Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

Capítulo 103: Nem mesmo um sistema de segurança super avançado protege você de tudo Parte 2

– Então, este aqui é seu. – Chace conduziu Dulce pelo corredor com piso de mogno, imaculadamente limpo, até um grande quarto branco. Tinha um assento colado numa janela grande, cortinas brancas, e um buquê de flores igualmente brancas na mesa ao fundo.

– Eu amei. – O quarto parecia o hotel parisiense em que a sua família ficou hospedada quando o pai foi entrevistado por um canal francês de televisão, por ser especialista em gnomos. – Você tem certeza de que não causei nenhum incômodo?

– Claro. – Chace deu um beijo suave numa das bochechas de Dulce. – Vou deixar você se acomodar.

Dulce olhou pela janela, para o tom rosado do fim de quinta-feira e não conseguiu evitar comparar aquela vista com a de sua casa. A propriedade dos Crawford estava localizada bem no meio do bosque e envolta por pelo menos dez acres de terras intocadas. A casa mais próxima, que parecia um castelo robusto com torres em estilo medieval, estava a pelo menos três quadras de futebol de distância. A casa de Dulce ficava numa vizinhança adorável, mas capenga, perto da faculdade. As únicas coisas que ela conseguia ver no quintal de seus vizinhos eram uma ridícula coleção de banheiras de passarinho, animais de pedra e bonecos de jardim.

– Tudo certo com o quarto? – Perguntou a sra. Crawford, madrasta de Chace, ao ver Dulce descer as escadas para a cozinha.

– É ótimo. – Disse Dulce. – Muito obrigada.

A sra. Crawford sorriu docemente de volta. Ela era loira, meio gordinha, com olhos azuis inquisitivos e uma boca que parecia sorrir mesmo quando estava relaxada. Quando Dulce fechava os olhos e imaginava uma mãe, a sra. Crawford era bem o que ela tinha em mente. Chace havia lhe contado que antes de se casar com o pai dele, ela trabalhava como editora de uma revista na Filadélfia, mas que, após o casamento, se tornara dona de casa em tempo integral, mantendo a monstruosa a casa dos Crawford sempre pronta para uma sessão de fotografia. As maçãs na tigela de madeira na bancada estavam sem um arranhão, as revistas no console da sala estavam todas viradas para o mesmo lado e as franjas do gigantesco tapete oriental estavam arrumadas, como se tivessem acabado de ser penteadas.

– Estou fazendo ravióli de cogumelos. – A sra. Crawford convidou Dulce a cheirar a panela de molho. – Chace me falou que você é vegetariana.

– Eu sou. – Concordou Dulce, docemente. – Mas a senhora não precisava fazer isso por mim.

– Sem problemas. – Disse a sra. Crawford, calorosa. Havia também batatas fatiadas, salada de tomate e um filão do delicioso pão gourmet de sete grãos da Fresh Muller, do qual Sandra tanto tirava sarro, afirmando que qualquer um que pagasse onze dólares por um pouco de farinha e água precisava fazer um exame mental.

A sra. Crawford tirou a colher de madeira da panela e a colocou no canto da bancada.

– Você era muito amiga da Angelique Boyer, não era? Eu vi o vídeo de vocês no noticiário.

Dulce abaixou a cabeça.

– É. – Um bolo cresceu em sua garganta. Ver Angel tão viva no vídeo tinha trazido o luto à tona novamente.

Para surpresa de Dulce, a sra. Crawford passou o braço em volta de seu ombro e deu uma apertadinha.

– Sinto muito. – Murmurou ela. – Não consigo imaginar o que você está sentindo.

Lágrimas surgiram nos olhos de Dulce. Ela sentiu como se estivesse aninhada nos braços de uma mãe, mesmo que aquela não fosse a sua.

Chace sentou-se perto de Dulce no jantar, e tudo era a antítese do que acontecia na casa da Dulce. Os Crawford punham o guardanapo no colo, não tinha televisão ligada com o jornal zunindo ao fundo, e o sr. Crawford, que era rechonchudo e meio careca, mas tinha um sorriso carismático, não lia o jornal na mesa. Os gêmeos Crawford, Colin e Aidan, deixaram os cotovelos fora da mesa e não cutucaram um ao outro com o garfo, Dulce só podia imaginar as atrocidades que Alfonso cometeria se ele tivesse um irmão gêmeo.

– Obrigada. – Agradeceu Dulce, enquanto a sra. Crawford colocava mais leite em seu copo, mesmo com Sandra e Robert tendo dito que leite contém hormônios sintéticos e causa câncer. Dulce tinha contado a Pablo sobre como seus pais haviam banido o leite na noite em que ela passou no apartamento dele, umas semanas antes. Pablo tinha rido, dizendo que a família dele tinha suas doideiras a respeito da granola também.

