Fanfic: Espero Por Você... AyA [FINALIZADA] | Tema: Anahí, Poncho
— Seu apartamento é muito legal — disse Dulce, do meu sofá. Um texto de História estava aberto em seu colo, mas ela não o lia. — Adoraria não ter que morar num dormitório. Minha colega de quarto ronca como um porco dormindo.
Andei lentamente por entre a mesa de centro e a televisão, sem saber ao certo como Dulce e Christian tinham ido parar lá no meu apartamento depois da aula. No almoço, conversamos sobre nos encontrarmos e trocar anotações de História, e em algum momento meu apartamento foi citado. Para falar a verdade, acho que foi ideia de Christian, e, como os dois estavam ali, não estudaríamos nem um pouco.
Uma energia de ansiedade percorria meu corpo. Fazia muito tempo desde a última vez que recebera pessoas na minha casa. Lá na minha cidade, ninguém além da minha família me visitava, e só a faxineira entrava no meu quarto. Não só me tornei uma pária virtual na minha cidade e na escola, mas também dentro de casa. Mas, antes daquela festa de Halloween, todo mundo gostava de ir lá em casa, principalmente as garotas do estúdio. Na época, todos ainda conversavam comigo e eu ainda dançava. Antes daquela festa, as coisas eram normais.
Mexi com meu bracelete, nervosa. Eu gostava do fato de eles estarem aqui, porque era normal e me lembrava do antes. Era isso que as pessoas na faculdade faziam, mas era tão... diferente para mim.
Christian ressurgiu da minha cozinha, com um saco de batata frita na mão.
— Esqueça o apartamento. Não me entenda mal. É um lindo apartamento, mas eu quero saber mais sobre os cookies do Poncho.
Peguei uma batata do saco.
— Nunca deveria ter contado a você sobre aquela conversa.
— Agora já era — ele respondeu, com a boca cheia. Dulce deu uma risadinha.
— Estou morta de curiosidade para saber qual é o significado de cookies na gíria dele.
— Deve ser o pau dele — disse Christian, jogando-se no braço do sofá.
— Meu Deus! — Enchi a mão de batatinhas. Eu precisava de um reforço de calorias para o rumo que estava tomando aquela conversa.
Dulce acenou com a cabeça.
— Mas faz sentido. Quer dizer, com toda aquela história de não dividir os cookies com garotas feias.
— Não acho que foi isso que ele quis dizer — declarei, pondo uma batatinha na boca. — Então, voltando às anotações de História...
— Que se dane História. De volta ao pau do Poncho — disse Christian. — Pensa só uma coisa, se cookies é um código para pau, então significa que você estava com o peru dele na sua boca.
Engasguei com a batatinha e peguei minha lata de refrigerante, sorvendo o líquido enquanto sentia o rosto queimar.
— Teoricamente falando, é claro — acrescentou Christian, rindo como um imbecil, levantando-se logo em seguida. — Não sei como aguenta, Anahí. Se eu morasse na frente do apartamento dele, ficaria colado na porta do bofe noite e dia. E ia querer toda hora os cookies dele. Nham-nham.
Abanando a mão na frente do rosto, balancei a cabeça.
— Pode ficar com os cookies dele.
— Ah, querida, se ele tivesse alguma vocação para o meu time, eu não pensaria duas vezes.
Dulce virou os olhos.
— Grande surpresa.
— O que eu não entendo é você não estar nem aí para os cookies dele. Abri a boca, mas Dulce balançou a cabeça e disse:
— Não acho que cookies signifique pau. Acho que podem ser as bolas dele, já que está no plural.
Christian explodiu em uma gargalhada.
— Então, significa que as bolas dele estavam na sua boca, teoricamente falando! Caramba, que gastronomia pornográfica.
Fiquei boquiaberta com os dois. Será que aquela era a conversa de costume?
— Meu Deus, podemos, por favor, parar de falar no peru e nas bolas dele? Ou nunca mais vou conseguir comer cookies de novo. Tipo, jamais.
— Não. É sério. Como você pode não estar interessada... — Christian escalou o encosto do sofá, como um gato gigante. — Está na cara que ele está paquerando você.
— E daí... — respondi, acreditando que seria seguro comer outra batatinha sem morrer.
O queixo de Christian caiu.
— E daí?
Dulce fechou o livro de História e o jogou no chão com força, fazendo um estrondo. Acho que ali acabaram nossas chances de estudo.
