Fanfics Brasil - TESTE LETRAS A Simplicidade das Coisas e a Felicidade

Fanfic: A Simplicidade das Coisas e a Felicidade | Tema: Clarice Lispector


Capítulo: TESTE LETRAS

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A Simplicidade das Coisas e a Felicidade


 


Tenho aprendido, no decorrer da minha vida, que a leitura pode nos elevar a um estado de graça, chegando a nos trazer felicidade. O prazer de ler é algo indizível.


Dez anos já se passaram e eu estou aqui de volta à minha terra querida... Muita coisa mudou em Recife e em mim, mas o sobrado onde morei juntamente com minha família, continua do mesmo jeito. Vale dizer que a até cor da fachada é a mesma, embora a pintura tenha sido renovada recente. Especialmente pela minha chegada.


No íntimo do meu ser, já havia decidido um dia voltar para o Brasil. Não pensei que fosse tão breve, mas uma das minhas irmãs estava doente e iria iniciar um tratamento de quimioterapia. Resolvi ficar fisicamente perto dela, pois o meu coração sempre estava ao seu lado. Ela é a caçula. Somos três irmãs. Amo-as como a mim mesma. Estamos sempre trocando correspondências.


Quando concluí meus estudos regulares, consegui uma bolsa para uma faculdade em Londres. Depois de alguns meses, uma amiga conseguiu uma vaga em uma pizzaria.Minha função? Entregadora de pizzas. Para isso, aprendi a pilotar motos. No começo, ainda levei algumas quedas ao dobrar esquinas. Alguns arranhões nos joelhos. Mas, como costumo dizer: “um joelho ralado doe menos que um coração partido”. Após concluir meu curso de Letras, comecei a trabalhar como tradutora e revisora de textos em uma gráfica e era correspondente em uma revista de Londres. Nunca me casei. Não que não quisesse, mas temia ficar de vez na Inglaterra. Gosto de ser livre: viajar quando puder e que pudesse sempre.


Parecia um sonho para mim e para minhas irmãs estarmos juntas por um longo tempo. Talvez até definitivamente. Traçamos planos, mas a vida é incerta. Juntas: o importante é vivermos o presente.


Em uma tarde, eu e minha irmã do meio fomos passear pelas ruas de Recife. Relembramos os banhos de mar que nosso pai nos levava para tomar. Saíamos bem cedo: às 4 da manhã. Meu pai nos ensinava que fazia muito bem tomar um banho de mar antes de o sol nascer. E como me fazia bem! Meus pais... Já não estão mais conosco. Minha mãe se foi quando eu ainda era criança. Meu pai, pouco tempo depois de eu ir morar em Londres. Sinto falta deles. Certamente estão em um lugar melhor. Bem melhor.


Em uma tarde, estava deitada numa rede, quando subitamente, veio a lembrança de mim abraçada com o livro Reinações de Narizinho. Aquele livro era para mim como um amante. Ele não era meu... Pertencia a uma colega de sala: a personificação do sarcasmo. Filha do dono de uma livraria. Às vezes eu a invejava, porque ela podia ler todos os livros que quisesse. Mas, não era aquela inveja de quem quer o que é do outro. Não. No entanto, gostaria que meu pai também possuísse uma livraria. Só assim não teria me humilhado tanto para ler o livro dos meus sonhos. Era até pecado enganar daquele jeito  o coraçãozinho de uma criança. E pensar que o livro estava o tempo todo em uma das estantes daquela imensa biblioteca em sua casa. Meu Deus! Fui à casa daquela  garotaincontáveis vezes com a promessa de emprestar-me o livro Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Enfim...


- E a loja de livros? Perguntei à minha irmã do meio que entrara no quarto. Ainda está no mesmo local?


- Sim. No mesmo local. Hoje tem uma fachada moderna. Na verdade é uma franquia de uma importante livraria.


Fiquei imaginando que paradeiro levara aquela minha colega, filha do dono da livraria e que tinha uma imensidão de biblioteca em sua casa? Será que ela ainda nutria a mesma crueldade? A sua mãe foi naquele dia o meu anjo justiceiro: a mãe da diaba ruiva. Ah, mas deixa pra lá, já se passou tanto tempo...


