Fanfics Brasil - Sonho de Um Passado Nublado Sonho de Primavera

Fanfic: Sonho de Primavera | Tema: Game Of Thrones


Capítulo: Sonho de Um Passado Nublado

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De modo denso e tenebroso, um lúgubre véu sóbrio dissimulava completamente a grande floresta congelada. As numerosas ondulações profundas de gelo cobriam o chão enquanto um demasiado sussurro tinia na escuridão encapada por um manto pálido e translúcido de neve.


Uma localidade estranha para um Touro do Sul, dizia ele para si próprio. Nasceu, viveu e cresceu em Porto Real. Não gostava do frio, afastava-se de tudo o que era úmido, gelado e seco. Para Gendry Waters, era uma ironia encontrar-se no Norte. Tinha chegado há poucos dias com Jon Snow, o bastardo e rei do Norte; a quem o garoto tinha prometido lealdade.


Uma ironia. O rei era o irmão mais velho de Arya Stark, o antes bastardo que a menina comentava deveras vezes no passado. Gendry jamais se imaginou novamente próximo dela. Todavia, ele era como um peão no cruel jogo de xadrez que deuses proporcionavam, sabia disso. Agora, inesperadamente, algo os unia – ainda que indiretamente. Uma ironia, como pensava. No alto de sua cabeça, as estrelas brilhavam instantaneamente no céu tomado pelas trevas da escuridão. Naquele instante, Gendry caminhava sozinho por entre os troncos altos e retorcidos do Bosque Sagrado. O garoto ouvia muito sobre os Bosques Sagrados de Correrrio, nas Margens do Ramo do Tridente, como o da grande Fortaleza Vermelha, o castelo na capital de Porto Real. Diziam que eram bonitos e abertos, com um intenso odor de flores. Um jardim luminoso e arejado, onde grandes árvores espalhavam sombras cromatizadas por ribeiros que serpenteavam entre as margens. Mas o bosque de Winterfell era totalmente oposto, escuro e primordial. A essência das flores estava ausente e o odor de lama e decomposição prevalecia. As rajadas cortantes de vento impediam que Gendry pudesse senti-los com nitidez, mas isso não o impedia de diferenciar os aromas.


Por um instante, parou para olhar o pálido represeiro; a árvore-coração. Tinha cinco pontas, recheadas por folhas da cor vermelha, entretanto, o que mais destacava era a grande face esculpida sobre o tronco, era horrenda, seiva vermelha escorria pelos grandes olhos, como se a árvore chorasse sangue. O ferreiro sentiu um nó apertar seu estômago. Estava cansado de sangue. Suspirou ao escorar-se numa enorme rocha. Ele não sabia distinguir o horário que o crepúsculo ocasionava, mas pela densa escuridão, sabia que era muito tarde da noite. Tinha deixado a forja de Winterfell para caminhar solitário pelo pátio, costumava fazer isso durante a noite quando o sono partia. De alguma forma, aquilo o ajudava a colocar os pensamentos e devaneios em seus devidos lugares para que não pudessem mais atormentá-lo.


O imenso frio passava ligeiramente pela grossa camada de vestes que usava, tocando-lhe levemente como dedos finos sobre sua pele e congelando seus músculos.


O frio do Norte era realmente intenso.


“O inverno está chegando” o lema da Casa Stark. Gendry lembrava-se perfeitamente da garotinha que dizia isso inúmeras vezes. Arya, sua melhor amiga. A menina que se vestia como um garoto e adorava mais do que tudo lutar com espadas afiadas. Recordava-se perfeitamente quão furiosa ela ficava quando a chamava de m’lady e, principalmente, recordava-se do calor do pequeno corpo junto ao seu no abraço caloroso que trocaram na caverna. As lembranças não o deixavam viver em paz. Mesmo depois de tantos anos, ainda conseguia sentir os pequenos braços rodeando o seu pescoço, lhe causando aquela mesma sensação sempre quando fechava os olhos. E era inevitável. O garoto nunca se deu ao luxo de tentar esquecê-la, afinal, era definitivamente impossível apagar uma garota como Arya Stark. Ela era a única que conseguia fazê-lo sentir-se como se tivesse uma família de verdade. Gendry gostava dela, sentia que aquele sentimento somente ia crescendo em seu coração e isso nem mesmo os deuses mais poderosos podiam mudar.


