Fanfic: Ao Simples Toque
Ao
acordar nada mais era como antes. Lucas não estava mais na calma Saracena, ele
não podia ver os montes da Calábria e nem se quer ouvir os rumores dos
saracenos sobre a bela Castrovillari. Ele não podia crer naquilo que via.
Estaria ele sonhando? Passou a caminhar por aquela floresta desconhecida, fazia
bastante frio. Lucas resolveu parar entre duas árvores muito altas, ao olhar
para cima não se enxergava o céu, porém ele não sabia se era apenas o efeito da
noite ou se realmente era pela mata fechada. Tudo em que ele conseguia pensar
era em como teria chegado ali se tudo parecia tão real e não apenas um sonho ou
ilusão.
Depois
de minutos que pareciam se arrastar por conta da incerteza, Lucas resolveu
consultar as horas em seu relógio que por algum motivo não funcionava mais.
Aquilo lhe aumentou o pânico. Milhares
de coisas vinham a sua cabeça, inclusive que estaria ficando louco. Sua última
esperança era seu celular, mas o mais impressionante foi que ao tirá-lo do
bolso o aparelho também não funcionava mais. Alguma coisa muito estranha estava
acontecendo, aquela sim era uma certeza.
Certo
tempo depois Lucas estava recostado em meio às duas árvores sem saber como se
movimentar, o breu da noite fazia com que ele não enxergasse um palmo a sua
frente e então ele resolveu esperar amanhecer. Lucas sentia um vazio como
nunca, apesar de ele saber que não estava sozinho naquela floresta. Ao longe se
ouvia o barulho do casco de um cavalo que parecia aproximar-se com o tempo. Quando
ele se resumia a milhares de pensamentos sem rumo certo, foi abordado por um
sujeito com vestes muito antiquadas seguido por uma comitiva também muito
diferente. O homem que tomava a frente da comitiva não lhe parecia nada
amigável e isso só lhe parecia mais notável ao modo que se aproximava mais de
Lucas com uma tocha de fogo em mãos.
-
O que pensas fazer? – Perguntou o homem com a expressão carrancuda.
-
Do que está falando?- Perguntou Lucas todo confuso.
-
A comitiva da princesa tem de passar, saia logo da frente!-Em um tom claro de
ameaça.
-
Princesa?- Indagou Lucas.
-
Se tu fores um bárbaro estará ferrado. E então é melhor entregaste. – O homem
estava com a tocha bem próxima ao rosto de Lucas.
-
Bárbaro? Que termo mais antigo. - Quase rindo da situação.
-
Teremos que vos levar como prisioneiro. - Ameaçando de verdade naquele momento.
-
Não que isso eu estava apenas brincando. – Começando a entender as ameaças.
-
Que linguajar é este?- Começando a temer.
-
Perdão, não é nada. – Abrindo caminho para a comitiva.
Com o fim daquele dialogo Lucas só
pode ficar com medo do que veria, e principalmente do termino daquela
incerteza. A única certeza que tinha naquele instante é que estava em algum
lugar bem exótico, pois falavam latim ao invés de qualquer outra língua ainda
utilizada. A verdade poderia ser bem dura e o que era mais provável que fosse.
Muitas coisas já estavam bem claras para ele, e uma delas era que ele não
estava mais na Itália, pois ali não havia princesas e nem nada equiparado à
família real. Com o passar da comitiva, e principalmente da carruagem de onde a
suposta princesa estava, Lucas não pode deixar de reparar na beleza da moça.
Ela por sua vez também ficou intrigada com a beleza e ao mesmo tempo com suas
vestes que lhe pareciam tão poucas. Tudo que Luiza queria saber naquele momento
era de quem se tratava, mesmo que isso fosse um perigo enorme para Carcassone.
Lucas por sua vez não pode deixar de
reparar em como todos se comportavam como pessoas do passado, até o modo de
falar não era o mais comum naquela época. Luiza ficou a olhar até a escuridão
tomar conta do local de onde estava Lucas, ela desejava vê-lo novamente mesmo
que isso também trouxesse alguma artimanha para acabar com a sua cidade.
Andando devagar Lucas esbarrou em uma pessoa que se virou mais assustada que
ele, porém ao olhar para aquele rosto ele viu que era alguém conhecido e não
mais estranhos.
- Danilo? – Indagou Lucas.
- Lucas, onde a gente está?-
- Nem imagino Danilo, era tudo que
eu desejava saber. – Lamentando que o amigo também não soubesse de nada.
- Mas de uma coisa eu sei, temos de
ficar alertas, pois essas pessoas são muito estranhas. – Falou ele com certeza.
- Realmente parecem de outra era. –
Falou Lucas ainda sem acreditar.
