Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni
Dulce se empoleirou no para-choque traseiro do Audi de Chace, dando uma olhada em sua peça favorita de Jean-Paul Sartre, Sem Saída. Era a segunda-feira depois da escola, e Chace disse que daria a ela uma carona para casa, depois que pegasse alguma coisa no escritório do técnico de futebol... Só que ele estava demorando um tempo absurdo. Quando ela virou a página para o segundo ato, um grupo de meninas típicas de Rosewood Day, loiras, quase idênticas, de pernas compridas, usando bolsonas de couro também parecidas, entrou no estacionamento de estudantes e olhou de cara feia para ela. Aparentemente, as botas de plataforma de Dulce e seu gorro de tricô com cobertura de orelha indicavam que ela era uma pessoa abominável.
Dulce suspirou. Estava se esforçando bastante para se ajustar a Rosewood Day, mas não era fácil. Ainda se sentia uma boneca Bratz livre-pensadora esquisita, usando calça de couro artificial num mar de Lindas Princesinhas da Escola da Barbie.
– Você não deveria sentar no para-choque desse jeito. – Comentou uma voz atrás dela, fazendo Dulce pular. – Pode estragar a suspensão.
Dulce se virou. Pablo estava a alguns centímetros dela. O cabelo estava espetado em picos bagunçados e o blazer ainda mais amassado do que pela manhã.
– Eu pensei que tipos literários não entendiam coisa alguma sobre carros. – Brincou ela.
– Eu sou cheio de surpresas. – Pablo lhe lançou um sorriso sedutor. Ele enfiou a mão na maleta de couro surrada. – Na verdade, tenho uma coisa pra você. É um trabalho sobre A Letra Escarlate, questionando se adultério não seria, em algumas situações, permissível.
Dulce pegou as páginas xerocadas dele.
– Não acho que adultério seja permissível ou desculpável. – Disse ela suavemente. – Nunca.
– Nunca é tempo demais. – Murmurou Pablo. Ele estava tão próximo que Dulce podia ver as rajadas em seus olhos.
– Dulce? – Chace estava bem ao lado dela.
– Oi! – Gritou Dulce, surpresa. Ela pulou para longe de Pablo, como se ele estivesse carregado de eletricidade. – Você... Você já terminou?
– Já. – Respondeu Chace.
Pablo deu um passo à frente.
– Oi, Chace, não é? Eu sou Pa... Quer dizer, senhor Lyle, o novo professor de inglês avançado.
Chace o cumprimentou com um aperto de mão.
– Sou da turma de inglês regular. Sou o namorado de Dulce.
Uma sombra de algo, desapontamento, talvez, passou pelo rosto de Pablo.
– Legal. – Balbuciou ele. – Você joga futebol, certo? Parabéns pela vitória da semana passada.
– Isso aí. – Assentiu Chace, modesto. – Estamos com um bom time este ano.
– Legal. – Repetiu Pablo. – Muito legal.
Dulce sentiu que deveria explicar para Pablo por que ela e Chace estavam juntos. Claro, ele era um típico menino de Rosewood, mas, na verdade, era muito mais profundo. Dulce se conteve. Não devia nenhuma explicação a Pablo. Ele era seu professor.
– Nós temos que ir. – Disse ela abruptamente, pegando no braço de Chace. Queria sair dali antes que um deles a constrangesse. E se Chace cometesse um erro gramatical? E se Pablo deixasse escapar que eles tinham ficado juntos? Ninguém em Rosewood sabia disso. Ninguém, exceto A.
Dulce sentou-se no banco do carona, sentindo-se desconfortável. Ansiava por alguns minutos de privacidade para se recompor, mas Chace sentou-se no banco do motorista bem perto dela e beliscou sua bochecha.
– Senti sua falta hoje. – Confessou ele.
– Eu também. – Disse Dulce, automaticamente, com a voz presa na garganta. Ao olhar pela janela lateral, viu Pablo no estacionamento dos professores, entrando em seu Fusca velho e surrado. Ele tinha colocado um novo adesivo no para-choque, ECOLOGIA ACONTECE, e parecia que tinha lavado o carro no final de semana. Não que ela estivesse reparando nele obsessivamente ou algo assim.
Enquanto Chace esperava outros estudantes saírem da frente dele, acariciou seu queixo bem barbeado e brincou com a gola da camiseta polo Penguin. Caso Chace e Pablo fossem poemas, Chace seria um haicai, arrumado, simples, bonito. Pablo seria um bagunçado Sonhos Febris, de William Burroughs.
– Quer sair mais tarde? – Perguntou Chace. – Jantar? Dar uma volta com Sandra?
