Fanfic: Pequenas Mentirosas - Vondy, Ponny, Levyrroni (adaptada) | Tema: Vondy, Ponny, Levyrroni

Quando ela acordou, estava deitada no banco de trás de um carro pequeno. Uma série de pequenos Band-Aids escondiam o arranhão em sua perna. Ela olhou em volta, ainda tonta, tentando se situar, quando percebeu quem estava dirigindo.

Beau se virou.

– Bu!

Ale gritou.

– Ei! – Beau parou em um semáforo e levantou as mãos para o alto, em um gesto que dizia: Não atire! – Desculpe. Eu só estava brincando.

Ale se sentou. O banco de trás estava entulhado de coisas: garrafas vazias de Gatorade, cadernos de espiral, livros didáticos, tênis surrados e um par de calças de moletom cinza. O estofamento do banco de Beau havia se desgastado em alguns lugares, revelando um enchimento de espuma azul. Um aromatizante de carro, no formato de um ursinho dançante, balançava no espelho retrovisor. O carro não cheirava bem, entretanto. Tinha um odor forte e azedo.

– O que você está fazendo? – perguntou Ale. – Aonde nós estamos indo?

– Você desmaiou – explicou Beau calmamente. – Por causa do sangue, talvez. Eu não sabia o que fazer, então, peguei você no colo e te coloquei no meu carro. Sua bicicleta está no porta-malas.

Ale olhou para os pés; lá estava sua mochila. Beau a havia carregado? Tipo, nos braços? Ela se sentiu tão assustada que parecia que ia desmaiar de novo. Olhando em volta, não reconheceu a estrada cheia de árvores por onde estavam passando. Eles podiam estar em qualquer lugar.

– Me deixe sair – gritou Ale. – Eu posso pedalar daqui.

– Mas não tem acostamento...

– É sério. Encoste.

Beau encostou o carro em uma área gramada e olhou para ela. Os cantos de sua boca caíram e seus olhos se arregalaram de preocupação.

– Eu não tive a intenção... – Ele passou a mão no queixo. – O que eu deveria ter feito? Deixado você lá?

– É – respondeu Ale.

– Bem, hum, eu sinto muito, então. – Beau saiu do carro, andou até o lado dela e abriu a porta. Um cacho de cabelo caiu sobre a testa dele. – Na escola, eu fui voluntário na unidade de resgate de emergência. Eu meio que quero resgatar tudo, agora. Até mesmo animais mortos na estrada.

Ale olhou para a estrada e notou a gigantesca roda d’água da fazenda Applegate Horse. Eles não estavam no meio do nada. Estavam a menos de dois quilômetros da casa dela.

– Venha – disse Beau. – Eu te ajudo.

Talvez ela estivesse exagerando. As pessoas mudam, era só ver qualquer um dos amigos de Ale, por exemplo. Não significava que Beau fosse, definitivamente, A. Ela relaxou as mãos, que apertavam o assento do carro.

– Hum, você pode me levar. Se quiser.

Beau olhou para ela por um instante. Um dos cantos de sua boca se curvou, em um quase sorriso. A expressão em seu rosto dizia: Hum, tudo bem, garota maluca, mas ele não disse nada.

Ele voltou para o banco do motorista, e Ale o examinou em silêncio. Beau realmente havia mudado. Os olhos dele, que antigamente tinham uma expressão assustadora, agora pareciam apenas profundos e pensativos. E ele estava falando. Coerentemente. No verão, após o sexto ano, Ale e Beau foram para o mesmo acampamento de natação, e Beau simplesmente olhava fixamente para ela, sem o menor constrangimento e, então, puxava a aba do boné sobre os olhos e cantarolava. Mesmo assim, Ale desejava poder perguntar a ele a questão de um milhão de dólares: por que ele havia assumido a culpa por cegar sua irmã postiça, quando não o havia feito?

Na noite em que acontecera o acidente, Angel entrara em casa e dissera a elas que tudo estava bem, que ninguém a havia visto. Todas estavam muito assustadas para dormir no começo, mas Angel acariciara as costas de todas, acalmando-as. No dia seguinte, quando Beau confessara, Dulce perguntara a Angel se, durante aquele tempo todo, ela sabia o que ele iria fazer, como poderia ter sido tão fria?

