Fanfic: Bonequinha de Luxo | Tema: Shingeki no Kyojin

Desde criança eu tinha um sonho de me tornar atriz. E corri atrás disso mesmo sabendo que teria que começar de algum lugar. Ou seja: de baixo. Bem baixo mesmo.

Estava fazendo meu último ensaio da semana no teatro. Estava treinando há meses. Estava passando longe das críticas e me esforçando o máximo em atuar bem. Estava sonhando alto com o futuro.

Era sexta feira, o dia mais amado da face da terra. O diretor estava mais ríspido que o normal. Mesmo assim comecei novamente.

- Mikasa Ackerman? – Ele me chamou ao fim.

Caminhei por entre as poltronas e ele me indicou que me sentasse.

- Viu isso? – Perguntou me jogando o jornal.

Pelo que pude ver na capa falava sobre a peça e a péssima escolha da atriz iniciante Mikasa Ackerman para o papel principal. Sim! Eu era uma iniciante no papel principal de uma peça razoavelmente vista e que poderia ter uma turnê pelo país me breve.

- Está despedida! – Ele me disse secamente. – Deixe o teatro imediatamente.

Peguei o jornal e olhei para ele sem entender.

- Mas é apenas uma crítica. – Eu disse. – Posso melhorar...

- Não. Não pode. Tenho que fazer uma escolha. Ou você ou eu. Se é para escolher alguém que seja você. A próxima atriz já foi contratada. Não faça pedir novamente ou chame a segurança.

Fui para o camarim juntar as minhas coisas. Não queria ficar ali nem mais um minuto. Lá fora a chuva caia forte, relâmpagos, trovões cortavam os céus. Nenhum táxi quis parar para mim. No fim acabei indo embora para casa a pé.

*

Cheguei em casa e dei comida para o meu gato. Ele parecia feliz em me ver. Eren estava sentado no sofá vendo TV e parecia terminar de se arrumar para seu turno de trabalho.

- Aconteceu alguma coisa? – Ele me perguntou ao ver minha cara de tristeza e frustração.

Não respondi.

- Está ensopada! – Ele observou.

- Da para calar a boca? – Pedi irritada.

Olhei para a pilha de boletos se acumulando. Na casa do Eren, nós dividimos as despesas. Embora eu fosse a mais velha, ele tinha saído de casa primeiro. Eu vim para a cidade um tempo depois.

O que ele ganhava mal dava para pagar o aluguel. E eu tinha que pagar outras necessidades básicas do dia a dia.

- Mikasa. – Ele me chamou.

- Fui despedida! – Quase gritei.

O salário não era bom. Também não era a Broadway. Dava para pagar a metade das contas e sair no fim de semana com as minhas amigas.

- Está na hora de parar de brincar de atriz e viver a vida real. – Ele disse.

Olhei para ele querendo chorar. Ele me abraçou e realmente o fiz. Estava muito cansada. E triste por ter tomado o meu primeiro pé na bunda. Nem meus ex namorados terminavam comigo. Mas meu chefe me despediu antes que eu tivesse ideia do que estava acontecendo a minha volta e no meu mundo. O fantástico mundo lilás da Mikasa.

*

Estava vendo um filme que passava na TV, bem romântico por sinal. Mas nem me lembro o que era. Só lembro que estava fracassada e precisava dar a volta por cima. Eren havia saído mais cedo, eu procurava por testes no jornal quando ouvi a campainha.

- Quem pode me incomodar a esta hora? – Perguntei.

Fui correndo abrir a porta.

- Ei! – Eu disse animada.

Era a Annie, minha melhor amiga fora do círculo artístico e a namorada do meu irmão.

Nos abraçamos.

- Entre. – Chamei.

Ela entrou.

- Eren pediu para te ver. – já foi dizendo.

- Então ele te contou o que houve.- eu disse.

- Sim e não. – Respondeu.

- Como assim? - Eu perguntei desanimada.

Annie olhou em volta e se sentou.

- Preciso te dizer uma coisa.

Me animei.

- Sim e o que é? – Perguntei.

- Eren e eu vamos nos casar. – Disse.

Me surpreendi.

