Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

Quando Pablo abriu a porta do seu apartamento, numa antiga casa vitoriana, em Old Hollis, segurava uma garrafa de Glenlivet na mão direita.

– Quer um uísque? – Perguntou ele.

– Claro. – Dulce andou até o meio da sala de Pablo e suspirou, feliz. Tinha pensado muito naquele apartamento desde a última vez em que estivera ali. Os bilhões de livros nas prateleiras, a cera azul de vela derretida espirrada pela moldura da lareira em montinhos parecidos com Smurfs e a enorme banheira inútil no meio da sala... Tudo fazia Dulce se sentir tão confortável. Ela sentiu como se tivesse acabado de chegar em casa.

Eles se jogaram na flexível namoradeira mostarda de Pablo.

– Obrigada por ter vindo. – Agradeceu Pablo, suavemente.

Ele estava usando uma camiseta azul-clara, com um rasgadinho no ombro. Dulce queria enfiar o dedo no buraco.

– De nada. – Dulce tirou seus sapatos Vans xadrez. – Vamos brindar?

Pablo pensou por um momento, um cacho de cabelo escuro caía sobre seus olhos.

– Por virmos de famílias bagunçadas. – Decidiu ele, e encostou o copo no dela.

– Saúde. – Dulce bebeu seu uísque. Tinha gosto de limpa-vidro e cheirava a querosene, mas ela não se importava. Bebeu tudo rapidamente, sentindo o esôfago queimar.

– Outro? – Pablo trouxe a garrafa de Glenlivet com ele quando se sentou.

– Claro. – Respondeu Dulce. Pablo se levantou para pegar mais cubos de gelo e olhou para a minúscula TV sem som num canto. Havia um comercial de iPod passando. Era engraçado assistir alguém dançando tão entusiasticamente sem som.

Pablo voltou e serviu outra dose a Dulce. Com cada gole do uísque, a parte durona de Dulce derretia mais. Eles conversaram por um tempo sobre os pais de Pablo, a mãe dele se mudara para Nova York, o pai vivia em Wayne, uma cidade não muito distante. Dulce começou a falar sobre sua família de novo.

– Você sabe qual é a minha lembrança favorita dos meus pais? – Disse ela, esperando que não estivesse falando mole. O uísque amargo estava aprontando com as suas habilidades motoras. – Meu aniversário de treze anos, na Ikea.

Pablo levantou uma sobrancelha.

– Você está brincando. A Ikea é um pesadelo.

– Parece estranho, não é? Mas meus pais conheciam uma pessoa realmente influente que administrava a loja da Ikea aqui perto, e nós a alugamos depois do horário de funcionamento. Foi tão divertido... Robert e Sandra foram para lá mais cedo e planejaram toda a caçada de presentes pelos quartos, cozinhas e escritórios da Ikea. Eles estavam tão animados com a festa. Nós todos tínhamos nomes de móveis suecos para a festa, o de Robert era Ektorp, eu acho, e o de Sandra era Klippan. Eles pareciam tão... Unidos.

Lágrimas brotaram dos olhos de Dulce. Seu aniversário era em abril, Dulce tinha descoberto Robert com Margot em maio, e Angel desaparecera em junho. Parecia que aquela festa havia sido a última noite perfeita e descomplicada de sua vida. Todos estavam tão felizes, até mesmo Angel, especialmente Angel. Num certo ponto, numa caverna das cortinas de banho da Ikea, Angel pegara nas mãos da Dulce e sussurrara.

– Estou tão feliz, Dulce! Eu estou tão feliz!

– Por quê? – Quisera saber Dulce.

Angel sorriu e gargalhou.

– Eu vou te contar logo. É uma surpresa.

Mas ela nunca teria a chance.

Dulce passou um dos dedos em volta da borda do copo de uísque. Havia acabado de começar o noticiário na TV. Eles estavam falando de Angel de novo. Investigação de assassinato, informava a tarja embaixo da tela. A foto de Angel no sétimo ano estava no canto esquerdo: Angel dando seu sorriso brilhante, os brincos de diamantes tilintando em suas orelhas, o cabelo loiro ondulado e lustroso, o blazer de Rosewood Day com caimento perfeito e sem amassados. Era tão estranho o fato de que Angel estaria no sétimo ano para sempre.

– Então... – Disse Pablo. – Você falou com seu pai?

