Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

Ale colocou o cabelo atrás das orelhas e olhou para Megan. Os óculos de sol que ela usava iam do osso da bochecha até acima da sobrancelha, mas Ale ainda pôde ver algumas cicatrizes rosadas e enrugadas, cicatrizes de queimadura, na testa dela.

Ela pensou naquela noite. Em como a casa de Angel cheirava a velas de menta. No jeito como a boca de Angel tinha gosto de batata frita sabor sal e vinagre. Em como seus pés roçavam nas reentrâncias do piso de madeira da sala de jantar dos Boyer, quando estava parada em frente à janela, vendo Angel correr pelo gramado da casa dos Mirchoff. O barulho dos fogos de artifício, dos paramédicos subindo a escada da casa da árvore, em como a boca da Megan parecia um retângulo de tanto que ela chorava.

Megan entregou a ela o pedaço de papel sujo e amassado.

– Eles acharam isto com ele. – Disse ela, sua voz falhando na palavra ele. – Ele escreveu para todas nós. Sua parte está em algum lugar pelo meio.

O papel era a lista do leilão da Foxy; Beau tinha rabiscado algo atrás. Ver como as palavras do Beau não estavam sobre as linhas, que ele quase não tinha usado nenhuma letra maiúscula e que tinha assinado o bilhete como Beau, com um garrancho de letra cursiva, fez Ale se contorcer por dentro. Embora ela nunca tivesse visto a letra de Beau antes, isso parecia trazê-lo de volta à vida ao lado dela. Ela podia sentir o cheiro do sabonete que ele usava, sentir sua mão enorme segurando a dela, pequenina. Naquela manhã, ela tinha acordado não no balanço da varanda, mas na sua cama. A campainha estava tocando. Ela desabalou escada abaixo, e havia um cara vestindo calção de ciclista e um capacete, esperando na porta.

– Posso usar seu telefone? – Perguntou ele. – É uma emergência.

Ale o encarou, zonza, ainda não tinha acordado. Laura apareceu atrás dela, e o ciclista começou a se explicar.

– Eu estava pedalando pelo seu bosque e achei um garoto. Primeiro eu achei que ele estava dormindo, mas...

Ele parou, e os olhos de Laura se arregalaram. Ela correu para dentro para pegar seu celular. Enquanto isso, Ale ficou parada na varanda, tentando entender o que estava acontecendo. Ela pensou em Beau na sua varanda na noite anterior. Em como ele tinha batido violentamente na porta de vidro corrediça, depois corrido para o bosque.

Ela olhou para o ciclista.

– Esse garoto do bosque, ele estava tentando machucar você? – Sussurrou ela, seu coração disparado. Era horrível que Beau tivesse acampado lá fora, no bosque, a noite toda. E se ele tivesse voltado para a varanda depois de Ale ter caído no sono?

O ciclista segurou o capacete junto ao peito. Ele parecia ter mais ou menos a mesma idade do pai da Ale, com olhos verdes e barba grisalha.

– Não. – Disse ele, gentilmente. – Ele estava... Azul.

E agora, aquilo: A carta. Um bilhete suicida.

Beau parecia tão atormentado, correndo para o bosque. Teria ele tomado os comprimidos lá mesmo? Será que Ale poderia tê-lo impedido? E Anahí estaria certa? Beau não era o assassino de Angel?

O mundo começou a rodar. Ela sentiu a mão de alguém pesar no meio de suas costas.

– Ei. – Sussurrou Maite. – Está tudo bem.

Ale se endireitou e olhou para a carta. As amigas se debruçaram também. Lá, bem no meio, estava o nome dela.

Ale, três anos atrás, prometi a Angelique Boyer que guardaria o segredo dela, se ela guardasse o meu. Ela jurou que o segredo nunca vazaria, mas acho que vazou. Eu tentei lidar com isso, e esquecer, e, quando nos tornamos amigos, achei que eu poderia... Pensei que eu mudaria... E que minha vida tinha mudado. Mas acho que nunca podemos mudar o que somos. O que eu fiz com Megan foi o maior erro que já cometi. Eu era jovem, confuso e burro, e nunca quis machucá-la. E não posso mais viver com isso. Já chega para mim.

Ale dobrou o bilhete novamente, o papel estalando em suas mãos. Aquilo não fazia sentido, eram elas que tinham machucado Megan, não Beau, do que ele estava falando? Ela devolveu a carta para Megan.

– Obrigada.

– De nada.

Quando Megan se virou para ir embora, Ale limpou a garganta.

– Espere. – Grunhiu ela. – Megan.

Megan parou. Ale engoliu em seco. Tudo o que Maite tinha acabado de contar a ela, que Beau sabia e que Angel mentira, tudo que Beau dissera na noite anterior, toda a culpa que ela tinha carregado por tantos anos... Tudo isso extravasou.

– Megan, eu preciso me desculpar com você. Nós éramos... Nós costumávamos ser tão más. As coisas que fizemos... os apelidos, não era engraçado.

Anahí deu um passo à frente.

– Ela está totalmente certa. Não era engraçado mesmo. – Ale não via Anahí com uma expressão torturada havia muito tempo. – E você não merecia isso. – Adicionou.

Megan tocou na cabeça do cachorro.

– Está tudo bem. – Disse ela. – Eu já superei isso.

