Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

– O limite de x é... – murmurou Maite para si mesma. Ela se apoiou com um dos cotovelos na cama e olhou para seu livro de cálculo novinho e recém-encapado com papel pardo. Suas costas ainda ardiam por causa do gelol.

Maite checou o relógio: passava da meia-noite. Ela estava louca de se matar desse jeito por causa do dever de casa de cálculo na primeira sexta-feira do ano escolar? A Maite do ano anterior teria se jogado na festa dos Uckermann com seu Mercedes, bebido a cerveja ruim do barril e talvez ficado com Mason Byers ou algum outro garotinho bonito e meio detonado. Mas não a Maite de agora. Ela era a Estrela e a Estrela tinha lição de casa para fazer. No dia seguinte, a Estrela iria visitar lojas de decoração com a mãe para comprar objetos adequados para o celeiro. Ela podia até mesmo ir ao Main Line Bikes com seu pai à tarde, ele estivera estudando uns catálogos de ciclismo com ela durante o jantar, perguntando qual aro da Orbea ela gostava mais. Ele nunca havia perguntado a opinião dela sobre bicicletas antes.

Ela ergueu a cabeça. Foi uma batidinha na porta o que ela ouviu? Baixando a lapiseira, Maite olhou pela enorme janela do celeiro. A lua estava cheia e prateada, e as janelas da casa principal brilhavam num amarelo intenso. Bateram novamente. Ela foi até a porta pesada de madeira e a abriu com um puxão.

– Ei – sussurrou William. – Estou atrapalhando?

– Claro que não – Maite abriu completamente a porta. William estava descalço e usava uma camiseta branca com os dizeres FACULDADE DE MEDICINA DA PENSILVÂNIA e bermudas cáqui largas. Ela olhou para baixo, para sua camiseta baby look preta French Connection, shorts cinza curtos de corrida Villanova e pernas nuas. Seu cabelo estava puxado para trás num rabo de cavalo bagunçado, com mechinhas em volta do rosto. Era uma aparência tão diferente da que exibia todos os dias, com suas blusas Thomas Pink e jeans Citizens. Aquele look dizia: Sou sofisticada e sexy; esse look dizia: Estou estudando... Mas ainda sou sexy.

Tudo bem, então talvez ela estivesse preparada para a remota hipótese disso acontecer. Mas isso servia para mostrar que nunca se deve se enfiar em suas calcinhas de cintura alta e numa velha camiseta toda nojenta com os dizeres EU AMO GATOS PERSAS.

– Como vão as coisas? – perguntou ela. Uma brisa morna soprava as pontas de seu cabelo. Uma pinha caiu de uma árvore próxima e fez barulho.

William continuou na soleira.

– Você não deveria estar numa festa? Ouvi dizer que está rolando um festão em algum lugar aqui por perto.

Maite deu de ombros.

– Não estava a fim.

William olhou em seus olhos.

– Não?

A boca de Maite parecia macia.

– Hum... Onde está Mila?

– Está dormindo. Muita reforma, eu acho. Então pensei que talvez você pudesse me conceder uma visita guiada a este fabuloso celeiro no qual eu não posso morar. Eu nunca nem entrei nele!

Maite ficou séria.

– Você trouxe presente para a casa nova?

– Ah, eu... – William ficou pálido.

– Eu estou brincando. – Ela abriu a porta. – Adentre o celeiro de Maite Perroni.

Ela passara algumas noites sonhando com todos os cenários possíveis onde poderia ficar sozinha com William, mas nada comparado a tê-lo assim tão perto dela.

William parou para admirar o pôster de Thom Yorke e colocou as mãos atrás da cabeça.

– Você gosta de Radiohead?

– Adoro.

O rosto de William se iluminou.

– Devo ter ido ao show deles em Londres umas vinte vezes. Eles ficam cada vez melhores.

Maite alisou o edredom em sua cama.

– Sortudo. Eu nunca os vi ao vivo.

