Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

Alguns minutos depois, Angel e Maite entraram. Angel contou a elas tudo o que acontecera com uma calma quase sinistra: o rojão havia atravessado a janela e atingido Megan. Ninguém a tinha visto acender o rojão, então elas estavam seguras, contanto que ficassem de boca fechada. Afinal de contas, o rojão era de Beau. Se a polícia fosse botar a culpa em alguém, seria nele.

Durante toda a noite, elas choraram, agitadas, acordando e adormecendo diversas vezes. Maite, muito estressada, passou horas em posição fetal, sem dizer nenhuma palavra, zapeando do E! para o Cartoon Network e para o Animal Planet. Quando acordaram, no dia seguinte, a novidade já havia se espalhado por toda a vizinhança: alguém havia confessado.

Beau.

As meninas pensaram que era uma brincadeira, mas o jornal local confirmou que Beau tinha confessado que, ao brincar com um rojão aceso em sua casa na árvore, tinha apontado para o rosto da irmã sem querer... E que o rojão a havia cegado. Angel leu essa parte em voz alta, quando estavam todas reunidas em volta da mesa da cozinha da casa dela, de mãos dadas. Elas sabiam que deveriam estar aliviadas, porém... Sabiam a verdade.

Nos poucos dias que passou no hospital, Megan ficou histérica e confusa. Todos lhe perguntavam o que havia acontecido, mas ela parecia não se lembrar. Megan disse que também não era capaz de falar sobre nada do que acontecera imediatamente antes do acidente. Os médicos cogitaram que aquilo pudesse ser estresse pós-traumático.

O colégio Rosewood Day fez uma palestra não-brinque-com-fogos-de-artifício em homenagem a Megan, seguida de um baile e uma venda beneficente de bolos. As meninas, Maite em especial, participaram de forma entusiasmada, apesar, claro, de fingirem não saber de nada a respeito do que havia acontecido. Quando alguém perguntava, elas diziam que Megan era uma menina muito doce e uma das amigas mais chegadas que tinham. Várias garotas que nunca falaram com Megan estavam dizendo exatamente a mesma coisa. Quanto a Megan, nunca mais voltou a Rosewood Day. Foi para uma escola especial para cegos, na Filadélfia, e ninguém mais a viu depois daquela noite.

As coisas ruins em Rosewood Day, a certa altura, eram sempre gentilmente tiradas do caminho, e Beau não foi exceção. Seus pais o mantiveram estudando em casa pelo resto do ano letivo. O verão passou e, no ano seguinte, Beau foi mandado a um reformatório no Maine. Ele partiu sem cerimônias comoventes de despedida, num dia claro em meados de agosto. Seu pai o levou de carro até a estação, onde ele foi sozinho pegar o trem para o aeroporto. As meninas assistiram enquanto os Mirchoff derrubavam a casa na árvore naquela tarde. Era como se quisessem apagar o máximo que conseguissem da existência de Beau.

Dois dias depois da partida de Beua, os pais de Angel levaram as meninas para acampar nas Montanhas Pocono. As cinco desceram corredeiras, escalaram as pedras e se bronzearam nos bancos de areia do lago. De noite, quando a conversa acabava caindo no tema Beau e Megan, e isso aconteceu muito naquele verão, Angel lembrava a elas de que não podiam contar nada a ninguém, nunca. Tinham de manter aquele segredo para sempre... O que fortaleceria a amizade delas por toda a eternidade. Naquela noite, quando se enfiaram na barraca de cinco lugares, usando capuzes de cashmere J. Crew, Angel deu a cada uma delas uma pulseira colorida brilhante, para simbolizar a união. Amarrou a pulseira no pulso de cada uma e pediu que repetissem, depois dela:

– Eu prometo não contar nada até o dia da minha morte.

Elas sentaram em círculo, Maite, depois Anahí, Ale e Dulce, dizendo exatamente essas palavras. Angel colocou a própria pulseira por último.

– Até o dia da minha morte – sussurrou ela, depois de fazer o nó, suas mãos espalmadas sobre o coração. As meninas apertaram as mãos. Apesar de ser uma situação pavorosa, elas achavam que tinham sorte por terem umas às outras.

As meninas usaram suas pulseiras ao longo de muitos banhos, férias curtas na primavera durante as quais iam para a capital do país e Colonial Williamsburg, ou, no caso de Maite, para as Bermudas, durante treinos enlameados de hóquei e surtos de gripe. Angel dava um jeito de estar com sua pulseira sempre mais limpa que as das outras, como se sujá-la fosse enfraquecer seu propósito. Algumas vezes, elas tocavam as pulseiras com a ponta dos dedos e sussurravam “até o dia da minha morte”, para lembrarem a si mesmas como eram próximas. Aquilo se tornou a senha delas; todas sabiam o que significava. Na verdade, Angel dissera a frase há menos de doze meses, no último dia de aula do sétimo ano, quando as meninas estavam comemorando o início do verão. Ninguém poderia saber que, em poucas horas, Angel iria desaparecer.

Ou que aquele seria o dia de sua morte.