Fanfic: Felicidade Clandestina | Tema: Contos de Clarice Lispector
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, apareceu sua mãe.
Ela devia estar estranhando a aparição diária daquela moça na casa de seu filho. Eu fui pega de surpresa, mas reagi bem, a cumprimentei, nossa, como ela era bonita! Já sei de onde veio a beleza de Jacob. Houve uma apresentação silenciosa, nos olhávamos e me encantava. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para o filho e com enorme gentileza disse: Que surpresa boa, meu filho, você merece ser feliz... entre, minha querida, já ouvi muito falar de você e quis ver pessoalmente a menina que tanto ouço falar.
E o que mais me emocionava era a personalidade dessa mulher, a relação que ela tinha com o filho e a forma como fui respeitada. Na hora do almoço, ela nos espiava em silêncio. Não me senti invadida nem desconfortável em nenhum momento, apenas... grata por tudo aquilo. Foi então que disse calma para o filho: você vai cuidar de Clarice, não a faça sofrear, mostre para ela tudo de mais incrível que você tem, e você, doce menina, permaneça e fique com esses livros por quanto tempo quiser.
Entendem? Aquelas palavras eram tudo para mim, mais que uma autorização e uma benção, e ela entendeu meu gosto pela literatura, muito foi conversado entre os dois. Era mais do que me dar os livros: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. Como contar o que aconteceu depois? Eu estava estonteada, e assim recebi todo o amor dos dois. Acho que eu não disse nada. Só os admirava. Não, não saí de lá naquele dia pensativa, como sempre, sobre um assunto já enterrado. Saí andando bem devagar.
Segurava um livro grosso com as duas mãos que ela me deu de presente, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer bolo de chocolate, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes.
Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me em frente a varanda, e pensava sobre tudo que acontecera naquele dia e nos últimos meses. Eu já não era mais só uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
Autor(a): viviana.costa
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