— Christian é como uma mulher na casa dos trinta sedenta por sexo, então ele não tem como entender por que você não iria querer dar uma voltinha naquele garanhão.
Olhei para Christian. Ele apenas deu de ombros e disse:
— Isso é verdade.
— Até eu demorei para entender. Alfonso é o maior pegador — continuou Dulce. — Mas nunca ouvi nenhuma garota falar mal dele, então ele deve tratá- las muito bem.
Sem saber o que dizer, eu me lancei na cadeira preta de canto, próxima à TV. Tentar explicar a eles o porquê de tudo aquilo não adiantaria de nada.
— Sei lá. Só não estou interessada.
— Você tem ovários? — perguntou Christian. Olhei com raiva para ele.
— Tenho.
Ele deslizou do encosto do sofá e sentou-se ao lado de Dulce.
— Então, como é que você não está interessada?
Enfiando o restante das batatinhas na boca, fiz de tudo para não responder parecendo uma puritana. Mas eu era uma completa puritana, não era? Ou aflita, dependendo de quem perguntasse. Seja como for, embora a ideia de paus e bolas me interessasse, só de pensar em me aproximar, pegar e brincar com a coisa em si me fazia suar frio.
E naquele momento eu estava suando mesmo. As batatinhas já se acumulavam no meu estômago. Teria que fazer muitos abdominais mais tarde. Minha mente imediatamente voltou ao e-mail da noite anterior.
Mentirosa.
Limpando as mãos no jeans, balancei a cabeça.
— Só não estou interessada em um relacionamento. Christian riu.
— E nós não estamos dizendo que Poncho esteja, entende? Você não precisa estar num relacionamento para um pouco de tchica-tchica-bum.
Dulce olhou lentamente para ele.
— Você disse isso mesmo?
— Disse. E diria de novo. Vou até fazer uma camiseta com esses dizeres. — Christian riu com o canto da boca. — Voltando ao assunto, o que estou dizendo é que ele é uma oportunidade que você não vai querer deixar passar.
Nem dei ideia para ele.
— Por que estamos falando disso, afinal? Temos uma aula juntos e ele mora no apartamento em frente ao meu...
— E vocês serão parceiros pelo resto do semestre — acrescentou Dulce. — Meio romântico sair à noite para olhar as estrelas.
Meu estômago se contraiu.
— Não é romântico. Nada é romântico.
As sobrancelhas dela se ergueram e ela ficou alisando os curtos cachos louros.
— Falou, pessoa do contra. Virei os olhos para cima.
— Só estou dizendo que não o conheço direito. Ele não me conhece. É só paquera. Você mesma disse que ele é “o pegador”. Talvez esse deva ser o jeito dele. Ele é um cara legal e amigável. Só isso. Então podemos só esquecer isso tudo?
— Ai, vocês estão me deixando de saco cheio — disse Christian, e Dulce mostrou a língua para ele. Um raio lançou um clarão lá fora, e eu pisquei os olhos, pensando que aquilo devia ter doído em alguém. — E eu preciso de um molhinho para acompanhar essas batatas.
— No armário de baixo — gritei, mas ele já estava na cozinha, abrindo e batendo portas.
Para o meu imenso alívio, o assunto se desviou de mim e do meu rolo inexistente com Poncho. Horas se passaram e fiquei mais tranquila com eles ali; chegamos até a abrir nossos livros de História por alguns segundos. Quando eram quase nove horas, eles juntaram suas coisas e foram até a porta.
Dulce parou e pulou até mim. Antes que eu pudesse me preparar, ela me deu um abraço rápido e um beijo no rosto. Fiquei parada, meio sem reação. Ela sorriu.
— Vai ter uma superfesta em uma das fraternidades na sexta à noite. Você deveria vir conosco.
Lembrei de Poncho dizendo que estaria ocupado na sexta, e, já que ele obviamente gostava de uma festa, esse deveria ser o motivo. Balancei a cabeça por um instante.
— Eu não sei.
— Não seja antissocial — disse Christian, abrindo a porta. — Nós somos pessoas muito legais com quem sair.
Eu ri dele.
— Eu sei. Vou pensar no assunto.
— Está bem. — Dulce acenou com os dedos. — Vejo você amanhã.
Lá fora, no corredor, Christian começou a apontar para a porta de Poncho e fazer movimentos com os quadris, rebolando. Mordi o lábio para parar de rir. Ele não parou até Dulce agarrá-lo pelo colarinho da camisa polo e puxá-lo escada abaixo.
