Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

Dulce Herrera Espinosa sentou-se para a aula de inglês na segunda de manhã, bem na hora em que o ar lá fora começou a cheirar a chuva. O amplificador rangeu, e todos na classe olharam para o pequeno alto-falante no teto.

– Olá, galera! Aqui é a Maite Perroni, sua vice representante de turma! – A voz de Maite soou alta e clara. Ela parecia desenvolta e confiante, como se tivesse feito um curso de oratória. – Quero lembrar a todos que os Rosewood Hammerheads vão competir com os Eels, a equipe de natação da Drury Academy. É a maior competição da temporada, então, vamos todos mostrar espírito de equipe e aparecer lá para apoiar o time! – Houve uma pausa. – Uhul!!

Uma parte da sala saiu. Dulce sentiu um calafrio de desconforto. Apesar de tudo o que havia acontecido, o assassinato de Angelique, o suicídio do Beau, A, Maite era a presidente ou a vice de todos os clubes e associações que havia por ali. Mas, para Dulce, a animação de Maite soava... Falsa. Ela tinha visto um lado de Maite que as outras não conheciam. Maite sabia há anos que Angel tinha ameaçado Beau Mirchoff para mantê-lo calado sobre o acidente da Megan, e Dulce não podia perdoá-la por esconder delas um segredo tão perigoso.

– Muito bem, turma. – Disse Pablo Lyle, o professor de inglês avançado de Dulce. Ele continuou a escrever A Letra Escarlate na lousa com sua caligrafia angular e, então, sublinhou quatro vezes as palavras.

– Na obra prima de Nathaniel Hawthorne, Hester Prynne trai seu marido, e a cidade a força a usar um enorme, vermelho e constrangedor A em seu peito, como lembrança do que ela havia feito. – O sr. Lyle virou-se para a turma e empurrou seus óculos para cima do nariz curvado. – Alguém se lembra de outras histórias que tenham como tema a desonra? Sobre pessoas que são ridicularizadas ou expulsas por seus erros?

Christopher Uckermann levantou a mão e seu relógio Rolex de corrente escorregou pelo pulso.

– Pode ser aquele episódio do The Real World no qual os colegas da república votaram para a menina bizarra ir embora?

A sala toda riu, e o sr. Lyle pareceu perplexo.

– Pessoal, esta é, supostamente, uma aula de inglês avançado. – O professor se virou para fileira de Dulce: – Dulce? E você? Alguma ideia?

Dulce hesitou. Sua vida era um bom exemplo. Não muito tempo atrás, ela e sua família viviam harmoniosamente na Islândia, Angelique não estava oficialmente morta e A não existia. Mas, então, numa horrível sucessão de eventos que começara seis semanas antes, Dulce voltou para a escola de Rosewood, o corpo de Angel foi encontrado embaixo da laje de concreto atrás da casa onde ela morava, e A revelou o grande segredo da família Herrera Espinosa: que o pai de Dulce, Robert, havia traído sua mãe, Sandra, com uma de suas alunas, Margot. Essa revelação foi um golpe para Sandra, que imediatamente colocou Robert para fora de casa. O fato de Sandra ter descoberto que Dulce guardou o segredo sobre Robert por três anos não ajudou muito. A relação entre mãe e filha não andava exatamente às mil maravilhas desde então.

Claro, poderia ter sido pior. Dulce não tinha recebido nenhum texto de A nas últimas três semanas. Embora Robert supostamente estivesse morando com Margot, pelo menos Sandra havia voltado a falar com Dulce. E Rosewood não tinha sido invadida por alienígenas ainda, embora, depois de todas as coisas estranhas que aconteceram naquela cidade, Dulce não teria ficado surpresa se isso tivesse acontecido.

– Dulce? – Insistiu Lyle. – Alguma ideia?

Mason Byers veio em socorro de Dulce:

– Que tal a história de Adão e Eva com a serpente?

– Ótimo. – Elogiou o professor, distraído. Os olhos dele ficaram pousados em Dulce por um momento antes de seguir para outro lugar. Dulce sentiu uma sensação quente de excitação. Ela tinha ficado com o sr. Lyle, Pablo, no Snooker, um bar frequentado pelo pessoal da universidade, antes que qualquer um dos dois soubesse que ele seria seu novo professor de inglês avançado. Foi ele quem terminou com ela e, logo depois, Dulce descobriu que ele tinha uma namorada em Nova York. Mas ela não guardou mágoa. As coisas iam bem com seu novo namorado, Chace Crawford, que era um doce e, por acaso, também era bonito.

Além do mais, Pablo era o melhor professor de inglês que ela já tivera. No primeiro mês de aula, ele já havia indicado quatro livros incríveis e encenado uma comédia baseada em The Sandbox, de Edward Albee. Em breve, a classe iria fazer uma interpretação de Medeia, a peça grega na qual a mãe mata os próprios filhos, no estilo Desperate Housewives. Pablo queria que eles pensassem fora dos padrões, e fora dos padrões era o forte de Dulce. Agora, em vez de chamá-la de “Finlândia”, seu colega de classe Christopher Uckermann tinha dado a ela um novo apelido: “Queridinha do Professor”. Era bom estar animada com a escola de novo, apesar de tudo, e às vezes ela nem se lembrava que as coisas com Pablo tinham sido complicadas um dia.

