Fanfic: Diga Sim ao Marquês(adaptada) | Tema: Vondy
Abriu o baú e revirou uma pilha de camisas de algodão e calças de lã.
Esperava encontrar algo mais confortável para lutar, mas as roupas naquele baú eram muito finas. Quando chegou ao fundo, sua mão se fechou sobre uma caixa pequena de madeira. Ele sabia o que a caixa continha mesmo antes abri-la. As cartas de Dulce. Riu para si mesmo. Bem quando tinha decidido esquecê-la, Dulce o seguiu até aquele lugar. Ela o seguiu por toda parte, não foi mesmo? Não importava quantas vezes ele mudasse de endereço. Ao longo dos anos, foi lhe enviando todas aquelas mensagens – uma ou duas por mês, no mínimo. Christopher tinha guardado todas naquela caixa. Não tinha lhes dado muita atenção, mas também não conseguiu jogá-las fora. De certa forma, as cartas grudaram nele, do mesmo jeito que coisas encantadoras costumam fazer.
“Então?” O’Malley voltou do banheiro. “Vamos começar?”
“Um instante.”
Christopher se esparramou em uma cadeira, pediu outra caneca de cerveja e mandou uma garrafa de vinho para a “senhora” que iria passar a noite sozinha... e então fez algo que não fazia de boa vontade há anos.
Começou a ler. A maioria das mensagens era leve; convites misturados a eventuais notícias sobre a família. Todas eram velhas e nenhuma era especialmente importante.
Estamos organizando um jantar para a próxima quinta-feira. Se você não tiver outros planos para essa noite, será muito bem-vindo.
* * *
Receba calorosos cumprimentos por seu aniversário de todos nós da Casa Saviñon.
* * *
Eu recebi uma nova carta de Alfonso e tomei a liberdade de copiar aqui as partes que podem interessar a você. Vamos passar o mês de agosto na propriedade do meu tio em Hertfordshire. Se estiver passando por perto, faça-nos uma visita.
Ainda assim, Christopher leu carta por carta, bilhete por bilhete, cada palavra que ela escreveu, da saudação à despedida. Quando levantou a cabeça e esfregou os olhos cansados, o céu estava ficando escuro. As mensagens eram breves, inconsequentes por si só. Mas quando reunidas, seu peso era esmagador. Quando saiu da Casa Uckermann, seu pai lhe deu as costas. O resto da família e os amigos da alta sociedade também lhe fecharam suas portas. Todos fizeram o mesmo. Todos menos Dulce. Ela lhe estendeu a mão, várias vezes. Nunca deixou que se afastasse demais. Sempre pronta para recebê-lo quando ele decidisse aparecer. Ela não sabia o que isso tinha significado para ele. E ela não sabia, pois nunca tinha feito o esforço de lhe contar.
Era tão irônico. Quando adolescente, nunca sentiu que pertencesse àquela família. Agora que ficava mais velho, ele podia ver as características Uckermann que tinha herdado. Características como ambição, orgulho e a recusa obstinada em admitir que possuía sentimentos até ser tarde demais.
Segurou a raiva fútil que sentiu crescendo. O passado já estava decidido. Não havia como mudá-lo. Ele não podia ser o homem de que Dulce precisava. Mesmo que voltasse à sociedade, o escândalo sempre o seguiria. Não era apenas a fofoca. Ele estava formado, agora, habituado com as coisas do seu jeito – para o bem ou para o mal. Sua mente era muito agitada e seu corpo precisava de ação constante. Não servia para a vida de cavalheiro e também não queria ser um.
Nunca poderia ser um desses idiotas vaidosos e inúteis como Sir Teddy Cambourne. Christopher não sabia como fazer nenhuma dessas coisas de sociedade. E foi por isso que, depois de finalmente ler todas aquelas cartas, não podia continuar parado nem mais um momento. Ele tinha uma dívida com ela que era muito maior que uma dança. Mesmo que não pudesse ser o homem de que ela precisava, Christopher tinha que fazer alguma coisa.
Ele levantou e pegou todas as correspondências, uma por uma. Juntas, formavam uma pilha da altura do seu punho. Ao longo dos anos ela deve tê-lo convidado para centenas de jantares, festas e bailes. O mínimo que podia fazer era comparecer a um, e fazer com que valesse por todos os outros.
Ele alongou a rigidez de seus braços e pernas. Não era tarde demais. O dia ainda tinha uma ou duas horas de luz. Seu baú continha algumas peças de roupa adequadas. Contudo, não podia partir sem dinheiro.
