Fanfics Brasil - Felicidade - O Despertar Felicidade - O Despertar

Fanfic: Felicidade - O Despertar | Tema: Cotidiano


Capítulo: Felicidade - O Despertar

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“Meu pai é bombeiro!”. “O meu é médico!”. “Meu pai trabalha numa fábrica enorme!”. “E o seu? O que seu pai faz?”.


Ah, como eu odiava essa pergunta! Todas as meninas da sala tinham pais com profissões emocionantes, enquanto meu pai... Ele tinha uma livraria! Sim, uma livraria... Nada de apagar incêndios, nem de salvar vidas, ou mesmo fabricar coisas, meu pai vendia livros. O pior é que eu nem podia mentir e falar que ele fazia outra coisa, todo mundo na escola conhecia a livraria do meu pai.


Eu evitava ao máximo ir lá, o que eu faria no meio de um monte de livros? Eu não conseguia entender como alguém conseguia ficar tão fascinado diante deles. Para mim eram todos iguais: tinham letras e mais letras, palavras, frases, parágrafos... Deus do céu, já não era o bastante ter que lidar com eles na escola?


Meu pai bem que tentava, ele sempre trazia algum livro pra casa dizendo que deste eu iria gostar. Ele me dava, eu abria, olhava todas aquelas palavras e o entregava de volta. Lembro-me da cara de tristeza que ele fazia, porém mais triste era eu de não ter nada o que contar para as meninas da sala sobre os feitos do meu pai. Imagine só: “ontem meu pai vendeu um livro!”, elas iriam rir da minha cara! Ninguém se importava com livros. Bem, exceto por uma garota.


Estudávamos juntas desde o jardim de infância, e desde daquela época ela já demonstrava um comportamento muito estranho. Enquanto todos os outros dormiam quando a professora lia em voz alta alguma estória de algum livro qualquer, ela ficava lá: prestando atenção, escutando, rindo, se assustando. Ela parecia gostar, tanto que por diversas vezes pedia para a professora ler mais e mais.


Ela foi a primeira de nós a aprender a ler, e desde então sempre estava com um livro onde quer que fosse. A biblioteca da escola era seu lugar predileto, enquanto estávamos todos brincando no pátio, ela passava horas lá dentro. Não duvido nada que ela tenha lido todos aqueles livros. O pior de tudo é que ela sabia do meu pai. Várias vezes tentava puxar assunto, perguntava se meu pai me dava livros, se ele os levava para casa, se ele os lia pra mim! É claro que eu a ignorava, tantas coisas mais interessantes para conversar e ela queria falar sobre livros!


Um dia durante a aula de língua portuguesa, a professora leu um trecho de um livro de Monteiro Lobato: As reinações de Narizinho. Ela ficou em êxtase, disse bem alto que sonhava em ler esse livro, que não havia exemplar dele na biblioteca da escola e na biblioteca pública ele nunca estava disponível. Lembrei que meu pai havia me dado esse livro para ler. Ele me disse que eu iria adorar a Narizinho, porque erámos muito parecidas. Ri por dentro imaginando como uma personagem de um livro poderia ser parecida comigo! Como todos os outros nem dei bola para o livro. Ainda mais que era enorme! Como alguém teria paciência de ler tudo aquilo!


Ao fim da aula falei para a menina estranha que gostava de livros que por acaso eu tinha aquele em casa. Ela arregalou os olhos e perguntou se eu poderia emprestá-lo. Falei que sim, afinal não tinha nenhum plano especial para ele, disse para que passasse na manhã do dia


seguinte em casa. Ela ficou em êxtase, não disse uma palavra, apenas assentiu com a cabeça e saiu correndo, saltitando, cantando, feliz da vida como se houvesse ganhado um prêmio. Tal atitude só me confirmou o quanto ela era estranha.


Chegando em casa aquela tarde, fui procurar o tal livro, o encontrei junto a todos os outros, numa estante no meu quarto onde meu pai os guardava na esperança que um dia eu os fosse ler. Peguei aquele exemplar pesado e o coloquei em cima da escrivaninha, por um momento fiquei olhando para sua capa: uma garota dormia, enquanto animais e outras figuras metade humanas, metade animais circundavam sua cabeça. Franzi a testa, o que seria aquilo? Levada pela curiosidade peguei o livro, o abri e pela primeira vez comecei a ler todas aquelas letras, palavras, frases, parágrafos... Perdi a noção do tempo, tanto que nem percebi quando meu pai entrou no quarto para me chamar para jantar. Tomei um susto, olhei para ele e vi o maior sorriso que jamais havia visto em seu rosto. Ele então me abraçou, senti algo molhado em seu rosto, seriam lágrimas? Ele não disse uma palavra, eu tampouco. A única coisa que me passava pela cabeça era: “e agora? O que farei quando a garota estranha que gosta de livros aparecer aqui amanhã?”.



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Autor(a): rafa_martins

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