Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

Naquele mesmo intervalo do almoço de quarta-feira, Ale entrou depressa pelo corredor da sala de artes.

– Ooooiiiii, Ale. – Cantarolou Cody Wallis, a estrela do tênis de Rosewood Day.

– Oi? – Ale olhou por sobre seu ombro. Ela era a única pessoa por ali. Será que Cody estava mesmo dizendo oi para ela?

– Você está ótima, Ale Muller. – Murmurou John Dexter, o capitão incrivelmente sexy do time de Rosewood Day. Ale não conseguiu nem balbuciar um olá. A última vez que John tinha falado com ela fora na aula de educação física, no quinto ano. Eles estavam jogando queimado, e John tinha acertado o peito de Ale para eliminá-la. Mais tarde, ele tinha vindo escondido e dito.

– Desculpe por ter acertado seu seio.

Ela nunca tinha visto tantas pessoas, especialmente rapazes, sorrindo, acenando e dando oi para ela. Naquela manhã, Jared Coffey, um aluno do último ano, que vinha para a escola numa antiga moto Indian e era descolado demais pra falar com qualquer um, tinha insistido em comprar para ela um bolinho de amora da máquina de doces. E quando Ale mudara de sala naquela manhã, uma pequena comitiva de calouros a seguiu. Um filmou-a no seu Nokia, o vídeo provavelmente já estava no YouTube. Ela tinha ido para a escola preparada para ser ridicularizada por causa da foto que A tinha espalhado na reunião do dia anterior, então, isso era meio que... Inesperado.

Quando uma mão se projetou da sala de modelagem em argila, Ale se esquivou e soltou um gritinho. O rosto de Vanessa materializou-se na porta.

– Psiu, Ale!

Ale saiu do meio do tráfego.

– Vanessa. Oi.

Vanessa lhe lançou uma piscadela.

– Vem comigo.

– Agora não posso. – Ale checou seu enorme relógio da Nike. Ela estava atrasada para o almoço com Becka, a srta. Tree Tops. – Que tal depois da aula?

– Não, isso só vai levar um segundo! – Vanessa voou pra dentro da sala vazia e passou em volta de um labirinto de mesas viradas para um forno de cerâmica do tamanho de uma sala. Para surpresa de Ale, Vanessa empurrou a pesada porta do forno e enfiou-se lá dentro. Vanessa colocou a cabeça para fora e sorriu. – Vem?

Ale deu de ombros. Dentro do forno, tudo era escuro, amadeirado e quente, como uma sauna. Dúzias de tigelas feitas pelos estudantes estavam nas prateleiras. O professor de cerâmica não as tinha assado ainda, por isso, ainda estavam vermelho-tijolo e tinham uma aparência grudenta.

– É arrumado aqui. – Falou Ale, suavemente. Ela sempre gostara do cheiro úmido de terra da argila molhada. Em uma das prateleiras estava um vaso em forma de mola que ela fizera dois semestres antes. Ela achara que tinha feito um bom trabalho, mas, vendo de novo, notou que um dos lados estava meio amassado.

De repente, Ale sentiu as mãos de Vanessa passando pelas suas costas até os ombros. Vanessa virou Ale de frente para ela e seus narizes se tocaram. O hálito de Vanessa, como sempre, cheirava a chiclete de banana.

– Eu acho que esta é a sala mais sexy da escola, você não acha?

– Vanessa. – Avisou Ale. Elas tinham que parar... Mas, as mãos de Vanessa eram tão gostosas...

– Ninguém vai ver. – Protestou Vanessa. Ela passou as mãos pelo cabelo ressecado de cloro de Ale. – E, além disso, todo mundo sabe da gente mesmo.

– Você não está chateada pelo que aconteceu ontem? – Perguntou Ale, se desvencilhando. – Você não se sente... Invadida?

Vanessa pensou por um momento.

– Não particularmente. E ninguém parece ligar.

