Fanfic: Girassol | Tema: Harry Potter
Choro abertamente. Um gemido agudo é sufocado na minha garganta, mas o soluço que ele produz parece quase o uivo de um cão. Alterno entre fungar, soluçar e respirar vez ou outra. As lágrimas ensopam minhas bochechas e sei que, à essa altura, elas já devem estar avermelhadas. Sou um completo desastre.
Então olho para frente e escuto alguém dizer:
— Eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.
Assisto o beijo mais apaixonado que já vi em minha vida e, depois, Ginevra joga o buquê de girassóis. Sem condições de participar dessa luta de punhos, assisto Luna agarrar as flores em pleno voo e saltar feliz, olhando para o namorado sentado na mesa. Satisfeita, Gina se coloca na ponta dos pés e beija o agora marido, Harry, com um sorriso. Ele coloca suavemente sua mão ao redor da parte posterior do pescoço dela e a segura mais perto, aprofundando o beijo e se negando a deixar que termine. Eles sorriem, lábios nos lábios, e eu sorrio também.
É tudo tão lindo. Então eu volto a chorar. Muriel, a tia-bisavó de Gina que está sentada ao meu lado, me olha com a maior expressão de desgosto que é possível se fazer com um rosto rechonchudo e centenário. Ela me olha com uma mescla de preocupação e medo, e eu me lembro de quando Gina e eu conversamos sobre como ela podia ainda estar viva. Trato de falar através da minha trabalhosa respiração e soluços, mas é difícil.
— É simplesmente lindo. Tão lindo. E feliz.
Soluço de novo, dessa vez mais forte. Me afundo na cadeira de uma maneira totalmente imprópria pra uma dama, mas não ligo pra isso e deixo escapar um lamento baixo.
— Por Merlin, você está péssima.
O rímel molhado faz com que meus cílios grudem. Quando me dou conta de que a pessoa que disse isso é Gina, levanto meu rosto para ela e curvo os lábios em uma tentativa de sorriso.
— Você está tão bonita — digo enquanto tento enxugar as lágrimas. — Maravilhosa. Eu estou tão feliz por vocês.
Ginevra me entende. Ela sabe que naquele momento eu estou completamente emocional porque Harry foi o meu melhor amigo desde a infância, assim como ela. Houve um tempo em que não imaginava que os dois acabariam se casando, mas em algum momento isso se tornou óbvio e agora estava finalmente concretizado. Ela parecia pensar o mesmo, deixando seus lábios estremecerem e seus olhos se encherem de água também.
— Obrigada, Hermione.
Uma primeira lágrima cai e, antes de me dar conta, estamos abraçadas e chorando de tal forma que formamos um dueto, soando algo como um par de chimpanzés.
Caso você não saiba, eu sou péssima com casamentos. É a mesma coisa toda vez: me dou um sermão, como se isso de alguma forma fosse conter as lágrimas e, no geral, antes que cortem o bolo já estou com maquiagem por todo o rosto e os olhos inchados.
Hoje, porém, está sendo pior. Hoje é o dia especial da minha melhor amiga, da minha irmãzinha. Toda a família Weasley está reunida e eu posso chutar que esse é o casamento com mais padrinhos da história. Dois deles são Gui e Fleur que casaram há alguns anos. São um casal belíssimo e, de certa forma, eu sinto que já os conheço minha vida toda. Eles são a minha família e nem todas as famílias são de sangue. Algumas são unidas por amor e risos.
Agora, Percy e Audrey nem sempre gostaram um do outro. De fato, se desapreciavam mutuamente. Lutaram contra a sua atração mútua durante muito tempo... até que tornou-se inevitável. Quando finalmente se juntaram, foi como um choque explosivo. Literalmente. Não foi bonito. Não da típica forma romântica que idealizamos, isso é certo. Lutaram até que não puderam mais. Conhece o ditado que diz que há uma fina linha entre o amor e o ódio? Bem, eles cortaram essa linha e as emoções se tornaram uma só. E aqui estão, juntos. Isso torna Ginevra a terceira dos irmãos a se casar, dando um grande baile em seus três irmãos mais velhos e, aparentemente, pra sempre solteirões.
Alguém puxa meus braços para longe de Gina e me leva sutilmente para longe. Dou uma olhada através de um dos meus olhos inchados para encontrar Molly que me acalma esfregando minhas costas com doçura. Ela procura não fazer contato visual comigo, sabendo que só pioraria as coisas, e juntas adentramos a Toca.
