Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

– Quer vir comigo a um vernissage no estúdio Chester Springs, na próxima segunda à noite? – perguntou Sandra, a mãe de Dulce.

Era quinta-feira de manhã e Sandra estava sentada na frente de Dulce, do outro lado da mesa de café da manhã. Dulce fazia as palavras cruzadas do New York Times com uma caneta preta que vazava enquanto comia uma tigela do cereal Cheerios. Sandra havia acabado de voltar para seu emprego de meio-período na galeria de arte contemporânea Davis, na rua principal de Rosewood, e recebia convites para todos os eventos de arte da cidade.

– Papai não vai com você? – perguntou Dulce.

A mãe apertou os lábios.

– Ele tem muitas aulas para preparar.

– Ah. – Dulce puxou um fio solto de lã das luvas que havia tricotado durante a longa viagem de trem para a Grécia. Foi suspeita o que detectou na voz da mãe? Dulce sempre se preocupou com o fato de a mãe descobrir sobre Margot e nunca se perdoou por guardar aquele segredo.

Dulce fechou os olhos com força. Estreitou-os. Você não está pensando nisso. Ela se serviu de suco de grapefruit.

– Sandra? – disse. – Preciso de um conselho amoroso.

– Conselho amoroso? – a mãe caçoou, prendendo o cabelo com um pauzinho de comida chinesa que estava caído sobre a mesa.

– É. Eu gosto de um cara, mas é meio... Inatingível. Eu não sei mais como convencê-lo de que ele deveria gostar de mim.

– Seja você mesma!

Dulce suspirou.

– Já tentei isso.

– Então, saia com um garoto possível!

Dulce revirou os olhos.

– Você vai me ajudar ou não?

– Ah, estamos sensíveis hoje. – Sandra sorriu e depois estalou os dedos. – Eu acabo de ler uma reportagem no jornal. – Ela ergueu o Times. – É uma pesquisa sobre o que os homens acham mais atraente nas mulheres. Sabe qual foi a primeira coisa que disseram? Inteligência. Olha só, deixa eu encontrar aqui para você... – Ela folheou o jornal e entregou uma parte para Dulce.

– Dulce está gostando de alguém? – Poncho entrou na cozinha e pegou uma rosquinha coberta de glacê da caixa em cima do balcão.

– Não! – respondeu Dulce, depressa.

– Bem, alguém gosta de você – completou Poncho. – Mesmo isso sendo nojento. – Ele fez um barulho de nojo.

– Quem? – perguntou ela, animada.

– Christopher Uckermann – Poncho respondeu, com um pedaço enorme e meio mastigado de rosquinha na boca. – Ele perguntou sobre você no treino de lacrosse.

– Christopher Uckermann? – Sandra repetiu, olhando de Poncho para Dulce e de Dulce para Poncho. – Qual deles é Christopher? Ele estava aqui três anos atrás? Eu o conheço?

Dulce gemeu e revirou os olhos.

– Ele não é ninguém.

– Ninguém? – A altura da voz de Poncho fez Dulce dar um pulo. Ele ficou a poucos centímetros de distância dela, com a caixa de suco de laranja na mão. – Ele é o cara.

Dulce bufou.

– Se você gosta tanto dele, por que é que você não sai com ele?

Poncho tomou um gole de suco direto da caixa, limpou a boca e encarou a irmã.

– Você tem agido de um jeito estranho. Você tá doidona? Posso experimentar o que você está usando?

Dulce gemeu. Na Finlândia, Poncho estivera constantemente tentando provar drogas e enlouquecera quando uns caras no porto venderam a ele um pacotinho de maconha. A erva revelou ser apenas palha, mas ele fumou aquilo com orgulho, mesmo assim.

Poncho coçou o queixo.

– Acho que sei por que você está tão estranha.

Dulce virou-se para o armário.

– Você não sabe coisa nenhuma.

– É o que você acha? – retrucou Poncho. – Pois eu não concordo. E quer saber do que mais? Vou dar um jeito de descobrir se minhas suspeitas estão corretas.

– Boa sorte, Sherlock. – Dulce vestiu o blazer. Mesmo sabendo que Poncho provavelmente estava por fora, ela torceu para que ele não notasse o tremor em sua voz.

Enquanto os outros garotos entravam em fila na sala de inglês, a maioria dos meninos tinha a barba de alguns dias por fazer e grande parte das meninas imitava as sandálias de plataforma e as lindas pulseiras de Oka-e-Anahí, Dulce dava uma revisada em seus cartões de anotação. Naquela manhã, eles tinham que fazer um relatório oral sobre uma peça chamada Esperando Godot. Dulce adorava relatórios orais, ela tinha a voz perfeita para isso, rouca e sexy, e acontece que conhecia essa peça muito bem. Certa vez, passara o domingo inteiro em um bar, em Reykjavík, discutindo animadamente com um cara idêntico ao Adrien Brody sobre essa obra... Quer dizer, entre goles de deliciosos vodca-martinis de maçã e roçando seus pés nos dele, debaixo da mesa. Então, aquele não apenas era um ótimo dia para se tornar uma aluna nota A, como ainda uma excelente oportunidade para mostrar a todos como a Dulce Finlandesa era bacana.