Dulce apoiou o garfo. Como é que Pablo tinha entrado nos seus pensamentos tranquilos durante o jantar? Rapidamente, olhou para Chace, que mastigava uma garfada de batatas. Ela se curvou e tocou o pulso dele. Ele sorriu.

– Chace nos disse que você está fazendo aulas avançadas, Dulce. – Comentou o sr. Crawford, espetando uma cenoura.

Dulce encolheu os ombros.

– Só inglês e artes plásticas.

– Literatura inglesa foi a minha especialização na faculdade. – Disse a sra. Crawford, entusiasmada. – O que você está lendo agora?

– A letra escarlate.

– Eu amo esse livro! – Gritou a sra. Crawford, tomando um pequeno gole de vinho tinto. – Ele realmente mostra como a sociedade puritana costumava ser restritiva. Pobre Hester Prynne.

Dulce mordiscou a bochecha. Se ao menos ela tivesse falado com a senhora Crawford antes de ter marcado Margot.

– A Letra Escarlate. – O sr. Crawford colocou um dos dedos nos lábios. – Fizeram um filme desse livro, não fizeram?

– A-hã. – Fez Chace. – Com a Demi Moore.

– Aquele em que o homem se apaixona por uma moça mais nova, certo? – Acrescentou o sr. Crawford. – Tão escandaloso.

Dulce inspirou. Sentiu como se todos estivessem olhando para ela, mas, na verdade, apenas Chace a olhava. Os olhos dele estavam arregalados e voltados para baixo, mortificados. Desculpe, dizia a expressão dele.

– Não, David. – Corrigiu a sra. Crawford, baixinho, numa voz que indicava que ela fazia alguma ideia da situação de Dulce. – Esse é Lolita.

– Ah. Certo. – O sr. Crawford deu de ombros, aparentemente sem se dar conta do seu fora. – Eu misturo todos eles.

Depois do jantar, Chace e os gêmeos subiram para fazer a lição de casa, e Dulce os seguiu. Seu quarto de hóspedes era silencioso e convidativo. Em algum momento entre o jantar e aquela hora, a sra. Crawford tinha posto uma caixa de lenços de papel e um vaso de lavanda na mesa de cabeceira. O cheiro de casa de vó que as flores tinham enchia o quarto. Dulce despencou na cama, ligou no noticiário para ter companhia e abriu o Gmail no seu laptop. Havia apenas uma mensagem. O nome do remetente era uma série de letras e números misturados. Dulce sentiu o coração parar ao clicar duas vezes para abrir a mensagem.

Dulce: Você não acha que o Chace deveria saber do trabalho extracurricular que você fez com certo professor de inglês? Afinal, bons relacionamentos são construídos com base na verdade. – A.

Naquele momento, o aquecimento central desligou, fazendo Dulce sentar-se ereta. Lá fora, um galho bateu. Depois outro. Alguém estava observando.

Ela engatinhou até a janela e deu uma olhada. Os pinheiros projetavam sombras disformes na quadra de tênis. Uma câmera de segurança, pendurada na beirada da casa, virava vagarosamente da direita para a esquerda. Uma luz tremeluziu, depois nada.

Quando ela olhou de volta para o quarto, alguma coisa no noticiário chamou sua atenção. Maníaco visto novamente, informava a legenda na parte de baixo da tela.

– Recebemos a informação de que algumas pessoas viram o Maníaco de Rosewood. – Disse o repórter, no momento em que Dulce aumentava o volume. – Aguarde para mais detalhes.

Passava a imagem de um carro de polícia em frente a uma casa enorme, com torres de castelo. Dulce voltou-se para a janela de novo, lá estavam eles. Sem dúvida, a luz azul da polícia estava piscando nos pinheiros mais distantes.

Ela saiu para o corredor. A porta do Chace estava fechada; podia-se ouvir Bloc Party vindo lá de dentro.

– Chace? – Ela empurrou e abriu a porta do quarto dele. Os livros estavam espalhados pela escrivaninha, mas a cadeira estava vazia. Havia um amassado na cama perfeitamente arrumada, onde o corpo dele estivera. A janela estava aberta, e um vento frio soprou, fazendo as cortinas dançarem como fantasmas.

Dulce não sabia mais o que fazer, então, voltou para seu computador. Foi quando viu um novo e-mail.

P.S.: Posso ser um pé no saco, mas não sou assassino. Aqui vai uma pista para quem não faz ideia: Alguém queria alguma coisa da Angel. O assassino está mais perto do que você pensa. – A.