Sentou-se, por fim, sobre uma rocha.


As recordações nublavam a sua mente num sonho cinzento e inalcançável.


FLASHBACK – VILA DE HARREN


A Vila de Harren era uma pequena cidade das Terras Fluviais. Por uma decisão de Yoren, o grupo evitou completamente o contato com a Estrada do Rei, que se encontrava recheada de soldados de manto vermelho bordados com fios de ouro e estampas de leões dourados. Os leais aos Lannister. A pausa foi uma decisão do Corvo Errante, na pequena vila nas margens do Olho de Deus.


Apesar de pequena, podia-se facilmente encontrar bordéis na cidade, o que para Gendry não foi novidade.


Os homens e soldados deleitavam-se com copos de bebidas, elogiando as prostitutas que se aproximavam enquanto enchiam os sentidos com o amargo sabor alcoólico. O Touro não compreendia como alguém conseguia sentir prazer ao inundar o paladar num copo gelado de cerveja. Ouvia os soldados murmurarem o quanto era delicioso deleitar-se no vinho enquanto uma boa puta sentava-se em seu colo e dava-lhe carícias prazerosas. Ao olhar para o lado, o ferreiro conseguiu ver as pupilas dos olhos de Torta Quente dilatar-se, brilhando como estrelas no horizonte. Naquele instante, Gendry soube que era primeira vez que o amigo via coisas assim tão de perto. Os homens ao redor clamaram quando uma belíssima mulher aproximou-se. Ela possuía o cabelo tão dourado quanto ouro derretido, encaracolados em ondas justas e perfeitas. Gendry ligeiramente recordou-se de Cersei Lannister. Rapidamente receoso, buscou desesperadamente Arya entre a multidão. As pessoas caminhavam de um lado a outro como um formigueiro fervente e embaraçado. Homens e mulheres riam, e se acariciavam e se beijavam.


Gendry não conseguiu vê-la.


Apertou o copo de bebida entre os dedos e experimentou um pequeno gole que escorreu cortando sua garganta. A prostituta de cabelo cor d’ouro aproximou-se sorrindo. Na hora, o garoto não soube ao certo como reagir, somente viu-a sentar-se sobre o seu colo e prensar os lábios nos seus de uma forma selvagem e inesperada.


O beijo durou segundos quentes como uma fogueira.


— É novo nessas terras? — A moça questionou. Ela tinha olhos incrivelmente verdes, como dois pares de esmeralda que cintilava o brilho da malícia. O garoto rapidamente notou e, engolindo em seco, não conseguiu responder, como se o próprio calor de seu sangue tivesse lhe furtado as palavras. — Já sei, é tímido, não é? Mas não se preocupe!


A mulher mordeu o lábio inferior antes de voltar a beijá-lo. Ele sentiu-a guiar uma de suas mãos para a morna umidade entre as coxas grossas e delineadas, fazendo-o tocá-la. Em meio da multidão, o Touro conseguiu ver Arya afastando-se e aquilo imediatamente clamou a atenção dele, fazendo-o desviar do contato íntimo que a loura proporcionava. Ele a afastou velozmente de seu colo, finalmente mantendo-se de pé, quase num salto.


— Eu tenho que ir — disse simplesmente, corado, mas não esperou pela resposta.


Com passos pesados, afastou-se e, numa absurda velocidade, retirou-se, arrastando as botas sobre o assoalho de madeira.


Ao ver-se finalmente livre daquele cubículo de madeira tão miúdo, a pequena visão da menina loba rabiscando a terra com um graveto tomou sua atenção. As roupas esfarrapadas faziam as donzelas nas estradas estreitarem os olhos. O cabelo castanho estava coberto de nós, embaraçados, caindo selvagemente sobre a face assinalada por indecifráveis linhas de expressão.


