Fanfics Brasil - Epílogo A escolha - Vondy - Adaptada

Fanfic: A escolha - Vondy - Adaptada | Tema: VONDY


Capítulo: Epílogo

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Junho de 2007



A paisagem tristonha do inverno deu lugar às cores vivas do fim da primavera, e, sentado na varanda atrás da casa, Christopher podia ouvir pássaros. Dezenas, talvez centenas, estavam chamando e piando, e frequentemente uma revoada de andorinhas deixava as árvores onde
haviam se aninhado, voando em formações que quase pareciam coreografadas.
  Era uma tarde de sábado e Christine e Lisa ainda estavam brincando no balanço que Christopher havia construído com uma corda e um pneu e pendurado na árvore na semana anterior. Como queria um arco longo e lento para as meninas, diferente dos balanços comuns, ele havia cortado alguns dos galhos mais baixos antes de prender a corda na parte mais alta da árvore. Passara uma hora inteira naquela manhã empurrando o balanço e ouvindo as suas filhas gritando e rindo com alegria; quando ele terminou, a parte de trás da sua camiseta estava ensopada de suor. E as meninas ainda queriam mais.
  ― Deixem o papai descansar por alguns minutos - disse ele, sem fôlego. - O papai está cansado. Por que vocês não brincam um pouco sozinhas por enquanto? A decepção ficou clara no rosto delas, mas durou apenas alguns momentos. Logo elas estavam rindo e gritando novamente. Christopher as observava no balanço, com a boca se abrindo em um pequeno sorriso. Ele adorava o tom musical da
risada delas, e vê-las brincando juntas acalentava o seu coração. Ele esperava que elas permanecessem sempre amigas, assim como eram agora. Ele gostava de acreditar que, se ele e Stephanie servissem de referência, elas ficariam ainda mais próximas no futuro. Pelo menos era o que ele esperava. A esperança, como ele aprendeu, é tudo o que uma pessoa tem, e nos últimos quatro meses ele havia aprendido a aceitála.
  Desde que fez a escolha, sua vida havia gradualmente voltado a certa normalidade. Ou pelo menos algo parecido com isso. Com  Stephanie, ele visitou algumas casas de repouso. Antes dessas visitas, a concepção que ele tinha das casas de repouso era pontilhada por erros de julgamento. Ele imaginava que eram lugares mal iluminados e imundos, onde pacientes confusos e balbuciantes vagavam pelos corredores no meio da noite e eram vigiados por agentes de segurança à beira de uma psicose. Nada daquilo provou ser verdadeiro. Pelo menos não nos lugares que ele e Stephanie visitaram.
  Em vez disso, os lugares, em sua maioria, eram bem iluminados e arejados, administrados por homens e mulheres de meia-idade que usavam terno e gravata e levavam seu trabalho a sério, e que se esforçavam ao máximo para provar que suas instituições eram mais higiênicas que a maioria das casas e que sua equipe de funcionários  era atenciosa, cuidadosa e profissional.
  Durante as visitas, enquanto Christopher  imaginava se Dulce ficaria feliz em um lugar como aquele ou se ela seria a paciente mais jovem da instituição, Stephanie fazia as perguntas mais incisivas. Ela perguntava sobre os registros criminais dos funcionários e procedimentos de emergência, ou sobre como a casa de repouso lidava com as reclamações.
  Ao andar pelos corredores, ela deixava claro que estava ciente de cada regulamentação e código previstos em lei. Ela expunha situações hipotéticas que poderiam vir a acontecer e perguntava como a equipe de saúde e o diretor lidariam com elas. Perguntava quantas vezes Dulce seria exercitada e movida na cama durante o dia, para prevenir a formação de escaras.
  Às vezes, Christopher pensava que ela agia como um promotor de justiça tentando condenar alguém por um crime e, embora ela  mexesse com os brios de alguns diretores, Christopher ficava grato por sua vigilância. Em seu estado mental, ele não conseguiria pensar de forma racional, mas sabia que ela estava fazendo todas as perguntas necessárias. No final do processo, uma ambulância transferiu Dulce para uma casa de repouso que ficava a poucos quarteirões do hospital, administrada por um homem chamado Elliot Harris. Harris não havia impressionado somente Christopher, mas Stephanie também, e ela preencheu todos os documentos no escritório dele. Ela havia  insinuado - podia ser verdade ou não - que conhecia algumas pessoas importantes do poder judiciário estadual, e assegurou-se de que Dulce ficaria em um belo quarto individual com vista para um pátio.
