Fanfic: Um Toque da Magia | Tema: Texto base de Clarice Lispector

Kate, era uma garota, que não tinha nada de especial, ou assim ela achava. Nada que chamasse atenção para si, não achava isso ruim, pelo contrário achava bom. Durante todas as mudanças que fez com sua mãe, sempre passava despercebida nas escolas novas. Não possuía nenhum tipo de aptidão, não participava de nenhum clube, sempre evitou se apagar a qualquer coisa ou a qualquer pessoa, isso significava sem amizades. O que particularmente não a incomodava, mesmo por não ter tempo de fazer laços com ninguém, se mudava a cada seis meses, era como se sua mãe estivesse fugindo de algo ou de alguém, suspeitava que era de alguém, provavelmente a figura mística do seu pai, não o conhecia nem sabia quem era, e sua mãe se recusava a lhe falar sobre ele. Era com a sua mãe que estava preocupada, na verdade, nos últimos meses, a vida parecia deixa-la. Tinha aparência cansada, cheia de marcas roxas em baixo dos olhos, causada pela falta do sono, conseguiu ouvi-la acordada no quarto ao lado. Na noite anterior sua mãe tinha lhe dito que voltariam a cidade natal onde ela tinha nascido e onde sua mãe tinha morado, disse que precisava voltar para casa, pois sua avó doente, não pensava ser assim, algo lhe dizia que estava certa ao achar que na verdade era sua mãe quem estava doente e não sua avó, mas estava feliz, muito pouco conheceu de sua avó, alguns telefonemas em toda a sua vida, e nunca de fato uma visita, sempre que tocava no assunto sua mãe dizia que nada de bom sairia de uma possível volta para casa, algo parecia ter mudado a opinião dela. E ali deitada na sua cama, olhando para o teto branco, não podia deixar de se perguntar o que era. Na manhã seguinte ao deixar o quarto encontra sua mãe empacotando algumas coisas, os preparativos para a mudança tinham começado.

—Quando voltar do colégio ajudo a empacotar tudo.

—Não precisa se preocupar. Empacote só o seu quarto o que quer dele. Na casa da sua avó tem móveis.    

—Então o que vamos fazer com tudo isso?

—Eu resolvo. Só pegue tudo pessoal que quiser do seu quarto.   ——Sem responde ela sai fechando a porta. As aulas tinham passado como sempre, sem que ela prestasse atenção, já do lado de fora da escola, olhava o gramado verde com os alunos sentados a aproveitando o fim de tarde agradável do sol. Sentiria falta daquilo, mas sempre sentia isso quando se mudava não era uma sensação estranha. Então porque estava se sentindo tão incomodada dessa vez por se mudar? Qual seria o motivo de se mudarem tão cedo de novo? Quebrando o padrão? Quando volta para casa, não encontra sua mãe em casa, mas acha a casa inteira empacotada, tantas mudanças devem ter dado uma certa pratica a sua mãe. Achando as caixas desmantadas perto da porta do seu quarto e o bilhete que dizia: ‘empacote’ da sua mãe. Retirando o pedaço de papel amarelo autocolante das caixas ela o amaça com a mão entrando no quarto com a companhia apenas das caixas desmontadas e começa a trabalhar. Não sabia dizer quanto tempo tinha se passado exatamente desde de que começara a empacotar tudo, em algum momento sua mãe tinha voltado e fazia barulho do lado de fora do seu quarto, não se preocupava com isso. Seu radio reologia lhe dizia que já passava das seis quando sua mãe abriu a porta com caixinhas de comida japonesa nas mãos e os hashi, evitando desembrulhar os talheres, assim como latas de refrigerantes, evitando os copos. Se sentando no seu puff rosa florido, sua mãe parecia bem mais esgotada do que pela manhã. Ambas comiam em silencio até que sua mãe, por fim criou coragem para dizer o que veio lhe dizer.

—Sinto muito por termos que ir embora de novo, mas acho que não vamos nos mudar mais.  

—Está tudo bem, já estou habituada.

—Tem outra coisa que quero lhe dizer. Quando voltarmos amanhã é provável que o seu pai a procure. Sei que nunca falamos dele, e não vou falar muito sobre ele, você é bem grandinha e pode decidir sobre ele sozinha e o conhecendo só não... ——Sua mãe faz uma pausa, mas não completa o raciocínio indo completamente em outra direção. ——Tente não se deslumbrar com ele.   

—Fomos em bora por causa dele?

—Indiretamente sim. Vai entender quando voltarmos. ——Sua mãe não fala mais sobre o assunto, mas considerava que tinha tirado bastante informação dela. Sua mãe nunca fora de falar muito. E assim como ela tinha vindo, ela se foi do seu quarto, lhe dizendo apenas para ir dormir o mais rápido possível, sairiam cedo no dia seguinte. Muitas horas de viagem.