— Oh, minha querida... — ela suspira, me sentando em uma das cadeiras da cozinha enquanto a festa começa lá fora, no vasto quintal. — Tome, vamos dar um jeito nisso.
Ela me dá uma porção de lenços de papel e me ajuda a limpar o rosto.
— Eu pareço ter sido picada por abelhas, não é?
Ambas rimos e ela concorda, meio sem jeito. Não a culpo por isso de forma alguma.
Molly some por um instante, me deixando sozinha e isso me faz questionar como serão as coisas por ali a partir de agora. Quando ela volta, não ouso perguntar. Sei que sentirá falta da sua caçula pelos corredores, agora que Gina terá sua própria casa com Harry. Ao invés disso, procuro me ajeitar na cadeira e vejo que ela trouxe consigo minha bolsa de maquiagem que ficara guardada no armário do banheiro. Ao invés de utilizar sua varinha, ela começa a me maquiar à forma antiga, talvez para dar tempo suficiente para eu me acalmar.
Molly é ótima com essas coisas.
— Agora que Gina se casou, o amor está no ar... você com certeza encontrará alguém também.
Com os olhos fechados, não coloco muita fé nas palavras dela.
— Eu acho que ainda não. Também não tenho feito muito esforço, você sabe.
Molly ri pelo nariz, sabendo que é verdade. Não sou lá o tipo de pessoa que sai muito de casa e não creio que alguém baterá na minha porta qualquer dia desses. Ela permanece em silêncio por um momento, mas posso sentir que quer dizer algo.
— Não espere muito tempo — ela para de me maquiar e, em resposta, abro os olhos para vê-la. Está com uma expressão doce, mas ainda assim séria. — Não quero que se arrependa no futuro por ter adiado sua felicidade, Hermione.
Eu entendo o que ela quer dizer, mas isso não muda o modo como as coisas são.
— É um pouco difícil ter encontros nesse momento, sabe? Finalmente estou começando a colher os frutos de ter me formado e acho que vou conseguir uma promoção em alguns meses. Eu preciso me concentrar na minha carreira. A ideia de ter um namorado nesse momento já me deixa exausta.
Seus dedos agarram meu queixo, elevando meu rosto para fitá-la à mesma altura.
— Desculpas.
Não entendo e ela vê isso em meu rosto.
— Está arranjando desculpas — sua risada preenche o cômodo e ela volta a aplicar um tom rosado em minhas bochechas. — O que acontece se encontrar a pessoa adequada e dar as costas, decidir pela sua carreira? Quando chegar o momento de desfrutar a vida de forma mais lenta, verá que essa pessoa não te esperou. E nem deveria esperar, porque você foi egoísta. Você se ressentirá, querida.
Ela pega a minha mão e respira fundo.
— Eu disse isso à Ginevra um dia, da mesma forma que estou dizendo a você agora — suas sobrancelhas ruivas se ergueram para mim. — Isso pareceu acordá-la para a realidade. Harry não iria esperar que ela vencesse todo um circuito de quadribol para finalmente dar atenção a ele.
Minha maquiagem está pronta. Sei disso pela forma como Molly me confere antes de me puxar pela mão para levantar. Ela me abraça e me sinto muito melhor.
— Pense nisso, menina.
Eu a abraço também, grata por ter Molly em minha vida.
— Eu prometo pensar.
Nos afastamos devagar e ela guarda os pincéis de volta em seu lugar.
— Agora vá dançar um pouco, converse com as pessoas — ela move os ombros, enfatizando o que diz. — Existe uma porção de Johnnys por aí.
Uma gargalhada divertida escapa pelos meus lábios. Me lembro do dia em que trouxe alguns filmes trouxas para assistirmos enquanto os garotos acompanhavam Arthur para apoiá-lo em seu primeiro exame de próstata. Eu apresentara Johnny Depp à Molly através de Cry Baby e, desde então, os garotos bonitos, ardentes, passaram a ser chamados de Johnny. De fato, eu ainda tenho um pôster de Johnny Depp colado no meu velho guarda-roupas. Eu te amo Johnny, eles nunca serão como você.
— Não há nada de mal em um pouco de flerte aqui ou ali.
