Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

– Dá só uma olhada – sussurrou Vanessa toda animada. – Costumava ter uma dessas no meu café favorito na Califórnia!

Ale e Vanessa olharam para a cabine de fotografia no terreno da festa de Christopher, perto das árvores. Uma comprida extensão elétrica cor de laranja saía da cabine e seguia até a casa, através do gramado. Enquanto elas olhavam para a cabine, o irmão mais velho de Christopher, Aaron, e uma Oka Giner bem tontinha saíram de dentro da cabine, pegaram suas fotos e foram embora.

Vanessa deu uma olhada para Ale.

– Quer tentar?

Ale concordou. Antes que elas entrassem na cabine, ela deu uma olhada para a festa. Alguns garotos estavam reunidos em volta do barril e uma porção de outras pessoas dançava com seus copos erguidos. Christopher e um bando de garotos nadavam só de cuecas no lago e Jamie não estava à vista.

Ale se sentou ao lado de Vanessa no banquinho laranja da cabine de fotografia e fechou a cortina. Elas estavam tão espremidas ali que seus ombros e coxas roçavam.

– Toma. – Ela estendeu a garrafa de Jack Daniel’s para Ale e apertou o botão verde. Ale deu um gole e depois segurou a garrafa com animação no momento em que a câmera bateu a primeira foto. Então elas encostaram o rosto uma na outra e deram grandes sorrisos. Ale ficou vesga e Vanessa inchou as bochechas com ar como um macaquinho para a terceira foto. Depois a câmera as pegou quase normais, se bem que um pouco nervosas.

– Vamos ver como ficaram – sugeriu Ale.

Mas, quando se levantaram, Vanessa puxou a manga de sua camisa.

– Podemos ficar aqui só mais um segundo? Esse é um ótimo esconderijo.

– Hum, claro – Ale se sentou de novo. Sem querer, fez barulho ao engolir.

– E então, como você está? – Vanessa perguntou, tirando uma mecha de cabelo da frente dos olhos de Ale.

Ale suspirou, tentando parecer confortável no banquinho minúsculo. Confusa. Irritada com meus pais provavelmente racistas. Com medo de ter tomado a decisão errada sobre a natação. Meio assustada por estar sentada tão perto de você.

– Eu estou bem – ela acabou dizendo.

Vanessa bufou e deu um gole no uísque.

– Eu não acredito nisso nem por um segundo.

Ale ficou quieta. Vanessa parecia ser a única pessoa que a entendia de verdade.

– É, acho que não – confessou Ale.

– Bom, então o que é que está acontecendo?

Mas, de repente, Ale não queria falar sobre a natação, ou sobre Jamie ou seus pais. Ela queria falar sobre... Outra coisa. Algo que ela vinha percebendo aos poucos. Talvez ter visto Dulce tivesse começado isso tudo. Ou talvez, finalmente, ter uma amiga tivesse trazido aquela sensação de volta. Ale pensou que Vanessa entenderia.

Ela respirou fundo.

– Ah, sabe aquela menina, a Angelique, que morava na sua casa?

– Sei.

– Nós éramos muito chegadas e eu, tipo, realmente a amava. Eu adorava tudo nela.

Ela ouviu Vanessa respirando aflita e tomou outro gole da garrafa de Jack Daniel’s.

– Nós éramos melhores amigas. – Ale passou os dedos entre o tecido azul desgastado da cortina da cabine de fotos. – Eu gostava demais dela. E por isso, um dia, assim, do nada, eu fiz.

– Fez o quê?

– Bem, Angel e eu estávamos na casa da árvore no quintal da casa dela. Nós íamos muito lá para conversar. Estávamos sentadas, conversando sobre um carinha de que ela gostava, um menino mais velho que nós, cujo nome ela não me falou, e eu não consegui mais me segurar. Então eu me inclinei... E a beijei.

Vanessa fungou baixinho.

– Mas Angelique não estava a fim daquilo. Ela se afastou de mim e disse algo como “Bem, agora eu sei por que você fica tão quieta quando estamos nos trocando para a aula de educação física”.

– Nossa – disse Vanessa.

Ale tomou outro gole do uísque e se sentiu meio tonta. Ela nunca tinha bebido tanto. E lá estava um de seus maiores segredos, exposto como as calcinhas da vovó no varal.

– Angel disse que não achava que amigas deveriam se beijar – continuou ela. – Então eu tentei lidar com aquilo como se fosse uma piada. Mas quando cheguei em casa, me dei conta de como realmente me sentia. Então, escrevi uma carta para ela, contando que eu a amava. Eu não acho que ela a tenha recebido. Se recebeu, nunca disse nada.

Uma lágrima caiu no joelho exposto de Ale. Vanessa percebeu e a enxugou com o dedo.

