Fanfic: The Secret | Tema: Romance

QUARTA-FEIRA, 30 DE OUTUBRO DE 2019

Desisti de dormir, coloquei um roupão de seda e fiquei apoiada com os cotovelos na varanda do meu quarto enquanto olhava a rua. 

Por ser 04:05 a rua estava isolada, apenas iluminada pela luz dos postes, com barulhos de alguns gatos a distância e ali, principalmente à noite um vento era consideravelmente forte e frio.

Comecei a observar tudo ao redor, esse era o meu modo de relaxar, observar ou até mesmo fechar os olhos para ouvir e sentir tudo ao meu redor. Foi exatamente o que fiz, fechei os olhos enquanto uma brisa fria passava por mim entrando pelo roupão fino e me fazendo encolher, ouvia bem longe miado de gatos, alguns latidos de cachorros e ouvia ainda mais longe os barulhos das baladas de New York, que em nenhuma noite deixara de funcionar.

Abri os olhos e pensei em tudo, por que depois de tantos anos aquela memória, junto desse sentimento de merda tinham que voltar justo agora? Por que com Dominic? Por que contei à ele o meu mais profundo e obscuro segredo daquele jeito, sem o conhecê-lo o suficiente? Ele era especial na minha vida e eu confiava nele! Eu fico diferente toda vez que ele entra em um local. Mas por que agora? Em apenas 4 dias aqui? Isso era tudo muito novo, principalmente em relação ao Dominic.

Assim, enquanto pensava em tudo, uma lágrima escorreu. A deixei cair livremente, olhei novamente para a noite estrelada, dei um leve sorriso.

Suspirei mais uma vez o ar da noite antes de voltar para dentro de meu quarto. Voltei a minha cama e peguei meu celular ainda conectado no carregador, em cima da mesinha ao lado da cama. Mandei uma mensagem para Jake.

“Acordado?”

Sai das mensagens e entrei no Instagram, enquanto olhava algumas postagens, uns 5 minutos depois a barra de notificação desceu informando uma mensagem de Jake.

“Agora estou, hahaha. Tudo bem? Aconteceu algo?”

Suspirei, sempre contei tudo à Jake e não vai ser agora que as coisas vão mudar. Contei tudo a ele, menos a parte de que falei para Dominic, pois ele o mataria por me fazer trazes essas más lembranças de volta. Quando vi que já eram 05:20 decidi dormir, pois depois da conversa com Jake ele conseguiu me acalmar.

“Obrigada pela conversa Jake, boa noite. Te amo.”

“Sabe que é só chamar, boa noite. Também te amo baixinha.”

Dei uma leve risada com o apelido, ele sabe que eu odiava que falassem do meu tamanho. Deixei o celular em cima da mesinha novamente e voltei a dormir, nem que seja por algumas horas.

QUINTA-FEIRA, 31 DE OUTUBRO DE 2019.

Acordei com o alto alarme do meu celular, o desliguei enquanto sentava sonolenta na cama. Me espreguicei e fui tomar um banho, prendi o cabelo em um coque vagabundo só para não molha-lo.

Depois do banho me troquei, peguei minhas coisas e fui para o trabalho. Tudo foi bem normal porém a única surpresa foi não ver Dominic, já que o via no The Roost com frequência. As coisas também foram um pouco corridas e com isso meu turno acabou praticamente rápido.

Peguei minhas coisas, passei em casa e me arrumei, logo em seguida fui para a faculdade. Acabamos vendo muitas coisas sobre Leonardo da Vinci, um pintor italiano incrível! Vimos também muito sobre Van Gogh, um pintor holandês e super famoso.

Assim que a faculdade acabou fui andando direto para casa. Já que não tinha nenhum programa decidi pegar meu celular e convidar Dom para sair.

“Oi sumido, não te vi no The Roost hoje. Afim de sair e fazer algo?”

Deixei o celular em cima da cama e fui tomar um banho, afinal já eram 07:16. Coloquei uma roupa confortável. Verifiquei se Dominic havia me respondido, mas ele apenas visualizou e me ignorou - O que? Como assim? - pensei comigo mesma e mandei outra mensagem, talvez tenha acontecido algo.

“Está tudo bem?”

Esperei alguns segundo enquanto mordia de leve minhas unhas, por nervosismo, mas novamente ele somente visualizou. Ele realmente estava me ignorando, se ele quer assim ok!

Deixei o celular para carregar, me arrumei pois ainda estava de toalha. Desisti de sair hoje e acabei dormindo.