Eu balanço minha cabeça em negação, rindo, mas sei que ela tem razão. Reviro meus olhos mentalmente para mim mesma. Aqui estou, chorando e fazendo manha, quando poderia estar dançando com um Johnny. Onde estão minhas prioridades?
Deixo Molly guardar minha maquiagem no banheiro outra vez e saio da cozinha com pressa. Logo que me bate o ar fresco, fecho os olhos e respiro. Quando os abro novamente, sorrio. Está tudo incrível. Gina não quisera nada muito complicado, indo pela ideia de que "menos é mais". Sempre um triunfo, se me perguntar. Ela apenas quisera alguns detalhes em amarelo, e petiscos ao invés de um jantar pesado. O clima estava quente, perfeito.
Vejo tudo ao meu redor com atenção dobrada, como se quisesse gravar cada detalhe na memória. À minha esquerda, Fleur com sua grande barriga de grávida segura a mão do marido. Um garçom passa por eles e os olhos de Fleur seguem a bandeja de comida. Gui, sendo Gui, segue o olhar dela até o garçom e escapa entre os convidados. Alguns segundos depois, ele volta com a bandeja inteira de tortinhas de abóbora, sorrindo para a esposa. Fleur olha a bandeja rindo, se senta em uma cadeira próxima e a coloca sobre a mesa. Ela olha para Gui e vejo seus lábios formando as palavras "te amo". Ele não responde, mas se abaixa para beijar-lhe a testa. Dói meu coração ver coisa tão bela. Quero um amor como esse. Espero tê-lo algum dia.
Os noivos param ao lado de Fleur e Gui. Gina dá um grande copo de suco de maçã para a cunhada antes de se agachar diante da proeminente melancia que é a barriga de Fleur nesse momento. Ninguém sabe ainda qual o sexo do bebê, então os palpites estão à toda.
Assisto tudo, encostada no batente da porta, até perceber que o grupo está sendo seguido de perto por um Johnny. Ele está definitivamente um Johnny com seu conjunto elegante de festa, calça preta e camisa cor de vinho, os primeiros botões abertos por conta do calor e as mangas dobradas até os cotovelos. Fred Weasley desliza sorrateiramente por trás de Gina, sorrindo com a expressão mais travessa e perigosa que pode ter em seu rosto. Prevejo o desastre. Sem aviso prévio, ele levanta a irmã da sua posição de joelhos, segurando-a pelas axilas. Não posso evitar rir, já que Gina se contorce de cócegas e reclama pelo susto, enquanto Harry permanece parado como um pamonha. Fred não se importa com os resmungos dela. Ele envolve Gina em um abraço e salpica suas bochechas com beijos, começando a balançar os pés no ritmo da música. Menos mal humorada, Gina diz algo enquanto dança com ele.
Por um momento, estou com ciúmes. São realmente uma família e parte de mim deseja ser parte dela. Me sinto como a garota estranha olhando o grupo popular da escola. Então, procuro desviar o olhar para um Johnny que me agrade e vejo que há três ou quatro caras muito agradáveis entre os convidados, mas meus olhos seguem se movendo atrás de Fred e seu sorriso divertido.
Houve um tempo em que todos achavam que eu e Ron acabaríamos juntos, mas eu nunca acreditei nisso. Apesar do beijo desajeitado que ele me deu uma vez e da minha tentativa de gostar dele após isso, éramos próximos demais, amigos demais. Eu olhava para ele e via um irmão, assim como Harry. Ron era um ser assexuado na minha cabeça. Lembrar da vez em que ele vomitou lesmas ou de como sua profundidade emocional era tão rasa quanto a de uma colher de chá, apenas tornavam esse pensamento mais forte. Nunca teríamos dado certo juntos. Ron era o tipo de rapaz que precisava de uma mãe e ainda que eu pudesse ser uma, ajeitando cada mínimo pedaço da sua vida desleixada, me sentiria cansada disso muito rápido.
Ainda assim, Arthur costumava brincar vez ou outra que um dia tanto Harry quanto eu faríamos parte de vez da sua família. "É o destino, vocês vão ver", dizia ele. Confesso que eu também acreditava um pouco nisso. Seria o final perfeito para uma história, não seria? Então, a partir daí, comecei a analisar os outros irmãos de Gina com novos olhos. Charlie vivia longe demais, era apaixonado demais pelos seus dragões e, bem, era o que eu menos conhecia de todos. E muito mais velho, certamente. Percy era sem graça demais, tão sem graça que eu nem conseguia tecer qualquer outro comentário à respeito. George dava em cima de garotas demais. E Fred... bem, Fred era quase tão Johnny quanto o próprio Johnny.
