Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

Quarta-feira de manhã, Maite se olhou em sua penteadeira de mogno Chippendale. A penteadeira e a mesinha estavam na família Perroni havia duzentos anos, e a mancha d’água no tampo supostamente teria sido feita por Ernest Hemingway, ele teria colocado seu copo suado de uísque ali, durante um baile formal do tataravô de Maite.

Maite pegou a escova de cabelo de cerdas e escovou o cabelo até que seu couro cabeludo começasse a doer. Jordana, a repórter do Philadelphia Sentinel, chegaria logo para sua grande entrevista e para a sessão de fotos. Um estilista ia trazer algumas roupas e a cabeleireira de Maite, Uri, deveria chegar a qualquer momento para fazer uma escova. Ela já tinha acabado de fazer sua maquiagem, escolhendo um estilo refinado, bem natural, que esperava fazê-la parecer inteligente, íntegra, e de modo algum uma plagiadora.

Maite engoliu em seco e deu uma olhada numa foto que mantinha encaixada na moldura do espelho. Era de suas antigas amigas no iate do tio de Angel, em Newport, Rhode Island. Elas estavam espremidas, usando biquínis combinando da J.Crew e chapéus de palha de aba larga, rindo como se fossem deusas do mar.

Vai ficar tudo bem, falou Maite para o espelho, tomando fôlego. O artigo acabaria virando um pequeno item na seção Estilo, algo que ninguém iria ver. Jordana poderia só lhe fazer duas ou três perguntas. As mensagens de A do dia anterior, eu sei o que você fez, eram apenas para assustá-la. Ela tentou esconder esses pensamentos nos confins de sua mente.

De repente, seu Sidekick apitou. Maite pegou-o, apertou alguns botões para acessar sua caixa de entrada e olhou para a tela.

Precisa de outro aviso, Maite? O assassino de Angel está bem na sua frente. – A.

O telefone de Maite se espatifou no chão. O assassino da Angel? Ela olhou para o próprio reflexo no espelho. Depois, para a foto de suas amigas no canto. Angel estava segurando o leme do iate, e as outras estavam rindo atrás dela.

Então, algo na janela chamou sua atenção. Maite virou-se, mas não havia nada. Ninguém no quintal, exceto um marreco Mallard, parecendo perdido. Ninguém no quintal dos Boyer nem no dos Mirchoff. Maite virou-se para o espelho e passou as mãos frias por todo o rosto.

– Oi.

Ela deu um pulo. Mila parou atrás dela, apoiando-se na cama de dossel de Maite. Maite virou-se, sem saber ao certo se o reflexo de Mila era real. Ela tinha chegado até Maite tão... Sorrateiramente.

– Você está bem? – Perguntou Mila, mexendo na gola ondulada da sua blusa de seda. – Parece até que viu um fantasma.

– É que acabei de receber uma mensagem muito esquisita. – Desabafou Maite.

– É mesmo? O que dizia?

Maite deu uma olhada no Sidekick em cima do tapete cor de creme, depois o chutou ainda mais pra baixo da penteadeira.

– Deixa pra lá.

– Bem, de qualquer forma, a repórter está aqui. – Mila vagou pelo quarto de Maite. – A mamãe pediu para avisar você.

Maite levantou-se e andou até a porta. Ela não podia acreditar que quase tinha contado a Mila sobre a mensagem de A. Mas o que A queria dizer? Como o assassino de Angel poderia estar na frente dela, quando estava se olhando no espelho?

Uma imagem apareceu diante de seus olhos. Qual é, cacarejou Angel, estupidamente. Você leu isso no meu diário, não foi?

Eu não leria seu diário, respondeu Maite. Eu não me importo.

Diante de seus olhos, apareceram alguns pontos e luzinhas, e um movimento borrado. E depois, puf, nada. Maite piscou furiosamente por alguns segundos, ficou parada sozinha e em choque no meio do corredor do andar de cima. Parecia a continuação da estranha e confusa lembrança do outro dia. Mas o que era aquilo?

