Fanfic: As dores e as alegrias de ser mãe | Tema: FELICIDADE CLANDESTINA
AS ALEGRIAS E AS DORES DE SER MÃE
A nossa vida não era das mais fáceis. Meu marido, Pedro, coitado, depois que teve que se aposentar por invalidez em consequência de três cirurgias na coluna nunca mais foi o mesmo. O que ele ganhava como torneiro mecânico ajudava em muito nas contas de casa. Afinal ele trabalhava em uma das melhores fabricas da nossa cidade.
Minha filha Patrícia, mesmo com todas as nossas dificuldades atuais era uma menina doce. Gostava muito de estudar, era interessada em tudo, ia sempre a fundo em seus variados estudos sobre tudo que se possa imaginar. Nem mesmo a sua deficiência deixou que ela se abatesse, muito pelo contrário. Isso servia de estímulo para ela. Dizia ela que ela estava, mesmo sem saber para quem, servindo de estímulo para alguém.
E assim foi durante os primeiros anos de estudo.
Combinamos que a cada bimestre só com notas azuis ela teria o direito de escolher um livro que quisesse como presente. Sem saber eu estava levando a minha filha para o melhor dos mundos.
Recordo-me de vê-la toda feliz a cada livro ganho e dela ficar horas e horas sentada em sua escrivaninha na companhia do seu novo companheiro, viravam melhores amigos.
Ela lia cada palavra, cada frase, cada capítulo com o sorriso no rosto.
Era o melhor dos relacionamentos. Cada um ali dando o melhor de si
Realmente era lindo de ver
Mas em determinado momento as coisas ficaram mais difíceis para nós.
Meu marido cada vez mais precisava de remédios para combater as dores que tinha em consequência de seu problema.
Já não sobrava mais algum para que pudéssemos dar o presente para Patrícia
E ela já não era mais a mesma.
Vivia triste pelos cantos, em silencio, talvez tentando criar alguma história para si mesma para fazer com que o tempo corresse mais rápido para que aquela nossa fase ruim passasse e pudéssemos voltar a dar os seus livros que ela tanto gostava.
E eu rezava para a minha Nossa Senhora Aparecida que nos ajudasse com aquela fase ruim também.
E parecia que a minha Santinha tinha me escutado.
Patrícia certo dia ao chegar da escola estava animada. Com um sorriso largo deixou a bolsa da escola na cama, lavou as mãos e sentou-se para o almoço.
Questionei então o motivo de tanta felicidade e ela entusiasmada disse-me que a sua colega Silvia emprestaria o livro que ela a muito tempo quisera ler e teria a grande oportunidade: “As Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato.
Meu coração parecia que sairia pela boca. Ver aquele sorriso não tinha preço.
Ela almoçou, conversou um pouco com o pai sobre o seu dia de estudos e foi para o quarto.
Pela fresta da porta pude vê-la deitada na cama com um sorriso que a muito tempo não via nela.
Meu coração estava em festa.
No dia seguinte ela acordou mais cedo do que de costume, estava preparando-se para a escola com um animo de quem ia para uma excursão pela primeira vez.
Arrumou-se e lá fomos nós a caminho da escola.
Fiz algumas perguntas durante o caminho, mas ela não me respondia quase nada.
A ansiedade fazia com que ela praticamente colocasse metade do corpo para fora do carro para ver se estava chegando na escola.
Antes dela desembarcar perguntei quem emprestaria o livro a ela e tive como resposta que ia ser sua colega de classe Silvia.
Coração de mãe não se engana. Fui para casa com um aperto no peito, como se algo ou alguém quisesse me dizer que algo de ruim estava pronto para acontecer.
Coração de mãe não se engana...
No horário de sempre estava lá eu esperando minha filha, ansiosa para saber se ela finalmente tinha o livro tão desejado em mãos.
Mas aquele sentimento ruim das horas anteriores havia materializado.
Patrícia entrou no carro, com o olhar abatido e me disse que a amiga tinha esquecido o tal livro, mas que pediu que ela fosse a tarde em sua casa para pegar.
A princípio eu quis imaginar que aquilo realmente tinha acontecido, afinal quem nunca esqueceu de algo?
Chegamos em casa e rapidamente Patrícia desceu do carro e lavou as mãos, deu um beijo no pai e sentou-se à mesa.
“Vamos logo, mãe. Tenho que ir lá pegar o livro” – disse-me ela muito ansiosa
Coloquei a mesa e ela logo comeu toda a comida
“Mastiga direito, menina, senão vai acabar passando mal”
“Vou passar mal se eu não conseguir esse livro hoje, mãe” – disse-me ela, já terminando sua refeição e pulando da cadeira rumo ao seu tão sonhado “tesouro”
Mas aquela tortura não acabaria ali
Não demorou muito e ela retornou, cabisbaixa, com uma voz triste dizia que a colega emprestou o livro para uma outra pessoa e pediu que ela voltasse no dia posterior.
E essa via sacra seguiu-se por dias e dias.
Por várias vezes eu dizia para ela parar com aquilo, mas ela dizia que aquele livro tinha virado obsessão para ela e que ela queria muito e faria de tudo, até mesmo montar acampamento na frente da casa da colega para conseguir o livro.
Nesse tempo vi meu marido por várias vezes cabisbaixo por não poder dar o livro tão desejado para nossa filha e acabar com aquele sofrimento todo, mas nada fazia nossa filha parar com o sonho de ter aquele livro.
Já tinha passado muito tempo, meses até, até que um dia Patrícia, em mais uma das suas idas a casa da colega voltou toda sorridente, abraçada com o seu grande sonho.
Entrou no quarto, jogou os seus sapatos para o alto e deitou na cama apaixonada pelo seu novo objeto de desejo, ali junta a ela, na cama.
E assim seguiram os próximos dias, meses...
Autor(a): anderson_lopes
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