Pablo entrou apressado, parecendo um intelectual amarrotado e muito gostoso, e bateu palmas.

– Tudo bem, turma – começou ele –, nós temos um monte de coisas para fazer hoje. Se acalmem.

Anahí Portilla se virou e deu um sorrisinho forçado para Dulce.

– Que tipo de roupa de baixo você acha que ele está usando?

Dulce sorriu suavemente, cuecas samba-canção de algodão, listradas, claro, mas voltou sua atenção para Pablo.

– Tudo bem. – Pablo foi até o quadro-negro. – Todo mundo leu a peça, né? Todo fizeram um relatório? Quem quer falar primeiro?

A mão de Dulce se ergueu. Pablo concordou com a cabeça. Ela foi até o púlpito, na frente da classe, ajeitou o cabelo ruivo em volta dos ombros, ficando ainda mais linda, e certificou-se de que seu volumoso colar de coral não estivesse escondido na gola da camisa. Rapidamente, releu as primeiras marcações em seus cartões de resumo.

– Ano passado, assisti a uma montagem de Esperando Godot, em Paris – começou a dizer.

Ela notou que Pablo levantou a sobrancelha um pouquinho.

– Foi num teatro perto do Sena, e o ar cheirava como se alguém estivesse assando brioche de queijo ali perto. – Ela fez uma pausa. – Imagine a cena: uma fila enorme de pessoas esperando para entrar, uma mulher passeando com seus dois poodles pequenininhos, a torre Eiffel ao longe.

Ela deu uma olhadinha para a turma. Estavam todos pasmos!

– Eu podia sentir a energia, a excitação, a paixão no ar. E não era por causa da cerveja que era vendida para todo mundo, até mesmo para meu irmão mais novo – acrescentou ela.

– Que legal! – exclamou Christopher Uckermann.

Dulce sorriu.

– Os assentos eram de veludo vermelho e cheiravam como aquele tipo de manteiga francesa, mais doce que a americana. É ela que faz os doces tão deliciosos.

– Dulce – chamou Pablo.

– É o tipo de manteiga que faz até os escargots ficarem gostosos.

– Dulce!

Dulce parou de falar. Pablo se apoiou na lousa com os braços cruzados sobre o blazer de Rosewood.

– Sim? – ela sorriu.

– Tenho que pedir que pare.

– Mas... Eu mal cheguei à metade!

– Sim, mas eu quero menos sobre veludos vermelhos e doces e mais sobre a peça em si.

A classe abafou o riso. Dulce arrastou-se de volta para sua carteira e sentou-se. Ele não entendeu que ela estava criando um clima?

Christopher Uckermann ergueu a mão.

– Christopher? – disse Pablo. – Você que ser o próximo?

– Não – respondeu Christopher. A classe riu. – Eu só queria dizer que achei o relatório de Dulce bom. Eu gostei.

– Obrigada – agradeceu Dulce, com doçura.

Christopher virou-se para ela.

– É verdade que não há limite de idade para começar a beber?

– Não, realmente.

– Devo ir para a Itália com a minha família neste inverno.

– A Itália é demais. Você vai amar.

– Vocês dois acabaram? – perguntou Pablo. Ele fuzilou Christopher com o olhar. Dulce raspou suas unhas pink no tampo de madeira de sua carteira.

Christopher virou de novo para ela.

– Eles tomam absinto? – sussurrou ele.

Ela balançou a cabeça, surpresa que Christopher já tivesse ouvido falar sobre absinto.

– Senhor Uckermann – Pablo interrompeu-os, sério. Um pouco sério demais. – Já chega.

Foi ciúme o que ela detectou?

– Droga. – Anahí se voltou para trás. – O que foi que deu nele?

Dulce deu um riso amarelo. Pareceu a ela que certa excelente aluna estava deixando certo professor inquieto.

Pablo chamou Devon Arliss para falar em seguida. Quando Pablo virou de lado e apoiou o queixo na mão, ouvindo o relatório, Dulce pulsava. Ela o queria tanto que seu corpo inteiro zumbia.

Não, espera aí. Era só o celular, escondido em sua enorme mochila verde-limão, que estava perto de seu pé.

O treco continuou zumbindo. Devagarinho, Dulce se abaixou e pegou o aparelho. Havia uma nova mensagem de texto:

Dulce,

Talvez ele ande por aí com alunas o tempo todo. Uma porção de professores faz isso... Pergunte ao seu pai! — A

Dulce fechou o telefone rapidamente. Mas depois, abriu outra vez e leu a mensagem de novo. E de novo. E conforme lia, os pelos de seu braço se arrepiavam.

Ninguém na classe estava com o telefone à mostra, nem Anahí, nem Christopher, ninguém. E ninguém estava olhando para ela também. Ela até procurou no teto da sala de aula e do lado de fora da porta, mas nada parecia fora do lugar. Tudo estava silencioso e tranquilo.

– Isso não pode estar acontecendo – sussurrou Dulce.

A única pessoa que sabia da história com o pai de Dulce era... Angelique. E ela havia jurado por sua vida que não contaria a ninguém. Será que ela estava de volta?