No dia seguinte, decidi ir até à livraria. Estava ansiosa para ler um livro de um amigo: Cem Haicais. Um tipo de poesia Japonesa. Tomei café e me arrumei rapidamente.Chamei minha irmã para ir comigo. Parecia que estava indo rumo à uma aventura. É que me deu uma vontade de andar pelas ruas como eu costumava fazer: pulando.


- Se eu for sozinha, pulando por aí,vão dizer que sou doida, mas...se você for comigo...


-Você não quer é passar vergonha sozinha.


Riu da minha ideia e aceitou. No caminho, contou-me do seu projeto em uma escola pública sobre contação de histórias. Era uma turma de 7° ano. Disse-me que iria aproveitar a ida à livraria para comprar alguns livros para o seu projeto. Ela estava muito empolgada. 


- Bom dia. Em posso ajudá-las? Perguntou-nos a vendedora.


- Estou procurando o livro Cem Haicais do autor Candido Catão.


- Vou verificar... Pronto, aqui está.


A vendedora preencheu a nota para pagamento e eu me dirigi ao caixa. Nesse momento uma pessoa aproximou-se de mim sorrindo.


- Clarice?! Há quanto tempo! Lembra-se de mim?


- Elizabeth? Claro! Como esqueceria? Dei um sorriso forçado e meio debochado. Ela havia mudado muito fisicamente.Agora loira e com óculos grande, escondia-lhe as sardas. Já não tinha o corpo gordo de antes e não ficara nem alta, nem baixa. Ela estava a frente dos negócios da livraria. Seu pai havia se aposentado. Só ia lá de vez em quando, só para preencher o tempo. 


- Não precisa pagar pelo livro. É um presente meu pra você.


- Não! Não precisa. Tirei o dinheiro da bolsa para entregar a moça do caixa.


- Faço questão! Por favor, aceite.


Ela insistiu. Não tive outra alternativa, a não ser aceitar, embora contra a minha vontade. Senti-me imensamente desconfortável com aquele presente, pois me vieram lembranças de algumas cenas das vezes que me fez de boba. Percebi que por alguns segundos, Elizabeth baixou os olhos.Nesse momento, minha irmã que estava bem distante de nós vinha com alguns livros nas mãos. E para a minha surpresa, o primeiro livro era exatamente aquele de Monteiro Lobato: Reinações de Narizinho. Será que minha irmã fizera de propósito? A verdade é que me senti mais desconfortável ainda. Não sabia o que dizer. Fiquei muda.


- Perdão. Disse Elizabeth.


- O quê? Perguntei-lhe com um ar de quem não estava entendendo nada.


- Por aqueles momentos constrangedores que fiz você passar.


- Já está tudo bem.


- Minha mãe me deu o “castigo” que merecia. Sou grata a ela, pois me fez ler um livro a cada semana. A cada semana também, fazia uma sabatina para ter certeza de que havia realmente lido. 


- Hoje, sou outra pessoa. Tenho uma filha que adora ler.


- Fico feliz. Disse eu. Ela tem muita sorte por ter a mãe dona de uma livraria.


- Não, ela tem sorte por saber valorizar o que tem.


Elizabeth pediu para que eu esperasse alguns minutos e quando voltou, trouxe algo caprichosamente embrulhado. Pediu para eu abri-lo somente quando chegasse em casa.  Despedimo-nos.Ao sair da livraria perguntei à minha irmã se fizera de propósito escolher justo o livro Reinações de Narizinho e colocá-lo logo  na frente dos outros . Ela não respondeu. Só disse: - Quem sabe? E sorriu.


Ao chegar em casa abri o volume o qual tinha o formato de um livro.


- Não acredito!!!! Abracei-o como a um amante. Senti, naquele momento, uma felicidade ímpar. Decidi que iria ajudar a minha irmã no seu projeto de leitura  com as crianças. Uma nuvem de mágoa havia se dissipado. Aquela felicidade não era clandestina. Uma felicidade que pertence a mim de fato e de direito.E o melhor, eu a iria multiplicar com outras vidas. Estava estonteada. Eu era uma rainha delicada e forte...



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Autor(a): schepske

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