                                       ***

Os outros dias da semana passaram lentamente, tudo parecia estar em câmera lenta. Porém Dominic ainda continuava me ignorando, nem se quer passou no The Roost. Eu também não o chamei mais para conversar, se ele quer ficar agindo como criança eu é quem não vou participar desse joguinho e afinal, ele ficou uma semana inteira me ignorando!

Aqueles malditos pesadelos ainda me assombravam ate mesmo quando eu estava acordada. Andando pela rua, na faculdade e até mesmo no trabalho.

Me relembrar de tudo aquilo me fazia ficar distante do mundo enquanto eu me perdia nos pensamentos horrorosos sobre aquele noite.

Pelo menos eu tenho Jake para me fazer esquecer disso tudo, me fazendo rir e mesmo quando me estressa. Não sei o que faria se não tivesse ele no meu mundo. 

                                       ***

SEXTA-FEIRA, 08 DE NOVEMBRO DE 2019

Já haveria ido para o trabalho e para a faculdade. E como sempre foi tudo em câmera lenta. 

Estava deitada na minha cama, praticamente jogada enquanto olhava as fotos que as pessoas postaram. Enquanto via um homem, alto, loiro e de olhos azuis, ao seu lado havia uma obra de arte. Um quadro que ele mesmo acabara de fazer. 

Olhando a foto, que foi postada à apenas alguns minutos, ouço a campainha tocar. Deveria ser Jake, ele adorava aparecer sem avisar. 

Desci as escadas e fui direto até a porta, abri e sem antes olhar quem era já tinha começado a falar.

- Tem que parar de aparecer sem avisar Ja... - Quando vi quem era parei de falar de imediato. Era Dominic! O que ele queria agora? - O que você quer?

- Sei que deve estar brava por ter te ignorado esses dias mas estive bem ocupado e em formas de desculpas te preparei uma surpresa - Ele sorriu de lado, em seguida eu o olhei curiosa porém ao mesmo tempo confusa e furiosa por ter me ignorado todo esse tempo -  E eu acho melhor já indo fazer as malas, se não quiser se atrasar - Mais uma vez ele deu o sorriso que eu tanto amo ver, mas que naquele momento eu só queria tirar do rosto dele.

- Espera mesmo que depois de ter me ignorado por uma semana eu vou simplesmente arrumar minhas malas e ir para não sei aonde com você? - Ri ironicamente, se ele acha isso ele está muito enganado!

- Só me escuta Katherine! - Ele respirou fundo enquanto cruzava os braços - Fiquei resolvendo muitas coisas e não tive tempo para fazer nada! E sei que deve estar bem brava mas eu fiquei os meus últimos 3 dias livres preparando uma surpresa para você e agora você vai ficar fazendo birra?! Só arruma suas coisas e eu te explico tudo no carro está bem?! - O mesmo me encarava, quase perdendo a paciência.

- Não está nada bem! Ou me explica tudo agora ou eu vou ter que chamar a polícia para te tirar da minha casa - O encarei de volta, eu queria respostas e iria tê-las de um jeito ou de outro!

- Olha só - E mais uma vez ele respirou fundo, ele perdeu a paciência naquele momento - Te prometo que vai gostar da surpresa mas agora, por favor, dá para arrumar suas coisas!? - Ele disse e apontou em direção às escadas, como se pedisse pressa para mim.

Bufei. Pelo visto ele não vai me falar nada agora, se eu realmente quiser saber o que ele tem, acho que terei de realmente ir com ele. Afinal, também tenho uma surpresa me esperando.

Subi para o quarto ainda irritada e arrumei duas malas, de tamanho médio. Assim que desci novamente ele já estava lá fora me esperando. 

- Coloca no porta malas - Disse praticamente jogando as malas nele e logo depois entrei no carro. Depois dele guardar tudo no porta malas, ele entrou no carro e começou a dirigir - Vai me explicar agora? - O olhei ainda um pouco irritada. 

- Quando chegarmos lá - Disse Dominic enquanto soltava um sorriso vitorioso - Tudo em seu tempo ruiva - Ele me olhou dando aquele mesmo sorriso e me lançou uma piscadela. 

Cruzei os braços, coloquei os pés em cima do banco e encostei minha cabeça na janela, vendo tudo fora do carro virar um borrão de luzes por causa da velocidade. Com o balanço do carro e o sono que sentia, acabei dormindo.

Acordei com alguém me balançando. Enquanto ainda abria os olhos, sonolenta, arrumava meu cabelo e me sentava direito no banco.

