Fanfic: Diga Sim ao Marquês(adaptada) | Tema: Vondy

“Qual quarto você acha que Anahí e Sir Teddy vão preferir?”

Dulce estava no corredor, parada entre duas portas. Ela passou as mãos agitadas pelas saias de seu novo vestido de seda verde.

“Será que nós os colocamos no Quarto Azul, cujas janelas têm vista para o parque? Ou eu lhes dou o quarto maior, ainda que tenha vista para o lado mais escuro da propriedade?”

Anna remexia nos cabelos de Dulce, de onde tirou um último papelote.

“Srta. Saviñon, se quer a minha opinião, acho que não deveria se incomodar com isso. Seja qual for o quarto que você escolher, ela vai encontrar algum defeito.”

Dulce suspirou. Era verdade. Se o quarto tivesse uma porta para fechar e uma vela para ler, Phoebe ficaria contente. Mas Anahí era como a mãe delas – impossível de satisfazer.

“Vamos colocá-las neste aqui”, ela disse, entrando no primeiro quarto. “Este é mesmo o melhor.”

O Quarto Azul possuía janelas muito altas com uma vista generosa dos lindos jardins do Castelo Twill. Cercas vivas muito verdes. Roseiras de infinitas variedades. Pérgulas viçosas com trepadeiras em flor. E, acima de tudo, a paisagem ondulante de Kent no alto verão. Os campos eram do mesmo verde esmeralda que seu vestido novo, e o ar recendia a flores e grama amassada – como se o sol fosse um ímã pendurado no céu que extraía vida da terra. Puxando tudo que fosse verde e fresco.

Se alguma coisa conseguiria impressionar sua irmã, tinha que ser esse quarto. Essa vista. Esse castelo maravilhoso. Que agora pertencia, graças a algum capricho de seu tio, a Dulce.

O Castelo Twill era a chance de ela conseguir tudo o que sempre desejou! Independência, liberdade, segurança. Um futuro que já seria dela se Christopher tivesse cooperado.

Ela devia saber que não adiantava pedir. Christopher Uckermann não era capaz de cooperação, da mesma maneira que leões não cooperam com zebras. Não era da natureza dele. Cada parte explosiva do corpo dele era constituída de rebeldia e desafio... trabalhada com musculação pesada.

Dois pontos brancos distantes chamaram sua atenção. Duas carruagens, levantando poeira no caminho de cascalho.

“Elas chegaram!” Dulce avisou. “Oh, céus. Elas chegaram.”

Ela atravessou o corredor às pressas em direção à escada principal, parando para espiar cada quarto no caminho.

Bom. Bom. Perfeito. Não exatamente perfeito.

Parando de súbito enquanto descia a escadaria, Dulce endireitou um quadro pendurado na parede. Então continuou descendo o mais rápido que ousava e atravessou correndo o hall de entrada até chegar à porta, já aberta.

Duas carruagens paravam junto à entrada. Criados começaram a sair do segundo veículo e a descarregar malas e baús. Um criado se apressou a abrir a porta da carruagem da família.

Anahí surgiu primeiro, usando um vestido de viagem lavanda e um bolero com bordado combinando – o que havia de mais fino da moda naquele verão.

Dulce se adiantou, de braços esticados.

“Anahí, querida. Como foi a viag...”

Anahí fulminou os criados com o olhar.

“Sério, Dulce. Não me trate como qualquer uma. Eu tenho um título, agora.”

Depois de quase um ano de casamento, Anahí continuava sendo... Anahí...

Devido a todo o esforço que investiu na educação de Dulce, a mãe delas não se dedicou o suficiente para moldar a segunda filha em outra coisa que não uma pirralha maluca por moda e caçadora de libertinos. Foi uma espécie de alívio quando Anahí fugiu com Sir Teddy Cambourne no ano anterior, somente dois meses depois de seu debute. Ele era um cavalheiro fútil e vaidoso, mas pelo menos possuía renda e era um baronete. Sua irmã poderia ter se saído muito pior.

