Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

“A polícia reabriu o caso Boyer, e estão ouvindo testemunhas”, relatou um locutor do jornal das onze. “A família Boyer, agora vivendo em Maryland, terá que encarar algo que tem tentado deixar para trás. Exceto que agora há uma conclusão.”

Locutores eram tão dramáticos, pensou Anahí, com raiva, enquanto enfiava outro punhado de cereal Cheez-Its na boca. Só o noticiário achava um jeito de tornar uma história horrível ainda pior. A câmera focalizou no santuário de Angel, como eles o chamavam, nas velas, bonecas, flores murchas que as pessoas, sem dúvida, pegavam nos jardins dos vizinhos, marshmallows Peeps, o doce favorito de Angel, e, claro, fotos.

A câmera voltou-se para a mãe de Angelique, que Anahí não via há um tempo. Apesar do rosto cheio de lágrimas, a sra. Boyer parecia bonita, com um corte de cabelo desordenado e brincos enormes que balançavam.

– Nós decidimos fazer uma cerimônia religiosa para Angelique em Rosewood, que foi o único lar que ela conheceu – a sra. Boyer disse, numa voz controlada. – Nós queremos agradecer todos aqueles que ajudaram na busca por nossa filha três anos atrás, pelo seu apoio permanente.

O apresentador voltou à tela.

– Uma cerimônia acontecerá amanhã na Abadia de Rosewood e será aberta ao público.

Anahí desligou a televisão. Era noite de domingo. Ela sentou no sofá da sala de estar em sua camiseta C&C mais surrada e um par de cuecas samba-canção que tinha surrupiado da gaveta de Chace. Seu cabelo estava uma bagunça, parecendo palha em volta do seu rosto, e ela tinha quase certeza de que tinha uma espinha na testa. Uma enorme tigela de Cheez-Its descansava em seu colo, uma embalagem vazia de chocolate Klondike estava amassada sobre a mesinha de centro e uma garrafa de vinho pinot noir estava confortavelmente aninhada ao seu lado. Ela tinha tentado a noite toda não comer daquela forma, mas, bem, a força de vontade dela simplesmente não estava muito forte naquele dia.

Ela ligou novamente a televisão, desejando ter alguém com quem conversar... Sobre a polícia, sobre A e, sobretudo, a respeito de Angelique. Chace estava fora de cogitação, por razões óbvias. A mãe dela, que estava num encontro naquele momento, era inútil para essas coisas. Depois da confusão na delegacia, no dia anterior, Claflim disse a Anahí e sua mãe para irem para casa; eles cuidariam daquilo mais tarde, pois a polícia tinha coisas mais importantes para fazer no momento. Nem Anahí, nem a mãe dela sabiam o que estava acontecendo na delegacia, apenas que envolvia um assassinato.

Na volta para casa, em vez de a sra. Portilla repreender Anahí por, oh, roubar um carro e dirigir bêbada, disse a Anahí que estava cuidando daquilo. Anahí não tinha noção do que aquilo significava. No ano anterior, um policial tinha falado na reunião do Dia de Rosewood sobre a regra de tolerância zero para condutores bêbados menores de vinte e um anos na Pensilvânia. Naquela época, Anahí havia prestado atenção apenas porque ela tinha achado o policial meio bonito, mas, naquele momento as palavras dele a assombravam.

Anahí também não podia contar com Oka: ela ainda estava num torneio de golfe, na Flórida. Elas tinham conversado rapidamente ao telefone, e Oka tinha admitido que a polícia havia telefonado para ela para falar a respeito do carro de Chace, mas ela havia bancado a boba, dizendo que tinha estado na festa o tempo todo e Anahí também. A filha da mãe era sortuda: eles tinham pegado a parte de trás da cabeça dela na fita de segurança “Wawa”, mas não seu rosto, pois ela estava usando aquele boné de entregas horroroso. Isso, entretanto, ocorrera no dia anterior, depois que Anahí tinha voltado da delegacia. Ela e Oka não tinham conversado naquele dia, e elas ainda não tinham discutido sobre Angelique.

E então... Havia A ou se A era Angelique, teria A ido embora agora? Mas a polícia declarou que Angelique estava morta há anos...

Enquanto Anahí percorria o guia de programação de tevê para ver o que mais estava passando, com as pálpebras inchadas de tanto chorar, considerou telefonar para seu pai, a história deveria estar no noticiário de Annapolis também. Ou talvez ele telefonasse para ela. Anahí ergueu o telefone silencioso para ter certeza de que ele ainda estava funcionando.

Ela suspirou.

O problema em ser a melhor amiga de Oka é que elas não tinham outras amigas. Assistir a toda aquela cena com Angel a fez pensar no seu velho grupo de amigas. Elas tinham tido seus momentos difíceis, horríveis, juntas, mas costumavam se divertir também. Num universo paralelo, estariam todas juntas agora, lembrando de Angel e rindo, ainda que também estivessem chorando. Mas, nessa dimensão, elas tinham ficado muito distantes umas das outras.

Elas tinham rompido por razões válidas, claro, as coisas tinham começado a se deteriorar bem antes de Angel desaparecer. No começo, quando elas estavam fazendo aquele negócio de caridade, era maravilhoso. Mas, então, depois que A Coisa de Megan aconteceu, as coisas ficaram tensas. Elas estavam todas com muito medo de que o que acontecera a Megan pudesse ser ligado a elas. Anahí se lembrava de ficar sobressaltada até se estava no ônibus e um carro de polícia passava por ela, seguindo em outra direção. Então, no inverno seguinte e na primavera, vários assuntos estavam proibidos. Alguém estava sempre dizendo “Shhh!” e então, todas caíam num silêncio desconfortável.

Os apresentadores do jornal das onze desejaram boa-noite e começou Os Simpsons. Anahí pegou seu BlackBerry. Ela ainda sabia o número de Maite de cor e, provavelmente, não seria tarde demais para ligar. Quando digitou o segundo número, levantou a orelha e seus brincos Tiffany’s tilintaram. Havia um barulho de algo raspando na porta.

Dot, que estava deitado aos seus pés, levantou a cabeça e rosnou. Anahí tirou a tigela de Cheez-It do colo e se levantou.

Era... A?

Com os joelhos tremendo, Anahí arrastou-se pela entrada. Havia sombras longas e escuras vindas detrás da porta e o barulho ficou mais alto.

– Oh meu Deus! – Anahí sussurrou com o queixo tremendo. Alguém está tentando entrar!

Anahí olhou ao redor. Havia um peso de papel redondo, de jade, na pequena mesa da entrada. Ele devia pesar pelo menos nove quilos. Ela o levantou e deu três passos inseguros para a porta da cozinha.

De repente, a porta se escancarou. Anahí pulou para trás. Uma mulher cambaleou pelo batente para dentro. Sua saia cinza de pregas, elegante, estava levantada em volta da cintura dela. Anahí segurou o peso de papel, pronta para jogá-lo.

Então, percebeu. Era a mãe dela.

A sra. Portilla tropeçou na mesa do telefone, lânguida. Um sujeito estava atrás dela, tentando abrir o zíper da saia e beijá-la ao mesmo tempo. Os olhos de Anahí se arregalaram.

Sam Claflim. O sr. Abril.

Então, aquilo era o que sua mãe queria dizer com cuidar de tudo?

O estômago de Anahí se contraiu. Sem dúvida, ela parecia um pouco louca, persistentemente agarrando o peso de papel. A sra. Portilla lançou um olhar demorado para Anahí, nem mesmo se dando o trabalho de se afastar de Claflim.

Os olhos da mãe diziam:

Estou fazendo isso por você.