– Temos que dar um jeito nisso. – Ele se ajeitou no sofá. – Se eles vieram para a Filadélfia, nós iremos.

Maite parou.

– Mas eu não acho que... – e parou. Ela ia dizer Eu não acho que Mila goste deles, mas... Talvez Mila não fosse convidada.

Ela mostrou o closet para ele.

– Esse é meu, hum, closet – disse, ela batendo sem querer no batente da porta. – Era usado como sala de ordenha.

– Ah, é?

– É. Era aqui que os fazendeiros apertavam os mamilos da vacas ou qualquer coisa assim.

Ele riu.

– Você não que dizer tetas?

– Ah, é. – Maite ficou vermelha. Opa. – Você não precisa olhar aí pra ser educado. Quero dizer, eu sei que rapazes não se interessam por closets.

– Ah, não. – William riu. – Eu vim até aqui, faço questão de ver o que Maite Perroni tem no closet.

– Como quiser. – Maite acendeu a luz do closet. O lugar cheirava a couro, naftalina e Happy, o perfume da Clinique. Ela arrumara todas as suas calcinhas, sutiãs, camisolas e uniformes de hóquei em gaveteiros de vime e suas camisas estavam penduradas em fileiras, separadas por cor.

William riu.

– É como estar em uma loja!

– É sim – disse Maite, tímida, passando as mãos pelas camisetas.

– Eu nunca vi uma janela em um closet – William apontou para a janela aberta na parede mais distante deles. – Que engraçado.

– Era parte do celeiro original – explicou Maite.

– Você gosta que as pessoas a vejam nua?

– Tem cortinas – disse Maite.

– Que pena – retrucou William com a voz macia. – Você estava tão linda no banheiro... Eu desejei poder vê-la... Daquele jeito... De novo.

Quando Maite se virou bruscamente, o que é que ele tinha acabado de dizer? William a estava encarando. Ele passou os dedos pela bainha de um par de calças Joseph pendurados. Ela colocou e tirou seu anel de coração Tiffany’s Elsa Peretti diversas vezes, com medo de falar. William deu um passo para a frente, depois outro, até ficar bem na frente dela. Maite podia ver a luz brincando nas sardas do nariz dele.

A bem-comportada Maite de um universo paralelo teria dado a volta nele e mostrado o resto do celeiro. Mas William continuou olhando para ela com seus lindos e enormes olhos. A Maite que estava lá fechou a boca, com medo de dizer o que quer que fosse, ainda que morrendo de vontade de... Fazer alguma coisa.

E então ela fez. Fechou os olhos, avançou e beijou William.

William não hesitou. Ele a beijou de volta, depois, colocou uma das mãos em sua nuca e a beijou mais forte. A boca dele era macia e tinha um ligeiro gosto de cigarro.

Maite recuou até a parede onde estavam penduradas suas camisetas. William a seguiu. Alguns cabides caíram, mas Maite não se importou.

Eles caíram no chão acarpetado. Maite chutou o equipamento de hóquei que estava atrapalhando. William veio para cima dela, gemendo baixinho. Maite pegou a camiseta velhinha de William e a puxou por cima da cabeça dele. Ele tirou a dela e acariciou suas pernas com as dele. Eles rolaram de novo e agora Maite estava sobre ele. Uma enorme onda de, bem, ela nem sabia de quê, tomou conta do seu corpo. O que quer que fosse, era tão intensa que nem ocorreu a ela sentir culpa. Ela parou em cima dele, ofegante.

Ele reagiu e a beijou de novo, beijando depois o nariz dela e seu pescoço. Depois ele se levantou.

– Eu volto já.

– Por quê?

Ele indicou o banheiro com os olhos.

Assim que ela ouviu William fechando a porta, deitou a cabeça de novo no chão, sentindo-se tonta, olhando para suas roupas. Depois, ergueu-se e começou a olhar para si mesma no enorme espelho de três folhas do closet. Seu cabelo havia se soltado do rabo de cavalo e caía sobre seus ombros. Sua pele nua parecia luminosa e seu rosto estava um tantinho corado. Ela sorriu para as três Maites no espelho. Aquilo... Era... Inacreditável.

