Fanfics Brasil - Em Busca da Felicidade Clandestina Em Busca da Felicidade Clandestina

Fanfic: Em Busca da Felicidade Clandestina | Tema: Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector


Capítulo: Em Busca da Felicidade Clandestina

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                                 Em Busca da Felicidade Clandestina


 


  Tudo parecia brisa, era paz, dava até para ouvir os pássaros, o coração batia calmamente como se quisesse transmitir aquela sensação pacata do momento, junto com o vento das árvores tudo parecia em perfeita harmonia, até um pequeno felino veio nos cumprimentar se esfregava em nossas pernas pedindo que o acariciássemos. Por uma fração de segundo tudo que parecia perfeito se desmorona e acaba sumindo por um piscar de olhos, olhamos para o lado e lá vinha ela Josephina com passos vagarosos e precisos, com um estreito olhar de crueldade, ao avistá-la de longe meu coração já acelerava, pois sim, ela me intimidava por parecer ter um imenso prazer em humilhar e cometer atos maldosos, mesmo para sua pouca idade de dez anos era de assustar a frieza daquela menina, então ela finalmente se aproximou onde nós estávamos sentados, Carlos, Rita bete e eu clara. Ela estava com um pirulito na boca, e claramente estava bem acima do peso de uma criança normal com aqueles sapatos brancos que eram um tom de cinza pela sujeira, que pareciam não aguentarem seu peso, uma camiseta azul e uma saia larga um pouco acima do joelho com um tom de rosa bem claro quase desbotado, cabelos bagunçados e presos com um ‘’rabo de cavalo’’, na mão tinha uma sacolinha com alguns doces que pareciam ser bombons de chocolate, quando ela parou de pé em nossa frente tapando todo o sol levantamos na hora, tínhamos no consciente que a presença daquela menina nunca era coisa boa, é como se deixasse um rastro de destruição por onde passasse.


  Josephina jogou a sacola no chão e disse que os bombons eram nossos, ficamos abismados e sem reação, pois ela nunca nos dava nada simplesmente era sempre agressiva e egoísta, mesmo sabendo que poderia ser uma armadilha a tentação de pegar aquela sacola da grama falava mais alto, a família dela eram os donos da melhor e maior doceria da cidade, com certeza os doces de lá eram os mais saborosos e desejados pelas crianças da cidade, e também os mais caros. Lembro-me bem da pergunta: ‘’ Vocês vão querer os doces ou não?’’ela com um ar de impaciência, Carlos rapidamente pegou a sacola do chão, pois sabia que dificilmente teria condições para comprar doces como aqueles então, disse obrigado a ela, a reação dela foi dar um sorrisinho sarcástico e então falou: “Tem um para cada um de vocês, Comam! Agora!”. Sem entender exatamente do que se tratava aquela reação apressada para que comecemos os bombons, Carlos abriu a sacola e distribuiu para nós os doces quando abrimos a embalagem o cheiro de azedo era tão forte que deu vontade de vomitar, Josefhina abriu uma gargalhada debochada por alguns instantes e voltou a fechar a cara falando: “Estão esperando o quê? Comam!”, então Bete falou com um tom de medo, mas tentando disfarçar ao máximo: “Não podemos comer isso, vai nos fazer mal, está estragado’’, mas a crueldade da garota nunca tinha limites com mais uma risada irônica, andou até o gatinho que estava se lambendo próximo a arvore que nos fazia sombra e pisou em seu rabo, o bichano soltou um grito, ela pegou em sua cabeça e começou a esticá-lo, com seu pé e todo o seu peso em cima do rabo e a mão na cabeça arrastando para cima. O desespero tomou conta de nós, pois o felino não suportaria tal tortura por muito tempo já estava ficando sem ar a impressão que dava era que ela queria rasgá-lo com as próprias mãos, e ela voltou a repetir: “Comam”! Agora!”, Rita não conseguia nem olhar para o bombom e Bete começou a chorar sabendo que passaria muito mal comendo aquele doce, Carlos tentou chegar perto do bombom para comer, mas começou a vomitar antes mesmo que desse uma mordida, eu estava completamente sem opção ou eu comia aquele bombom azedo, estragado e com um cheiro horrível ou aquele lindo e inocente felino sofreria as consequências sem nem saber o porquê de estar sendo tão mal tratado, então sem nem pensar prendi a respiração e dei uma grande mordida no bombom, engoli e com a segunda mordida enfiei tudo na boca, e com grande esforço fiz descer pela garganta, Josephina só ria parecia se divertir com a dor o desespero e a tortura, estava me segurando ao máximo para não vomitar, estava lutando com todas as minhas forças para isso, ela percebendo que eu estava a beira de por tudo para fora, resolveu tornar ainda mais complicado: “Se vomitar seus amiguinhos terão que comer também, afinal eu trouxe os bombons para todos vocês comerem”, e começou a rir prazerosamente. Eu olhei para os meus amigos e pensei neles passando pela mesma coisa que eu estava passando em seguida olhei para o gatinho que gritava e já não aguentava mais de dor, então me levantei, fiquei reta, respirei fundo e falei: “Não vou vomitar, você queria que eu comesse o bombom, pronto já comi estava ótima, obrigada, agora solta o gato.” Ela o soltou, ele caiu no chão parecia estar mancando e meio zonzo, Josephina saiu dizendo: “Está bem já me diverti o bastante por hoje.” Dava para imaginar sua ira contra nós que éramos crianças belas e felizes.