  Quando Christopher a visitava, ele empurrava a cama até a janela e afofava os travesseiros. Ele imaginava que ela gostava dos sons que vinham do pátio, onde amigos e famílias se reuniam, e também da luz do sol. Ela havia dito aquilo para ele certa vez, quando ele exercitava suas pernas. Ela também havia dito que entendia a escolha que ele fez e que estava feliz por ele haver decidido daquela maneira.
Depois de instalá-la na casa de repouso e passar a maior parte da semana seguinte com ela enquanto ambos se aclimatavam ao  novo ambiente, ele havia voltado a trabalhar. Aceitou a sugestão de Stephanie e começou a trabalhar até o início da tarde, quatro dias por semana; seu pai tomava conta do restante do dia. Ele não havia percebido o quanto sentia falta da interação com outras pessoas e, almoçando com seu pai, descobriu que conseguia comer quase toda a refeição.
  Trabalhar regularmente significava que ele tinha de adaptar as visitas à casa de repouso ao seu novo horário. Depois de levar as meninas até o ponto do ônibus escolar, ele ia até a casa de repouso e passava uma hora ali; depois do trabalho, ele passava outra hora com Dulce antes que suas filhas voltassem para casa. Às sextas, ele ficava ali a maior parte do dia, e nos fins de semanas passava ali algumas horas. Aquilo dependia da programação e dos planos das meninas, algo em que Dulce provavelmente teria insistido. 
  Às vezes, nos fins de semana, elas queriam visitá-la com ele, mas, na maioria das vezes, elas não queriam ir até lá ou não tinham tempo para isso, por causa dos jogos de futebol, festas ou porque saíam para patinar. De alguma forma, sem ter a decisão sobre a vida ou a morte de Dulce em suas mãos, a distância entre elas não incomodava Christopher tanto quanto antigamente.
  Suas filhas estavam fazendo o que era necessário para melhorar e seguir com a vida, assim como ele. Ele havia vivido o bastante para saber que as pessoas lidavam com a dor de diferentes maneiras, e, pouco a pouco, todos começaram a aceitar suas novas vidas. Até que
certa tarde, nove semanas depois de Dulce ter sido transferida para a casa de repouso, o pombo apareceu em sua janela.
  No início, Christopher não acreditou no que estava vendo. Para ser honesto, ele nem tinha certeza de que era o mesmo pássaro. Quem poderia dizer com certeza? Cinza, preto e branco com olhos escuros -e na maioria das vezes uma praga -, todos eles pareciam iguais. E, mesmo assim, olhando para elChristopher sabia que era o mesmo pombo. Tinha de ser. Ele andava de um lado para o outro, não tinha
medo de Christopher quando ele se aproximava do vidro e arrulhava de uma forma que parecia... familiar, de certa forma. Um milhão de pessoas diriam que ele estava louco, e uma parte dele sabia que essas pessoas estavam certas. Mesmo assim...
  Era o mesmo pombo. Não importa o quanto isso pudesse parecer loucura.Ele o observou, embasbacado. No dia seguinte, trouxe um pouco de pão de forma e colocou alguns pedaços no peitoral da janela. Depois daquele dia, ele olhou pela janela regularmente, esperando que o pombo voltasse, mas ele nunca retornou. Nos dias que se seguiram àquela visita, ele percebeu que a ausência do pombo o deixou deprimido. Às vezes, em momentos de maior reflexão, ele gostava de pensar que o pombo havia simplesmente voltado para ver como eles estavam, para ter certeza de que Christopher ainda estava cuidando de Dulce. Era isso, disse Christopher a si mesmo, ou o pássaro veio para dizer-lhe que não desistisse; que, apesar de tudo, a escolha que ele fizera era a opção certa.
  Sentado na varanda dos fundos da sua casa, lembrando aquele momento, ele ficou impressionado por poder olhar para as suas filhas felizes e vivenciar ele mesmo uma boa parte da alegria que elas sentiam. Ele mal conseguia reconhecer aquela sensação de bem-estar, a impressão de que tudo estava bem no mundo. Teria a visita do pombo anunciado as mudanças que tomaram conta da vida daquela família? Christopher supunha que refletir sobre tais coisas era parte da natureza humana e imaginou que contaria a sequência da história pelo resto de sua vida.