– Eu ainda penso um bocado nela. – Ale suspirou. – Eu meio que bloqueei as lembranças, disse a mim mesma que tudo aquilo foi só porque ela foi a minha primeira amiga de verdade e, você sabe... Nada além disso... Mas agora eu não sei.

Elas ficaram ali sentadas por alguns minutos. O barulho da festa parecia diluído. A cada poucos segundos, Ale ouvia o barulho de um isqueiro Zippo sendo usado para acender um cigarro. Ela não estava surpresa pelo que tinha acabado de dizer sobre Angel. Era assustador, claro, mas também era a verdade. De certa forma, era bom que ela finalmente tivesse entendido isso.

– Já que estamos trocando confidências – disse Vanessa com calma –, tenho algo para contar a você também.

Ela virou o pulso na direção de Ale, mostrando a cicatriz esbranquiçada.

– Você já deve ter visto isso.

– Sim – sussurrou Ale, olhando para a cicatriz na semiescuridão da cabine.

– Ela é do tempo em que eu me cortava com uma gilete. Eu não sabia que esse corte ficaria tão profundo. Saiu muito sangue. Meus pais me levaram para o pronto-socorro.

– Você se cortava de propósito? – perguntou Ale baixinho.

–Ah... sim. Quero dizer, não faço mais isso. Eu tento não fazer.

– Por que você faz isso?

– Eu não sei. – Às vezes eu só... Sinto que preciso. Você pode tocar nela se quiser.

Ale tocou. Era irregular ao toque, e macia, não parecia com pele de verdade. Tocar nela era a coisa mais íntima que Ale já fizera. Ela abraçou Vanessa.

O corpo de Vanessa estremeceu. Ela deitou sua cabeça no pescoço de Ale. Como da outra vez, ela tinha um cheiro artificial de banana. Ale apertou seu corpo contra o peito magro de Vanessa. Como seria cortar a si mesma e se ver sangrando tanto? Ale tinha lá sua cota de dores, mas nem mesmo as suas piores lembranças, como quando Angel a rejeitou ou A Coisa com Megan, a fizeram sentir-se culpada, horrível e esquisita, haviam despertado o desejo de se ferir daquele jeito.

Vanessa ergueu o rosto e encarou Ale. Depois, com um sorriso triste, ela beijou Ale nos lábios. Ale piscou para ela, surpresa.

– Às vezes melhores amigas se beijam, sim – disse Vanessa. – Viu?

Elas ficaram ali, juntas, seus narizes quase se tocando. Lá fora, os grilos faziam uma barulheira.

Vanessa a puxou de novo. Ale derreteu-se em seus lábios. Suas bocas estavam abertas e ela sentia a língua macia de Vanessa. O peito de Ale estava tenso de excitação enquanto ela deslizava as mãos pelo cabelo áspero de Vanessa, pelos ombros e pelas costas dela. Vanessa enfiou as mãos por baixo da camisa polo de Ale e apertou a barriga dela com os dedos. Ale, dando conta disso, teve medo, mas depois relaxou. Era um zilhão de vezes diferente de beijar Jamie.

As mãos de Vanessa percorreram o corpo dela e pararam em seu sutiã. Ale fechou os olhos. A boca de Vanessa tinha um gosto delicioso, de Jack Daniel’s e álcool. Então, Vanessa beijou os ombros e o peito de Ale. Ale jogou a cabeça para trás. Alguém tinha pintado uma lua e um monte de estrelinhas no teto da cabine.

De repente, a cortina começou a se abrir. Ale pulou, mas era tarde demais, a cortina havia sido completamente aberta por alguém. E então, Ale viu quem estava ali.

– Ai, meu Deus – disse ela.

– Droga – Vanessa xingou. A garrafa de Jack Daniel’s virou no chão.

Jamie carregava dois copos de cerveja, um em cada mão.

– É. Isso explica tudo.

– Jamie... Eu... – Ale tentou cambalear para fora da cabine, batendo com a cabeça na porta.

– Não se levante por minha causa – disse Jamie, numa voz horrivelmente irônica, brava e magoada, que Ale nunca tinha ouvido antes.

– Não... – Ale gritou. – Você não entende.

Ela saiu da cabine. Vanessa também. Ela viu Vanessa pegar a tira com as fotos e enfiá-la no bolso.

– Nem começa – Jamie cuspiu. Então, jogou um dos copos cheio de cerveja nela. A cerveja morna espirrou nas pernas de Jamie, em seus sapatos e seu short.

O copo voou até um arbusto.

– Jamie – Ale gritou.

Jamie titubeou e depois jogou o outro copo com maior precisão em Vanessa, molhando o rosto e o cabelo dela. Vanessa gritou.

– Pare com isso! – Ale engasgou.

– Suas sapatões filhas da mãe – disse ele. Ela percebeu a mágoa em sua voz. E então, ele deu as costas para elas e correu cambaleando para a escuridão.