Foi até o balcão recuperar suas moedas.
“Desculpe, amigo”, ele disse a O’Malley. “Nossa luta vai ter que ficar para outro dia.”
Christopher estendeu a mão para pegar o saco com seu dinheiro.
“Não tão rápido.” A manzorra de Finn O’Malley desceu sobre a sua. “Se você quiser recuperar isso, vai ter que lutar comigo.”
***
“Acho que Lorde Christopher não vem.”
Dulce passou a noite toda segurando a língua, mas acabou falando. Ali, no canto mais sossegado do salão de festas dos Pennington, onde ela e Phoebe passaram as últimas duas horas. Esperando, assistindo. Ajeitando as costuras da luva ou arrumando as pregas do seu vestido de seda cor-de-rosa para pontuar o tédio.
De vez em quando algum conhecido fazia uma peregrinação até aquele canto remoto em que estavam para cumprimentá-las. Então, perguntavam sobre Alfonso e o casamento, praticando a arte da ironia sutil-mas-inconfundível. Ela percebia o que todos estavam pensando: Granville aparecerá desta vez ou não? Mas não era Alfonso e sua ausência que ocupavam os pensamentos de Dulce. Oito anos após seu baile de debutante, ela ainda estava esperando – em vão – Christopher Uckermann tirá-la para dançar.
Enquanto observavam as ladies e os cavalheiros formando pares para dançar, Phoebe tirou um pedaço de barbante do bolso.
“Ele virá”, ela disse.
“Já são sete e meia”, contrapôs Dulce. “Talvez tenha acontecido alguma coisa que o fez mudar os planos.”
Pretendia falar com Christopher mais cedo, para se certificar de que ele pretendia ir ao baile. Não queria que Phoebe ficasse decepcionada. Mas ele não apareceu durante o café da manhã, e depois Dulce ficou muito ocupada com as irmãs, todas se preparando para a festa. Quando saiu à procura dele, no meio da tarde, Christopher não estava mais no castelo. Bruiser disse que ele provavelmente iria encontrá-las na festa, mas que não podia dar certeza.
Àquela altura, Christopher podia ter voltado ao armazém em Southwark, tocando sua vida em frente. Ou podia ter sofrido algum acidente com o cavalo e, naquele exato momento, estar caído em uma vala, usando o que lhe restava de forças para escrever o nome de Dulce com seu próprio sangue. Não desejava, honestamente, o segundo cenário, mas uma parte horrível e egoísta dela o preferia ao primeiro. Christopher não estava ali e Dulce não conseguia evitar de se sentir magoada. A ausência dele amplificava todos os insultos sutis que lhe eram dirigidos na Casa Pennington.
Você é uma boa garota, Dulce. Mas isso não é bom o bastante.
Sir Teddy, trazendo duas taças de ponche, e Anahí, com uma careta de deboche, foram se juntar a elas.
“Phoebe”, Anahí exclamou, “não acredito que você trouxe esse barbante.”
“Eu não vou a lugar nenhum sem meu barbante.”
“Bem, você não pode ficar brincando com essa coisa suja em um salão de festas.” Anahí arrancou o barbante das mãos de Phoebe e o jogou no chão, onde logo foi pisoteado. “Esta noite nós queremos que as pessoas falem do casamento de Dulce, não das suas esquisitices.”
“Eu tenho mais”, Phoebe disse.
“Esquisitices? Ah, sim. São intermináveis.”
“Barbante”, respondeu Phoebe, colocando a mão na bolsa e tirando outro pedaço.
“Dê isso aqui.” Anahí estendeu a mão para o barbante.
Dessa vez, Phoebe o segurou com firmeza.
“Não.”
“Deixe-a em paz”, Dulce pediu. Ela não estava com paciência para aguentar Anahí bancando a mãe.
Pois esse era o problema. Bancar a mãe do modo que elas aprenderam na Casa Saviñon. Anahí acreditava que estava sendo amorosa e protetora, à sua própria, estranha e tortuosa maneira. Mas ela estava errada. Teddy estalou a língua.
“Você está fazendo uma cena, gatinha.”
“Não me importo”, Phoebe disse em voz alta. “Isto é meu e vocês não podem pegar.”
Ao redor delas, pessoas se viraram, encararam e conversas foram silenciadas.
Aquela noite toda era um erro, e tudo era culpa de Dulce. Ela deveria ter protegido a irmã. Phoebe não estava pronta para aquilo. Talvez nunca estivesse.
“Deixe-a em paz”, Dulce repetiu.