Foi quando o reflexo da tela de seu computador, diretamente oposta ao closet, chamou sua atenção.

Ela estava piscando. Maite se virou e deu outra olhada. Parecia que havia montes de mensagens instantâneas, empilhadas umas sobre as outras. Outra mensagem pulou na tela, dessa vez escrita em fonte de tamanho 72. Maite piscou.

AAAAAA: Eu já te avisei: beijar o namorado de sua irmã é ERRADO.

Maite correu até o monitor e leu a mensagem de novo. Ela se virou e deu uma olhada para o banheiro. Um fio de luz escapava por baixo da porta.

A, definitivamente, não era Daniel Sharman.

Quando ela correspondeu o beijo de Dylan no sétimo ano, ela contou a Angelique, esperando que a amiga lhe desse algum conselho. Angel olhou para suas unhas à francesinha durante um tempão, antes de finalmente dizer:

– Você sabe, sempre fico do seu lado quando se trata de Mila. Mas isso é diferente. Eu acho que você deveria contar a ela.

– Contar a ela? – Maite gritou. – Sem chance. Ela iria me matar.

– Espera aí! Você está achando que Dylan vai ficar com você? – Angel perguntou com maldade.

– Eu não sei – disse Maite. – Por que não?

Angel bufou.

– Se você não contar a ela, talvez eu conte.

– Você não faria isso!

– Ah, não?

– Se você contar a Mila – declarou Maite, depois de um breve momento, o coração batendo enlouquecido dentro do peito –, eu vou contar para todo mundo sobre A Coisa com Megan.

Angel riu alto.

– Você é tão culpada quanto eu.

Maite encarou Angel por um bom tempo, bem nos olhos.

– Mas ninguém me viu.

Ela se virou para Maite e a encarou, cheia de ódio, mais assustador que qualquer olhar que ela já tivesse dado para qualquer outra das garotas.

– Você sabe que eu já cuidei disso.

E depois houve a noite em que dormiram todas juntas no celeiro, a última noite do sétimo ano. Quando Angel disse como Dylan e Mila ficavam bem juntos, Maite entendeu que Angel era bem capaz de contar a Mila. Depois, estranhamente, um sentimento de liberdade a tomou. Deixa-a ir, pensou Maite. De repente, ela não ligava mais. E mesmo que soasse horrível dizer isso, a verdade era que Maite queria se livrar de Angel, naquele lugar e naquele momento.

Agora Maite se sentia enjoada.

Ela ouviu o barulho da descarga. William saiu do banheiro e ficou parado na porta do closet.

– Bem, onde é que nós estávamos? – disse ele, suavemente.

Mas Maite ainda tinha os olhos fixos na tela do computador. Alguma coisa nela, um brilho vermelho, acabara de se mover. Parecia com um... Reflexo.

– Qual é o problema? – perguntou William.

– Shhhh – disse Maite. Seus olhos se focaram. Era um reflexo. Ela se virou. Havia alguém lá fora, na janela.

– Droga. – Maite xingou. Ela segurou a camiseta à frente do peito nu.

– O que foi? – perguntou William.

Maite recuou. Sua garganta estava seca.

– Oh – grasnou.

– Oh – William repetiu.

Mila estava parada em frente à janela, seu cabelo bagunçado, parecendo o da Medusa, seu rosto sem expressão alguma. Um cigarro tremia em suas mãos pequenas e geralmente muito firmes.

– Eu não sabia que você fumava – disse Maite, por fim.

Mila não respondeu. Em vez disso, deu mais uma tragada, jogou o cigarro na grama úmida e se virou para voltar à casa principal.

– Você vem, William? – chamou Mila, com a voz gelada, por cima de seu ombro.