- Já chegamos?! - Cocei os olhos enquanto o olhava. 

- Sim ruiva, vamos entrar - Ele disse e se afastou, abrindo minha porta ainda mais para que eu saísse.

- Só vou pegar minhas coisas - O olhei saindo do carro.

- Já estão lá dentro - Ele disse pegando algo no bolso e me virando de costas - Vou vendar seus olhos... confia em mim?

- Sim! - Disse em um suspiro. Logo em seguida ele me vendou - Me guia até lá? - Estendi a mão, o procurando pois não estava vendo nada. O ouvi soltar um grunhido de ironia e logo senti mãos em minha costas e joelhos, um impulso me levantar e já não sentir mais o chão sob meus pés - O que está fazendo? - Perguntei e em um reflexo coloquei meus braços em volta de seu pescoço. 

- Você disse que confiava em mim - Ele soltou uma leve risada enquanto caminhava para dentro de algum lugar, supostamente a casa.

Ouvia as corujas, o vento frio e um aroma reconhecível de floresta. Ele me trouxe para o meio do nada?! Ótimo! 

Entramos na casa, o senti me colocar no chão e depois colocar as mãos em minha cintura, como se ainda me orientasse.

- Pode tirar a venda agora - Senti sua respiração quente em meu pescoço, o que me arrepiou e me fez ficar um tanto ofegante. 

- Ok... - Disse e tirei lentamente a venda de meus olhos. Quando tive a visão completa do local não pude acreditar. Era uma casa enorme, de estilo rústica, as luzes um tanto alaranjadas iluminavam o local junto ao fogo na lareira - Dominic... é lindo... - Me virei sorrindo para ele - Obrigada! - Dei um salto e envolvi meus braços ao redor de seu pescoço, o abraçando. O mesmo retribuiu, colocando seus braços fortes em volta de minha cintura fina e delicada. Sai do abraço, porém minha mão ainda estava em seu rosto e com a visão daquele homem em minha frente dei um sorriso - Mas ainda não me falou por que disso tudo - O olhei curiosa enquanto minha mão escorregava pelo seu peitoral incrivelmente forte e saia de contado com seu corpo.

- Vi como você ficou extremamente triste quando me contou sobre sua família e eu sempre ia a cidade para resolver algumas coisas, comer algo e acabava te vendo. Você estava distante então... eu achei que tudo aquilo era culpa minha e decidi te fazer essa surpresa! - Ele soltou um sorriso junto a um grunhido enquanto me olhava - Espero que um fim de semana longe de tudo possa, bem... te dar um pouco de calma - Ele ainda sorria. E que sorriso.

Aquele homem, ainda em minha frente tinha seus olhos fixados aos meus. Aquele olhar, aqueles sorrisos que ele soltava enquanto falava comigo e agora me trouxe para essa casa linda, somente me fez sentir algo ainda maior por ele. Que eu não fazia ideia do que era, simplesmente gostava de como ele me fazia me sentir e de estar com ele. 

- Ahm... - O mesmo estava de braços cruzados e me olhando - Por que você não vai dar uma olhada por aí e conhecer a casa enquanto eu arrumo o resto das coisas?! 

- Claro! - Disse sorrindo e sai. 

Fiquei passeando pela casa, olhando a decoração, sentindo o cheiro maravilhoso e inexplicável que a casa tinha e  sentia o pequeno frio que também tinha ali, umas das características de casas em florestas e por isso eu cruzei os braços, me abraçando. 

Estava na sala quando vi uma cômoda na parede, repleta de retratos. Fui dar uma olhada, descruzei os braços para pegar um retrato de Dom e quando o peguei nas mãos o aproximando mais de mim vi o quão fofo Dom era quando criança. 

Ele estava feliz, e sorrindo como se nada pudesse mudar ou afastar sua felicidade. Seus olhos bicolores brilhavam, pareciam até estrelas. 

Agora era completamente diferente, ele mal sorria, pelo menos não expressando nada além de ironia. Seus olhos não brilhavam como antes, eram totalmente... sombrios. Franzi o cenho enquanto esse pensamento passava pela minha cabeça. 

Deixei o quadro em cima da cômoda do mesmo jeito que estava. Olhei outro quadro, que desta vez tinha a família de Dom, olhei com o cenho franzido e com um meio sorriso no rosto. Dom nunca fala de sua família. Quando iria pegar o retrato Dom apareceu atrás de mim, levei um leve susto até perceber que novamente eu tinha sua respiração em meu pescoço.