Sorrindo, fechei e tranquei a porta. Não demorei muito para limpar tudo e me preparar para ir para a cama. Toda essa coisa de ir para a cama, na verdade, não tinha sentido, porque eu não estava com sono, e, como estava evitando o computador (e por conseguinte meu e-mail), acabei assistindo a algumas reprises de Ghost Hunters até me convencer de que havia um poltergeist no meu banheiro. Desliguei a televisão, levantei do sofá e acabei fazendo uma coisa que detestava.
Andar de um lado para o outro no apartamento, como costumava fazer no meu quarto, na casa dos meus pais. Com a televisão desligada e o apartamento em silêncio, eu podia ouvir barulhinhos de outros apartamentos. Concentrei-me nesses sons em vez de deixar a mente divagar, porque aquela noite tinha sido muito boa e eu não queria estragá-la. Os últimos dias vinham sendo ótimos, exceto pela vez em que atropelei Poncho. As coisas iam bem.
Parei atrás do sofá, só percebendo naquele instante o que estava fazendo.
Olhando para baixo, vi a manga da minha camiseta arregaçada e os dedos envolvendo meu punho esquerdo. Lenta e meticulosamente, levantei os dedos, um a um. Havia leves marcas rosadas do bracelete pressionado contra minha pele. Nos últimos cinco anos, só tirava o bracelete à noite e quando entrava no banho. Aquelas marcas, provavelmente, seriam permanentes.
Assim como a cicatriz que o ornamento escondia.
Retirei a mão por completo. A marca de cinco centímetros sobre a veia, de cor rosa mais intensa, a partir do centro do punho. Fora um corte profundo, feito com vidro estilhaçado do porta-retratos que jogara na parede depois da primeira foto circular pela escola.
Quando fiz aquele corte, foi o momento mais triste da minha vida, e isso não é nenhum exagero. Haveria um corte tão grave no punho direito também, se não fosse pela empregada ter ouvido o barulho de vidro quebrado.
A foto era de mim e do meu melhor amigo; o mesmo melhor amigo que foi um dos primeiros a virar as costas para mim e espalhar palavras como “vadia” e “mentirosa”.
Então tive vontade de acabar com tudo ali mesmo. Apenas dar um basta, porque naquele momento da vida nada poderia ter sido pior do que o que aconteceu comigo, com o que meus pais concordaram e tudo o que veio depois em consequência. Em questão de meses, minha vida foi completamente dividida em dois grandes momentos: o antes e o depois. E não conseguia ver um possível depois, já que a escola inteira se colocara a favor de Blaine.
E agora? O depois oferecia infinitas possibilidades, mas a vergonha ardia como um fogo brando em meu estômago enquanto eu olhava para aquela cicatriz.
Suicídio jamais seria a resposta para alguma coisa e, no fim das contas, dar um basta era permitir que todos vencessem. Aprendi a lição por conta própria, já que terapia nunca foi uma opção. Meus pais teriam preferido cortar as próprias pernas a sofrer a humilhação de ter uma filha que tentara cometer suicídio e precisava de terapia. Muito dinheiro havia molhado as mãos para manter minha passagem vespertina pelo hospital por debaixo dos panos.
Aparentemente, meus pais aceitavam numa boa que uma filha fosse rotulada de vadia mentirosa.
Mas eu odiava ver a materialização da minha fraqueza, seria humilhante demais se alguém visse.
De repente, uma gargalhada forte vinda do corredor desviou minha atenção — a gargalhada de Poncho. Minha cabeça virou rapidamente na direção da cozinha. No forno, o relógio apontava quase uma da manhã.
Puxei a manga da camiseta para baixo.
— Você não pode deixar de ir na sexta à noite? — perguntou uma voz feminina, um pouco abafada pela parede.
Houve uma pausa e, em seguida, ouvi Poncho dizer:
— Você sabe que eu não posso, meu anjo. Quem sabe da próxima.
Meu anjo? Não acredito! Ouvi os passos dos dois lá fora, perto da escada, descendo os primeiros degraus.
Dei a volta no sofá, apressada, para me aproximar da janela. Como meu apartamento ficava na extremidade do prédio, de frente para o estacionamento, só o que eu tinha a fazer era esperar. Então, lá estavam eles, uma garota e um Poncho sem camiseta.
