Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

Sexta-feira à noite, um atendente da loja de celulares T-Mobile, cheio de espinhas e com o cabelo melecado de gel, inspecionava a tela do BlackBerry de Anahí.

– Parece estar tudo certo com o seu telefone, na minha opinião. – Informou ele. – E a bateria está funcionando.

– Bem, você não deve estar olhando direito. – Insistiu Anahí de maneira estúpida, debruçando-se sobre o balcão de vidro da loja. – E o sinal? O da minha operadora está ruim?

– Não. – O jovem vendedor apontou para as barras no visor do BlackBerry. – Vê? Cinco barras. Parece ótimo.

Anahí respirou forçosamente pelo nariz. Alguma coisa estava acontecendo com seu BlackBerry. Seu telefone não tinha tocado nenhuma vez a noite toda. Oka podia tê-la abandonado, mas Anahí se recusava a acreditar que todo mundo havia feito a mesma coisa tão rapidamente. E ela pensou que A poderia ter mandado mais uma mensagem, dando mais informações sobre Oka e sua provável lipo, ou explicando o que queria dizer com uma de suas amigas ter um segredo enorme, que ainda seria revelado.

– Você gostaria de comprar um outro BlackBerry? – Perguntou o vendedor.

– Sim. – Afirmou Anahí usando uma voz que soava surpreendentemente como a de sua mãe. – Um que funcione desta vez, por favor.

O vendedor parecia cansado.

– Entretanto, eu não vou conseguir transferir seus dados para o celular novo. Nós não fazemos isso nesta loja.

– Tudo bem. – Rebateu Anahí. – Eu tenho uma cópia de tudo em casa.

O vendedor pegou um telefone novo dos fundos, tirou-o de sua embalagem de isopor e começou a apertar alguns botões. Anahí se debruçou no balcão e olhou a corrente de consumidores que passava pelo átrio do Shopping King James, tentando não pensar no que ela e Oka faziam nas sextas à noite. Primeiro, elas comprariam uma roupa Sexta Feliz, para recompensá-las por terem passado por mais uma semana; depois, iriam a um sushi bar para comer uma travessa de salmão, e, então, a parte favorita de Anahí, elas iriam para casa e fofocariam na cama queen size de Anahí, rindo e tirando sarro da coluna do “Ops! do dia” da CosmoGirl!. Anahí tinha que admitir que era difícil falar com Oka sobre certas coisas, ela tinha posto de lado qualquer conversa emocional sobre o Chace, pois Oka achava que ele era gay, e elas nunca conseguiam falar sobre o desaparecimento da Angel porque Anahí não queria trazer memórias ruins sobre suas amigas de volta. De fato, quanto mais ela pensava nisso, mais se perguntava sobre o que então ela e Oka conversavam. Garotos? Sapatos? Pessoas que elas odiavam?

– Só um minuto. – O vendedor franziu as sobrancelhas e olhou alguma coisa no monitor do computador. – Por alguma razão, a nossa rede não está funcionando.

A-há, pensou Anahí. Havia alguma coisa errada com a rede.

Alguém riu ao entrar na T-Mobile, e Anahí olhou. Ela não teve tempo para se esquivar quando viu Oka entrando com Aaron Uckermann.

O cabelo de Oka contrastava com o vestido cinza-chumbo de gola rulê, acompanhado por uma da mesma cor fuseau preta e botas pretas de cano alto. Anahí queria poder se esconder, mas não sabia onde, o caixa da T-Mobile era uma ilha no meio da loja. Aquele lugar idiota não tinha nenhum corredor onde ela pudesse se abaixar, ou prateleiras para se enfiar embaixo, apenas quatro paredes de telefones celulares e acessórios para os aparelhos.

Antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, Aaron a viu. Os olhos dele brilharam com o reconhecimento, e ele acenou com a cabeça para Anahí. As pernas dela congelaram. Agora ela sabia como um veado se sentia quando ficava frente a frente com uma carreta vindo em sua direção.

Oka seguiu o olhar de Aaron.

