Dedicado especialmente para minha primeira leitora, palomavondy (posso chamar de Paloma? rsrs)
E também para a primeira a comentar; cliper_rafa {continuando viu 😁😘}.

Comentem para eu saber o que estão achando? Obg 💓😍

Abril de 2017 — Nevada

Todos os dias quando eu acordo preparo uma grande xícara de café e me sento no sofá velhinho da sala, olhando para o tempo do lado de fora através da janela aberta, mas hoje não, nada descia pela minha garganta, tinha um bolo nela que eu não conseguia engolir e me causava um forte aperto no peito.

O frio quase congelava neste dia. Fechei as cortinas da janela e fui para o sofá onde me sentei, ainda lembrando da conversa com Maite na noite anterior.

A verdade é que ultimamente eu tinha tentado de tudo para não pensar no fato de que eu estava desonrando a minha família dançando em uma boate como uma prostituta, e eu sentia muito ter de o fazer, mas agora, me tornar uma prostituta de verdade era algo que eu não conseguia nem cogitar, mas Mai conversou comigo na noite passada e me falou que Christopher estava querendo demitir algumas dançarinas, as que não faziam programa como eu estavam na linha de frente para o olho da rua.

Mas que droga ein, Christopher!
Logo você, razão dos meus orgasmos e sonhos indecentes, me causando problemas nestas alturas do campeonato, como se sofrer de paixão por ti não fosse problema suficiente..— penso, com um risonho frouxo.

Ahh..o que dizer dele? — suspiro, em um sorriso abobado.  Uckermann era um homem temido pelas vielas de Las Vegas, seu ar de superior e intimidador é simplesmente..aah.. tão sexy..e aqueles olhos castanho mel, aquela pele bronzeada, aquele corpo grande e cheio de presença..oh céus, ele era pura virilidade e masculinidade, e de fato por isso eu também temia pois como eu poderia admirar sua bela bund..digo, seu belo rosto e cabelos de anjinho, se não vou mais trabalhar na boate?

Bem, de certo que eu preciso do emprego, e agora mais do que nunca já que há cerca de cinco meses eu havia me tornado meio que "mãe" do meu sobrinho Antônio, ele era minha responsabilidade desde de que Alessa sumiu, e já havia feito de tudo para procurar por ela mas desisti quando achei um bilhete em meu guarda roupa onde ela dizia que estava procurando uma forma de fazer Antônio ter uma vida melhor e que tinha que ir atrás disso.

Dar uma vida melhor para Antônio... Oras essa, francamente?! Ficou bem claro quem era que ela queria dar uma vida melhor, Alessa sempre foi uma vaca esperta, e agora ela se mandou atrás de viver a vida e me deixou com o pequeno Antônio a tira colo, ótima mãe ela foi, super preocupada em dar um futuro melhor para o filho, não acham?

Em todo caso, o pequeno era um amor. Doce como uma manhã de primavera em seus quase nove meses, e ainda que ele exigisse muito de mim, sabia que nunca o abandonaria, jamais o deixaria desprotegido enquanto eu estivesse viva, prova disso é que por ele visto uma roupa escandalosa toda segunda, quarta e sexta, e danço, para um bando de pervestidos em um palco, coreografias que nem minha mãe teria coragem de fazer no quarto com meu pai.

Mas, não havia outra solução e eu tinha de conversar com Christopher, nem que eu tivesse de implorar para não ser demitida. Faria tudo para me manter alí até terminar a faculdade.

— Dul? Amiga, estamos entrando! — as vozes de Any e Mai ecoam na porta da minha casa, e elas entram logo em seguida.

Toda manhã elas tomavam café da manhã aqui em casa e por isso eu deixava o portão aberto mais cedo, mas quando eu esquecia Any abria, ela tinha uma cópia da chave pois ficava com Antônio enquanto eu trabalhava na lanchonete da rua nas terças e quintas.

— Oi meninas, eu fiz bolo de cenoura com chocolate.. — eu digo, ainda sentada no sofá.

