Fanfics Brasil - Mudar? Ao Simples Toque

Fanfic: Ao Simples Toque


Capítulo: Mudar?

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Pierre
estava ao lado do gordo Conde Trevanni escrevendo longas cartas. Vivenciando o
medieval na pele tudo mudava principalmente os conceitos que eles viram durante
anos em seus colégios tanto no Rio de Janeiro, como ainda mais intensamente na
Saracena. Muito inteligente ele logo desconfiou de que nem todos eram castos
como os livros e enciclopédias afirmam que os seres da Idade Média eram. A
Igreja tinha sim um papel muito importante, o clero era um dos maiores suseranos
que poderia ali existir, mas não deixava de ser hipócrita e mal
intencionada.  O que todo mundo sabia era
que a igreja era rica, mas não tanto vendo de perto, e como ela usava dos
poderes divinos para torturar e forçar as pessoas a fazerem o que eles
estipulavam certo. Porém nem todo mundo andava na conduta do catolicismo.
Pierre acreditava em Deus e rezava, porém não acreditava na lei que o clero
impunha.


            Pierre acabava de escrever as cartas
e passava para ajudar no campo. Não estava achando de todo mal, apesar de estar
trabalhando duro, estava com a mente descansada. Era como uma viagem
extracorpórea. Trabalhar ali era como férias, como diversão, tinha apenas que
fazer o que lhe mandavam e não mais elaborar o que ia fazer. Com o fim do
serviço estava indo para sua terra de onde já estava subindo uma pequena casa,
em quanto isso dormia em uma tenda feita por ele mesmo. Em meio ao caminho
avistou a bela Camila e acabou por tropeçar em uma pedra. Sua queda chamou a
atenção da moça que lhe dedicou um meigo sorriso casto. Todo desajeitado se
levantou e apenas devolveu-lhe um sorriso. Alguma coisa aumentou sua excitação
ao perceber que Camila vivia bem perto dali, com tanta coisa para arrumar e
pensar nem ao menos havia percebido que ali estava a pequena casa de onde ela
vivia.


            Camila não pode deixar de reparar em
Pierre, nem mais temia que ele falasse sobre a conversa que tiveram outrora,
apenas se alegrou em vê-lo por ali. Encontrou-se com a pequena Bianca que
ajudava sua mãe a bordar algumas túnicas, ela as ajudaria. Com sua distração
acabou por espetar o dedo, estava eufórica com o encontro que acabara de ter em
total surpresa. Sua mãe com o cabelo preso a um birote lançou um olhar
questionador a filha que logo se reposicionou tentando manter a postura e nada
passar de que não devia. Prosseguiram com os bordados, porém a mente da moça
continuava bem distante. Nunca estavam paradas, sempre aprimorando os dotes
desde cedo, e mesmo depois de casadas.


            Nas proximidades de Carcassone
Danilo trabalhava pesado cortando madeiras e as transformando em móveis outros
utensílios diversos. Quando a noite caia, dormia como pedra. Nunca fora
acostumado a trabalhar pesado, estava gostando de uma maneira esquisita, porém
não deixava de apreciar o que fazia. Seu trabalho transbordava talento e
criatividade, porém ele sentia um pouco de saudade de cantar em sua banda. O
estilo musical da época era até bastante aprimorado, mas, contudo não se
tratava do que ele gostava. No fim de um dia de trabalho pesado ele ficava
deitado em sua rede que ele mesmo havia arrumado uma maneira de tecer.


            Estava perdido em meio a pensamentos
que giravam em torno de como as pessoas deveriam estar agindo com o
desaparecimento dele e seus amigos, se é que esse era o caso. Será que o
momento em que viviam lá estava congelado e eles estavam em sono profundo como
quando acordaram ali? Com tudo isso, as incertezas voltavam com força total à
tona e para as perguntas não teriam respostas até que descobrissem o que
realmente aconteceu e como voltar. Porém naquele momento aquilo nem parecia
prioridade, o que era bem estranho comparado ao momento em que ele se via
desesperado com a descoberta da antiga era. Danilo também nem tinha prioridades
aparentes, só viveria. Naquele momento Suzi surgiu o espreitando da soleira da
porta. Sua pureza e suavidade causavam arrepios em Danilo, porém a garota o
irritava completamente, fazendo com que sua personalidade de marra ficasse bem
mais aguçada.


 


            - O que faz ai? – Perguntou ele.


            - Nada. – Respondeu ela de supetão.


            - Entre para sua casa, ou
comprometerás sua virtude. - Falou ele num tom sarcástico.


            - Claro. – Respondeu ela
tristemente.