Ela caminhou lentamente para o andar de baixo, segurando no corrimão para se apoiar. Seus pais e Mila estavam reunidos em volta do sofá na sala. Uma mulher gorducha, de cabelos negros arrepiados e óculos pontudos de plástico, um cara magrelo, com barbicha de bode e uma gigantesca câmera pendurada no pescoço, e uma moça asiática miudinha, com uma mecha rosa no cabelo, estavam perto da porta da frente.

– Maite Perroni! – Gritou a mulher de cabelo arrepiado quando a viu. – Nossa finalista.

Ela jogou os braços em volta de Maite, e o nariz da menina bateu no casaco da mulher, que cheirava a cereja marrasquino, que Maite costumava pescar no Shirley Temples que tomava no country club. Depois, ela se afastou e segurou Maite pelo braço.

– Eu sou Jordana Pratt, editora de estilo do Philadelphia Sentinel. – Bradou ela. Jordana gesticulou para os outros dois estranhos. – E estes são Bridget, nossa estilista, e Matthew, nosso fotógrafo. Prazer em conhecê-la!

– Igualmente. – Disse Maite.

Jordana cumprimentou o pai e a mãe de Maite. Ela passou por Mila sem nem mesmo olhar para ela, e Mila arranhou a garganta.

– Hum, Jordana, acho que já nos conhecemos também.

Jordana apertou os olhos e enrugou o nariz, como se um cheiro ruim tivesse acabado passar no ar. Ela encarou Mila por alguns segundos.

– Já?

– Você me entrevistou quando eu corri a Maratona da Filadélfia, há uns dois anos. – Relembrou Mila, ficando ainda mais ereta e pondo os cabelos atrás das orelhas. – No Estádio Eames, na frente do museu de artes?

Jordana ainda parecia perdida.

– Ótimo, ótimo! – Exclamou, distraída. – Adoro maratonas!

Ela deu uma olhada em Maite mais uma vez. Maite notou que ela usava um relógio Cartier Tank Americaine, e não um daqueles de aço baratos.

– Então. Quero saber tudo sobre você. O que você gosta de fazer para se divertir, suas comidas favoritas, quem você acha que vai ganhar o American Idol, tudo. Você provavelmente vai ser famosa algum dia, sabe? Todas as ganhadoras do Orquídea Dourada acabam se tornando estrelas.

– Maite não assiste ao American Idol. – Prontificou-se a sra. Perroni. – Ela é muito ocupada com todas as suas atividades e estudos.

– Ela tirou 2350 no simulado do vestibular. – Mencionou o sr. Perroni, orgulhoso.

– Acho que aquela menina, a Fantasia, vai ganhar... – Disse Mila. Todos pararam e olharam para ela. – O American Idol – Especificou ela.

Jordana franziu a testa.

– Essa foi praticamente a primeira temporada. – Ela se virou de volta para Maite e fez beicinho com os lábios vermelhos brilhantes. – Então, Senhorita Finalista. Nós queremos enfatizar que você é fantástica e maravilhosa, mas queremos que seja divertido, também. Você foi indicada para um trabalho de economia, o que é um lance de negócios, certo? Eu pensei que as fotos poderiam ser como uma sátira de O aprendiz. A foto podia gritar: Maite Perroni, você está contratada! Você usaria um terninho preto brilhante, sentada atrás de uma mesa grande, dizendo a um homem que ele está demitido. Ou contratado. Ou que você gostaria que ele te preparasse um martíni. Tanto faz.

Maite piscou. Jordana falava rápido demais e gesticulava sem parar.

– A mesa do meu escritório deve servir. – Ofereceu a sra. Perroni. – É só seguir pelo corredor.

Jordana olhou para Matthew.

– Quer ir checar?

Matthew concordou.

– E eu tenho um terninho que ela podia pegar emprestado. – Completou Mila.

Jordana pegou seu BlackBerry do suporte na cintura e começou a digitar freneticamente no teclado.