“É para o bem dela, Dulce. Ela tem que perder esse hábito.”
“Pelo amor de Deus, por quê? Deixe-a ficar com o barbante e suas esquisitices também. Deixe-a ser ela mesma.” Dulce inclinou a cabeça em direção à multidão no salão reluzente. “Nós fomos criadas para dar muita importância ao que os outros pensam de nós. Isso me mudou. Mudou você também, Anahí. E sinto dizer, nenhuma de nós mudou para melhor. Eu me recuso a deixar que Phoebe tenha o mesmo destino. Ela é admirável.”
“‘Admirável’é a palavra certa. Todo mundo está admirando.”
Dulce se virou para Phoebe, apertando o barbante na mão dela.
“Vou fazer uma promessa. Para você e para mim mesma. Sou sua irmã e, agora, sua guardiã. Eu te amo e nunca vou fazer com que você sinta que precisa ser outra pessoa só para agradar os outros.”
“Não seja ingênua, Dulce”, Anahí disse. “Não pode ignorar a Sociedade. Você vai ser a mulher de um diplomata. Uma marquesa.”
“Não, não vou. Eu não vou casar com Alfonso.”
“Oh, docinho”, Teddy disse, cutucando-a no flanco. “Não desista agora. Espero que não esteja dando ouvidos ao que estão falando na sala de carteado.”
“Por quê? O que estão falando na sala de carteado?”
Seu cunhado pareceu envergonhado.
“Estão apostando, claro. Se o casamento vai mesmo acontecer. Lorde Pennington está pagando quatro contra um.”
Ah. Provavelmente era esse o motivo de terem sido convidadas para esta noite. Para que fornecessem um pouco de diversão. Uma piada.
Naquele momento, Dulce percebeu algo maravilhoso. Não se importava. Talvez eles a tivessem vencido. Ou talvez 25 anos fosse uma idade mágica em que uma mulher se tornava segura de si. Qualquer que fosse a razão, genuinamente, não dava a mínima. E então, como se anunciando o prêmio que ela tinha conquistado, o mordomo pigarreou antes de anunciar:
“Lorde Christopher Uckermann.”
Ninguém estava mais preocupado com o barbante. Nem mesmo Phoebe. Dulce sabia que ele poderia fazer uma entrada dramática e assustadora em cima de seu cavalo. Mas que fosse aparecer em uma casaca bem ajustada, gravata branca e botas reluzentes...? Bom Deus. O formato de seu maxilar forte era totalmente Uckermann, assim como o ar natural de comando. Mas ele também trouxe consigo a essência Christopher. A aura de rebeldia e perigo que deixava o ar carregado e fazia seu coração acelerar. Tudo em sua aparência declarava que ele tinha nascido para aquele ambiente. Tudo em sua expressão deixava claro para Dulce que ele detestava tudo aquilo. Mesmo assim, ele estava ali... Por ela.
Autor(a): leticialsvondy
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Christopher atravessou o salão, chegou ao canto em que ela estava e fez uma reverência para cada uma delas, deixando Dulce para o final. “Srta. Saviñon.” Dulce fez uma mesura. “Lorde Christopher.” “Você veio!”, Phoebe disse. “Claro.” Ele deu um puxão na manga e passou os olhos pelo sal&atil ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 24
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vondyfforever Postado em 15/06/2020 - 09:09:08
Ameeeeei que pena que acabou
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biavondy15 Postado em 14/06/2020 - 17:18:11
Que historia maravilhosa!!! Obrigada por compartilhar ela com a gente
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biavondy15 Postado em 14/06/2020 - 17:16:23
Ameeeei esse fim
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Dulcete_015 Postado em 06/02/2020 - 00:16:06
Estou amando,continuaa
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Vondy Forever❤ Postado em 31/01/2020 - 14:58:17
Continua...
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Vondy Forever❤ Postado em 30/01/2020 - 22:40:25
Que bom que você voltou, ai esses dois são tão fofos juntos, continua...
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Vondy Forever❤ Postado em 29/01/2020 - 19:46:25
Esta bem, melhoras, Estarei te aguardando abraços..
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rt1508 Postado em 28/01/2020 - 20:12:06
Continuaaaa
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Vondy Forever❤ Postado em 28/01/2020 - 00:29:01
Mulher como que você para logo ai nesse momento caliente dos dois, Até na hora h Dulce lembra desses documentos. Chorei de rir quando o Christopher falou que usava pijama lilas, continua...
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Vondy Forever❤ Postado em 27/01/2020 - 23:13:41
continua, mais duas sua web e muito viciante...