 


            As pessoas daquela época na maioria
eram ingênuas e sem maldade.  Suzi sentiu
sua presença rejeitada por Danilo, ela não conseguia captar o sarcasmo como o
que ele realmente era e sim como uma maneira de rejeição. A menina foi para o
seu quarto chorar, não era muito tarde, porém a menina achava que seus dotes de
nada valiam, já que não tinha pretendente a casar-se. Porém Danilo não se
contentou com a saída da menina e chegou à altura de sua janela para
atormentá-la.


            - Sabe qual a maior virtude de uma
garota?- Perguntou ele no mesmo tom zombeteiro do amigo.


            - Saia daqui. – Falou ela limpando
as lágrimas.


            - Por que choras?- Perguntou ele
sério.


            - Não vê? Eu já estou a beirar meus
dezessete anos e ainda não me casei, e nem ao mesmo tenho um pretendente. –
Desabando no choro.


            - Mas ainda é nova. É uma menina. -
Falou ele.


            - Não tente me reanimar após me
escorraçar, sei que acha que também não sou uma menina com ótimos dotes. -
Respondeu ela triste.


            - Não te escorracei, só não quero te
prejudicar. - Afirmou ele.


            - Obrigada. – Sem animo.


            - Você é pura, é meiga, é doce e
sabe lidar com qualquer serviço que uma mulher deve saber. – Afirmou ele em
saída.


            Para Suzi era bem difícil não ser
ainda prometida a ninguém, sua irmã Jesebel com apenas quatorze anos já era
prometida de um artesão assim como seu pai. Naquele tempo era comum as moças se
casar antes dos dezenove anos, sendo ensinadas desde novas a serem aptas a
cuidar de um lar e de seu esposo e filhos. Geralmente se casavam com homens bem
mais velhos e quase todos os casamentos eram arranjados. Somente umas poucas
uniões eram aceitas por amor, e quase sempre pela classe dos camponeses. Porém
Danilo não podia enxergar como ninguém ainda havia feito o pedido pela mão de
Suzi, ela era linda e tinha uma pureza tão doce que até mesmo ele poderia
casar-lhe se... Naquele exato momento, veio um calafrio da cabeça aos pés, ele
não podia de maneira nenhuma se apaixonar por ela e nem por outra moça daquela
era, teria de voltar para seu lugar verdadeiro e como seria amar alguém que já
teria morrido há várias centenas de anos antes.


            Suzi ficou de certo admirada com a
atitude de Danilo e se sentiu melhor, pois percebeu que a atitude dele nunca
havia sido com a intenção de escorraçá-la ou de ferir. Os olhos dele eram
brilhantes e não se desviavam de sua orbita, a verdade absoluta dos olhos era
inviolável para ela. Deitou-se para dormir, não podia descuidar-se de seus
afazeres diários, e de seu aprimoramento constante nas suas técnicas do lar.
Danilo também dormiu em sua rede, estava tão cansado que sua mente não teve
força nem para projetar um simples sonho.


            No castelo do rei Lucas ainda não
dormia. Depois de tratar de Luís XV e de lhe ajudar com cartas e mensagens para
alguns nobres em Carcassone, foi liberado para sim dormir. No grande castelo
havia aquelas grandes tinas de madeira de onde se tomavam banho, porém não se
era permitido os serviçais se banharem e mesmo a família real só utilizava em
ocasiões especiais. Lucas não conseguia imaginar meses sem banho, só de pensar
começava a coçar. Estando quase satisfeito com sua situação, ele só esperava
que pudesse tomar um banho. Outra coisa da qual ele tinha pavor , quando ele
tinha que fazer suas necessidades físicas, estando na era medieval eram usadas
fossas o que ajudava a propagar mais as doenças e além de que lançava um
péssimo odor ao ar. Lucas estava de certo pensando em construir uma fossa seca,
o que não existia naquela época, porém se foram mandados para estar ali é
porque algumas mudanças eram aceitáveis.


            No seu pequeno e imundo quarto,
começou a fazer mudanças. Chegava cansado, mas ao menos uma vez na semana fazia
uma limpeza ali, tinha que ajudar no máximo a não ter propagação de ratos.  Lucas deu dicas às serventes do castelo para
ajudar a manter o local com menos ratos possíveis, elas não entenderam, mas ele
como médico no castelo, elas aceitavam a sugestão. Lucas estava feliz por poder
exercer sua profissão, mesmo que com técnicas tão antigas.