  Foi isso o que aconteceu: no meio da manhã, seis dias depoisque o pombo havia reaparecido, Christopher estava trabalhando na sua clínica.Em uma das salas havia um gato doente; em outra, um filhote de doberman que precisava de vacinas. Na terceira sala Christopher estava suturando um cachorro que era um cruzamento de labrador com golden retriever, que havia se cortado enquanto tentava rastejar por baixo de arames farpados. Ele terminou de suturar o último ponto, amarrou a linha e estava começando a informar o dono sobre como manter o ferimento livre de infecções quando uma assistente entrou na sala sem bater na porta.Christopherse virou, surpreso com a interrupção.
  ― É Elliot Harris - disse ela. - Ele precisa falar com você.
  ― Pode anotar o recado? - perguntou Christopher, olhando para o cachorro e o dono.
  - Ele disse que não pode esperar. É urgente.
  Christopher desculpou-se com o cliente e disse a sua assistente que cuidasse das coisas enquanto ele atendia o telefone. Foi até o  escritório e fechou a porta. No telefone havia uma luz piscando, avisando que Harris aguardava para falar com ele. Pensando naquela ocasião, ele não tinha certeza sobre o que esperava ouvir. Sentia, entretanto, uma sensação de que algo sinistro estava para acontecer quando levou o telefone até a orelha.
  Era a primeira - e a única - vez que Elliot Harris havia ligado para ele no escritório. Ele se endireitou e apertou o botão.
  ― Aqui é Christopher Uckermann - disse ele ao telefone.
  ― Dr. Uckermann, aqui é Elliot Harris - disse o diretor. A voz dele era calma, e Christopher não conseguiu detectar nenhum indício do motivo do telefonema. - Eu acho que o senhor devia vir até a casa de repouso assim que possível.
  No curto silêncio que se se seguiu, um milhão de pensamentos passaram pela mente de Christopher: Dulce havia parado de respirar; a
situação dela havia piorado; de algum modo, toda a esperança havia desaparecido. Naquele instante, Christopher segurou o telefone com força, como se estivesse tentando evitar o que quer que fosse dito a seguir.
  ― Dulce está bem? - ele perguntou, finalmente.
  As palavras pareciam estar engasgadas.
  Houve mais uma pausa, provavelmente apenas um segundo ou dois. Um piscar de olhos que demorou anos, era como ele o descreveria hoje; mas as duas palavras que se seguiram fizeram com que ele deixasse o telefone cair.
  Ele estava estranhamente tranquilo quando saiu da clínica. Pelo menos foi isso que seus assistentes lhe disseram mais tarde: que não conseguiram perceber nada do que havia acontecido quando olharam para ele, e que Christopher não deu nenhum indício do que havia acontecido. Eles disseram que o haviam observado quando ele passou em frente ao balcão da recepção. Todos, desde a equipe de
funcionários até as pessoas que traziam seus animais até a clínica, sabiam que a esposa de Christopher estava na casa de repouso.
  Madeline, que tinha 18 anos e trabalhava na recepção, olhou-o com olhos arregalados quando ele se aproximou da sua mesa.
Naquela altura, quase todos na clínica sabiam que alguém havia ligado da casa de repouso. Em cidades pequenas, as notícias se  espalham rapidamente.
  ― Pode ligar para o meu pai e pedir que ele venha me substituir? - perguntou Christopher. - Eu preciso ir até a casa de repouso.
  ― Claro que sim - respondeu Madeline. Ela hesitou. - Você está bem?
  ― Você poderia me levar até lá? Acho que eu não estou em condições de dirigir.
  ― Claro - disse ela assustada. - Deixe-me apenas ligar para o seu pai, está bem? Enquanto ela teclava os números, Christopher parecia estar paralisado. A sala de espera estava em completo silêncio. Até mesmo os animais pareciam saber que algo havia acontecido. Ele ouviu Madeline falando com seu pai como se ela estivesse muito distante; na verdade, ele mal tinha noção de onde estava. Foi somente quando Madeline desligou o telefone e lhe disse que seu pai chegaria em pouco tempo que Christopher pareceu reconhecer seus arredores. Ele viu o medo no rosto de Madeline. Talvez porque fosse jovem e não conseguisse manter a calma, ela fez a pergunta em que todos pareciam estar pensando.
  ― O que houve?