- Que coisa boa e linda! – Elogiei. – E é para quando?

- Breve. – Respondeu. – Na verdade não vamos nos casar, apenas queremos morar juntos. Fazer um teste e depois sim dar um passo mais responsável. Ou seja, o casamento.

Demorei para cair a ficha. Eu teria que me mudar!

- É. – disse - Não podia ficar pior!

- O que foi? – Ela perguntou.

- Nada. – Suspirei. – Meus parabéns! – Pensei um pouco. – Ele deveria ter tido a descendência de me falar, não é? – Questionei chateada.

Ela riu.

- Calma. Vai levar um tempo ainda. Sem desespero.

Suspiramos.

- Olha, eu trabalho como secretária em uma grande empresa.- ela me diz. 

- Lá tem vagas enquanto o Eren não arruma um emprego que dê para sustentar vocês dois? - perguntei interessada. 

Annie revirou os olhos.

- Na verdade o emprego seria para você.

- Como? – Perguntei assustada.

- Bom, - começou tímida. – Meu chefe é um carrasco e tem um evento importante para ir nesta semana.

Desliguei a TV.

- Annie? Por que eu ia querer sair com seu chefe?

- Por que ele é o dono da empresa.

Afundei no sofá.

- Paga-se muito bem. Com o salário daria para você viver uns três meses até arrumar um emprego melhor.

Me desencostei do sofá.

- Entendi. E qual é a minha função? 

- Ser uma acompanhante durante uma noite.

- Prostituta?

- Acompanhante.

- Prostituta?

- Acompanhante, Mikasa.

- Qual é a diferença?

Ela ficou calada.

- Sabe que não tem diferença. – Eu disse me sentindo vencedora.

Ela demonstra impaciência.

- Posso dizer a ele que você vai ou não?

- Como ele sabe como eu sou?

- Mostrei sua foto a ele.

- O que? – Perguntei incrédula. – Além de me arrumar um emprego estranho você ainda dá uma de cupido?

- É um trabalho. Vai dizer a ele que aceitou. Tem entrevista agendada na residência Ackerman hoje às dezoito. Boa sorte.

- O que eu visto? – Pergunto.

- Roupas. – Ela disse indo em direção a porta.

Eu estava surpresa. Annie foi embora. E eu olhei o amontoado boletos.

- É. Acho que não tenho outra escolha. – Eu disse cruzando braços.

*

Escolhi um vestido preto comportado, bolsa e sapatos de salto alto e fui ao endereço da enorme residência.

- Senhora? – Um guarda me viu.

-Gostaria de falar com o dono da residência.

Ele me olhou como se duvidasse do que eu havia dito.

- Documento.

Entreguei minha identidade.

- Mikasa Ackerman. Curioso. É um pouco longe para andar de saltos.

- Vou ficar bem. – Eu disse.

Ele me olhou dos pés a cabeça. Abriu um portão menor e eu comecei a caminhar. Estava afundando tanto no gramado que decidi ir descalça. Não podia ficar no asfalto pois era uma tarde muito quente. Quando cheguei a porta gigantesca da casa toquei uma campanha.

- Se....- disse a mulher me olhando dos pés à cabeça.

Estava suada. Maquiagem desfeita. Descalça.

- Deve ser a acompanhante do senhor Ackerman. –concluiu.

Ackerman? Nossa que coincidência.

- É... - Eu comecei. – Acho que sim.

Ela sorriu.

- Entre por favor. Aguarde uns instantes. – Olhou para um grande relógio. – Faltam cinco minutos. Ele não costuma se atrasar. – Frisou. – Quer uma água, um café ou chá?

- Chá preto por favor. – Ele chegou e me fitou.

Seus olhos eram de um azul acinzentado profundo, sua roupa perfeitamente alinhada ao seu corpo. Seu cabelo levemente caia sobre a testa lhe conferindo um ar arrogante, misterioso e sexy. Parecia ser o tipo de pessoa mal-humorada e cheia de si. Para mim dava a ideia que detestava ser contrariado. Se o fosse se tornava extremamente agressivo.

- Sim, senhor. – Disse a mulher se retirando.

Ele me fitou com curiosidade.