– Não será necessário. – Murmurou ela. – Já está resolvido.

Maite sentou-se na poltrona listrada da sala. A mãe pegou o banco do piano. Mila juntou-se a elas, se apoiando perto da harpa antiga.

– É tão emocionante. – Arrulhou a sra. Perroni, debruçando-se para tirar uma mecha de cabelo do olho de Maite.

Maite tinha que admitir, adorava quando as pessoas a adulavam. Era tão raro isso acontecer.

– Eu imagino o que ela vai me perguntar. – Pensou ela.

– Ah, provavelmente sobre os seus interesses, sua educação. – Cantarolou a sra. Perroni. – Não se esqueça de contar sobre os retiros educacionais aos quais eu mandei você. E você se lembra de como eu comecei a lhe ensinar francês, quando você ainda tinha oito anos? Você conseguiu ir direto para a turma de francês II, no sexto ano, por causa disso.

Maite pôs a mão na boca para cobrir o riso.

– Vai ter outras histórias na edição de sábado do Sentinel, mãe. Não só a minha.

– Talvez ela pergunte sobre o seu trabalho. – Disse Mila, categórica.

Maite olhou para cima, confusa. Mila estava folheando uma revista Town & Country, com uma expressão que não deixava escapar nem uma única pista... Será que Jordana ia perguntar sobre o trabalho?

Bridget veio dançando de volta, com uma arara cheia de sacos protetores de roupas em cabides.

– Comece a abrir os zíperes desses protetores de roupas e veja se tem alguma coisa de que goste. – Instruiu ela. – Eu só tenho que dar uma corridinha no carro e pegar a sacola de sapatos e acessórios. – Ela franziu o nariz. – Um assistente seria ótimo neste momento.

Maite passou as mãos pelos protetores de vinil. Havia pelo menos umas vinte e cinco roupas.

– Tudo isso é apenas para minha pequena sessão de fotos?

– A Jordana não falou para você? – Bridget arregalou os olhos acinzentados. – O editor amou sua história, particularmente, porque você é daqui. Vamos colocá-la na primeira página!

– Da sessão de Estilo? – Mila parecia incrédula.

– Não, do jornal! – Empolgou-se Bridget.

– Meu Deus, Maite! – A sra. Perroni segurou a mão da filha.

– Isso mesmo! – Prosseguiu Bridget. – Pode ir se acostumando. E, se você ganhar, vai estar na trilha da fama. Eu fiz o guarda-roupa da ganhadora de 2001 para a Newsweek. A agenda dela era uma loucura.

Bridget caminhou de volta para a porta da frente, seu perfume de jasmim permanecia no ar. Maite tentou fazer a respiração de fogo da ioga. Ela abriu o zíper do primeiro protetor de roupas, passando a mão sobre um casaco de lã escuro. Ela checou a etiqueta. Calvin Klein. O outro era Armani.

A mãe dela e Mila começaram a abrir os outros protetores. Elas ficaram quietas por alguns segundos, até que Mila disse.

– Maite, tem algo grudado aqui.

Maite olhou para a irmã. Um pedaço de folha de fichário dobrada estava afixada com fita adesiva num blazer com galões da marina. Na frente do bilhete havia uma única inicial, escrita à mão: M.

As pernas de Maite se enrijeceram. Ela puxou o bilhete devagar, virando o corpo de maneira que Mila e a mãe não pudessem ver o papel e, então, o abriu.

– O que é isso? – Mila saiu de perto da arara.

– A-apenas instruções da estilista. – As palavras saíram distorcidas e duras.

A sra. Perroni continuou abrindo os protetores de roupa com calma, mas Mila ficou encarando Maite um pouco mais. Quando a irmã finalmente parou de olhar, Maite abriu o bilhete de novo.

Cara Senhorita Finalista: O que você acha de eu contar seu segredo AGORA MESMO? Eu posso, você sabe. E se você não tomar cuidado, talvez eu conte. – A.