Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

– Você vai à festa dos Uckermann hoje à noite? – perguntou Laura, entrando com o carro na garagem da casa dos Muller.

Ale passou um pente em seu cabelo ainda molhado.

– Eu não sei. – Durante o treino daquele dia, ela e Jamie mal haviam trocado duas palavras, então, não tinha certeza se iria com ele. – Você vai?

– Não sei. Topher e eu podemos resolver ir ao Applebee’s, em vez de irmos à festa.

Claro que Laura teria dificuldade para decidir entre uma festa no jardim ou o Applebbe’s numa sexta-feira à noite.

Elas bateram as portas do Volvo e seguiram o caminho de cascalho até a casa em estilo colonial da família, que devia ter uns trinta anos. Não era uma casa parecida com a maioria das casas em Rosewood, enormes e impressionantes. As telhas azul-claro estavam um pouco lascadas e as pedras da entrada já tinham desaparecido. A mobília do deque era meio antiquada.

A mãe as cumprimentou na porta da frente, com o telefone sem fio na mão.

– Ale, preciso falar com você um minutinho.

Ale deu uma olhada para Laura, que abaixou a cabeça e correu escada acima. Ah, não.

– O que foi?

A mãe alisou suas calças cinza pregueadas.

– Eu estava ao telefone com a treinadora Lauren. Ela disse que sua cabeça está em outro lugar, que você não se concentra nos treinos. E disse que... Você não foi ao treino na quarta-feira.

Ale engoliu em seco.

– Eu estava dando aula particular de espanhol para uns garotos.

– Foi isso que Laura me disse. Então, eu liguei para a senhora Hernandez.

Ale baixou a cabeça e olhou para seus tênis verdes. A sra. Hernadez era a professora de espanhol responsável pelas aulas particulares.

– Não minta para mim, Ale. – A sra. Muller franziu o cenho. – Onde você estava?

Ale atravessou a cozinha e desabou em uma cadeira. Sua mãe era uma pessoa racional. Elas podiam falar a respeito do que acontecera.

Ela mexeu com a argolinha prateada na parte de cima de sua orelha. Anos atrás, Angelique pediu a Ale que fosse com ela ao Piercing Palace, porque ia fazer um piercing no umbigo, e elas acabaram colocando brincos iguais. Ale ainda usava a mesma argolinha prateada na parte de cima das orelhas. Depois, Angel comprou um par de protetores de orelha imitando pelo de leopardo para esconder a prova do crime. Ale ainda usava aqueles protetores nos dias mais frios do inverno.

– Olha – ela disse, por fim –, eu estava com aquela menina nova, Vanessa. Ela é muito legal. Nós somos amigas.

Sua mãe parecia confusa.

– Vocês não podiam fazer alguma coisa juntas depois do treino, ou no sábado?

– Não vejo razão para tanta preocupação – disse Ale. – Eu perdi um dia de treino. Vou nadar o dobro neste final de semana, prometo.

A mãe apertou os lábios e se sentou.

– Mas Ale... Eu não consigo entender. Quando se inscreveu na natação este ano, assumiu um compromisso. Você não pode sair por aí com suas amigas quando deveria estar nadando.

Ale a interrompeu.

– Me inscrevi na natação? Como se eu tivesse escolha?

– O que está acontecendo com você? Está usando um tom estranho; mentindo sobre onde tem andado... – A mãe balançou a cabeça. – Por que essa mentira agora? Você nunca foi disso.

– Mamãe... – Ale começou, e depois parou de falar, se sentindo muito cansada. Ela queria dizer que sim, havia mentido, muitas vezes. Mesmo quando fora “a boa menina” em seu grupo de amigas do sétimo ano, ela fizera todo tipo de coisa e sua mãe nunca soubera.

Logo depois do desaparecimento de Angel, Ale temeu que o sumiço da amiga fosse uma espécie de... Punição... Cósmica porque Ale havia desobedecido seus pais secretamente, fazendo um piercing, se envolvendo na “Coisa com Megan”. Desde aquela época, tentara ser perfeita, fazer tudo que os pais mandassem. Ela fizera de si mesma uma filha modelo, por dentro e por fora.

