Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

Maite fechou os olhos. Quando os abriu, estava em pé do lado de fora do celeiro, em seu quintal. Ela olhou em volta. Teria sido transportada até ali? Será que ela havia fugido e não se lembrava?

De repente, a porta do celeiro foi escancarada e Angel saiu de lá pisando com força.

– Tudo bem. – Disse Angel sobre o ombro, balançando os braços confiante. – Vejo você por aí. – Ela passou direto por Maite, como se a amiga fosse um fantasma.

Era, outra vez, a noite em que Angel desaparecera. A respiração de Maite ficou mais pesada. Embora não quisesse estar ali, sabia que precisava ver aquilo tudo, para se lembrar do máximo que conseguisse.

– Tudo bem! – Ouviu a si mesma gritar de dentro do celeiro. Enquanto Angel seguia de forma intempestiva pela trilha do quintal, uma Maite mais jovem e menor correu até a varanda.

– Angel! – Gritou a Maite de treze anos, olhando em volta.

E, então, foi como se a Maite de dezessete anos e a Maite de treze se fundissem em uma só. Subitamente, ela podia sentir todas as emoções que sentira na época. Havia medo: O que fizera, mandando Angel ir embora? Havia paranoia: Nunca nenhuma delas desafiara Angel. E Angel estava brava com ela. O que iria fazer?

– Angel! – Gritou Maite. As pequenas lanternas chinesas que iluminavam o caminho até a casa principal forneciam uma iluminação fraca. Parecia que havia alguma coisa se movimentando na floresta. Anos antes, Mila havia contado a Maite que trolls malvados viviam nas árvores. Dissera que os trolls odiavam Maite e queriam arrancar os cabelos dela.

Maite andou até o lugar onde a trilha do quintal se dividia: Ela poderia ir ou em direção a sua casa ou até a floresta que margeava a propriedade. Desejou ter trazido uma lanterna. Um morcego deu um rasante nas árvores. Conforme ele se afastava, Maite notou que, mais adiante na trilha, perto da floresta, alguém tinha se agachado e estava olhando para um celular. Angel.

– O que você está fazendo? – Chamou Maite.

Angel estreitou os olhos.

– Eu vou para um lugar muito mais bacana do que ficar aqui com vocês.

Maite ficou tensa.

– Tudo bem. – Assentiu ela, orgulhosa. – Vá mesmo.

Angel apoiou seu peso numa só perna, fazendo pose. Os grilos trilaram pelo menos umas vinte vezes antes que ela falasse de novo.

– Você tenta roubar tudo de mim. Mas você não pode ter isso.

– Não posso ter o quê? – Maite tremia, vestida com sua camiseta de tecido fino.

Angel riu com maldade.

– Você sabe.

Maite piscou.

– Não... Não sei.

– Ah, qual é! Você leu sobre isso no meu diário, não leu?

– Eu não leria seu diário idiota. – Rebateu Maite. – Eu não dou a mínima.

– Até parece. – Angel deu um passo na direção de Maite. – Você liga até demais.

– Você está delirando. – Sibilou Maite.

– Não, não estou. – Angel tinha chegado bem perto dela. – Você está.

De repente, Maite se encheu de raiva. Ela se inclinou para a frente e empurrou Angel pelos ombros. O gesto teve força suficiente para fazer com que Angel cambaleasse para trás, perdendo o equilíbrio na trilha, que estava escorregadia por causa dos pedregulhos. A Maite mais velha estremeceu. Ela se sentiu como uma prisioneira, sendo arrastada para seu último passeio. Uma certa surpresa cruzou o rosto de Angel, mas ela rapidamente voltou a provocar Maite.

– Amigas não empurram amigas.

– Bem, talvez nós não sejamos amigas.

– Acho que não. – Concordou Angel. Seus olhos não paravam de se mexer. A expressão em seu rosto indicava que ela tinha algo muito bom para dizer. Houve uma pausa longa antes que ela falasse, como se estivesse escolhendo as palavras com muito, muito cuidado. Vamos lá, Maite apressou a si mesma: LEMBRE-SE.

– Você achou que beijar Dylan era uma coisa tão especial... – Rosnou Angel – Mas, sabe o que ele me disse? Que você nem sabia beijar direito.

Maite prestou atenção ao rosto de Angel.

– Dylan... Espera aí. Dylan disse isso a você? Quando?

– Quando saímos num encontro.

Maite a encarou.

Angel revirou os olhos.

– Você mente tão mal, fingindo que não sabe que nós estamos juntos. Mas claro que você sabe, Maite. É por isso que você gosta dele, não é? Porque eu estou com ele? Porque sua irmã está com ele? – Ela deu de ombros. – A única razão para ele ter beijado você na outra noite foi eu ter pedido que ele fizesse isso. Ele não queria, mas eu implorei.

Os olhos de Maite quase saltaram.

– Por quê?

Angel deu de ombros.

– Eu quis ver se ele seria capaz de fazer qualquer coisa por mim. – Ela fez uma careta zombeteira. – Você acreditou mesmo que ele gostava de você?

Maite deu um passo para trás. Vaga-lumes piscavam pelo céu. Havia um sorriso venenoso no rosto de Angel. Não faça isso, gritou Maite para si mesma. Por favor, não importa! Não faça!