– Oh. – Disse ela, secamente, quando seus olhos encontraram os de Anahí.

Aaron, que deve ter percebido que ali havia problemas de menina, deu de ombros e foi para o fundo da loja. Anahí deu uns passos em direção à Oka.

– Oi.

Oka olhou para a parede de fones de ouvido e adaptadores de carro.

– Oi.

Um bom tempo se passou. Anahí coçou o lado do nariz. Ela tinha pintado as unhas com o esmalte Chanel preto, da edição limitada La Vernis, Anahí lembrava da vez em que elas tinham roubado dois frascos da Sephora. A lembrança quase trouxe lágrimas aos olhos de Anahí. Sem Oka, Anahí se sentia como uma roupa maravilhosa sem acessórios combinando, um Hi-Fi só de suco de laranja e sem nenhuma vodca, um iPod sem os fones de ouvido. Ela se sentia errada. Anahí pensou sobre aquela vez no verão depois do oitavo ano quando ela tinha ido com sua mãe a uma viagem de negócios. O celular de Anahí estava sem sinal, e quando voltou, havia vinte mensagens de voz da Oka.

– Ficou estranho não falar com você todos os dias, então, eu decidi te contar tudo nas mensagens. – Explicara Oka.

Anahí deixou escapar uma respiração longa e trêmula. A T-Mobile tinha um cheiro muito forte de limpador de carpete e suor, que ela esperava que não fosse o dela.

– Eu vi a mensagem que nós pintamos no topo da sua garagem outro dia. – Disse Anahí, quebrando o silêncio. – Sabe, HM+MV=MAPTS? Dá pra ver do céu. Claro como o dia.

Oka pareceu surpresa. Sua expressão se suavizou.

– Dá mesmo?

– Ahã. – Anahí olhou para um dos pôsteres promocionais da T-Mobile do outro lado da loja. Era uma foto de duas meninas gargalhando de alguma coisa, segurando seus celulares no colo. Uma era ruiva, a outra loira, como Anahí e Oka.

– Está tudo muito confuso. – Disse Anahí, baixinho. – Eu nem sei como isso começou. Me desculpe por ter perdido o Amiganiversário, Oka. Eu não queria sair com as minhas antigas amigas. Eu não estou me reaproximando delas nem nada assim.

Oka enfiou o queixo no peito.

– Não? – Anahí mal podia ouvi-la com o barulho do trenzinho infantil, que chacoalhava bem do lado de fora da loja da T-Mobile. Havia apenas um menino gorducho e tristonho no trem.

– De jeito nenhum. – Respondeu Anahí depois que o trenzinho passou. – Nós estamos apenas... Há coisas estranhas acontecendo conosco. Eu não posso explicar tudo agora, mas se você for paciente comigo, vou poder te contar em breve. – Ela suspirou. – E você sabe que eu não escrevi aquele negócio no céu de propósito. Eu não faria isso com você.

Anahí deixou escapar um pequeno soluço barulhento. Ela sempre soluçava quando estava prestes a chorar copiosamente, e Oka sabia disso. Oka torceu a boca, e, por um segundo, o coração de Anahí saltou. Talvez as coisas fossem ficar bem.

Então, foi como se o programa de garota super descolada dentro da cabeça de Oka tivesse reiniciado. Seu rosto rapidamente voltou a ser brilhante e confiante. Ela endireitou a postura e deu um sorriso gelado. Anahí sabia exatamente o que Oka estava fazendo, ela e Anahí tinham combinado nunca, jamais chorar em público. Elas até tinham uma regra sobre isso: Se pensassem que iam chorar, tinham que encolher o bumbum, lembrar a si mesmas de que eram lindas, e sorrir. Alguns dias antes, Anahí teria feito a mesma coisa, mas naquele momento, não via motivo.

– Sinto saudades de você, Oka. – Falou Anahí. – Eu quero que as coisas voltem a ser como antes.

– Talvez. – Respondeu Oka, afetuosamente. – Nós temos que ver.

Anahí tentou forçar um sorriso. Talvez? O que talvez significa?