Receoso, Gendry se aproximou.


Viu-a levantar-se e quebrar bruscamente o graveto e atirá-lo ao chão, como se estivesse irritada.


— O que faz aqui fora sozinha? — Perguntou o Touro ao encontrar-se numa equivalente distância.


— Não é da sua conta! — Exclamou Arya, mantendo-se de pé.


Naquele momento, o ferreiro não tivera mais dúvidas. Ela estava irritada. Mas com o que? A maneira áspera como a menina o tratou deixou-o irado. Como podia ser tão infantil? Às vezes, Gendry esquecia-se que Arya tinha onze anos.


— Arya, você sabe que não deve ficar andando por aí sozinha, existem ladrões, sequestradores, assassinos e estupradores por toda parte. Alguém pode descobrir sua identidade. Pense comigo, os Lannister podem encontrá-la! Lembra-se do que Yoren disse-lhe? Sabe que...


— Não importa! — Velozmente rebateu. — Os Lannister nunca irão me reconhecer, não com essa aparência. Mesmo se eles reconhecessem, eu sei muito bem me defender sozinha. Não tenho medo de assassinos e muito menos de estupradores. Já sou uma mulher, tenho onze anos. Aliás... Você não parecia tão preocupado quando trocava beijos com aquela puta. Você é como todos eles... Um Touro estúpido que se importa somente com bebidas e prostitutas. Não preciso que cuide de mim! Deixe-me sozinha, não quero conversar!


Gendry abriu a boca para falar, mas logo a fechou, como uma espécie de peixe fora d’água. Franziu o cenho, frustrado para com a atitude que Arya Stark ocasionava. Jamais tinha visto-a assim. Jamais falou assim com ele.


— Ah, é? Muito bem, Arya! — Respondeu ele, irritado. — De qualquer forma, os estupradores não devem estar tão desesperados assim... Afinal, olhe só para você. Seria desespero demais querê-la!


Ele não pensou nas consequências ao proferir tais palavras, somente disse-as, tomado pelo ódio, irritação e orgulho. Sem mais respostas, Gendry ofertou as costas para ela.


FIM DO FLASHBACK – WINTERFELL, BOSQUE SAGRADO


O garoto suspirou com a lembrança, melancólico.


Assim que se falaram pela última vez na caverna e pouco antes da Mulher Vermelha levá-lo, nunca mais a viu, nem se quer teve notícias dela. E desde que Gendry chegou ao Norte, não tinha a encontrado, então tirou suas próprias conclusões de que Arya não havia sobrevivido à guerra. Ele tinha a consciência de que nunca devia tê-la deixada sozinha, devia ter ido com ela quando ela pediu. Queria ter ido. Porém, as coisas não foram assim.


Agora ele sentia-se culpado.


Culpado por tê-la abandonado.


As rainhas ainda estavam em guerra. Jon Snow tomou o navio ao lado de Sir Davos Seaworth, rumando para a ilha de Pedra do Dragão. Em breve, Winterfell seria entregue à rainha dragão, ou Daenerys Targaryen, mais conhecida como a Mãe dos Dragões e Khaleesi do Grande Mar de Grama. Jon ignorou os conselhos de Sansa e partiu do Norte para o Sul, onde a rainha prateada encontrava-se, dizia que com a ajuda dos dragões e do Vidro de Dragão que Pedra do Dragão guardava, teriam mais chances para a vitória na Longa Noite.


Finalmente, a tão aguardada paz estava próxima dos Sete Reinos e Arya não estava ali para vê-la.


Gendry sabia o quanto ela desejava voltar para Winterfell, voltar para a família e o quanto ela queria que tudo aquilo terminasse. Podia-se observar o brilho de desejo misturado com uma enorme determinação naqueles indesvendáveis olhos acinzentados; tão profundos e cinzentos quanto uma tempestade num mar agitado, ou tão cinzento quanto a pelagem de um lobo selvagem. Via-se visivelmente nas ações, determinação e principalmente na força de vontade que ela viabilizava. O garoto tinha aprendido muito com a Stark. Aprendeu a nunca desistir, não importa a situação. E tinha certeza que levaria aquilo pelo resto da vida.