Uma morena bem alta, de pernas longas, usando uma linda saia jeans. Isso foi tudo o que consegui ver da janela, conforme eles atravessaram o estacionamento. A garota tropeçou, mas se recuperou antes que Poncho pudesse intervir. Eles pararam atrás de um sedã escuro. Fiquei me sentindo uma fofoqueira que espia a vida dos outros, mas não conseguia sair dali.
Poncho falou alguma coisa e riu quando a garota empurrou seu ombro descontraidamente. Um segundo depois, eles se abraçaram e, então, ele deu um passo para trás, dando um leve aceno antes de voltar para o prédio. Na metade do caminho, olhou para cima, na direção do nosso andar, e dei um pulo para trás como uma completa idiota. Ele não conseguiu me ver. Não tinha como me ver com todas as luzes do apartamento apagadas.
Ri de mim mesma, mas parei logo em seguida quando ouvi uma porta fechando no corredor.
Um alívio percorreu meu corpo, soltando os músculos que ficavam se contraindo e relaxando. Vê-lo com outra garota foi... bom. Confirmou muitas suspeitas de que Poncho era apenas um cara charmoso e paquerador que gostava de oferecer cookies a garotas bonitas e tinha uma tartaruga de estimação chamada Raphael. Isso era bom. Era possível. Era algo que eu podia suportar, porque só de pensar no que Dulce e Christian me disseram fez com que eu me sentisse agitada e ansiosa.
Talvez eu e Poncho nos tornássemos amigos. Isso seria legal, porque era bom ter mais amigos, como antes.
Mas, ao deitar acordada na cama, olhando para o teto, por um instante, um breve instante, eu me perguntei como seria se Poncho estivesse interessado em mim daquele jeito. Ter aquela sensação de ansiar por algo. De me sentir tonta e excitada sempre que ele olhasse para mim ou quando nossas mãos acidentalmente se tocassem. Fiquei me perguntando como seria estar interessada nele ou em qualquer cara. Ansiar por encontros, primeiros beijos e todas as coisas que vêm depois disso. Aposto que seria legal. Seria como antes.
Antes de Blaine Fitzgerald ter tirado tudo isso de mim.
Autor(a): Alien AyA
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 50
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Nandacolucci Postado em 23/03/2020 - 21:46:11
Momento mais que ideal para ela contar oq aconteceu com ela no passado.. pior favor faz maratona especial de quarentena kkkk CONTINUAAAA
Alien AyA Postado em 23/03/2020 - 23:10:52
Nanda não tem como fazer especial de quarentena pois a fanfics termina no capítulo 52, e também a pessoa aqui tá tendo que trabalhar enquanto tá todo mundo em casa! :(
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Nandacolucci Postado em 22/03/2020 - 01:11:41
Esse segredo deve ser muitooooooooooooo cabeludo e drástico para tantoooo mistério, sério. AMEI os presentes de dia dos namorados muito criativo...CONTINUAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
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Nandacolucci Postado em 18/03/2020 - 23:53:17
Não sou muito a favor da violência mas faria o mesmo que o poncho se soubesse que minha irmã tá apanhando de macho babaca, agora só acho que esse é o memento ideal pra a Anny contar o segredo dela ficar escondendo só vai afastar eles, e eu estou mega curiosa para saber oq foiiii... CONTINUAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
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Nandacolucci Postado em 17/03/2020 - 00:07:21
ainda bem que ser entregaram de uma vez foi complemente perfeitooooooooooooo.. CONTINUAAAAAAAA
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Nandacolucci Postado em 15/03/2020 - 22:45:46
Queria da um chute na bunda da steph para ela parar no Japão kkkk respeita o relacionamento dos outros.. CONTÍNUAAAAA
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Nandacolucci Postado em 14/03/2020 - 23:57:47
Cap mais que perfeitoooo, até que enfim se resolveram... CONTINUAAAA
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Nandacolucci Postado em 12/03/2020 - 23:00:07
Esses dois a cada momento me matam mais de fofuraaa.. CONTINUAAAAAAAAAA
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Nandacolucci Postado em 11/03/2020 - 13:47:53
Aiii manooooo esse poncho Amoo.. só acho que tá na hora dela contar a vdd pra ele. CONTINUAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
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Nandacolucci Postado em 10/03/2020 - 18:08:30
Bebida entra às verdades sai..e eu estou Infartando em 3...2...1 CONTINUAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
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Feponny Postado em 10/03/2020 - 09:52:07
Como assimmm na melhor parte vc paraaaaa continuaaaaaaaa