Até que ele lhe lançou um sorriso sedutor, claro. Então, Dulce não pôde evitar a empolgação. Mesmo que tenha sido uma empolgaçãozinha.

Anahí Portilla, que sentava bem em frente a Dulce, levantou a mão.

– Pode ser aquele livro em que duas garotas são as melhores amigas, mas então, de repente, uma delas fica malévola e rouba o namorado da outra?

Pablo coçou a cabeça.

– Desculpe... Eu não acho que tenha lido esse livro.

Dulce cerrou os punhos. Ela sabia o que Anahí quisera dizer.

– Pela última vez, Anahí, eu não roubei o Chace de você! Vocês... Dois... Já... Tinham... Terminado!

A sala inteira explodiu numa gargalhada. Os ombros de Anahí ficaram rígidos.

– Alguém é muito egocêntrica. – Murmurou ela para Dulce, sem se virar. – Quem disse que eu estava falando de você?

Mas Dulce sabia que ela estava. Quando Dulce voltou da Islândia, ficou impressionada ao ver que Anahí tinha mudado da escrava gorducha e desengonçada de Angel, para uma deusa magra, bonita, que usava roupas de alta-costura. Parecia que Anahí tinha tudo que sempre quisera: ela e sua melhor amiga, Oka Vanderwaal, também uma esquisitona transformada, mandavam na escola, e Anahí tinha até conseguido ficar com Chace Crawford, o menino de quem ela era a fim desde o sexto ano. Dulce só tinha dado em cima de Chace depois de ouvir que Anahí o tinha largado. Mas ela logo descobriu que havia sido o contrário.

Dulce tinha esperança de que ela e suas antigas amigas pudessem ser um grupo unido outra vez, especialmente porque todas tinham recebido mensagens de A. Mas elas não estavam nem se falando, as coisas tinham voltado para o mesmo ponto em que estavam naquelas semanas estranhas e cheias de preocupação, depois do desaparecimento de Angel. Dulce nem tinha contado a elas o que A fizera à sua família. A única ex-amiga com quem Dulce ainda tinha algum contato era Ale Muller, mas suas conversas, na maioria das vezes, giravam em torno das lamentações de Ale sobre se sentir culpada pela morte de Beau, até que Dulce tinha finalmente insistido que não era culpa dela.

– Bem, de qualquer forma. – Pablo colocou cópias de A Letra Escarlate na frente de cada fileira, para que os livros fossem distribuídos. – Quero que todos leiam do capítulo um ao cinco essa semana e façam um trabalho de três páginas sobre qualquer assunto que tenham encontrado no começo do livro para sexta-feira. Certo?

Todos grunhiram e começaram a conversar. Dulce colocou o livro dentro da sua bolsa de pelo de iaque. Anahí estendeu o braço para pegar sua bolsa do chão. Dulce tocou o braço fino e branquinho de Anahí.

– Olha, eu sinto muito. De verdade.

Anahí puxou o braço, apertou os lábios e, sem falar nada, enfiou seu A Letra Escarlate na bolsa. Ele ficou entalado, e ela grunhiu de frustração.

Começou a tocar música clássica no alto-falante, indicando que a aula havia acabado. Anahí se levantou como se a carteira estivesse pegando fogo. Dulce levantou-se lentamente, guardando a caneta e o caderno na bolsa e encaminhando-se para a porta.

– Dulce.

Ela se virou. Pablo estava debruçado em sua mesa de carvalho com sua velha maleta de couro cor de caramelo apertada contra o quadril.

– Tudo bem? – Perguntou ele.

– Desculpe por tudo isso. – Disse ela. – Anahí e eu estamos temos algumas desavenças. Não acontecerá novamente.

– Sem problemas. – Pablo abaixou sua caneca de chá. – Todo o resto está bem?

Dulce mordeu o lábio e pensou em contar a ele o que estava acontecendo. Mas, por quê? Pelo que ela sabia, Pablo era um fraco, como seu pai. Se ele realmente tinha uma namorada em Nova York, então ele a havia traído ao ficar com Dulce.

– Está tudo bem. – Ela conseguiu dizer.

– Bom. Você está fazendo um ótimo trabalho na aula. – Ele sorriu, mostrando dois dos dentes inferiores, adoravelmente encavalados.

– Sim. Eu estou gostando muito. – Dulce deu um passo em direção à porta. Mas, ao fazê-lo, tropeçou nas suas botas de saltos finos super altos, indo parar na mesa de Pablo. Pablo segurou a cintura dela e a puxou para cima... E para perto dele. O corpo dele era quente e seguro, e ele cheirava bem, a pimenta em pó, cigarro e livros velhos.

Dulce se afastou depressa.

– Você está bem? – Perguntou Pablo.

– Sim. – Ela se ocupou arrumando o blazer do uniforme da escola. – Desculpe.

– Não tem problema. – Pablo enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta. – Então... Até mais.

– Sim. Até logo.

Dulce saiu da sala com a respiração acelerada. Talvez ela estivesse louca, mas estava certa de que Pablo a havia segurado um segundo a mais do que o necessário. E ela tinha certeza de que havia gostado.