Fanfic: Laurinha | Tema: Felicidade Clandestina

A menina gordinha, ruiva e dos cabelos encaracolados, Laurinha, a filha do dono da livraria que não lia, estava sempre sozinha e com um doce em mãos, provocando as outras meninas. Era mesmo cruel.

  Após o empréstimo forçado do livro que eu lia e relia apaixonadamente, pensei em não devolvê-lo mais à dona, afinal ela não lia e era filha do dono da livraria, eu não, eu precisava do livro muito mais que ela, meu pai não era o dono da livraria e eu não só lia, eu me deliciava. Mas conforme foram se passando os dias e semanas, percebi que talvez a sua crueldade, fosse uma maneira de chamar a atenção, quase como um grito de socorro pela sua solidão. Então um dia resolvi ir até a casa da mesma e entregar o que lhe pertencia, por mais que um lado de mim não quisesse abrir mão do meu amante.

  Quando cheguei na rua, lá estava ela cheia de balas nas mãos sentada na calçada, por um momento relutei, pensei em voltar pra casa e fingir que não vi ela na calçada, mas a consciência bateu e continuei. Chegando perto, ela levantou a cabeça com os olhos comprimidos por causa do sol, e eu já fui logo dizendo: 

- Vim trazer o seu livro!                                                                                                               - Quanta demora, achei que tinha pegado pra você.                                               - De qualquer forma aqui está - disse eu lhe estendendo o livro.                     - Pode ficar pra você, é só um livro, como você sabe meu pai é dono da livraria, não preciso deste.                                                                                                       Por um momento eu esperei ela mudar de idéia, tal foi a surpresa, mas percebida a confirmação no rosto dela. Lá fui eu toda alegre e saltitante pelas ruas, tão feliz e entusiasmada que esqueci de agradecer.

  No dia seguinte, lá fui eu toda contente com o livro nas mãos para a escola e percebi que Laurinha não estava mais provocando, estava calada e distante, pensei em como tinha sido ingrata no dia anterior e fui me desculpar e agradecer, mas percebi que nada animava a menina. Então perguntei:

-Como você pode não gostar desse livro?                                                                        - Não gosto de ler, os livros são chatos.                                                                         - Já leu este? - e ela balançou a cabeça dizendo que não

  Então sentamos e eu mostrei pra ela as histórias do seu próprio livro que ela tanto desprezou, e assim fiz durante a semana toda, e percebi que ela foi tomando gosto pela coisa, não falavamos de outra coisa, não brincávamos de outra coisa, e quando vi já éramos verdadeiras amigas como nunca achei que fosse possível. 

  Um dia pedi que me levasse na livraria de seu pai, naquele dia ganhei um livro novo de presente, mais um amante. No final das contas, Laurinha não teve seu livro de volta, mas ganhou uma amiga, e eu percebi que Laurinha não era apenas a filha cruel do dono da livraria, era apenas uma menina sem imaginação, sem uma paixão, como a que eu tinha pelos livros. 

  Hoje já tenho muitos livros amantes meus, não vejo  Laurinha desde o colegial, ouvi dizer que se tornou professora.