Fanfic: Felicidade Genuína | Tema: Felicidade Clandestina - Clarisse Lispector

  Ela era alta, magra, sua pele alva, de cabelos dourados encaracolados , tinha formas simétricas muito bem desenhadas enquanto todas as outras meninas eram achatadas e normais.

        Como se não bastasse tamanha beleza, enchia os dois bolsos da blusa de guloseimas que fazia questão de distribuir entre os cachorros mais esfomeados da rua, ela sendo filha do dono de uma das livrarias mais famosas de Recife tinha uma inteligência atípica para uma menininha, contudo , sentia que não conseguia ter muitos amigos, não conversava bem sobre assuntos que as outras crianças costumam gostar, as nuances de sua personalidade profunda não se encaixam no todo que eram seus colegas , sua sala de aula ou a escola. 

     Em seus aniversários os poucos amigos que conseguia convidar aproveitavam da festa e logo iam embora sem muitos afagos com a solitária aniversariante que antes de soprar as velhinhas sempre desejava conhecer alguém que fosse como ela e a convidasse para fazer o que mais amava que era devorar livros, quando tomava a iniciativa de começar alguma brincadeira chegava toda sorridente abraçada a um baita livro querendo compartilhar suas leituras, suas idéias mais interessantes, dividir assuntos do seu âmago e logo recebia as reações mais desinteressadas possíveis junto com sugestões para escolher outra brincadeira, sempre maleável aos desejos de quem ela queria aceitação acabava brincando de qualquer coisa que todo mundo queria, não conseguia mostrar seus livros preferidos, nunca conheceu quem pudesse conversar sobre os assuntos que achava importante e isso começou a incomodar-lá cada vez mais ao longo do tempo, não estava gostando do efeito que as atitudes das pessoas que ela convivia estava causando nela , chegou a um ponto que pouco conversava, quando raramente acontecia falavam sobre assuntos supérfluos ou ouvia sobre pensamentos chulos o que ia lhe esgotando todo o interesse  pelo convívio com as pessoas.

     Certo dia uma de suas colegas mais distantes veio ao seu encontro e começou a puxar assuntos sobre literatura ,  conseguiram conversar bastante, finalmente um assunto que lhe interessava havia surgido , as duas meninas possuíam muito em comum , descobriram até que o livro preferido delas era o mesmo; "As Reinações de Narizinho", amigavelmente a belíssima menina contou que ganhou a versão em quadrinhos deste Livro então convidou sua nova colega a ir em sua casa visitar-la para brincar e ler o valioso livro, quando sua amiga aceitou fez os olhos da solitária menina deslumbrarem como nunca por encontrar alguém que se interessou pelo jeito dela e queria estar em sua companhia.

    Estava no céu enquanto esperava por sua amiga durante toda a tarde , anoiteceu, nenhuma visita chegou em sua casa, no dia seguinte questionou sua amiga sobre o que havia acontecido então, friamente, ela respondeu que seus pais receberam familiares e que por isso não deixaram ela sair mas que naquele  mesmo dia depois da escola iria fazer a visita, passou o dia todo e sua colega não apareceu novamente, no outro dia contou a desculpa da mãe que adoeceu de última hora e por isso não pode sair, porém, ainda disse que iria em sua casa sem falta, só que a mesma situação se repetiu então vieram acompanhados do anoitecer a decepção e o choro ao perceber que sua amiga estava agindo como as outras não se importava com a pessoa que ela realmente era, talvez tivesse colocado esperanças demais numa simples conversa mas como dar um basta na esperança de que alguma alma congênita apareça pra acabar com a enorme solidão que faz até os corações mais frios chorarem rios , não era mais o desprezo de uma colega que lhe doía mas sim a desafeição que começava a sentir pelas pessoas.

    De tanto que chorou chamou a atenção de sua mãe que ao conversar com a menina ouvindo suas histórias de solidão percebeu que; sua filha sofria por algo que justamente eram suas principais qualidades , era uma pessoa desenvolvida intelectualmente, amava a natureza, pensava de uma forma extraordinariamente diferente , como explicar a menina que as pessoas se incomodavam com isso ?

Seria mais fácil contar-lhe o quanto ela é maravilhosa:

 _  Minha querida, infelizmente,nem todas as pessoas terão ouvidos e inteligência o suficientes para versar sobre tantos assuntos diferentes como você, alguns até se irritam com isso,

precisa entender que são elas quem deviam estar deprimidas por não conversarem com você.

  _ Mãe eu adoro ter pessoas perto de mim, dividir minhas idéias , aprender mais, se ninguem preocupar-se com o desenvolvimento do próprio intelecto, como poderão viver bem no futuro ? como vão aprender a sobreviver quando as coisas mudarem? será que eu nunca vou encontrar alguém com formas de pensar iguais as minhas ?

  _ O fato é que você precisa se preocupar consigo mesma , ir atrás do que lhe faz bem o quão longe for necessário, acreditar em si mesma acima de tudo e de todos, só assim viverá bem, ninguém vai poder atrapalhar sua felicidade se ela nao depender de ninguém.

  _  Será que tem como alguém não se sentir solitário estando afastado do convívio com outras pessoas ?

  _  Chama-se solitude minha filha, quando se atinge um bem estar pleno em meio a solidão ...

você entenda que vai precisar se sentir bem sozinha porque a vida vai te colocar em situações que você só vai poder contar com você mesma , seu intelecto e suas habilidades.

  _ Obrigada mãe! Agora o mundo me parece ainda mais solitário e amedrontador mas pensando bem  até consigo sentir uma paz em pensar que estou sozinha...

  _  Acostume-se com a melhor companhia que você pode ter que é a sua!

      Aquela menina deslumbrante tinha mais uma tristeza só que agora sabia o motivo certo para ser feliz.