- Nem tudo é o que parece - Virei minha cabeça de lado, apenas para olhá-lo e ver sua expressão. Ele estava hipnotizado olhando o quadro, estava com certeza muito distante e eu nunca tinha o visto assim. 

- O que aconteceu com eles? Você nunca fala sobre sua família - O ouvi suspirar contra meu corpo e com isso eu me virei para ele enquanto o olhava nos olhos. Não tinha nenhuma distância entre nossos corpos e nossas respirações viraram uma só. Eu não sei se foi impressão minha mas acho que tinha visto seus olhos marejarem, deve ter sido impressão - Tudo bem... - Suspirei - Não precisa falar, sei como falar da família pode ser um tanto... difícil - Um sorriso pequeno é bobo se formou em minha boca enquanto eu não perdia, por nenhum segundo, contato visual com o homem grande em minha frente - Bem... tem essa casa a quanto tempo? - Perguntei enquanto saia dali e me sentava no sofá. 

- Moro aqui desde que nasci... - O mesmo cruzou seus braços contra o peito - Só fui fazendo algumas mudanças com o passar do tempo - Falou dando de ombros - Eu vou fazer o jantar e enquanto isso pode ir conhecer o resto da casa e o seu quarto. 

- Acho que só vou mesmo ir até o meu quarto e depois ir te ver cozinhar, por que é como dizem - Me levantei passando as mãos pelas coxas e andando até as escadas - Precisamos ver para acreditar - Sorri e subi as escadas, não deve ser muito difícil encontrar meu quarto. Afinal não tinham tantos quartos assim pela casa. Era um corredor com ao todo 4 quartos. Fui abrindo as portas até encontrar um que tivesse minhas coisas em cima da cama. 

Assim foi feito, achei meu quarto e arrumei minhas coisas. Dei uma boa olhada no local e como dito antes eu desci até a cozinha. Vi Dom cozinhando, realmente... ele cozinha por que o cheiro está ótimo!

Acho que não mentiu sobre saber cozinhar - Disse me sentando em cima do balcão e inspirando para sentir o cheiro maravilhoso do jantar que o mesmo estava fazendo.

- Eu não minto pequena - Disse ele sorrindo enquanto servia uma taça de vinho - Não mesmo! - Disse ele enquanto se encaixava entre minhas pernas abertas e me entregava a taça de vinho. 

- Por que sempre falam do meu tamanho? - Reclamei enquanto pegava a taça e tomava um gole da bebida - É frustrante! - Sorri e o mesmo deu uma leve risada e voltava a fazer o jantar.

Ficamos conversando enquanto ele fazia o jantar e eu bebia o ótimo vinho que ele tinha me dado. 

Assim que o mesmo terminou o jantar, nos sentamos na mesa e começamos a comer e isso nos deixou em um silêncio. Mas como de costume o silêncio entre nós não nos deixava desconfortável e sim pelo contrário. Porém assim que acabei de comer e bebi um gole de vinho eu decidi criar algum assunto. 

- Mas então... mora sozinho? 

- Sim - Assim que ele disse deu a última garfada de seu prato e limpou sua boca com o guardanapo. Bebeu um gole do vinho e me olhou.

- Isso é... triste! Você não tem família? - Perguntei hesitante, por mais que eu dissesse á ele que poderia me contar assim que estivesse pronto, eu contei meu maior segredo pra ele e ele vai simplesmente não me dizer nada?! É como se me quisesse por perto e ao mesmo tempo quisesse me afastar. 

- Ah... - Ele franziu o cenho, parecendo pensar e no fim antes de me responder ele suspirou - Basicamente não, eu tinha duas pessoas na minha vida, eram como irmãos para mim mas... nos afastamos. 

Ele realmente tinha um olhar que até me dava arrepios. Resolvi não perguntar mais nada. Assim recolhi minhas coisas e fui até a pia, lavando tudo o que eu usei.

Estava secando minhas mãos no pano quando olhei Dom ao meu lado, que também estava lavando suas coisas.

- Eu vou lá em cima ok?! Não demoro - Dei um leve sorriso e deixei o pano em cima do balcão. Subi apenas para tomar um banho rápido e assim foi feito, não lavei o cabelo por que já tinha lavado ontem. Sai do banho e coloquei meu pijama, um shorts curto e uma blusa fina de manga longa e por fim escovei meus dentes. 

Peguei meu celular que estava dentro da minha bolsa, levantei as sobrancelhas assustada com o que vi, 8 ligações perdidas de Jake e sendo assim retornei imediatamente. 