- É. Parecem pessoas medievais, ou
pelo ao menos é assim que eu as imagino. –
- Porém isso é impossível Danilo, as
pessoas não voltam no tempo. –
- Não voltam mesmo... E então temos
que descobrir o que é isso tudo. – Fazendo gestos indicando o seu redor.
- É. – Falou ele ainda sem acreditar
no que via.
Não
dando mais tempo para falarem nada, um cara encapuzado parou ao lado dos dois
garotos e passou a observá-los da cabeça aos pés. Com aquela situação os dois
só puderam ficar mais intrigados. Lucas e Danilo acharam o homem totalmente
estranho, mas vendo a expressão no rosto dele, o dois rapazes puderam chegar à
conclusão que o sujeito achava o mesmo dele. Calaram-se então, e ficaram na
espera que aquele homem se manifestasse para talvez entenderem o que se passava
e quem sabe poderem voltar para a realidade da qual estavam acostumados a
viver.
-
Loucos ficaram? Como podem estar somente usando roupas de baixo? E que roupas
mais estranhas. – Fitando-os.
-
Roupa de baixo? Isso aqui são uma bermuda e uma camisa. – Respondeu Danilo
irado.
-
Estão a pirar, usando essas roupas e este linguajar. Caminhem neste instante
para o casebre a fim de vestirem-se! –
Lucas
olhou para Danilo com um ar de quem achava que o melhor era acatar aquela
ordem. Danilo concordou simplesmente andando em direção ao casebre. Os dois se
vestiram a típica, as vestes não tinham um bom cheiro, mas aquietou os tremores
que vinham sentindo por todo corpo por conta do frio. Danilo entendeu o que
Lucas queria fazer sem ao menos que falasse nada. Estando vestidos com aquelas roupas
não chamariam mais atenção e então poderiam descobrir o caminho a seguir. Porém
ao saírem do casebre não se contiveram e caíram aos risos das roupas que
vestiam.
-
Você está parecendo com um bobo da corte. – Afirmou Lucas.
-
E você com o Pedro Álvares Cabral. – Rindo do amigo respondeu Danilo.
Os
rapazes largaram as cenas de deboche para outra hora menos complicada, ainda
tinham que pensar no que fazer para descobrir onde estavam como chegaram e como
poderiam voltar. A certa altura do caminho encontraram-se com uma moça, ela era
muito bonita, tinha os cabelos bem longos e ruivos e seus olhos brilhavam num
verde intenso mesmo com o ofuscar noturno. Só que ao vê-los ela se escondeu
atrás de uma árvore que ficava bem próxima da entrada de uma pequena e simples
casa. Danilo que já não agüentava mais aquelas atitudes nada comuns se virou
num tom muito claro ao amigo.
-
Lucas essas pessoas parecem viver no passado, parecem estar ainda nos anos 1222
ou algo bem parecido. – Com raiva.
Antes mesmo que Lucas pronunciasse a
sua resposta, a moça saiu de trás da árvore com uma resposta bem pronta para
Danilo.
- Cinquenta anos fazes de fato total
diferença, os moços vêm de onde por acaso? – Perguntou ela toda pomposa.
- Nós viemos da Itália. – Respondeu
Danilo.
- Itália?- Perguntou a moça toda
interessada no que ouvia.
- É, mais especificamente da Saracena.
– Respondeu Danilo com um olhar nada amigável a bela moça.
- Parece-me a pirar, que lugar mais
estranho é este do qual citara? – Perguntou ela tentando entender.
- Estranho para mim é todo aqui. -
Respondeu Danilo com mais raiva ainda da situação.
- O que você quis dizer com ciquenta
anos? – Indagou Lucas entrando na conversa.
- Mencionaste o passado e ainda
achaste que estávamos em 1222 e já se passaram longos cinqüenta anos. -
Respondendo a Lucas, porém olhando para Danilo.
Depois daquilo que ouviram, nem mais
Danilo tinha argumentos. Os dois ficaram calados e se olhando. As bocas estavam
abertas sem nem que percebessem. Estariam eles participando de alguma
brincadeira? Aquela altura dava para perceber que era bem mais sério do que
queriam que fosse. Realmente estavam na Era Medieval, mas ninguém podia
imaginar como aquilo era possível. Estavam presos no passado. Sem mais os dois
começaram a se questionar, estariam de fato sonhando, um sonho daqueles que se
parece que é bem real e que ao acordar dá um enorme alívio, era o que mais
vinha à mente dos dois.
- Só me responda uma coisa. Isso é
alguma brincadeira?- Perguntou Lucas.
- Brincadeira? Ouça-me eu não tenho
tempo para isso, tenho que me apressar e melhorar meus dotes, meu pai ainda não
me arrumou um esposo. – Falou ela lamentando.