            Resolveu sair em busca alguma ervas
aromáticas, tomaria banho mesmo que fosse no rio.  Quando passava pelo longo canteiro frontal do
castelo, avistou uma pessoa ao outro lado que olhava em sua direção. Estava
escuro e acendeu uma tocha para se guiar. Ao olhar bem percebeu que era a bela
princesa que viu passar na carruagem outrora. Ela era linda, com os cabelos à
altura da cintura e bem negros, seus olhos também eram negros o qual fazia
realçar sua pele clara e rosada ao largo das maçãs de seu rosto. Era a
descrição de uma beleza incomparável, era o exemplo para a perfeição.  Seus lábios tão bem desenhados, seus cílios
longos e volumosos, seu olhos num formato amendoado. Era uma beleza tão pura e
ao mesmo tempo tão sensual.


            Lucas ficou ali imóvel, por um
segundo quase se esqueceu do que estava a fazer. Luiza também não se moveu, ela
o reconheceu e queria se aproximar. Porém seu pai não permitia que dissesse
nada aos serviçais. Nem ao menos sabia de quem se tratava, e o que fazia ali,
porém ela queria mais que tudo descobrir. Com a chegada de seu irmão Luís XVI
não se conteve.


            - Quem é? – Olhando na direção de
Lucas.


            - É o médico de nosso pai. –
Respondeu o irmão sem saber o que mudava.


            - É um estudioso?-


            - Me parece que sim, pois ele sabe
ler. – Afirmou ele. – Agora entre, você sabe que não querem que fique de
passeio a essa hora. –


            - Sim. Só vim apanhar uns jasmins
para meu quarto – Levando consigo um ramo das pequeninas flores.


 


            Luiza entrou acompanhada do irmão. E
Lucas resolveu deixar para o próximo dia a busca pelas ervas, não teria a menor
atenção em sua procura depois daquele magnífico encontro.  O castelo era enorme, e como as mulheres
ficavam sob um tipo de guarda, era quase impossível se encontrar com a bela
princesa por aqueles cômodos empoeirados. A aparência medieval era um pouco
fúnebre, paredes escuras e de pedras, passava uma impressão bem triste. O que
Lucas havia visto em um canto do castelo eram os cintos de castidade, onde
obrigava a pessoa a não manter relações sexuais na ausência do esposo. Havia
modelos masculinos também, mas era bem menos usado. Aquela época a opressão era
quase exclusivamente às mulheres. Porém ninguém tinha liberdade total.


            Lucas se deitou para dormir, mas o
sono não vinha, ele queria a qualquer modo ver Luiza de perto, ver sua
delicadeza mais de perto, queria tocar sua pele que passava a impressão de
maciez, porém ele sabia que isso teria que ficar somente em sua mente, se
fizesse qualquer coisa, iria para a guilhotina com toda a certeza. Luiza subiu
para seu quarto e colocou os jasmins em um jarro, lavou seu rosto e vestiu-se
para dormir, ficou a pensar em que aposento da parte baixa do castelo ele havia
de estar, mas não poderia jamais chegar perto. Deitou-se então, mas a
impaciência não a deixou dormir.


            O dia começava até mesmo antes de
clarear, os servos já estavam de pé fazendo seus afazeres. Pierre havia de
esperar por Conde Trevanni e então prosseguiu com sua pequena construção, tinha
que acabar seu pequeno quarto até que o inverno chegasse, pois mesmo o inverno
europeu de tão rigoroso matava milhares de pessoas.  Com o passar de um tempo, Pierre se dirigiu
ao local que estava o Conde Trevanni.


            - Farás hoje mensagens informando
meu casamento. – Com a cara carrancuda de sempre.


            - Sim senhor. – Respondeu Pierre.


            - Será com o avançar da lua. –


 


            Pierre permanecia calado e somente
escutando, achou de fato estranho a citação da lua.


 


            - Estou enamorado pela minha doce
noiva, desde que ela crescera linda e formosa como a flor da manhã, que propus
casá-la. – Falou o homem gordo sem deixar de ser carrancudo.


            Pierre apenas escutava em quanto lia
mensagens que chegava de alguns nobres de vilas bem aos arredores.


            - Porém estou esperando ela completar
seus dezessete anos. –


            Os convites de casamento à corte
eram bem informais, só informavam que Conde Trevanni iria se casar, festejando
em suas terras. Não informavam com quem. Conde Trevanni havia sido casado com
uma mulher, porém divorciara e resolveu casar-se novamente. O divórcio era
permitido em casos muito específicos. O adultério era um crime muito sério, mas
muito cometido à surdina. Com o divorcio podiam casar-se novamente. Os filhos e
bens ficavam para o marido nesse caso. Apesar de o sexo ser abominado pela
igreja se não por fins da reprodução e com matrimônio existiam muitos filhos
bastardos, o que mostrava que isso não era mesmo executado. O conde tinha um
filho, do qual vivia a beira de tabernas e não tinha de maneira nenhuma uma boa
conduta. A antiga mulher dele sumiu após divórcio.




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Autor(a): marquesthays

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