Fanfic: Por mãe | Tema: conto FELICIDADE CLANDESTINA
Felicidade clandestina
POR MÃE
Considerava-se uma boa mãe. Talvez não fosse a melhor – sua filha estava acima do peso e não tinha muitas amigas, mas tinha boa presença na escola e sempre procurou dar uma boa educação. Seu marido era dono de livraria então a casa sempre tinha vários livros a sua disposição.
Ah! Os livros. Adorava viajar por aqueles mundos construídos através das palavras. Tinha um caso de amor com eles. Gostaria que sua filha tivesse herdado de seus pais o gosto pela leitura, mas ela não parecia se interessar por nada.
Talvez fosse a idade. A transição de criança por adolescente não era fácil. E crianças podem ser cruéis. Talvez ela estivesse sendo tirada sarro por causa de seu peso, ou altura (ou falta desta). Isto era dela, infelizmente. Mas ela ia ficar feliz mais tarde quando viu que herdou também seu busto grande. E cabelos crespos podem ser difíceis, mas a cor era um tom cobre meio arruivado muito bonito. Talvez ela devesse falar com a filha, trabalhar a autoestima…
Um dia notou sua filha voltando da escola extremamente satisfeita. Quando perguntada, só disse que sentia que algo de bom ia acontecer. A mãe lembrou-se de um livro de expressões alemãs que lera: Vorfreude, a alegria que se sente por antecedência. Ficou contente.
No dia seguinte viu sua filha falando com uma menina loura e magra. Elas conversaram por alguns momentos na porta de casa e a outra menina foi embora saltitando e sua filha sorria estranha. Estranhou, mas seu marido a chamou e logo esqueceu. No dia seguinte a este, notou a mesma menina na porta de sua casa. As meninas conversaram outros instantes e depois a loura foi embora saltitando. E sua filha sorria estranha.
Por vários dias notou o mesmo padrão. A menina loura chegava na casa, conversavam por alguns instantes e ela ia embora saltitando e sua filha sorria satisfeita. Teria ficado contente com sua filha fazendo uma amiga, mas notou que antes de saltitar, a menina ficava decepcionada. E tinha algo muito estranho no sorriso de sua filha, algo quase… Malicioso. Não gostava de pensar nisso, mas era o que passava por sua cabeça quando via aquele sorriso.
Depois de uma semana resolveu investigar a situação. Quando a menina chegou ela se juntou ao portão. Perguntei o que estava acontecendo e se podia ajudar em alguma coisa. A menina me responde que foi oferecida emprestado o livro Reinações de Narizinho e gostaria muito de ler, mas sempre que vinha sua filha já havia emprestado a outras crianças.
A mãe estranhou. Lembrava quando o marido dera o livro a sua filha. Tinha ficado jogado em um canto, ela nunca expressando nenhum interesse nele.
– Mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! - E não havia outras crianças. Esta menina loura era a única que tinha visto sua filha conversar. Observou a menina. Parecia triste. Tinha vindo todos estes dias esperando o livro para sair de mãos abanando? E sua filha o quê? Sorria com a decepção da colega?
Um arrepio passou por suas costas e algo terrível passou por sua mente, mas resolveu se focar na questão do livro no momento. Virou-se para a filha e disse:
– Você vai emprestar o livro agora mesmo. - Dirigindo-se a outra menina falou – E você fica com o livro por quanto tempo quiser.
Enquanto a filha ia buscar o livro lembrou-se de novo do livro com as expressões em alemão. Tinha um novo conceito em relação a filha: Schadenfreude, o sentimento de prazer pela desgraça alheia.
Viu a filha trazer Reinações e entregar para a colega. Viu a menina pegar o livro cuidadosamente com uma expressão estonteada no rosto. Não disse nada, trouxe Reinações junto ao seu corpo e foi embora. Ao contrário dos outros dias, não saiu saltitando.
Virou-se para sua filha. Esta não tinha nenhum traço de arrependimento, apenas um ar irritado. A mesma expressão que faz quando digo que é hora de parar de brincar e ir escovar os dentes pra dormir. Mandou-a para o quarto; não conseguia falar nada.
Foi até a cozinha pegar um copo de água. Nunca imaginara que pudesse ter uma filha tão perversa. Mas se considerava uma boa mãe. Ia dar um jeito de consertar a situação.
De alguma maneira.
Autor(a): jainenn
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