Acho que minha cara de desânimo e temor estava expressiva demais, e juntando isso com o fato de eu não conseguir esconder nada delas, foi só questão de segundos para sentarem no sofá e perguntarem o que tinha acontecido que eu desabei em chorar.

— Oh amiga..fica assim não, vai dar tudo certo..— Mai diz, acariciando meus cabelos.

Any estava mais próxima então eu me abracei a ela, que me acolheu em um abraço apertado.

— Mai, pega uma água com açúcar para ela? — Any pede, e ela respondeu dizendo.

— Claro, já volto. — saindo.

Quando ela volta eu ainda estou tão chorosa quanto uma criança sem mamadeira. Mai me entrega a água e eu bebo um pouco depois.

— Tá melhor, miga? — ela perguntou.

Eu suspiro, estava envergonhada por aquele momento de fraqueza, mas eu era humana, não consigo ser forte o tempo todo, não consigo aguentar tudo como se não me machucasse.

A minha vida virou de cabeça para baixo desde que perdi meus pais, e cuidar de Antônio sozinha era responsabilidade demais para mim, não tinha como suportar tanta pressão do dia a dia, dar mamadeira, trocar fraudas, dar banho, acordar de madrugada por crises de cólica e choros estridentes tendo que acordar cedo no dia seguinte para ir para a faculdade, ter que ir para a academia ainda por cima, para manter a atenção de ricos babacas e safados...oh meu santo céu, eu não aguento tudo isso!

Mas, apenas balanço a cabeça para Mai dizendo que sim estou melhor.

Só que elas me conhecem tão bem quanto eu a mim mesma. O suficiente para me tirar, com o olhar, uma resposta contraditória ao meu ato de segundos atrás.

— Meninas, eu não sei o que fazer.— digo, deixando o copo no chão e em seguida enxugando os olhos com a manga da camisola.

— Sobre o quê? — Any perguntou, ainda sem entender.
Só então me dei conta que não havia lhe contado de ontem, mas Mai falou por mim.

— É que..— ela fala, e sei pelo seu tom de voz que está tão preocupada quanto eu. — Ontem a noite eu ouvi uma conversa do patrão, algo sobre dispensar um terço das dançarinas que não fazem programa, porquê segundo ele são gastos sem muito retorno. — explica.

Anahí nos olha, penalizada.

— Oh amigas. Eu sinto tanto..— se aproxima mais, juntando as nossas mãos na sua. — Olha, se precisarem de alguma coisa, qualquer coisa mesmo, podem me dizer viu? Estarei sempre aqui, para o que for preciso. — sorri suavemente.

— Obrigada Any, mas eu já tomei a minha decisão. Se Christopher me demitir, vou voltar para Espanha e viver com minhas tias. — Mai diz, com um sorriso tristonho. — Só lamento ter que me afastar de vocês, foram as melhores amigas que já tive. — fez biquinho mas riu em seguida, o que me arranca um sorrisinho.

— Eu vou falar com ele, vou tentar ao menos. Preciso do emprego mais que tudo, se eu perder não tenho como pagar a casa, fora que tem o bebê e eu preciso cuidar dele, manter o Antônio é muito difícil só com o emprego na lanchonete, ganho muito pouco por lá e..— Any me interrompe.

— Dulce, se acalma amiga. Vai dar tudo certo, confia! Eu já disse que te ajudo com o Tonynho, vou cuidar dele para você durante o tempo que precisar.

— E eu também, se ele te demitir e eu ficar vou fazer o possível para te ajudar, não tenho muito gasto no meu apartamento como você, aqui com o Tony. — Mai diz, me tranquilizando.

É nesses momentos que você percebe o quanto é bom ter amigos, e o quão importante é zelar para mantê-los por perto.

— Eu amo vocês, amo vocês demais. — digo, e as abraço em uma grande bola coletiva que acaba em risadas.

Nós tomamos café na mesa um pouco mais tarde que o de costume, mas ainda com tempo de cada uma seguir suas rotinas matinais.

Continua no próximo capítulo.