Christopher  viu a empatia e a preocupação  estampadas no rosto das pessoas. A maioria delas o conhecia há anos; algumas o conheciam desde que ele era pequeno. Alguns,
entre eles a maioria da equipe de funcionários, também conheciam Dulce, e, depois do acidente, todos passaram por um período parecido com um luto. Aquilo não era da conta de ninguém, mas de repente era, porque as raízes de Christopher estavam aqui. Beaufort era a casa deles, e, olhando em volta, ele reconhecia a curiosidade de todas aquelas pessoas como algo parecido com o amor entre
parentes.
  Mesmo assim, ele não sabia o que dizer a elas.
  Ele havia imaginado mais de mil vezes como este dia seria, mas agora, entretanto, parecia que tudo era novo. Ele conseguia ouvir a  própria respiração.
  Se concentrasse intensamente, achava que poderia até mesmo sentir seu coração batendo no peito; mas seu pensamento parecia estar longe demais para fazer sentido, ou mesmo para ser traduzido em palavras. Ele nem sabia ao certo em que pensar. Imaginava se havia escutado Harris corretamente, ou se tudo havia sido um sonho; ele imaginou se, de algum modo, havia compreendido mal.
  Em sua mente, ele revivia a conversa, buscando significados ocultos, tentando encontrar a realidade por trás das palavras, mas, por mais que tentasse, parecia não conseguir se concentrar o bastante para  sentir a emoção que deveria. O terror o impedia de sentir o que quer que fosse. Mais tarde, ele descreveria a sensação que sentiu como se
equilibrar em uma corda bamba, com a felicidade total de um lado e a perda total do outro, e ele estava parado no meio, pensando que um único movimento errado em qualquer direção faria com que ele caísse no abismo.
  Na clínica, ele colocou sua mão no balcão para se apoiar.  Madeline deu a volta no balcão com as chaves do carro na mão. Christopher olhou em volta da sala de espera; depois, para Madeline, e por último para o chão. Quando levantou os olhos, tudo o que ele conseguiu fazer foi repetir exatamente o que ouvira ao telefone alguns momentos antes.
  ― Ela acordou.
 Doze minutos depois, após trinta mudanças de faixa e três semáforos que estavam definitivamente amarelos, ou talvez até mesmo vermelhos, Madeline estacionou o carro na porta da casa de repouso. Christopher não havia dito uma palavra desde que entrou no carro, mas sorriu em agradecimento ao abrir a porta.
  O percurso não ajudou a aliviar sua mente.
  A esperança que tinha parecia estar além de qualquer coisa, e ele estava com um enorme entusiasmo. Ao mesmo tempo, não conseguia se afastar da ideia de que, de algum modo, ele havia entendido errado o que lhe fora dito no telefone.
  Talvez ela tivesse acordado por um instante e estivesse novamente em coma; talvez alguém tivesse visto alguma informação errada. Talvez Harris tivesse se referido a alguma condição obscura que melhorava a função cerebral, em vez do óbvio. A cabeça dele girava, alternando cenários de esperança e desespero conforme ele se encaminhava para a entrada.
  Elliot Harris o aguardava e parecia ter um maior controle sobre si mesmo do que Christopher imaginava poder exercer. Já telefonei para o médico e o neurologista e eles estarão aqui em alguns minutos - disse ele.
  ― Por que você não vai até o quarto dela?
  ― Ela está bem, não é?