– Eu só quero saber o que está acontecendo com você – disse a mãe.

Ale colocou as mãos sobre o jogo americano. Tentando se lembrar de como havia se transformado naquela versão de si mesma que não era realmente ela. Angel não havia desaparecido porque Ale desobedecera aos seus pais, agora ela conseguia entender isso. E da mesma forma que não conseguia se imaginar no colchão piniquento de Jamie, sentindo sua língua nauseante em seu pescoço, não conseguia se imaginar passando os próximos dois anos do ensino médio, e depois os quatro anos de faculdade, tendo que passar quatro horas por dia dentro de uma piscina. Por que Ale não podia ser só... Ale? Será que o tempo dela não seria mais bem aproveitado se ela o usasse para estudar ou, quem sabe, se divertir um pouco?

– Se você quer saber o que está acontecendo comigo – começou Ale, tirando o cabelo do rosto. Respirou fundo –, acho que não quero mais nadar.

O olho direito da sra. Muller se contraiu. Sua boca se abriu lentamente. Ela então se virou para ficar de frente para a geladeira, encarando os ímãs em formato de galinhas. Não disse nada, mas seus ombros tremiam. Finalmente, ela se virou. Seus olhos estavam um pouco vermelhos e seu rosto parecia exausto, como se tivesse envelhecido dez anos em poucos instantes.

– Eu vou ligar para o seu pai. Ele vai colocar algum juízo na sua cabeça.

– Eu já tomei minha decisão – ao dizer isso, ela se deu conta de que já tinha mesmo decidido.

– Não, não tomou. Você não sabe o que é melhor para você.

– Mamãe! – Ale sentiu lágrimas em seus olhos. Era assustador e triste ver a mãe tão brava com ela. Mas agora que tinha decidido, ela se sentia como se finalmente estivesse tirando um enorme peso dos ombros.

Os lábios da mãe tremiam.

– Isso tem a ver com essa nova amiga?

Ale ficou tensa e assoou o nariz.

– O quê? Quem?

A sra. Muller suspirou.

– A menina que mudou para a casa dos Boyer. Foi para ficar com ela que você matou o treino de natação, não foi? O que vocês duas ficaram fazendo?

– Nós... Nós só fomos até a trilha – sussurrou Ale. – E conversamos.

A mãe abaixou os olhos.

– Eu não tenho bons pressentimentos sobre meninas... Como ela.

Opa. O quê? Ale olhou para a mãe. Ela... Sabia? Mas como? Sua mãe nem conhecia Vanessa. Seria possível simplesmente olhar para ela e saber?

– Mas a Vanessa é muito legal. – Ale tentou consertar a situação. – Eu me esqueci de contar, mas ela disse que os brownies estavam maravilhosos e mandou agradecer.

A mãe juntou os lábios.

– Eu fui até lá. Estava tentando ser uma boa vizinha. Mas isso... Isso é demais. Ela não é uma boa influência para você.

– Eu não...

– Por favor, Ale – interrompeu a mãe.

As palavras ficaram presas na garganta de Ale.

A mãe suspirou.

– Existem tantas diferenças culturais entre vocês e... Ela... E eu simplesmente não consigo entender o que você e Vanessa têm em comum, de qualquer forma. E o que é que sabemos sobre aquela família? Quem sabe o tipo de coisas em que eles estão metidos?

– Espera, como assim? – Ale encarou a mãe. A família de Vanessa? Até onde Ale sabia, o pai de Vanessa era engenheiro civil e a mãe dela trabalhava como enfermeira particular. O irmão frequentava uma das turmas mais adiantadas em Rosewood e era um prodígio no tênis; eles estavam construindo uma quadra de tênis na propriedade. O que é que a família dela tinha a ver com essa história?

– Eu simplesmente não confio naquelas pessoas – disse a mãe de Ale. – Sei que isso soa muito bitolado, mas não confio mesmo.

A cabeça de Ale quase explodiu. A família dela. Diferenças culturais. Aquelas pessoas? Ela reviu tudo o que a mãe havia dito.

Ai... Meu... Deus.

A sra. Muller não estava preocupada porque achava que Vanessa era gay. Ela estava preocupada porque Vanessa, assim como o restante da família dela, era negra.