– Isso é que é estranho. – Ale concordou. – Eu achei que todo mundo ia ser mau hoje, tipo, me provocando ou coisa assim. Mas em vez disso... Eu de repente virei uma pessoa muito popular. As pessoas não deram tanta atenção para mim nem quando Angel desapareceu.

Vanessa sorriu e tocou o queixo de Ale.

– Viu só? Eu falei que não seria tão ruim assim. Não foi uma boa ideia?

Ale deu um passo para trás. Na luz fraca do forno, o rosto de Vanessa brilhava num tom verde fantasmagórico. No dia anterior, Vanessa estava na arquibancada da piscina... Mas quando Ale soube da foto, não conseguiu achar Vanessa em lugar nenhum. Vanessa queria tornar o relacionamento delas público. Uma sensação de náusea a atingiu.

– O que você quer dizer com boa ideia?

Vanessa deu de ombros.

– Eu só quis dizer que quem quer que tenha feito isso tornou as coisas mais fáceis para nós.

– M-mas não está mais fácil. – Gaguejou Ale, lembrando-se de onde ela deveria estar naquele exato momento. – Meus pais estão passados com aquela foto. Eu vou ter que entrar num programa de aconselhamento para provar a eles que não sou homossexual. E, se eu me recusar a fazer isso, eles vão me mandar para Iowa, para morar com a minha tia Helene e meu tio Allen. Para sempre.

Vanessa franziu a testa.

– Por que você não contou a verdade aos seus pais? Que é assim que você é, e que não é algo que você possa, tipo, mudar? Mesmo em Iowa. – Ela deu de ombros. – Eu contei para minha família que era bi no ano passado. Eles não encararam tão bem no começo, mas depois aceitaram.

Ale movia os pés para a frente e para trás contra o chão lisinho do forno.

– Seus pais são diferentes.

– Talvez. – Concordou Vanessa. – Mas, escuta, desde o ano passado, quando eu finalmente fui sincera comigo mesma e com todo mundo, eu me sinto superbem.

Os olhos de Ale recaíram instintivamente na cicatriz em forma de serpente da parte de dentro do braço da Vanessa. Ela costumava se cortar, dizia que era a única coisa que a fazia sentir-se bem. Ser sincera sobre como ela era teria mudado isso?

Ale fechou os olhos e imaginou a cara brava de sua mãe. E a si mesma entrando num avião para viver em Iowa. Nunca mais dormir em sua cama de novo. Seus pais a odiando para sempre. Ficou com um nó na garganta.

– Eu tenho que fazer o que eles querem. – Ale focou num pedaço de chiclete que alguém tinha colocado numa prateleira do forno de cerâmica. – Preciso ir. – Ela abriu a porta do forno e voltou para a sala de aula.

Vanessa a seguiu.

– Espera! – Ela pegou no braço de Ale, e quando Ale se virou, os olhos de Vanessa esquadrinharam seu rosto. – O que você está dizendo? Você está terminando comigo?

Ale olhou através da sala. Havia um adesivo acima da mesa da professora que dizia EU AMO CERÂMICA! Só que alguém tinha desenhado uma folha de maconha em cima do ponto de exclamação.

– Rosewood é meu lar, Vanessa. Eu quero ficar aqui. Sinto muito.

Ela serpenteou por entre os tanques de verniz e tornos.

– Ale! – Vanessa chamou atrás dela. Mas Ale não se virou.

Ela passou pela saída que levava diretamente da sala de cerâmica para o pátio, sentindo que tinha cometido um erro enorme. A área estava vazia, todos estavam almoçando, mas, por um segundo, Ale jurou ter visto uma figura parada no telhado da torre do sino de Rosewood Day. A figura tinha longos cabelos loiros e segurava um binóculo perto do rosto. Até parecia a Angel.

Depois que Ale piscou, tudo que viu foi o sino de bronze, gasto pelas intempéries. Seus olhos devem tê-la enganado. Provavelmente, tinha visto uma árvore retorcida.

Ou... Será que tinha mesmo visto alguma coisa?