Respirou fundo, sentindo o ar gelado preencher aos poucos os seus pulmões. Desde que nasceu Gendry foi um garoto do Sul. Passou a vida trabalhando como aprendiz de ferreiro em Porto Real sobre a supervisão de Tobho Mott, forjando armaduras e espadas para a nobreza da cidade. Jamais teve afinidade com o clima frio. Há poucos dias, ele encontrava-se trabalhado como um ferreiro em Winterfell, ao lado de um velho senhor muito solícito que prometeu ajudá-lo dali para frente, desde que chegou ao Norte. Um senhor bonzinho e cortês que o aconselhava deveras vezes de como portar-se perante a presença dos lordes e ladies.


Após um suspiro, o Touro esfregou freneticamente as mãos uma na outra numa tentativa frustrada de fazer calor. Uma fina névoa formou-se em sua frente após um longo suspiro que ligeiramente misturou-se com a enorme neblina branca que formava no ambiente adiante. O garoto nunca havia adentrado tão profundamente naquele bosque. Quanto mais entrava em meio às árvores, mais frio e escuro ficava. Aquilo deixava o local ainda mais assustador. O brilho da lua e das estrelas não conseguia tocar aquela região, o que deixava o local muito escuro. Tudo o que conseguia enxergar eram as árvores cobertas de gelo e a paisagem totalmente branca ao seu redor. Sentia os finos flocos de neve cair com cada vez mais vigor, intensificando a neblina e a nevasca. O gelo colidia-se contra sua pele quente, causando-lhe um leve arrepio pelo contato das duas temperaturas, quando uma sensação inexplicável invadiu o seu corpo.


Era estranho.


Ruídos apressados pareciam vir de várias direções, ecoando sozinho em meio da mata deserta.


De repente, um vulto cinzento surgiu em meio às árvores. Por conta da neblina, era impossível identificar o que a imagem era realmente. Parecia mais uma sombra cinza. Um animal de quatro patas tão grande quanto um cavalo, tão peludo quanto um urso e tão selvagem quanto um tigre. A besta cinzenta aproximava-se cada vez mais. Os visíveis dentes brancos brilhantes e a mostra estavam arreganhados, como as presas de um leão pronto para caçar sua presa.


Seria um urso, talvez? Não. Não existiam ursos naquela região.


Seja lá o que aquilo fosse, ele aproximava-se, cada vez mais.


Gendry tremia da cabeça aos pés, não conseguia se quer mover-se. Sentia como se o chão o impedisse de dar qualquer passo. De repente, o animal atacou, pulando rapidamente sobre o corpo do garoto. O ferreiro sentiu as enormes patas pesadas tocarem o seu peito, atirando-o violentamente sobre o chão de costas.


— Nymeria! Não, pare!


Uma voz feminina estranhamente familiar soou num grito agudo.


Imediatamente, o animal soltou o garoto. Ruídos de passos apressados zuniram aos ecos sobre o ambiente. Com agilidade, a garota aproximou-se de Nymeria, puxando-o. A fera se quer a atacou, somente obedeceu.


Gendry sentiu a cabeça girar como um navio em alto-mar. Suas costas latejaram pelo impacto estrondoso que a fera proporcionou ao direto encontro de uma rocha. Um líquido quente e viscoso escorreu instantaneamente de sua cabeça enquanto a feroz mordida que o animal presenteou-lhe queimava.


Ao tocar a própria nuca, sentiu algo manchar os seus dedos. Era sangue... O seu sangue.


— O que está fazendo aqui, Touro estúpido? — Aquela mesma voz o questionou. Todavia, o garoto não encontrou palavras para respondê-la. — Fique longe, Nymeria. Ele pode dar indigestão!




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Autor(a): ladydaenerys

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).




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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 2



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  • julia_souza_ Postado em 29/11/2019 - 22:27:05

    Continua!!

    • ladydaenerys Postado em 14/08/2020 - 13:06:55

      Claro, vou continuar sim. Obrigada por comentar!


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