Dulce desviou o olhar da TV.

– Na verdade, não. Ele queria falar comigo, só que agora provavelmente não quer mais. Não depois do lance do A escarlate.

Pablo franziu a testa.

– Lance do A escarlate?

Dulce cutucou um fio solto dos seus jeans APC favoritos, comprados em Paris. Aquilo não era algo que ela pudesse explicar para alguém que tivesse um diploma em literatura inglesa. Mas Pablo estava se inclinando para a frente, seus lindos lábios abertos de expectativa. Então, ela tomou mais um gole do uísque e contou a ele tudo sobre Margot, Hollis e o A vermelho, pingando.

Para seu horror, Pablo começou a gargalhar.

– Você está brincando. Você realmente fez isso?

– Sim. – Confirmou Dulce. – Eu não devia ter te contado.

– Não, não, é ótimo. Adorei. – Pablo agarrou as mãos de Dulce impetuosamente. As palmas das mãos dele eram quentes e grandes e estavam ligeiramente suadas. Ele olhou para os olhos dela... Depois a beijou. Primeiro de leve, depois Dulce inclinou-se e o beijo se tornou mais forte. Eles pararam por um momento, e Dulce voltou para o sofá.

– Você está bem? – Perguntou Pablo, delicadamente.

Dulce não tinha ideia se estava bem. Ela nunca sentira tantas coisas em sua vida. Não sabia ao certo o que fazer com a própria boca.

– Eu não...

– Eu sei que nós não deveríamos estar fazendo isso. – Interrompeu Pablo. – Você é minha aluna. Eu sou seu professor. Mas... – Ele suspirou, puxando um cacho de cabelo para trás. – Mas... Eu gostaria que talvez... De alguma forma... Isso pudesse dar certo.

Quão intensamente ela não havia desejado que Pablo tivesse dito essas coisas semanas atrás? Dulce sentia-se perfeita com ele, mais viva, mais ela mesma. Mas, então, o rosto de Chace apareceu em sua mente. Ela o viu se inclinando para beijá-la no outro dia, no cemitério, quando ele viu um coelho. E ela viu a mensagem de A: Cuidado, cuidado! Eu estou sempre de olho.

Ela deu uma olhada para a TV mais uma vez. O conhecido vídeo passou pela bilionésima vez. Dulce podia ler os lábios de Maite: Querem ler as mensagens dela? As meninas se amontoaram em volta do telefone. Angel entrou na cena. Por um momento, Angel olhou diretamente para a câmera, seus olhos redondos e azuis. Parecia que ela estava olhando para fora da tela da TV, para a sala de Pablo... Direto para Dulce.

Pablo virou a cabeça e notou o que estava acontecendo.

– Droga. Sinto muito.

Ele revirou a pilha de revistas e menus de comida tailandesa da mesinha de centro e finalmente encontrou o controle remoto. Ele mudou para o canal seguinte, que era o QVC. Joan Rivers estava vendendo um broche enorme de libélula.

Pablo apontou para a tela.

– Eu compro isso para você, se você quiser.

Dulce riu.

– Não, obrigada. – Ela colocou as mãos nas de Pablo e respirou fundo. – Então, o que você disse... Sobre isso dar certo. Eu... Eu acho que também quero que dê certo.

O rosto de Pablo se iluminou e Dulce pode ver seu próprio reflexo nos óculos dele. O velho relógio de pêndulo perto da mesa da sala de jantar de Pablo anunciou a hora.

– Me... Mesmo? – Murmurou ele.

– Sim. Mas eu também quero fazer da maneira correta. – Ela engoliu em seco. – Eu tenho um namorado neste momento. Então... Tenho que dar um jeito nisso, entende?

Eles se entreolharam por pelo menos um minuto mais. Dulce podia ter estendido o braço, arrancado os óculos dele e o beijado um bilhão de vezes.

– Acho que devo ir embora agora. – Atestou ela com tristeza.

– Tudo bem. – Respondeu Pablo com os olhos nos dela. Mas quando ela saiu do sofá e tentou colocar os sapatos, ele puxou a beirada de sua camiseta. Mesmo querendo sair, ela simplesmente... Não conseguia. – Venha aqui – sussurrou Pablo, e Dulce voltou para perto dele. Ele estendeu os braços e a segurou.