- Meu Deus! - Disse colocando o telefone na orelha enquanto ouvia os toques da chamada sincronizados.

- Kat! Graças a Deus! Aonde você está? Estou te ligando a horas, você não atende e quando eu vim aqui na sua casa você não estava! - Ele disse apresado como sempre, Jake falava muito rápido quando estava nervoso.

- Jake me perdoa - Disse me sentando e me lembrando que tinha planos hoje a noite com Jake. Era quase uma tradição, todos os fins de semana sempre fazíamos a noite de filmes e eu não acredito que esqueci! - Dom apareceu aí em casa falando algumas coisas e eu acabei esquecendo, desculpa - Coloquei uma mexa do meu cabelo atrás da minha orelha e suspirei.

- Dominic foi até sua casa? Você está bem? Ele te fez algo? Se ele te... - Sua voz estava tão cheia de preocupação quanto no dia em que ele viu os hematomas em minha pele, logo no dia seguinte em que meu pai me espancou. Eu o interrompi por que se não ele não pararia de me interrogar nunca!

- Jake! - Falei um tanto alto, chamei sua atenção e o fiz parar de falar, finalmente. - Eu estou bem, Dom não fez nada comigo ele só... foi até minha casa e me trouxe para uma viagem. Volto no domingo à tarde ok?! - Encerrei com um suspiro.

- Ok! - Sua voz estava impaciente, possivelmente por causa do meu esquecimento sobre meus planos com ele.

- Tudo bem agora eu tenho que desligar - Sorri levemente olhando para o chão de fora do quarto, vi uma sombra lá. Uma sombra masculina e era Dom que estava ali... espera! Ele estava ouvindo tudo? - Até domingo, te amo - Desliguei e fui até a porta - Estava ouvindo minha conversa? - Disse ficando em sua frente e cruzando os braços, claramente impaciente.

- Não, claro que não - Ele ficou sem resposta por alguns segundo e depois começou a falar - Eu percebi que estava demorando, decidi vim ver como estava e acabei por acidente ouvindo a sua conversa - Ele deu de ombros, ele realmente tinha conseguido achar uma boa resposta em menos de 10 segundos.

- Ok, vou te deixar sair livre dessa - Sorri convencida e logo o olhei com uma expressão mais séria e curiosa - Eu estava demorando para...? - Franzi o cenho enquanto pensava.

- Pensei que iria gostar de assistir um filme antes de dormir - Ele me olhou de um jeito que não consigo explicar, porém aquele olhar era profundo e eu sentia isso. Meu coração desparrou e fiquei novamente ofegante e com calor assim que ele deu um sorriso de lado - Vem vamos descer - Apontou a direção em que íamos com a cabeça e logo saiu indo para a sala. 

Assim que passei pela cozinha indo a caminho da sala, senti um cheiro de pipoca e só de sentir o cheiro fiquei com água na boca. Me sentei no sofá e logo ele veio até mim, colocou  a bacia de pipoca na mesa central e se encostou no sofá.

- Vai querer ver o que? - Disse Dom pegando o controle e colocando na Netflix. 

Ouvi falar em um filme muito legal: Corra! E só pela sinopse parece mesmo - Dei de ombros o olhando. 

- Então vai ser esse - Ele colocou no filme e pegou a bacia com pipoca, a colocando em seu colo. 

Por causa da temperatura do local havia uma espécie de mine cobertor ao meu lado, jogado no sofá. Peguei o mesmo, Dom estava com uma calça jeans e uma blusa preta lisa e sendo assim cobri nós dois. O pote de pipoca já estava ao lado dele ao invés de estar em seu colo como antes. 

Lentamente conforme o filme eu fui me aproximando mais dele, até que deitei minha cabeça em seu peitoral e ele me abraçou de lado. Não me lembro de muita coisa do filme ou em que parte acabei dormindo. 

Eu estava tendo aquele pesadelo de novo, meu pai me espancando e minha mãe não podendo fazer nada para impedir aquele monstro. Devo ter gritado dormindo por que senti alguma coisa me balançando, certamente tentando me acordar e sem muito esforço conseguiu, não queria ficar mais nem um minuto naquele lembrete horroroso do meu passado.

- Kat acorda! - Me sentei em um pulo na cama, não entendi nada. Como eu vim parar aqui? Até que olhei para a pessoa em mim frente que deve ter me acordado por causa de meus gritos.

