. É no dia combinado eu estava lá de novo na frente de sua casa na expectativa de ter o livro em minhas mãos e ela novamente olhou dentro dos meus olhos impetuosa falou que o livro ainda não estava com ela e disse pra retornar no outro dia e eu sabia que iria se repetir a façanha. 

 E assim a saga continuaria por muitos longos dias , só restava a esperança de pegar aquele livro em minhas mãos , como queria aquele livro e que ela com desculpas esfarrapas me fazia ir todos dias em sua casa, e por quanto tempo não sabia. 

Um belo dia eu em frente a sua casa mais uma vez ouviria ela dizendo que o livro não estava em seu poder e que retornaria o dia seguinte pois com certeza poderia tê-lo em minhas mãos. Quando com uma voz suave e mansa apareceu sua mãe que nos indagou por qual motivo estaria aparecendo muitas vezes á sua casa e disse que o livro sempre esteve em sua casa e que a sua filha nunca que nem pegou no livro. 

E que essa senhora ficou perplexa não pelo fato de todos os dias está ali na frente de sua casa e sim da crueldade de sua filha e que olhava sem nada dizer: a maldade de um ser, que fazia com uma menina que ´só queria um livro. Então com mansidão falou que a filha iria emprestar o livro naquela mesma hora. E me olhou e disse: pode ficar com o livro até o tempo que precisar.  

A satisfação tamanha de melhor do quer dar o livro, era o fato de que eu pudesse ficar com ele o tempo que quisesse, e assim com o livro em mãos sair sem dizer nada, pois estava deslumbrada com aquilo tudo que estava acontecendo, nem percebi o momento que cheguei em casa. 

Na  minha casa com os livros em mãos não pude se quer  abrir o livro pois estava tão impactada de achar que era um sonho e só depois muito depois abrir aquele livro e imediatamente o fechei e vagando pela casa e de saber que algo maravilhoso estava tão perto e tão longe ao mesmo tempo, não pude explicar a tamanha sensação de saber que não era mais a menina sem o livro tão desejado e sim a menina que amava o livro só pelo fato de estar em seu poder. 

(CORDEIRO,Celina. A menina que amava os livros. In: Amenina que amava os livros. São Luis: 2019)