  A doceria de sua família não era uma simples doceria, ela tinha algo que era ainda mais valioso que maravilhosos doces de todos os tipos, ela tinha livros, era também uma livraria com muita diversidade, o que atraía ainda mais as crianças, nós por muitas vezes tentamos fazer amizade com ela, alguns pelos doces, mas eu sempre fui encantada mesmo era pelos livros com suas histórias emocionantes que me faziam viajar, em datas comemorativas como aniversários, tínhamos esperança de ganhar pelo menos um livro pequeno baratinho, mas o máximo que ela nós dava era um cartão postal da loja com a paisagem de Recife onde morávamos, com suas belas pontes já vista muitas vezes.


  Minha paixão por livros muitas vezes me cegava e eu nem percebia as humilhações que ela me fazia passar, ela me confessou que possuía “As Reinações de Narizinho” era um livro grosso de Monteiro Lobato, e falou que poderia me emprestar se eu fosse a sua casa no dia seguinte, eu fiquei extasiada com uma grande euforia e entusiasmo, esse livro era para se viver com ele, dormi com ele, comer com ele, não abandoná-lo por nada, eu sabia que seria um imenso prazer tê-lo em minhas mãos eu estava contando os segundos para o dia seguinte. Quando amanheceu fui até a casa dela, quando cheguei lá, ela me falou que havia emprestado o livro a outra menina e pediu que eu voltasse no dia seguinte, minha empolgação e ingenuidade me fizeram não perceber que o dia seguinte tardaria e que isso era apenas mais uma tortura da menina gordinha e cruel, e assim se repetiu semana após semana, eu todos os dias na porta de sua casa esperando o tão sonhado livro e ela sempre me dando a mesma resposta. Até que uma manhã sua mãe percebeu a situação e estranhou aquela menina loira todos os dias na porta de sua casa, quando descobriu do que se tratava deu uma bronca em sua filha, pois sabia que aquele livro nunca saíra de sua casa e que Josephina também nunca o lia, então ordenou que me desse o livro e falou que eu poderia ficar com ele o tempo que eu quisesse e isso era muito melhor do que simplesmente ficar com o livro, ela disse pelo tempo que eu quisesse, naquele dia saí flutuando com o livro, era como se eu voasse pela rua com ele, era tão bom aquela felicidade clandestina.


  Cheguei na minha casa e guardei-o, tentei esquecer que o tinha só para depois lembrar e ter a felicidade de tê-lo, demorei um pouco para o ler, tentei deixar tudo leve sem pressa e sem ansiedade, depois de comer pão fui abri-lo, li três parágrafos e o fechei novamente, depois vim ler um pouco mais, e fui  guardá-lo para ler depois, foi quando vi caindo de dentro dele o que parecia ser um cartão de desconto de uma lanchonete, logo percebi que poderia ser importante e fui até a casa de Josephina para levar, toquei a campainha, a mãe dela apareceu á porta e eu logo falei: “Senhora esse cartão estava dentro do livro que Josephina me emprestou, vim devolvê-lo”. Ela olhou para o cartão com uma cara bem estranha, não parecia gostar muito de promoções de lanchonetes, então com a voz alta chamou Josephina que estava em seu quarto, e perguntou: “Josephina pode me explicar como conseguiu um cartão de desconto da lanchonete bom hambúrguer?” Ela se encolheu abaixou a cabeça e respondeu: “É porque  vou lá todos os dias depois da escola mamãe”, com um olhar furioso ela falou: “Você sabe que não pode comer hambúrguer e nem sorvete, nem ir a lanchonetes e comer qualquer outra coisa que faça você parecer uma baleia mais do que já está. Vá para o seu quarto e vai ficar sem jantar por um mês”, ela começou a chorar e falou: “Mas eu estava com vontade mamãe, a senhora nunca me deixa comer doces, eu sempre tenho que roubá-los”, “Não interessa suas vontades, você está horrível é uma gorda e sempre será, por quê não pode ser bonita como essa menina?” , então chorando, ela subiu correndo. Meus olhos mal podiam acreditar no que estavam vendo, aquela garota má e cruel sendo humilhada por sua mãe, como se ela não tivesse carinho com a própria filha por conta do seu peso, a cena que presenciei foi algo que se eu imaginasse que algum dia fosse ver de perto, me imaginaria aproveitando graciosamente o momento, mas aquilo me deixara com o coração partido, mesmo se tratando daquela menina que sempre humilhava a mim e a meus amigos, ninguém merecia ser tratado daquela forma pela própria mãe, nem ela. Então toda maldade e antipatia era uma forma de descontar o que passava e como se sentia por dentro, assim se tornara amarga e cruel como uma forma de se defender e se sentir melhor.


  No dia seguinte na escola, eu a vi sentada sozinha no refeitório não tinha amigos, na verdade todos tinham medo dela, então me aproximei ela me olhou dos pés a cabeça e falou: “O que faz aqui? Quer ter outra intoxicação intestinal?” E eu respondi “Só vim conversar sobre ontem, eu só queria que soubesse que aquilo que a sua mãe falou não tem sentido, você é muito bonita, não precisa ser magra para ser bonita existem vários tipos de beleza e você tem a sua só não descobriu isso ainda, quando você se aceitar perceberá que tudo ao seu redor ficará diferente e conseguirá sorrir”. Ela se levantou, se aproximou de mim, olhou fixamente nos meus olhos, então, me deu um abraço bem apertado e falou baixo no meu ouvido: “Obrigado” A partir daquele dia viramos amigas, ela não implicou mais com ninguém, passou a ser arrumar mais e ter amor próprio e empatia pelas pessoas. Eu lia aos poucos meu livro e aos poucos percebia que a felicidade é clandestina e está onde menos se espera.



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Autor(a): natali_c._millan

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