Harris, um homem que Christopher mal conhecia, colocou uma mão em seu ombro, convidando-o a entrar.


- Vá vê-la - disse ele. - Ela está perguntando por você.
  Alguém segurou a porta aberta para que ele entrasse - não importa o quanto tentasse, ele não conseguia se lembrar se era um homem ou uma mulher - e Christopher entrou no prédio. Uma curva à direita o levou às escadas, e ele subiu rapidamente, ficando mais cambaleante conforme subia. No segundo andar, ele abriu a porta e viu que havia uma enfermeira e um assistente de enfermagem que pareciam estar esperando por ele. Como ambos tinham uma
expressão entusiasmada, ele presumiu que deviam tê-lo visto chegando e queriam lhe dizer o que estava acontecendo, mas ele não parou, e eles o deixaram passar. Ao dar o próximo passo, ele sentiu que suas pernas iriam fraquejar. Apoiou-se contra a parede para se endireitar por um momento e depois deu mais um passo em direção ao quarto de Dulce. Ao se aproximar, ele ouviu o murmúrio de pessoas conversando. Na porta, ele hesitou, desejando que tivesse pelo menos penteado o cabelo, mas isso não importava. Ele entrou no quarto, e o rosto de Gretchen se iluminou.
  ― Eu estava no hospital ao lado do médico quando ele recebeu a mensagem e simplesmente tinha de vir aqui e ver com os meus próprios olhos.
  Christopher  nem sequer a ouviu. Em vez disso, ele só conseguiu registrar a presença de Dulce, sua esposa, sentada na cama, com uma aparência fraca. Ela parecia estar desorientada, mas o sorriso em seu rosto quando ela o viu lhe disse tudo que ele precisava saber.
  ― Eu sei que vocês dois têm muito o que conversar... - dizia Gretchen, ao fundo.
  - Dulce? - sussurrou Christopher, finalmente.
  ― Christopher - grunhiu ela. A voz de Dulce parecia diferente, arrastada e rouca pela falta de uso, mas era realmente a voz dela.
  Christopher foi lentamente até a cama, seus olhos nunca se afastando dos dela, sem perceber que Gretchen já havia saído do quarto, fechando a porta atrás de si.
  ― Dulce ? - repetiu ele, quase sem acreditar.
Em seu sonho, ou no que ele achava ser um sonho, ele observava conforme ela movia sua mão da cama até pousá-la em cima da barriga, como se aquilo necessitasse de toda a força de que ela dispunha.
  Ele se sentou na cama ao lado dela.
  ― Onde você estava? - perguntou ela, balbuciando as palavras, mas mesmo assim cheias de amor, cheias de vida. Acordada. - Eu
não sabia onde você estava.
  ― Estou aqui agora - disse Christopher, e desmanchou-se em lágrimas, com os soluços vindo aos borbotões. Ele se inclinou em  direção à Dulce, ansiando por sentir seu abraço. E, quando sentiu a mão dela em suas costas, ele começou a chorar ainda mais. Ele não
estava sonhando.
  Dulce  o estava abraçando; ela sabia quem ele era e o quanto ela significava para ele. Era real. Era tudo o que ele conseguia pensar. Desta vez, era real.
  Como Christopher não estava disposto a sair do lado de Dulce, seu apaiao substituiu na clínica por mais alguns dias. Apenas raecentemente ele voltara a ter algo parecido com um trabalho em tempo integral, e em fins de semana como aquele, com suas filhas correndo e rindo no jardim e Dulce na cozinha, ele às vezes se pegava procurando detalhes do ano anterior. As lembranças que ele tinha dos dias que passou no hospital pareciam borradas e 318enevoadas, como se ele estivesse apenas um pouco mais consciente do que Dulce.
  Dulce não voltou do coma sem consequências, é claro. Ela havia perdido muito peso, seus músculos haviam se atrofiado, e certo entorpecimento persistia na maior parte do lado esquerdo do corpo. Demorou alguns dias até que ela conseguisse ficar de pé sem apoio. A terapia era irritantemente lenta; até hoje ela passava algumas horas por dia com o fisioterapeuta e, no começo, frequentemente ficava frustrada por não conseguir fazer as coisas mais simples. Ela detestava sua aparência esquálida ao espelho e comentou mais de uma vez que parecia ter envelhecido quinze anos.
  Era nesses momentos que Christopher lhe dizia que ela era linda e que nunca tivera tanta certeza de alguma coisa em sua vida.Christine e Lisa demoraram um pouco para se acostumar. Na tarde em que Dulce acordou, Christopher pediu que Elliot Harris telefonasse para sua mãe para que ela pudesse pegar as crianças na escola. A família se reuniu uma hora mais tarde, mas, quando entraram no quarto, parecia que nem Lisa nem Christine queriam chegar perto da mãe. Em vez disso, elas se agarravChristopher e respondiam a qualquer pergunta que Dulce lhes fizesse com
monossílabos. Levou meia hora até que Lisa finalmente subisse na cama para ficar ao lado da mãe. Christine não se abriu até o dia seguinte, e mesmo assim ela manteve suas emoções a distância, como se estivesse encontrando Dulce pela primeira vez.