– Vamos sair. – Decidiu Dulce. Era tão meigo Chace gostar de sair com Sandra e Dulce. Os três tinham até assistido juntos a um DVD do Truffaut, da coleção de Sandra, apesar do fato de Chace dizer que realmente não entendia filmes franceses.
– Um dia desses, você tem que conhecer minha família. – Chace finalmente saiu do estacionamento de Rosewood atrás de um SUV Acura.
– Eu sei, eu sei. – Dulce ficava nervosa ao pensar em conhecer a família de Chace. Tinha ouvido que eles eram muito ricos e super perfeitos. – Em breve.
– Bem, o treinador quer que o time vá àquela grande competição de natação amanhã, para dar apoio à escola. Você vai assistir à Ale, certo?
– Claro. – Respondeu Dulce.
– Bem, talvez na quarta-feira, então? Jantar?
– Talvez.
Quando eles entraram na rua cercada de árvores que ladeava Rosewood Day, o Treo de Dulce vibrou. Ela o pegou, nervosa, seu joelho tremia toda vez que recebia uma mensagem, que poderia ser de A, apesar de que, aparentemente, A tinha desaparecido. A nova mensagem, entretanto, era de um número desconhecido com código 484, da área leste da Pensilvânia. As mensagens de A sempre vinham com o remetente bloqueado. Ela clicou em LER.
Dulce: Precisamos conversar. Podemos nos encontrar do lado de fora do prédio de artes da Hollis, hoje, às 16h30? Estarei no campus, esperando Margot terminar de dar aula. Adoraria conversar com você. – Seu pai, Robert.
Dulce olhou para a tela, desgostosa. Aquilo era perturbador em muitos níveis. Um, seu pai agora tinha um telefone celular? Por anos, ele os havia evitado, dizendo que davam câncer no cérebro. Dois, ele tinha mandado um torpedo para ela, o que viria depois, um perfil no MySpace?
E três... A mensagem em si. Especialmente aquela especificidade de: Seu pai, no final. Ele pensava que ela tinha esquecido quem ele era?
– Você está bem? – Chace tirou os olhos da rua sinuosa e estreita por um momento.
Dulce leu para Chace a mensagem de Robert.
– Dá para acreditar nisso? – Perguntou ela ao terminar. – Parece que ele só precisa de alguém para ajudá-lo a matar o tempo, enquanto espera a vagabunda terminar a aula.
– O que você vai fazer?
– Não vou encontrá-lo. – Dulce estremeceu, pensando nas vezes em que tinha visto Margot e o pai juntos. No sétimo ano, ela e Angel tinham visto os dois se beijando no carro de Robert, e, depois, umas semanas atrás, ela e seu irmão mais novo, Alfonso, tinham esbarrado neles na Victory, uma cervejaria. Margot tinha dito a Dulce que ela e Robert estavam apaixonados, mas como aquilo era possível?
– Margot é uma destruidora de lares. Ela é pior que a Hester Prynne!
– Quem?
– Hester Prynne, a personagem principal de A Letra Escarlate, o livro que estamos lendo na aula de inglês. É sobre essa mulher que comete adultério e a cidade a isola. Acho que Rosewood devia isolar Margot. Rosewood precisa de um cadafalso para humilhá-la.
– Que tal aquele negócio em que prendiam os escravos que desobedeciam aos senhores? – Sugeriu Chace, desacelerando quando passaram por um ciclista. – Você sabe, aquele negócio de madeira, com buracos, para colocar a cabeça e os braços? Eles prendem a pessoa naquilo e ela simplesmente fica ali. Nós costumávamos tirar fotos naquela coisa.
– Perfeito. – Dulce praticamente gritou. – E Margot merece ter um ladra de marido marcado na testa. Só costurar uma letra A vermelha no vestido dela seria muito sutil.
Chace riu.
– Parece que você está mesmo gostando de A Letra Escarlate.
– Não sei. Eu só li oito páginas. – Dulce ficou calada, apreciando a ideia. – Na verdade, espere. Deixe-me na Hollis.
Chace lhe deu uma olhada de lado.
– Você vai se encontrar com ele?
– Não exatamente. – Ela sorriu com alguma maldade.
– Tááá bom...
Chace dirigiu umas quadras pelo campus, que era cheio de prédios de pedra e tijolos, velhas estátuas de bronze dos fundadores da faculdade e onde vários estudantes andavam de bicicletas. Parecia que era sempre outono em Hollis, as folhas coloridas caíam de um jeito perfeito por ali. Quando Chace parou numa vaga de estacionamento de duas horas no campus, ele parecia preocupado.
