Fanfic: Felicidade com destino! | Tema: Epoca e Romance
FELICIDADE COM DESTINO
Valerio Nunes de Araújo
Ela era linda, alta, um corpo exuberante cabelo comprido e um andar que chamava a atenção de todos, inclusive de todos os alunos de sua escola. Tinha no bolso do seu vestido longo um chave de sua moto que ganhara de presente do seu pai no dia do seu aniversário. Como se não bastasse, carregava na garupa de sua motocicleta vários gibis de um autor muito famoso no mundo infantil, seu nome: Mauricio de Souza. Ela distribuía gratuitamente pois seu pai era dono de uma livraria, então tinha a sua disposição várias coleções, inclusive de romances. E pensava silenciosamente: Oh! Como é bom ser filha de um dono de livraria.
Pouco aproveitava a leitura, em vez de ler pelo menos um livrinho qualquer, ela queria mesmo é estar na rua e principalmente distribuir livros e revistas que seu pai julgara velhos demasiadamente para serem vendidos. Atrás de cada livro escrevia com letra bordadíssima palavras de autoajuda, assim fazia todos os dias desde que tivesse em suas mãos livros a disposição para doação. Todos aceitavam seus livros e gibis, menos um rapaz baixinho, olhar sério, cabelos encaracolados e concentrado na leitura de seu jornal. Mas que talento ele tinha para a crueldade. Ele era pura vingança, em seu cantinho, cabisbaixo, fazendo sua leitura de um jornal que nem se quer era do dia, jornais atrasados que ele pegava na padaria da esquina. Como esse rapaz devia me odiar, eu que era imperdoavelmente bonitinha, esguia, altinha, de cabelo livre e que chamava a atenção de todos os rapazes, parece que comigo exercia com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de presentear os amigos com livros, revistas, gibis, tudo antigo, mas valia muito a pena estas leituras. Para mim se tornou humilhações a que ele me submetia: continuava a implorar-lhe a sua atenção e todos os dias ele tinha o mesmo comportamento. Até que veio para mim no meio de tantos livros descartados pelo meu pai o clássico da literatura de Graciliano Ramos “Vidas Secas” Este era o livro que ele com certeza iria aceitar
Era um livro que narrava a história do povo sofrido do sertão e de uma cachorrinha chamada Baleia que tem um fim trágico. Meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de quaisquer expectativas. No dia seguinte, lá estava eu com apenas um livro em mãos e que com certeza aquele rapaz que me rejeitava e nem se quer olhava para mim, desta vez, iria fitar os olhos na direção daquele livro. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à padaria correndo, literalmente correndo. Ele lá estava, não me viu e nem se esforçou para ver que eu adentrara no recinto. O proprietário me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia interesse em comprar livros usados e que eu voltasse no dia seguinte para tratar de valores. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar sobre minha motocicleta, que era o meu meio de transporte, desta forma distribuía mais livros. Papai se interessou pelo negócio proposto pelo dono da padaria, mas eu não concordava pois distribuía presentes para pessoas menos endinheiradas. Discuti com papai e mamãe ficou do seu lado dando-lhe total apoio. Mas o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pensando sobre aquele rapaz que tinha uma beleza peculiar, mesmo sem conhece-lo, achava-o bonito. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano de papai negociar livros usados foi posto em pratica e eu como filha do dono da livraria era financeiramente bem resolvida, tinhas minhas economias guardadas. No dia seguinte lá estava eu à porta da padaria com um sorriso e o coração batendo forte, o rapaz não estava por lá e foi perguntado a mim se eu havia trazido os livros, eu respondi que não e que papai estava viajando. Para ouvir a resposta calma: O senhor falou, tudo bem, amanhã eu espero receber todos os livros, então ele me pediu para que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia papai, no decorrer daquela semana, o negócio de vender livros usados para o dono da padaria estava dando certo, pois todos os dias eu lhe entregava dinheiro correspondente as vendas.
E assim continuou por várias semanas, quanta tortura, para mim era uma felicidade clandestina, eu queria doar livros, mas tinha que compra-los pois papai resolvera em vez de me dar para distribui-los, resolveu-vende-los.Meu coração ansiava por emoções, mas por quanto tempo? Não sei. Ele, aquele rapaz que ficava lendo jornal na padaria, mas sabia que eu gostaria de conhece-lo e lhe presentear com o livro Vidas Secas, eu suspeitava que ele era um sertanejo devido as suas características. Para mim era tempo indefinido, Eu já começara a adivinhar que ele me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia todos os dias a padaria, e o senhor dono me questionava: Por que você vem aqui todos os dias e nem se quer traz livros, assim que falou que iria negociar com meu pai, os livros sumiram, eu dei uma risada interior, mas meu objetivo estava mantido, distribuir livros de graça. De repente ouço uma voz: Entre Pedro, quer ajuda? Ele sentou-se à mesa e logo recebeu o jornal, meu coração pulsava de felicidade ao estar frente a frente com aquele rapaz. Às vezes ele dizia: Que horas são, de que dia é este jornal? Quando de repente um carro parau a porta, era papai, eu fiquei descontrolada e sai correndo feito uma doida, ninguém entendeu nada, inclusive o rapaz que olhou levemente para o lado. Horas depois, estava em casa quando papai chegou berrando aos gritos: minha filha, mentirosa, irresponsável. Mamãe veio em minha direção e evitou que papai com um sinto em mãos me desse uma chicotadas. Eu chorava descontroladamente até que resolvi contar toda a verdade a papai e mamãe, falei que comprava os livros do próprio papai para ajudar as pessoas que gostavam de ler e não tinham dinheiro, falei que gostaria de ver um mundo melhor através da leitura. Neste momento meus pais me abraçaram e resolveram me apoiar no meu projeto. Saí alegremente e quando passava em frente a padaria, vi o rapaz entrar, corri, peguei o livro Vidas Secas e falei pra mim mesmo: hoje eu entrego este livro. Entrei no recinto toda sorridente e o dono da padaria me olhou e me deu o sorriso me parabenizando pela minha atitude de comprar os livros do meu próprio pai, é que eles tinham mantido o contato e meu pai havia revelado tudo. Então o dono da padaria disse: Minha filha, eu também quero participar do seu projeto, dei-lhe um abraço e fui em direção ao rapaz e falei: bom dia moço! Ele todo tímido fez um esforço para me olhar e calmamente falou: - Oi moça, eu não sei quem é você, mas toda vez que entra aqui eu sinto o seu perfume. Ao olhar no fundo dos seus olhos, tomei um susto, ele era cego, meu Deus! Então percebi que ele usava o jornal para obstruir seu rosto. Ele me contou que gostaria muito de saber ler e eu falei a ele que isso não era problema pois a partir daquele momento eu iria lhe ensinar através do Braile, ele adorou a ideia e passamos a conviver dia a dia sabendo que a felicidade sempre tem um destino.
Autor(a): valerio
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