Fanfics Brasil - TRABALHO ACADÊMICO FELICIDADE CLANDESTINA

Fanfic: FELICIDADE CLANDESTINA | Tema: FELICIDADE CLANDESTINA


Capítulo: TRABALHO ACADÊMICO

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           Espelho. Ah, o espelho! Dos amigos que eu não tinha, ele era o mais próximo, me esperava todas as manhãs, no mesmo horário, pontualíssimo, para me mostrar uma garota dentro do seu impecável uniforme em saia azul marinho, blusa e meias brancas e sapatos pretos que cobriam um corpo ainda em formação, fora dos padrões de beleza impostos pela sociedade. Todos os dias o mesmo ritual, todos os dias o mesmo caminho até a escola, todos os dias meus olhos brilhavam ao ver através dos vidros fechados do carro guiado pelo motorista particular da minha mãe, meu pai, tão distante, ajeitando seu tesouro nas estantes de sua mais amada livraria, e como ele a amava! De todas, aquela era sua preferida, passava ali a maior parte do seu escasso tempo.


            À porta da escola era chegado o momento de colocar a minha melhor máscara, a patricinha sempre arrogante, nariz empinado, desengonçada ao balançar os cabelos artificialmente lisos adentrava à sala de aula para ocupar seu lugar de destaque. Olhares de julgamento cortavam toda a sala: “chegou a filhinha do papai, se acha melhor do que os outros só porque sua  família tem dinheiro, que se exploda sozinha”. Numa coisa eles tinham razão, a solidão era minha maior companhia, minha máscara se encarregava de manter as pessoas distantes, era como eu me defendia, era mais fácil usá-la e ser rejeitada por causa dela, do que ser rejeitada por ser eu mesma.


            Para minha surpresa, havia uma garota nova, sentada naquele meu lugar de destaque, mais surpresa ainda, fiquei quando ela gentilmente me cedeu o lugar, mesmo eu sendo tão estúpida com ela. Aquilo me deixou com a pulga atrás da orelha, mas o que me assustou de verdade foi ela se sentar ao meu lado no intervalo e ainda me oferecer uma parte do seu lanche além de partilhar comigo uma síntese da sua história e de querer saber um pouco da minha. Essa situação, não posso negar, me deixou muito desconcertada, cheguei a gaguejar. Naquilo que deveria ser um diálogo natural não deixei a máscara cair. Após tê-la deixado falando sozinha, entendi a razão daquela aproximação, ela havia me dito ser apaixonada por livros. Mais uma interesseira para a minha imensa lista de pessoas que só se aproximam de mim para ganhar algo em troca. Naquele instante decidi dar a ela o que lhe era de direito, o troco.


            Dia após dia deixei que ela se aproximasse e apesar de não querer aceitar, a companhia dela era agradável. Seu jeito doce, alegre, o brilho nos olhos, a forma de enxergar a vida era contagiante. Por vezes me peguei dando gargalhadas, por vezes me senti leve, por vezes me senti eu. Felicidade Clandestina. Eu tinha que colocar a máscara, afinal não podia me esquecer que ela era só mais uma da minha lista.


            Sabendo da sua paixão por livros, descobri seu encanto por uma obra em especial, “O Meu Pé de Laranja Lima” – José Mauro de Vasconcelos. Sabendo de suas poucas posses, me aproveitei dessa informação e do fato de ser filha do dono de algumas livrarias, a atraí para minha casa lhe oferecendo um empréstimo de sua obra tão almejada. Mas o intuito final era manda-la de volta pra casa de mãos vazias e de coração quebrantado, afinal era o que ela merecia por fingir tanto tempo sua amizade por mim.


            Aquela noite foi longa. Para ela porque estava tomada de euforia por enfim ter em mãos algo tão valioso que a faria se enveredar por outros caminhos e participar de novas vidas, e tudo isso proporcionado por uma pessoa que conhecera há pouco tempo, mas que tinha aprendido a amar se sentindo responsável por ela tanto quanto o Pequeno Príncipe por sua Rosa. Para mim, virando de um lado para o outro na cama por horas a fio, madrugada à dentro, meus pensamentos difusos me levavam a experimentar emoções das mais variadas, desde a angústia da solidão ao extremo da esperança de dias mais intensos de alegria e paz.


            Espelho. Ah, espelho! Novamente somos você e nós, a garota sem a máscara e a garota com a máscara. Qual delas descerá as escadas?


            O som da campainha quebra o silêncio. Do quarto no andar de cima, o som dos meus batimentos cardíacos é silenciado pela alegria e simpatia daquela garota que ao adentrar à minha casa, irradiou luz por todos os cantos, era seu maior dom com certeza. Com a máscara na mão a escondi no bolso, afinal que mal tinha em ficar sem ela por alguns instantes! Tomamos um delicioso lanche regado a muitas palavras sem sentido jogadas ao vento, brincadeiras, voltas e voltas em torno da piscina... e a tarde se foi, era hora dela voltar pra casa, era hora de eu colocar a máscara. E assim aconteceu. Meu coração ficou em paz ao ver aquela garota, ao longe, se voltar para trás com um largo sorriso no rosto, com olhar agradecido, quase não acreditando que havia em seus braços um presente tão singelo e ao mesmo tempo tão grandioso, ela agora tinha “o seu próprio pé de laranja lima” e eu, uma máscara em pedaços.


 



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Autor(a): Alessandra Oliveira Sousa Dini

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