– Você não vai fazer nada ilegal, vai?
– Não. – Dulce deu um beijo rápido nele. – Não me espere. Eu posso ir para casa andando daqui.
Aprumando os ombros, ela marchou para a entrada principal do prédio de artes. A mensagem do pai surgiu diante de seus olhos. Estarei no campus, esperando Margot terminar de dar aula. A própria Margot tinha contado a Dulce que ensinava artes plásticas na Hollis. Ela passou por um guarda, que deveria checar identidades, mas, em vez disso, ele estava assistindo a um jogo dos Yankees numa TV portátil. Os nervos de Dulce estalavam, trêmulos, como se eles fossem fios subterrâneos.
Havia apenas três salas de aula no prédio, que eram grandes o suficiente para aulas de pintura, que Dulce conhecia porque tinha frequentado aulas de arte aos sábados, na Hollis, por anos. Naquele dia, apenas uma sala estava sendo usada, então, tinha de ser aquela. Dulce entrou ruidosamente pelas portas da sala e foi imediatamente tomada pelo cheiro de terebintina e panos não lavados. Doze estudantes de arte, com cavaletes organizados em círculo, viraram-se para olhar para ela. A única pessoa que não se mexeu foi o velho modelo enrugado e careca, completamente nu no meio da sala. Ele empinou o peito curvado, manteve as mãos nos quadris e nem piscou. Dulce teve que dar a ele uma nota dez pelo esforço.
Ela espiou Margot empoleirada numa mesa, perto da janela dos fundos. Com seu cabelo longo e lustroso. Com uma tatuagem cor-de-rosa de teia de aranha no pulso. Margot parecia forte e confiante, e havia um vermelho irritantemente saudável em suas bochechas.
– Dulce? – Chamou Margot pela sala cavernosa, cheia de correntes de vento. – Que surpresa.
Dulce olhou em volta. Todos os alunos tinham seus pincéis e tintas perto das telas. Ela marchou até o aluno mais próximo, pegou um pincel grande, em formato de leque, passou-o na tinta vermelha e encaminhou-se para Margot, a tinta pingando no caminho. Antes que alguém pudesse fazer alguma coisa, Dulce pintou um A enorme e malfeito no lado esquerdo do peito no delicado vestido de algodão de Margot.
– Agora todos saberão o que você fez. – Rosnou Dulce.
Sem dar tempo para Margot reagir, ela se virou e caminhou para fora da sala. Quando chegou ao verde gramado de Hollis de novo, começou a rir louca e alegremente. Não era um ladra de marido escrito na testa dela, mas bem que podia ser. Aí, Margot. Toma essa.
Autor(a): Dulce Coleções
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 235
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ana_vondy03 Postado em 11/06/2022 - 09:03:10
Aí meu deeeeeeeus! Continuaaa amoreee S2
Dulce Coleções Postado em 14/06/2022 - 17:16:51
Continuando amore
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ana_vondy03 Postado em 12/07/2021 - 13:42:57
Continuaaa amoreee S2
Dulce Coleções Postado em 04/01/2022 - 16:45:16
Continuando amore
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ana_vondy03 Postado em 30/06/2021 - 20:57:18
Continuaaa amoreee S2
Dulce Coleções Postado em 10/07/2021 - 22:57:31
Continuando amore
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ana_vondy03 Postado em 03/06/2021 - 10:41:04
Continuaaa amoreee S2
Dulce Coleções Postado em 18/06/2021 - 13:11:01
Continuando amore
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ana_vondy03 Postado em 25/05/2021 - 14:45:08
Continuaaa amoreee S2
Dulce Coleções Postado em 30/05/2021 - 17:58:36
Continuando amore
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Dulce Coleções Postado em 25/05/2021 - 14:41:52
jnnknjbjh
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eimanuh Postado em 21/04/2021 - 19:54:16
Chegueiiiiii
Dulce Coleções Postado em 21/04/2021 - 21:32:07
aeh!
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ana_vondy03 Postado em 16/04/2021 - 00:08:47
Continuaaa amoreee S2
Dulce Coleções Postado em 21/04/2021 - 21:29:21
Continuando
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ana_vondy03 Postado em 05/04/2021 - 23:47:19
Continuaaa amoreee S2
Dulce Coleções Postado em 14/04/2021 - 22:18:03
Continuando amore
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ana_vondy03 Postado em 03/04/2021 - 23:26:43
Continuaaa amoreee S2
Dulce Coleções Postado em 05/04/2021 - 23:07:32
Continuando amore