Fanfics Brasil - Aquela do ônibus Encarnação voluntária

Fanfic: Encarnação voluntária | Tema: Sobrenatural, reflexão, indie


Capítulo: Aquela do ônibus

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Sempre tento observar todos ao meu redor, quando percebo, acabo assumindo seu ser, tomando suas vontades como minha, acho que é minha maneira de tentar compreender o ser humano em sua magnitude de parecer tudo e ao mesmo tempo nada, de compreender como somos podres e nos achamos perfeitos.


Peguei um ônibus para ir ao meu trabalho, como já era rotina, tento procurar minha próxima vítima, para tirar o tédio, e assim a vejo, típica mulher padrão, aquelas que parece que a vida se resolve só com um sorriso, que nunca deve saber como é se sentir rejeitada, ah, sua risada, solta e desenvergonhada, estava com um amiga mas, nem sequer reparei nela sinceramente, só a observei, como queria ser ela, sentir um gostinho de sua vida e num piscar, lá estava eu, encarnada.


Sentou-se logo após a catraca, seu cabelo com o vento acaba ficando todo bagunçado, como pode? Um cabelo tão liso e negro, basta prende-lo que não dará mais trabalho, não, isso acabaria com o seu maior charme, checa seu instagram, mais um seguidor, legal, um gato, deve estar acostumada a isso, hashtag no filter be yourself, com filtros combinados e mais um pouco de edição, pronto, perfeito, postou.


“Nossa, quantos likes, eca, olha quem curtiu minha foto, aquele Daniel muito chato aff, ainda comentou!! Que ótario!! Mas, vou responder né, não quero perder seguidores.”


A amiga desce em seu destino, a deixando sozinha, de repente, toda aquela confiança se esvai, como os raios de sol daquela manhã, se tornando nublado e escuro, okay, vou trabalhar com chuva.


Volto a mim mesma sem nem se quer perceber, me encaro no reflexo da janela, me pergunto como posso julgar tão fácil quem está ao meu redor, se estou tentando entende-las, como defender as atitudes de uma garota claramente fútil e hipócrita. Simples, às vezes uma poça de água é só uma poça, mas pode haver poças que são buracos, buracos tão profundos que nunca descobriremos seus segredos. Pessoas são assim, algumas, são só poças.


Quase chegando ao meu destino, o vi entrar, cabelos cacheados, bermuda, tênis e camiseta preta, estampado alguma coisa. Porém, só tive olhos pro seu rosto, aquele tipo de expressão, já a vi em algum lugar, senti nostalgia, tal nostalgia que fiquei ansiosa, receosa, inquieta, quero tentar encarna-lo mas, algo em mim me deixa em alerta, tais vícios, tão sedutores, que amedronto de não querer voltar a ser eu mesma, de querer tal estilo de vida pra mim. Dane-se, me encarno.


Ele não sente seu nariz, está de ressaca, se sentindo extremamente triste mas, agradecido, talvez esteja voltando de alguma saída com os amigos, amigos, talvez não esteja na melhor companhia que pensou que estaria, se sente tão só, com vontade de fumar um cigarro, não pode esperar, já o acendeu, o motorista grita algo que o faz apagar, isso foi coragem ou falta de educação? Ele não liga, então também não ligarei, recebe uma mensagem, o contato diz “mãe”, responderá só quando estiver sóbrio, se lembrar.


E ele também se vai, desce em seu ponto e sobe a rua, fico questionando como foi sua noite, quais são seus medos e de onde surgiu tal brutalidade com a vida, recebeu uma mensagem da mãe, indica que foi bem cuidado, talvez seja só um mimado? Um rebelde? Coração partido? Não...tem algo a mais, enfim, meu destino chegou, acho que devo deixar reflexões sem sentido para outra hora.


Baseado no conto ''encarnação involuntária" de Clarice Lispector.



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Autor(a): k_frinka

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