- Dom... - Suspirei e passei a mão pela cabeça me acalmando - Por que está aqui? - Perguntei mesmo já sabendo a resposta.

- Estava no meu quarto, ouvi você gritando... eu vim correndo aqui e percebi que estava sonhando - Ele se sentou ao meu lado.

Ele vestia uma calça de moletom preta e uma blusa cinza clara. O olhei envergonhada e cansada de tudo isso.

- Me desculpe - Suspirei - Eu estava tendo um pesadelo, meu pai ele... - Meu olhos lacrimejaram somente de ter que lembrar das cenas e das dores que senti naquele dia. Dom segurou minha mão e me olhou nos olhos.

- Não está aqui, não pode te machucar e mesmo se estivesse... - Ele umedeceu os lábios, entreolhou o quarto como se estivesse hesitando no que estaria falando e voltou a me olhar nos olhos - Eu não deixaria! 

Fiquei totalmente parasitara com o que ouvi, meu coração voltou a acelerar e minha respiração a ficar mais pesada. Ele percebeu minha reação e se afastou.

- Vou te deixar dormir, boa noite - sorriu e então se levantou, quando ele estava chegando na porta para sai do meu quarto e voltar para o dele, palavras saíram da minha boca sem permissão.

- Fica comigo! - Ele se virou e me olhou, com a testa franzida não entendendo nada - até eu dormir... por favor - Engoli em seco. 

- Claro...  - sussurrou enquanto se aproximava. Ele puxou a coberta e se colocou em baixo dela, ficando em contato físico comigo, deitei mais perto dele.

- Obrigada! - O olhei - Por tudo - um sorriso meigo se formou em minha boca.

- É o mínimo que eu tinha que fazer - Quando ele disse isso eu me deitei em seu peito novamente e ele me abraçou.

Eu calmamente voltei a dormir, sentindo seu toque em minha cintura, seu cheiro entrando em minhas narinas e conseguindo ouvir as batidas de seu coração, que mais soaram como uma música para mim. 

SÁBADO, 09 DE NOVEMBRO DE 2019

Acordei, não vi Dom ao meu lado, presumi que ele estaria lá em baixo agora e fazendo qualquer coisa. Me sentei ao lado da cama deixando meus pés apoiados no chão, os mesmos estavam quente e o contato com o chão frio me fez encolher um pouco. Me espreguicei e levantei, fui até o banheiro, tomei um banho normal e bem relaxante.

Enquanto lavava meu corpo pensava em como Dom fazia com que eu me sentisse especial, única e desejada. Ele desde muitos homens com quem me encontrei foi o único me tratou assim... tão, carinhosamente. Não entendo isso, mas espero aproveitar o máximo que isso durar. 

Quando terminei meu banho me arrumei e desci, Dom já tinha feito o café e colocou um bilhete ao lado do meu prato em cima da mesa:

“Kat, assim que terminar de comer coloque uma roupa de academia e vá até a sala de treinamento, a posto que com o tanto de curiosidade que tem já deve saber aonde é.”

Dei um leve sorriso - bobo para falar a verdade - assim que li o papel. Me sentei e comi, fiz o que o mesmo pediu. Subi para meu quarto, me arrumei e nem foi tão difícil achar a sala de treinamento assim. 

Entrei e vi Dom treinando, com uma calça moletom preta, uma regata cinza e de tênis, socando um boneco de pano. 

Soltei uma tosse forçado para sinalizar que eu estava ali, ele parou o que estava fazendo e me olhou e dei um sorriso torto.

- Já treinou com armas antes? - Disse ele enquanto vinha até mim. Ele conseguia ficar sexy apenas andando... como?

- Tecnicamente já - Dei de ombros. 

Ele assentiu e assim pegou uma espada para ele e me entregou uma. Sendo assim começamos a treinar.

Por mais que eu não me lembrasse muito bem de como fazer aquilo eu realmente não estava quase nada enferrujada. Ele conseguiu tirar minha espada de mim, a chutando para longe e quando me virei de costas para pega-la pude escutar Dom girando sua espada na própria mão, certamente se exibindo.

Peguei minha espada e assim que virei me dei de cara com Dom, parado em minha frente com aquele sorriso convencido no rosto, sorri do mesmo jeito enquanto olhava entre sua boca e seus olhos. Sentia sua respiração em mim e seu cheiro entrando novamente em meu nariz. Estava tão perto dele que se, eu me aproximasse mais poderia beija-lo ali mesmo. 

Enquanto olhava sua boca eu só pensava em uma coisa “Essa viagem vai ser longa”.