Se alguma vez houvesse um homem que eu gostaria de ter comigo apenas por um dia, seria ele. Ele consegue marcar pontuação em quase todas as categorias. Os anos haviam feito bem à ele e ainda que mantivesse sua essência travessa e por vezes um tanto quanto inconsequente, Fred se tornara maduro, inteligente, doce. E definitivamente mais confiante.
Eu passo os seguintes minutos olhando Fred deixar Gina e conversar um pouco com o grupo antes de ir até George apenas para cutucá-lo nas costelas, fazendo-o passar vergonha na frente de Angelina, colega de Ginevra nas Harpias. George está flertando com ela de um jeito tão óbvio que ou ela se diverte com isso ou gosta muito de alimentar o próprio ego. Talvez ela esteja afim dele também, quem sabe. Na realidade, eu não gosto dos homens que flertam, mas eu até aprecio os flertes inteligentes.
Vejo Molly saindo pela porta lateral com seu novo penteado e vestido de festa, e ela caminha até seus filhos gêmeos. Essa é a minha oportunidade.
Enquanto eu me aproximo, Molly é conduzida para um giro completo por Fred que parece elogiar como ela está linda. Arthur se junta à eles, boquiaberto com a esposa. Cada passo que eu dou faz meu estômago ir de um lado para o outro em antecipação. Alguns passos antes de chegar até eles, limpo minha garganta e Molly abre um grande sorriso ao perceber minha aproximação. Depois da conversa na cozinha, talvez não tenha sido a melhor decisão ir ali agora. Eu queria tentar algo com Fred? Sim, é claro, mas do meu jeito.
— Eu acho que Molly merece uma dança depois de toda essa produção, não é? — pisco para o Sr. Weasley que entende minha dica e concorda animado, puxando a esposa para perto da banda.
Somos só eu, Fred, George e Angelina. De repente, as coisas ficam um pouco desconfortáveis.
— Ei, como vocês estão?
Cumprimento os três com pequenos beijos nas bochechas.
— Todos bem, eu diria — Fred é quem responde, colocando ambas as mãos nos bolsos da calça. — George poderia estar melhor se me ajudasse com um coisinha, mas ele parece muito ocupado.
Angelina ergueu uma das sobrancelhas para George que pareceu de repente ter tomado consciência de todas as questões sobre o universo, olhando para o irmão como quem descobrira a roda.
— Fred! — ele gritou, colocando suas mãos nos ombros do gêmeo e chacoalhando-o. — Eu não acredito que você realmente fez isso!
O primeiro balançou a cabeça em afirmação, tendo um sorriso sutil no rosto que provavelmente queria dizer algo como "não acredito que você duvidou de mim". Era claro que eles precisavam dar o seu toque na festa de casamento da caçula. Já se tornara quase uma tradição.
— Senhoritas, com licença — tirando as mãos do bolso, Fred começou a puxar George consigo para longe. — Eu sugiro que fiquem longe do bolo.
Meus lábios se entreabriram em um grande "o" assim que busquei o bolo com meus olhos e o vi há alguns metros com uma sorridente Ginevra diante dele. Harry estava ao lado dela e pareciam se preparar para cortar o primeiro pedaço. Os convidados já começavam a se aglomerar ao redor e Angelina, seguindo o conselho, caminhava para ainda mais longe.
Quando Ginevra e Harry seguraram a espátula de bolo ao mesmo tempo e pousaram para uma foto, não acreditei no que vi. O grande bolo de quatro andares explodiu em centenas de pedaços, deixando Gina cheia de glacê amarelo. Ela olhou para Harry acreditando menos ainda e todos pudemos ouvir o momento em que ela gritou:
— FREEEEEEEEEEEEEEED!
Autor(a): they call me hell
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
— Hermione, você tem uma carta! Me levanto com um salto e meus pés tratam de se mover o mais rápido possível, deslizando sobre as tábuas do chão. Algo sinistro acontece rapidamente. Meus joelhos batem em meu criado mudo com força, fazendo o porta-retrato e um copo com água caírem, quase molhando o  ...
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