 Naquela noite, depois que Dulce  havia sido transferida de volta para o hospital, Christopher trouxe as filhas de volta para casa e Christine perguntou se "a mamãe havia voltado de verdade ou se ela iria dormir de novo". Embora os médicos tivessem deixado claro que aquilo provavelmente não aconteceria, eles não haviam excluído a possibilidade completamente, pelo menos naquele primeiro momento. Os medos de Christine eram um reflexo dos medo de Christopher. Sempre que ele avistava Dulce dormindo ou simplesmente
descansando depois de um dia mais puxado na fisioterapia, ele sentia seu estômago se retorcer, e sua respiração se acelerava, e ele
a cutucava gentilmente, com um medo cada vez maior de que ela não voltasse a abrir os olhos. E, quando ela finalmente reagia, ele não conseguia disfarçar seu alívio e gratidão.   Embora Dulce aceitasse aquela ansiedade no início, ela admitia que aquela ideia lhe dava arrepios também, aquilo começou a lhe dar nos nervos. Na semana anterior, com a lua já alta no céu e os grilos cantando,
  Christopher  começou a acariciar seu braço enquanto ela estava deitada ao lado dele. Ela abriu os olhos e os focou no relógio, percebendo que já passava das três da manhã. Um momento depois, ela se sentou na cama e lhe deu um olhar duro.
  ― Você tem de parar de fazer isso! Eu preciso dormir. Preciso de sono regular e sem interrupções, como todas as outras pessoas do
mundo! Estou exausta, dá para entender? Eu me recuso a viver o resto da minha vida sabendo que você vai ficar me cutucando a cada hora até eu acordar! Foi o comentário que ela fez; nem poderia ser classificado como uma discussão, pois ele nem teve tempo de responder antes que ela voltasse a se deitar na cama e se virasse de costas para ele, resmungando em voz baixa. Para Christopher, aquilo pareceu algo tão... típico de Dulce que ele respirou aliviado. Se ela não se preocupava mais a respeito de voltar a entrar em coma, e
jurava que não se preocupava, então ele sabia que não deveria fazer aquilo também. Ou pelo menos ele podia deixá-la dormir em paz.
  Agora, no meio da noite, ele simplesmente escutava a respiração dela e, ao perceber as diferenças no ritmo, diferenças que não ocorriam quando ela estava em coma, ele finalmente era capaz de se deitar e voltar a dormir.
  Todos estavam se ajustando, e ele sabia que aquilo iria demorar um bom tempo. Muito tempo. Eles ainda tinham de conversar sobre o fato de terem ignorado o testamento feito em vida, e ele se perguntava se chegariam a fazer
aquilo. Ele ainda tinha de contar a Dulce sobre as conversas imaginárias que teve com ela enquanto ela estava no hospital, e ela tinha pouco a dizer sobre o coma. Não se lembrava de nada: nenhum aroma, nenhum som da televisão, nem do toque dele. - É como se o tempo tivesse simplesmente...desaparecido.
  Mas não era um problema para ela. Tudo estava como devia estar. Por trás de si, ele ouviu a porta se abrir e então se virou; a distância, ele podia ver Molly deitada sobre o gramado ao lado da casa; Moby, já velho, estava dormindo em um dos cantos. Christopher  sorriu quando Dulce espiou suas filhas, notando sua expressão contente. Enquanto Christine empurrava Lisa no balanço de pneu, ambas rindo com alegria, Dulce se sentou na cadeira de balanço ao lado de Christopher.
  ― O almoço está pronto - disse ela. - Mas acho que vou deixá-las brincar por mais alguns minutos. Elas parecem estar se divertindo muito.
  ― Estão mesmo. Mais cedo, elas acabaram comigo. Você acha que, quando Stephanie chegar aqui mais tarde, podemos ir até o aquário? E comer uma pizza? Estou morrendo de vontade de comer pizza.
  Ele sorriu, pensando que poderia ficar naquele momento para sempre. - Parece uma ótima ideia. Ah, isso me lembra... sua mãe ligou enquanto você estava no chuveiro.
  ― Vou ligar de volta para ela daqui a pouco.
Tenho de ligar para o técnico do aquecedor também.Eu não consegui desligá-lo no quarto das meninas ontem à noite.
  ― Acho que consigo consertá-lo.
  ― Acho que não consegue não. Da última vez que você tentou consertá-lo, nós tivemos de comprar um novo, lembra-se?
  ― Eu me lembro que você não me deu tempo suficiente.
  ― Sim, sim - provocou ela. Dulce  piscou o olho. - Você quer almoçar aqui fora ou na sala de jantar? Ele fingiu pensar na pergunta, sabendo que não era realmente importante. Do lado de dentro ou de fora da casa, o importante era que todos estariam juntos. Ele estava com a mulher e as filhas que amava, e quem iria precisar ou querer alguma coisa além daquilo? O sol brilhava intensamente, as flores estavam se abrindo, e o dia passaria com uma tranquilidade impossível de imaginar no inverno anterior. Era somente um dia normal, um dia como outro qualquer. Mas, acima de tudo, um dia em que cada coisa estava exatamente como devia ser.