“Lady Cambourne.” Dulce fez uma mesura formal. “Bem-vinda ao Castelo Twill. Estou encantada que você e Sir Teddy tenham vindo.”

“Olá, docinho.” Seu cunhado a cutucou informalmente no braço.

“Mas é claro que nós viríamos”, disse Anahí. “Não podíamos deixar você ficar sozinha aqui enquanto espera pela volta de Lorde Granville. E depois que ele retornar, nós teremos um casamento para planejar.”

Felizmente, nesse momento a irmã mais nova delas saiu da carruagem, salvando Dulce de ter que inventar uma resposta.

“Phoebe, querida. É tão bom ver você.”

Dulce queria abraçar a garota, mas Phoebe não gostava de abraços. Ela usava um livro grosso como escudo.

“Você ficou tão alta este verão”, Dulce disse. “E tão linda.”

Aos 16 anos, Phoebe era esbelta e morena, com feições delicadas e olhos muito azuis, e estava se tornando um tipo de beleza. Levando-se apenas a beleza em conta, ela faria um sucesso enorme em sua primeira temporada. Mas havia algo... diferente... em Phoebe. Sempre houve. Parecia estar acontecendo tanta coisa dentro da sua cabecinha extraordinária, que ela tinha dificuldade para se relacionar com as pessoas à sua volta.

“Nós teríamos chegado horas atrás se não fosse pelo congestionamento tenebroso em Charing Cross”, Teddy disse. “E depois foram mais duas horas para atravessar a maldita ponte. Duas horas.”

“Achei que o cheiro fosse me fazer enjoar”, Anahí observou.

Phoebe consultou seu relógio de bolso.

“Nós avaliamos mal o horário de saída. Se tivéssemos saído vinte minutos antes, teríamos chegado cinquenta minutos mais cedo.”

“Fico feliz que agora vocês estejam aqui”, disse Dulce, conduzindo-os até a entrada em arcada. “Por favor, entrem, todos vocês.”

Anahí a segurou.

“Eu entro primeiro, você sabe. Talvez você se torne uma marquesa dentro de um mês e talvez eu seja mais nova. Mas como sou casada e uma lady, tenho preferência. Pelo menos por mais algumas semanas.”

“Sim, é claro.” Dulce lhe deu passagem.

A bocarra aberta do Castelo Twill engoliu todos eles e um espanto mudo comeu suas línguas.

Mesmo quatrocentos anos antes, os pedreiros sabiam como fazer uma construção impressionante. O hall de entrada do castelo tinha um pé-direito da altura do edifício. Uma escadaria grandiosa tomava parte do espaço, puxando o olhar para cima. E então, mais no alto, pinturas. Não das pequenas, mas com molduras douradas, que ocupavam cada centímetro disponível de parede.

Depois de algum tempo observando o espaço, Teddy assobiou baixo.

“Interessante, não é mesmo?”, Anahí comentou. “Grandioso. Só que eu acho que seria melhor se não fosse tão... tão velho.”

“É um castelo”, Phoebe disse. “Como poderia não ser velho?”

Anahí beliscou o braço de Dulce em um gesto que parecia uma mistura de afeto e despeito.

“Mas um lar é o reflexo de sua dona. Você não devia deixar que o lugar mostrasse que está velho. Por exemplo, você poderia cobrir todas essas feias paredes de pedra com painéis novos de madeira. Ou com tecido francês. E depois nós poderíamos vestir você com seda nova.”

Anahí passou os olhos por Dulce de um jeito que a fez sentir como se seu vestido novo estivesse sujo e esfarrapado. Então ela estalou a língua em uma imitação assustadoramente precisa da mãe delas.

“Não se preocupe”, ela disse, dando tapinhas nos ombros de Dulce. “Nós temos algumas semanas para arrumar tudo isso. Não é mesmo, Teddy?”

“Ah, sim”, ele concordou. “Vamos garantir que o marquês não fuja de novo.”

Dulce sorriu e se virou para o outro lado. Em parte porque “sorrir e olhar para outra coisa” era o único jeito de lidar com seu cunhado, mas principalmente porque algo no caminho de cascalho chamou sua atenção.