Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

A delegacia de polícia cheirava a café queimado e madeira muito velha porque, como quase todos os prédios municipais de Rosewood, era uma antiga mansão de um dos barões da ferrovia. Policiais circulavam em torno dela, atendendo telefones, preenchendo formulários e deslizando em suas cadeiras com rodinhas. Anahí meio que esperava ver Oka ali também, com o cachecol Dior da mãe nos braços. Mas pelo banco vazio da delegacia, dava para saber que ela não havia sido pega.

A sra. Portilla sentou-se muito tensa ao lado da filha. Anahí estava com muita vergonha; sua mãe era geralmente muito tranquila, mas Anahí nunca havia sido presa, nem fichada ou nada parecido.

Depois, sua mãe se inclinou e perguntou baixinho:

– O que foi que você pegou?

– O quê?

– Foi esse bracelete que você está usando?

Anahí olhou para baixo. Perfeito. Ela se esquecera de tirá-lo; o bracelete envolvia seu pulso, e estava bem visível. Ela o escondeu embaixo da manga rapidamente. Sentiu os brincos em suas orelhas. Ela os estava usando hoje também. Isso sim era ser estúpida!

– Dê para mim – sussurrou a mãe.

– Hum? – grunhiu Anahí.

A sra. Portilla estendeu a mão.

– Dê aqui. Eu posso resolver isso.

Relutante, Anahí deixou sua mãe tirar o bracelete de seu pulso. Depois, Anahí tirou os brincos das orelhas e os entregou também. A sra. Portilla sequer hesitou. Ela simplesmente colocou as joias na bolsa e pousou as mãos sobre o fecho de metal.

A vendedora loura da Tiffany’s, que a ajudara com o lindo bracelete, entrou de repente na sala. Assim que viu Anahí, desanimada no banco, ainda algemada, confirmou:

– Sim. É ela mesma.

Sam Claflim deu uma olhada para Anahí, e a mãe dela se levantou.

– Creio que houve um engano. – Ela foi até a escrivaninha de Claflim. – Não entendi direito o que você disse lá em casa. Eu estava com a Anahí durante todo aquele dia. Nós compramos aquelas coisas. Eu tenho o recibo lá em casa.

A garota da Tiffany’s franziu a testa, sem acreditar.

– Você está dizendo que eu estou mentindo?

– Não – disse a sra. Portilla, com delicadeza. – Eu só acho que você está confusa.

O que ela estava fazendo? Uma sensação estranha, desconfortável, quase de culpa, tomou conta de Anahí.

– E como a senhora explica as imagens das câmeras de segurança? – perguntou Claflim.

A mãe dela fez uma pausa. Anahí viu um pequeno músculo em seu pescoço tremer. E depois, antes que Anahí pudesse detê-la, ela abriu a bolsa, pegou as joias e as mostrou.

– Isso tudo é minha culpa – declarou –, não de Anahí. Eu disse que ela não poderia comprar essas coisas. Eu a levei a isso. Ela nunca mais vai fazer nada parecido. Vou tomar providências.

Anahí olhava, impressionada. Ela e a mãe nunca haviam discutido sobre coisa alguma da Tiffany’s, especialmente o que ela poderia ou não ter.

Claflim balançou a cabeça.

– Senhora, creio que sua filha vá precisar fazer algum serviço comunitário. A pena costuma ser essa.

A sra. Portilla piscou de forma inocente.

– Nós não podemos deixar passar desta vez? Por favor?

Claflim olhou para ela por alguns instantes, um dos cantos da boca virado para cima, quase com maldade.

– Sente-se – ele disse, por fim. – Deixe-me ver o que posso fazer.

Anahí olhava para todos os lugares, menos na direção da mãe. Claflim estava inclinado sobre sua mesa, que ostentava uma miniatura de Wiggum, o chefe de polícia dos Simpsons e uma mola de metal. Ele lambia a ponta do dedo para virar as páginas dos documentos que estava preenchendo. Anahí ficou com medo. Que tipo de papéis eram aqueles? Será que os jornais da região noticiavam crimes? Isso era ruim. Muito ruim.

Anahí mexia o pé com nervosismo, e teve uma súbita necessidade de comer alguns Junior Mints. Ou talvez cajus. Até mesmo os Slim Jims na mesa de Claflim serviam.

Ela já podia até ver: todo mundo iria descobrir e, no mesmo momento, perderia os amigos e o namorado. Daí, voltaria a ser a Anahí esquisita do sétimo ano, seria um retrocesso. Ela iria acordar e seu cabelo estaria loiro desbotado e nojento de novo. Seus dentes voltariam a ficar tortos e ela teria de colocar aparelho outra vez. Não iria mais caber em seus jeans. E o resto seria consequência disso. Ela passaria a vida gorducha, feia, miserável e desleixada, como já fora um dia.

– Eu tenho um creme, se as algemas estiverem machucando seus pulsos. – A sra. Portilla apontou para as algemas, e depois procurou algo em sua bolsa.

– Eu estou bem – respondeu Anahí, de volta ao presente.

Suspirando, ela pegou seu BlackBerry. Foi difícil, porque estava algemada, mas queria convencer Chace a vir à casa dela no sábado. Naquele momento, precisava mesmo saber que ele iria. Enquanto fitava a tela sem expressão, um e-mail chegou. Ela o abriu.

Ei, Anahí,

Como a comida da cadeia engorda, você sabe o que o Chace vai dizer para você? Ele vai dizer “isso não”! — A

Ela ficou tão surpresa que se levantou, pensando que alguém pudesse estar do outro lado da sala, espiando. Fechou os olhos, tentando pensar em quem poderia ter visto o carro da polícia em sua casa.

Claflim parou de escrever.

– Está tudo bem?

– Ah... – disse Anahí. – Sim.

Ela se sentou devagar. Isso não? Que diabos era aquilo? Ela verificou o endereço do remetente de novo, mas era só um emaranhado de números e letras.

– Anahí – murmurou a sra. Portilla, depois de algum tempo –, ninguém precisa saber disso.

Anahí piscou.

– Ah, sim. Eu concordo.

– Bom.

Anahí engoliu em seco. Acontece que... Alguém já sabia.