- Mikasa Ackerman? – Disse olhando uma folha e franzindo o cenho.

- Sim, senhor.- respondi.

Ele abriu uma porta. Com os sapatos nas mãos me dirigi até a ele e entrei na sala muito limpa e organizada. Senti seu cheiro, seu perfume era incrivelmente, estonteante e maravilhoso.

- Está bem? Precisa de algo? – Ele me perguntou me fitando.

- Sim - respondi. – Estou ótima.

Mais uma vez me olhou dos pés a cabeça.

-Com certeza. Sente-se por favor. – Ele pede.

Dei uma olhada rápida na sala. Estava bem impressionada com o luxo da residência. Olhei para ele e estava olhando para mim.

- Annie te sugeriu para a vaga...- iniciou.

- De acompanhante? – Perguntei cínica.

Ele olhou o currículo.

- De acompanhante. – Olhou para o meu rosto. – Mas não é tipo de acompanhante, Mikasa. Será apenas por uma noite, durante um evento da qual preciso comparecer. Nada demais. -Disse parecendo irritado com a minha falta de respeito.

Suspirei.

- Está interessada? - Perguntou tentando não parecer inconveniente.

- Sim. – Respondi rapidamente.

Ele olhou a folha e algumas anotações.

- Vou enviar alguém para te buscar. Será uma noite apenas. Não se preocupe com nada. Pelo que diz no seu currículo é uma atriz então vai saber bem como se comportar. Desde que esteja limpa e seu ambiente limpo nós vamos nos dar muito bem. – Finalizou.

Fiquei surpresa e apenas acenei em sinal positivo.

- Muito obrigado. –Disse se levantando. –Enviarei uma mensagem informando como serão os preparativos para o evento. – Ele estendeu a mão e me indicou a saída.

Enquanto trocávamos o aperto de mãos olhávamos fixamente nos olhos um do outro.  Estava impressionada com ele. Raramente alguém me chamava a atenção desde o primeiro momento. Do lado de fora daquela mansão, percebi que o cheiro perfume tinha ficado na minha mão.

-Ai, deu deus! Que delícia! – Eu disse e fui correndo para casa.

*

Retornei para casa fiquei pensando nele durante um tempo.  Era como uma entrevista de emprego comum mas estava impressionada. 

- Que homem, meus Deus! - eu disse me abanando

Ouvi o telefone tocar.

- E aí? Como foi a entrevista? – Perguntou Annie.

- Terrível. – Respondi eufórica. – Aqueles olhos, aquele jeito sério e superior de ser. Como você consegue trabalhar para um cara desses? – Perguntei.

Ela riu.

- Só fazer o que ele pede.- aconselhou. 

-Como assim? – Perguntei assustada. – Como é ser uma acompanhante?

Ela riu mais uma vez.

- Ué? Você não é uma atriz renomada? – Ela perguntou em tom de zoeira.

- E desempregada. – Eu completei. 

- Lamento. Vai se divertir.

Ela desligou. Eren chegou um pouco depois.

- Como foi a entrevista?

- Péssima. – Respondi. – Ele é um narcisista. Você precisava ver. Essa gente parece que está em um pedestal e não vai descer nunca.

Eren me olhava e apenas sorria.

- O que foi? – Perguntei.

- Nada. – Respondeu sorrindo. – Tem muito tempo que eu não vejo você assim tão...

Olhei para ele.

- Tão o quê? – Perguntei preocupada.

- Não sei. – Respondeu indo para a cozinha. – A quanto tempo você não namora?

- O que tem haver? – Perguntei surpresa.

- Só parece feliz. Deve ser o pagamento.

Me mostrou um cheque que arranquei da mão dele.

- Me dê isso. – Olhei surpresa. – Como assim? Isso é dez vezes mais que eu ganhava no meu antigo emprego! – Olhei para ele. – Por uma noite?

- Sim. – Ele respondeu pegando de volta.

Peguei da mão dele outra vez.

- Não, não, não. Não podemos aceitar. – Disse rápida.

- Mikasa! – Ele pegou de volta. – Vá trabalhar e aproveite este evento.

Suspirei e fui para o meu quarto, estava cansada. Tinha tido um dia cheio.