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Autor(a): wermelinnger

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Chegamos ao Fim de mais uma História. Espero que voces tenham gostado  Obrigado a todos que acompanharam, favoritaram e comentaram.   Não se esqueçam de lerem as outras duas webs   Beijinhos   


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 49



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  • anne_mx Postado em 23/09/2020 - 23:06:23

    Que história lindaaa, fiquei apaixonada, parabéns <3

  • Dulcete_015 Postado em 09/03/2020 - 13:12:15

    Ameii a web,fiquei feliz por Dulce ter acordado

    • wermelinnger Postado em 27/03/2020 - 16:09:48

      oii fico feliz que tenha gostado

  • Dulcete_015 Postado em 02/03/2020 - 20:23:13

    Continuaa

    • wermelinnger Postado em 09/03/2020 - 12:48:32

      Prontinho o ultimo postado

  • Dulcete_015 Postado em 01/03/2020 - 18:05:38

    Continuaa PLMDS

    • wermelinnger Postado em 02/03/2020 - 15:24:25

      Continuando

  • Dulcete_015 Postado em 01/03/2020 - 13:20:08

    Continuaa,estou curiosa

    • wermelinnger Postado em 01/03/2020 - 19:20:45

      Continuando

  • Dulcete_015 Postado em 28/02/2020 - 20:07:38

    Continuaa

    • wermelinnger Postado em 29/02/2020 - 10:16:10

      Continuando

  • ana_vondy03 Postado em 28/02/2020 - 08:56:40

    Continua amoreee S2

    • wermelinnger Postado em 28/02/2020 - 18:00:59

      Continuando

  • Dulcete_015 Postado em 26/02/2020 - 13:02:12

    Continuaa

    • wermelinnger Postado em 26/02/2020 - 22:22:05

      continuando

  • ana_vondy03 Postado em 22/02/2020 - 14:39:07

    Continuaaa amoreee S2

    • wermelinnger Postado em 26/02/2020 - 09:43:50

      Continuando

  • Dulcete_015 Postado em 20/02/2020 - 19:55:38

    Continuaa

    • wermelinnger Postado em 26/02/2020 - 09:44:02

      Continua


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