Fanfics Brasil - A ganância por uma vida A ganância por uma vida

Fanfic: A ganância por uma vida | Tema: desigualdade social, egoísmo


Capítulo: A ganância por uma vida

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Ele era rico, dono de restaurante e sobretudo, solitário. De estatura baixa, praticamente careca, um tanto reforçado para a altura e com cara de poucos amigos, Roberto denominava-se uma pessoa “feliz”.  Tinha tudo mas ao mesmo tempo, nada. Não tinha família, nem amigos, não tinha namorada e nem paqueras. Vivia dentro do seu estabelecimento, absolutamente sozinho.


Passava o dia fazendo cálculos, procurando formas de gastar menos, de pagar o menor salário possível para os funcionários, e manter a clientela. Mas apesar desse lado desagradável, mantia o status de bom homem na sociedade.


Uma vez ao ano, depositava um valor mínimo para alguma entidade carente, ia à igreja pedir perdão por alguns minutos e pronto! O ano estava salvo e seu lugar no céu, garantido. E a imagem mantida era o cartão de visita, seu restaurante era um sucesso, o caixa transbordava dinheiro, e era isso que importava.


No centro do Rio de Janeiro, o Sabores da Vida era um ponto de referência. Volta e meia entrava um andarilho e outro pedindo comida, água ou até mesmo restos que sobravam. Roberto não permitia, onde já se viu um absurdo desses?! Um indigente sujo, adentrar em sem restaurante e espantar os clientes?! Inadmissível! Os expulsava como se fossem animais perdidos, afinal, já havia pedido perdão até mesmo pelo pecados que não havia cometido. Deus havia de entender.


E então surgiu Rosa, uma senhora simples, mas com um coração enorme. Entrou no salão onde a comida era servida e seus olhos brilhavam, já contavam alguns dias que não se alimentava direito. Mas ela não estava ali para pedir favor, propôs ao proprietário que em troca de faxinas, ele lhe desse duas refeições ao dia, já era o suficiente. O velho ranzinza sorriu e negou, disse que não estava precisando de ninguém no momento.


 Os dias passaram e a mulher cada vez mais sem saída e opção, retornava ao lugar, implorando emprego, clamando por alguma ajuda. Tinha como indicação, Marta, uma cozinheira que trabalhava à anos ali. De nada adiantou. Mesmo oferecendo seu trabalho em troca, não havia proposta.


Rosa, começou então a vender bombons em frente ao restaurante. Durou um dia. A arrogância de Roberto não tinha limite, fez a moça retirar-se. Ela se realocou do outro lado da rua, e com sua carisma, encantava todos clientes que por ali passavam. Mas as vendas dos doces não eram o suficiente, a mulher foi ficando doente por conta de uma forte desnutrição, ia dia sim e dia não para o ponto vender. Chegou a pedir novamente um emprego para o desgraçado, mas ele preferia jogar comida fora do que dar a Rosa.


A ruindade foi tanta, que ao desaparecimento súbito da senhora, os clientes estranharam, e então o restaurante começou a vender bombons, dizendo que ela estava de “férias”. Férias no hospital, sem uma visita, sem dinheiro para medicação, sem nada. Sem nada material, mas com tudo no coração. Não guardara mágoa, por mais que tivesse motivo.


Passou-se uma semana, duas… até que uma cliente, a qual era enfermeira, cobriu o plantão de uma amiga, e para sua surpresa, ali estava Rosa. Em seus últimos instantes, pediu que a garota dissesse à Roberto que o sabor preferido de bombom da maioria da clientela era morango moreno, e que nas quartas vendia mais de chocolate branco. Depois disso, partiu.


Todos ficaram sabendo, em seu velório havia quase uma centena de pessoas, as quais viam a senhora todo dia com um sorriso no rosto, independente da sua realidade. Ela foi uma pessoa querida por muitos, conquistou o afeto de desconhecidos e agora estava ali, prestes a ser enterrada.  


Roberto não podia fazer difente, afinal, ele era um bom homem. Passou na floricultura, pegou um maço de flores das mais baratas e seguiu para o velório. Colocou as flores sobre o caixão, rezou um oração qualquer, enxugou uma lágrima que sequer existiu e foi embora.


Abriu o restaurante, mas poucos apareceram. Apenas um mendigo  pedindo um pão dormido e um copo de café, mas este foi jogado para fora com uma vassoura, afinal Roberto já havia rezado no velório de Rosa. Deus havia de entender. 



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Autor(a): volmar

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