Com aquela declaração não tinham
mais o que questionar. Aquela pobre moça não saberia os informar a maneira de
que poderiam voltar. Se mencionassem algo do tipo poderiam até morrer, falar
aquelas circunstância era um perigo sem igual. Danilo estava tão perdido em
seus pensamentos que agora eram mais certezas do que incertezas que começou a
mexer em sua barriga fazendo com que ela aparecesse, Lucas olhou para a moça
que estava totalmente boquiaberta com a mania de Danilo.
- Saia já daqui seu pervertido. -
Gritou ela.
- Eu não sou pervertido, louca não
lhe fiz nada. - Gritou Danilo.
- Mas pretende fazendo isso. – Apontando
para ele.
- Isso o que? – Sem entender.
- Você sabe e olha que você não é o
meu consorte. - Indignada.
- Seu o que? – Debochando.
- Esposo. – Respondeu ela.
Lucas puxou Danilo, pois enxergou
que ele não havia percebido o que fazia. O que não era nem de longe normal na
época em que estavam, mas também não era algo que o pudesse julgar, aliás, estava
a muito pouco tempo naquela circunstância para que pudesse se policiar.
Seguiram até pouco mais a frente, de onde passaram a ouvir um barulho incessante
de alguém correndo, resolveram se esconder.
A moça não os odiava apesar de tudo.
Ela não saiu da porta de sua casa mesmo depois da retirada dos dois rapazes.
Ela estava muito intrigada com a passagem da princesa àquela hora da madrugada.
Porém ela também temia entrar em sua casa e descobrir que seu pai havia visto a
conversa dela com aqueles dois sujeitos. Era um descuido sem explicação da
parte dela, se alguém a tivesse visto era o fim de uma vida feliz, seu destino
seria a taberna e viver sem amor. Mas ela não poderia ficar ali pelo resto da
vida e resolveu entrar.
Escondidos em meio às árvores os
dois observaram um cara passar empunhando uma espécie de facão, o homem
resmungava algo do qual eles não conseguiam entender. Ao chegar à altura da
entrada da casa da moça o sujeito se encontrou com outro homem que estava
encapuzado e com uma feição de maldade.
- Carregavam uma artimanha
desconhecida. Tereis de invadir este casebre, podem estar abrigando o bárbaro.
– Contava ao outro homem fitando o local.
- Por que não o prendestes?-
Indagou.
- Com a passagem da princesa, o
perdi de vista. –
- Deveria ter passado a informação
ao soldado responsável pela comitiva. Poderá atacá-los em meio ao trajeto. –
Sem mais Lucas passou a desconfiar
de que se tratava dele. Os homens chegaram abrindo o casebre, a moça que já
estava à beira da cama levou um susto tremendo. Seu pai se levantou e foi ao
cômodo de onde os homens se localizavam, o velho pai dela tremia muito com medo
de ser um ataque.
- Ficaste louco de entrar na minha
casa dessa maneira? – Perguntou ele com raiva.
- Estamos à procura de um bárbaro. –
Falou o soldado.
A moça não pode deixar de escutar o
que aquele homem dizia a seu pai. Ela sentiu um medo tão intenso que suas
pernas passaram a tremer. Sua casa poderia estar marcada se Lucas e Danilo
realmente fossem bárbaros. E o pior ela poderia estar nas mãos deles.
- Não vê? Não se instala nenhum
bárbaro aqui. Meu lar é simples, mas é descente. – Afirmou o velho homem.
- Devo-lhe meu pedido de desculpa,
mas não podemos de deixar de observar. Qualquer coisa contate-nos. –
- Claro. – Concordou o homem já
abrindo a porta.
O sentimento de culpa tomou conta
daquela moça, algo poderia acontecer a sua família por apenas uma conversa com
dois estranhos, e então ela se prometeu nunca mais descumprir as leis de sua
casa. Porém ao se deitar em sua cama e não conseguir dormir, ela ficou com uma
enorme dúvida em sua mente. Como poderiam ser bárbaros e estarem vestidos tão
bem? Suas vestes tinham o enorme prestigio da nobreza e os olhares não passavam
maldade. Em sua essência de menina moça os olhos nunca poderiam mentir a
ninguém.
Lucas e Danilo seguiram tropeçando
em meio às árvores e arbustos, e esperaram não encontrar com nenhum animal no
meio daquela escuridão. Não parecia ter mais ninguém aos arredores, a mata
estava tomada por um silêncio absoluto. Nenhum mais queria falar no assunto,
tinham muito que pensar sobre a nova postura de viajantes do futuro em que
assumiam.
Autor(a): marquesthays
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Enfim amanheceu o dia, e a essa altura os dois rapazes já estavam bem perto da entrada da cidade. O muro alto de pedra demonstrava a realidade da era medieval, e eles não sabiam se iriam conseguir passar pelos portões. Pararam então há certa distância, de onde dava para observar o movimento e não serem observados pelo se ...
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