Ale suspirou.

– Mas não está tudo bem. Não está tudo bem mesmo. Eu... Eu nunca soube como... Como uma pessoa se sente... Quando tiram sarro porque ela é diferente. Mas agora eu sei. – Ela contraiu os músculos dos ombros, na esperança de que isso a impedisse de chorar. Parte dela queria contar para todo mundo o que a estava atormentando. Mas ela se segurou. Não era o momento certo. Havia mais coisas que queria dizer, também, mas como ela conseguiria?

– E eu sinto muito pelo seu acidente, também. Eu nunca cheguei a dizer isso para você.

Ela queria acrescentar: Me desculpe pelo que nós acidentalmente fizemos, mas estava com muito medo.

O queixo de Megan tremeu.

– Não foi culpa sua. E, de qualquer forma, não foi a pior coisa que me aconteceu. – Ela puxou a coleira do cachorro e andou de volta para a frente do jardim.

As meninas ficaram quietas até que Megan não pudesse mais ouvi-las.

– O que poderia ser pior do que ficar cega? – Sussurrou Dulce.

– Teve uma coisa pior. – Interrompeu Maite. – O que a Angel sabia...

Maite ostentava aquele olhar de novo, como se tivesse um monte de coisas para falar, mas preferisse ficar calada.

Ela suspirou.

– Beau costumava... Tocar... Megan. – Sussurrou ela. – Era isso que ele estava fazendo na noite do acidente. É por isso que a Angel mirou os fogos de artifício por engano na casa da árvore. Quando Angel chegou à casa da árvore do Beau. – Continuou Maite. – Ela o viu na janela e acendeu os fogos de artifício. E aí... Ela viu que a Megan estava lá, também. Tinha alguma coisa esquisita na expressão da Megan, e sua blusa estava desabotoada. Então, Angel viu Beau subir em cima dela e colocar a mão no seu pescoço. Ele moveu a outra mão para debaixo da blusa da Megan e por cima do sutiã. Ele puxou a alça do ombro dela. Megan parecia apavorada. Angel disse que ficou tão chocada que desencaixou os fogos de artifício. A chama subiu rápido pelo pavio e soltou o foguete. Então, houve um clarão confuso e brilhante. Vidros espatifaram. Alguém gritou... E a Angel correu... Quando Beau veio até nós e contou a Angel que a tinha visto, Angel disse ao Beau que ela o tinha visto... Fazendo aquilo em Megan. – Falou Maite. – O único jeito de ela não contar aos pais do Beau, era ele assumir que tinha acendido os fogos de artifício. E Beau concordou. – Ela suspirou. – Angel me fez prometer que não contaria sobre o que o Beau tinha feito, junto com todo o resto.

– Jesus. – Sussurrou Dulce. – Então, Megan deve ter ficado feliz quando Beau foi mandado para outro lugar.

Ale não fazia ideia de como reagir. Ela se virou para olhar para Megan, parada do outro lado do jardim com a mãe, falando com um repórter. Como será que ela se sentia, com o meio-irmão fazendo aquilo com ela? Havia sido ruim o bastante quando Jamie veio pra cima dela, e se ela tivesse que morar com ele? E se ele fosse parte da família dela?

Isso a dilacerou por dentro, também. Fazer isso à própria meia-irmã era horrível, mas também era... Patético. É claro que Beau estava querendo deixar isso para trás, para seguir com a vida dele. E ele estava conseguindo... Até Ale assustá-lo, fazendo-o pensar que tudo estava voltando à tona para assombrá-lo.

Ela ficou horrorizada, cobriu o rosto com as mãos e respirou fundo várias vezes, engolindo em seco. Eu acabei com a vida do Beau, pensou. Eu o matei.

As amigas a deixaram chorar um pouco, todas elas estavam chorando, também. Quando as lágrimas de Ale secaram, ela ficou reduzida a soluços convulsivos e olhou para cima.

– Eu não consigo acreditar nisso.

– Eu acredito. – Disse Anahí. – Angel só se importava consigo mesma. Ela era a rainha da manipulação.

Ale olhou para ela, surpresa. Anahí deu de ombros.

– Meu segredo do sétimo ano? O que só Angel sabia? Ela me torturou com ele. Toda vez que eu não concordava com alguma coisa que ela queria que eu fizesse, Angel ameaçava contar para todas vocês. E para todo mundo.

– Ela fez isso com você também? – Dulce parecia surpresa. – Houve vezes em que ela disse coisas sobre o meu segredo que o tornavam tão... Óbvio. – Ela baixou os olhos. – Antes de o Beau... Tomar os comprimidos, ele falou sobre esse segredo comigo. O segredo que Angel sabia, e aquele com o qual A, Beau, estava me ameaçando.

Todas elas prestaram atenção.

– Que seria...? – Perguntou Anahí.

– Eram... Só uns lances de família. – Os lábios de Dulce tremeram. – Eu não quero falar sobre isso agora.

Todas ficaram em silêncio por um tempo, pensando. Ale olhou para os pássaros pulando para dentro e para fora do comedouro que o pai instalara no quintal.

– Faz o maior sentido que Beau seja A. – Sussurrou Anahí. – Ele não matou Angel, mas ainda queria vingança.

Maite deu ombros.

– Eu espero que você esteja certa.