Mas aconteceu, de qualquer forma. Maite avançou e empurrou Angel com toda a força que podia. Angel escorregou para trás, seus olhos arregalados de susto. Ela bateu contra o muro de pedras que circundava a propriedade dos Perroni. Houve um barulho terrível de algo se quebrando. Maite cobriu os olhos e se virou. O ar tinha um cheiro metálico, de sangue. Uma coruja piou nas árvores.

Quando ela tirou as mãos dos olhos, estava de volta a seu quarto, em posição fetal e gritando.

Maite sentou e olhou para o relógio. Eram duas e meia da manhã. Sua cabeça latejava. As luzes ainda estavam acesas, ela estava deitada por cima das cobertas e ainda vestia o vestido de festa preto e o colar Elsa Peretti de contas prateadas. Não tinha lavado o rosto ou escovado o cabelo cem vezes, rituais que sempre cumpria antes de ir para a cama. Passou as mãos pelos braços e as pernas. Tinha manchas vermelhas nas coxas. Quando as tocou, sentiu dor.

Ela tampou a boca com a mão. Aquela lembrança! Soube imediatamente que era verdadeira. Angel estava com Dylan. E ela havia esquecido tudo sobre aquilo. Era essa a parte da noite que estava faltando.

Foi até a porta, mas a maçaneta não virou. Seu coração começou a bater mais rápido.

– Olá? – Ela tentou chamar. – Tem alguém aí? Estou trancada.

Ninguém respondeu.

Maite sentiu sua pulsação acelerar. Alguma coisa parecia muito, muito errada. Parte da noite voltou de repente à sua mente. O jogo de Scrabble. MENTIROSA SJH. O envio do trabalho de Mila para o concurso Orquídea Dourada. E... Depois, o quê? Ela colocou as mãos sobre a coroa em sua cabeça, tentando forçar aquela lembrança a aflorar. E depois, o quê?

De um momento para o outro, não podia mais controlar sua respiração. Ela começou a hiperventilar, caindo de joelhos no tapete branco. Acalme-se, disse a si mesma, se encolhendo toda e tentando respirar mais devagar: Inspirar, expirar. Mas pareceu que seus pulmões estavam cheios de bolinhas de isopor. Parecia que ela estava se afogando.

– Socorro! – Gritou ela, debilmente.

– Maite? – Soou a voz de seu pai do outro lado da porta. – O que está acontecendo?

Maite levantou e correu para a porta.

– Papai? Estou trancada aqui! Me deixe sair!

– Maite, você está aí para seu próprio bem. Você nos assustou.

– Assustei vocês? – Perguntou Maite. – Ma... Mas como? – Ela olhou para o próprio reflexo no espelho pendurado na porta. Sim, ainda era ela. Não havia acordado na vida de outra pessoa.

– Nós levamos Mila para o hospital. – Informou o pai dela.

Maite perdeu o equilíbrio de repente. Mila? Hospital? Por quê? Ela fechou os olhos e teve um lampejo de Mila caindo na sua frente, pelas escadas. Ou essa era Angel caindo? As mãos de Maite tremiam. Ela não conseguia se lembrar.

– Mila está bem?

– Esperamos que sim. Fique aí. – Disse o pai, do outro lado da porta, parecendo cauteloso. Talvez estivesse com medo dela, talvez fosse por isso que ele não entrava no quarto.

Ela se sentou na cama, atordoada, por um longo tempo. Como é que podia não se lembrar de nada daquilo? Como podia não se lembrar de ter machucado Mila? E se tivesse feito um monte de coisas horríveis e, no instante seguinte, apagado todas de sua mente?

O assassino de Angel está bem na sua frente, A tinha dito. No momento em que Maite estava se olhando no espelho. Será que isso era possível?

O celular dela, que estava sobre a escrivaninha, começou a tocar. Maite levantou-se devagar e olhou para a tela de seu Sidekick. Anahí.

Maite abriu o telefone. Ela encostou o ouvido no aparelho.

– Maite? – Disse Anahí sem rodeios. – Eu sei de uma coisa. Você precisa me encontrar.

O estômago de Maite ficou apertado. E sua mente rodopiou. O assassino de Angel está bem na sua frente. Ela matara Angel. Ela não matara Angel. Era como ir tirando as pétalas de uma flor: Bem me quer, mal me quer, ele me ama, ele não me ama. Talvez ela pudesse se encontrar com Anahí e... E o quê? Confessar?

Não. Aquilo não podia ser verdade. Angel tinha acabado em um buraco no quintal de sua casa... Não na trilha que levava ao muro de pedras. Ela não era forte o suficiente... Era? Queria contar a alguém sobre isso. Anahí. E Ale. Dulce, também. Elas diriam que isso tudo era uma loucura, que não podia ter sido ela quem matara Angel.

– Tudo bem. – Grunhiu Maite. – Onde?

– Nos balanços da Escola Primária Rosewood Day. Nosso lugar. Vá o mais rápido que puder.

Maite olhou em volta. Podia sair pela janela e descer pelo lado de fora da casa, seria quase tão fácil quanto chegar ao topo da parede de escalada da academia.

– Tudo bem. – Sussurrou ela. – Estarei lá.