– Eu simplesmente tive uma sensação de que tudo ficaria bem – explicara Angel.

Com o tempo, a confissão de Beau havia se tornado um daqueles mistérios da vida, que ninguém jamais entenderia, qual era o motivo real por trás do divórcio de Brad e Jen; o que havia no chão do banheiro das meninas de Rosewood Day quando a zeladora gritara; por que Imogen Smith perdera tantas aulas no sexto ano (porque, definitivamente, não era mononucleose), ou como... Quem matara Angel. Talvez Beau se sentisse culpado sobre outra coisa, ou quisesse sair de Rosewood? Ou, talvez, ele tivesse mesmo fogos de artifício na casa da árvore e os tivesse disparado acidentalmente.

Beau manobrou o carro e entrou na rua de Ale. Tocava blues nas caixas de som, e ele acompanhava o ritmo batendo no volante com as palmas das mãos. Ela pensou em como ele a havia salvado de Jamie no dia anterior. Ela queria lhe agradecer, mas e se ele perguntasse mais sobre o assunto? O que Ale iria dizer? Oh, ele estava furioso porque me viu beijando uma garota na boca.

Ale finalmente pensou em uma pergunta segura.

– Então, você está na Tate, agora?

– É – respondeu ele. – Meus pais me disseram que, se eu fosse aceito, poderia ir. E eu fui. É bom estar perto de casa. Eu posso ver a minha irmã. Ela está na escola na Filadélfia.

Megan. O corpo inteiro de Ale, até os dedos dos pés, ficou tenso. Ela tentou não demonstrar nenhuma reação, e Beau olhou diretamente para a frente, parecendo não notar que ela estava nervosa.

– E, hum, onde você estava antes? No Maine? – perguntou Ale, fazendo parecer que ela não sabia que ele estava na Academia Manning para Rapazes, que, de acordo com a pesquisa que ela fizera no Google, ficava na Estrada Fryeburg, em Port-land.

– É. – Beau diminuiu a velocidade para deixar que dois garotos de patins atravessassem a rua. – O Maine era legal. A melhor coisa era o resgate de emergência.

– Você... Você viu alguém morrer?

Beau olhou nos olhos dela pelo espelho retrovisor novamente. Ale nunca havia percebido que os olhos dele eram bonitos.

– Não. Mas uma senhora me deixou o cachorro dela em testamento.

– O cachorro? – Ale não conseguiu controlar uma risada.

– É. Eu estava com ela na ambulância e a visitei no CTI. Nós conversamos sobre o cachorro dela, e eu disse que adorava cachorros. Quando ela morreu, o advogado dela me encontrou.

– E... Você ficou com ele?

– Está na minha casa agora. Ele é um animal dócil, mas tão velho quanto a ex-dona.

Ale riu e algo dentro dela começou a derreter. Beau parecia... Normal. E legal. Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, eles haviam chegado à casa dela.

Beau estacionou o carro e tirou a bicicleta de Ale do porta-malas. Quando ela pegou o guidom, os dedos deles se tocaram. Uma pequena faísca se acendeu dentro dela. Beau olhou para Ale por um momento, e ela olhou para a calçada. Séculos atrás, ela havia colocado a mão no concreto fresco. Agora, a marca da mão parecia pequena demais para ter pertencido a ela.

Beau sentou-se no banco do motorista.

– Então, vejo você amanhã?

Ale levantou a cabeça de uma vez.

– P-por quê?

Beau ligou o carro.

– É a reunião Rosewood-Tate. Lembra?

– Oh – respondeu Ale. – É claro.

Enquanto Beau se afastava, ela sentiu o coração desacelerar. Por alguma razão maluca, ela pensara que Beau iria convidá-la para sair. Ora, vamos, disse ela a si mesma ao subir os degraus da entrada de casa. Aquele era Beau. Os dois juntos era algo tão provável como... Bem, como Angel ainda estar viva. E, pela primeira vez desde que ela desaparecera, Ale tinha finalmente desistido de esperar por isso.