Fanfics Brasil - Capítulo 3 - Passado (PARTE 2) Coração Perverso(adaptada)

Fanfic: Coração Perverso(adaptada) | Tema: Vondy


Capítulo: Capítulo 3 - Passado (PARTE 2)

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— Para sua informação — digo, com uma ponta de petulância que ironicamente me faz parecer muito mais jovem —, sempre fui muito madura para minha idade. Quantos anos você tem, então, Senhor do Tempo?


Christopher se recosta na cadeira, e não me escapa a forma como a camiseta se estica em seu peito impressionante.


— Eu sou um adulto de verdade, garotinha. Tenho vinte e dois anos. Quase, quase vinte e três.


Eu finjo espanto.


— Nossa, que horror! Você parecia muito mais jovem. Não posso acreditar que venho tendo pensamentos impuros por um homem idoso.


Ele sorri.


— Você está dizendo isso só para me mostrar como sou estúpido por me importar com a nossa diferença de idade? Ou realmente tem fantasiado algo comigo? — Ele se aproxima. — Porque desejo do fundo do coração que seja a segunda explicação.


Eu olho para o meu copo de água e dou um sorriso.


— Tenho a impressão de que fantasiar algo com você não acabaria bem.


— Sério? — pergunta ele. Eu posso senti-lo olhando para mim. — Porque eu nunca recebi nenhuma reclamação. Bem, teve aquela vez com a minha ex-namorada, mas foi um incidente isolado e eu tinha bebido demais.


Dou uma risada e olho para ele. Ele ri também.


Ótimo. A risada dele é tão sexy quanto o resto de seu corpo. Isso não é nada bom.


Ainda estamos sorrindo um para o outro quando a garçonete chega com as nossas cervejas.


— Três cervejas — diz Christopher olhando para mim. — Espere, devolva isso.


— Duas cervejas e uma coca-cola. Preciso ter certeza de que estarei em grande forma esta noite. — Quando ele me encara, sinto uma pontada de frustração ao constatar mais uma vez que a sua arrogância realmente me excita.


Quando a garçonete se afasta, dou um gole em meu copo de água e olho para ele. Christopher me examina sem qualquer constrangimento.


— Você tem certeza de que vai se dar bem esta noite, não é?


Ele dá de ombros.


— Imagino que você não me chamaria para jantar se não estivesse interessada.


— Foi Poncho quem convidou você, e odeio decepcioná-lo, mas ele é hétero.


— Ã-hã, mas ficou claro que ele estava armando uma jogada. Eu vi como você olhou para mim. E eu gostei.


Eu me afasto um pouco e inclino a cabeça.


— Você não acabou de terminar um namoro com alguém?


— Sim. É por isso que você deve me levar para a cama e restaurar meu ego despedaçado.


Isso me faz rir.


— Tenho a impressão de que seu ego vai muito bem, obrigado.


— Talvez. Mas um pouco de afago extra nunca é demais.


Um arrepio de antecipação percorre minha coluna. Tudo bem, isso não é bom. Tenho como regra geral nunca dormir com um cara em um primeiro encontro, mas Christopher está rapidamente jogando por terra a minha determinação.


O problema é que não tenho nenhuma dúvida de que transar com ele despertaria todo tipo de confusão emocional, e eu não estou preparada para lidar com isso neste momento.


Quando encaro Christopher, ele está olhando para mim com uma expressão pensativa. Não consigo descobrir se está interessado ou confuso.


— Você está bem? — pergunto.


Ele balança a cabeça.


— Não estou certo. Tenho esse impulso irresistível de passar mais tempo com você esta noite, mas não quero parecer carente ou desesperado.


— Hum. Você está em um dilema. O que vai fazer?


Ele enfia a mão no bolso.


— Convidá-la para assistir ao Rei Lear comigo, que tal? Graças à minha ex, que preferiu ficar com um cara que usa ternos de mil dólares a ir ao teatro comigo, tenho aqui um ingresso sobrando. Será uma vergonha se ele for para o lixo.


Ele põe os ingressos sobre a mesa e eu olho para eles.


— Ah, uau. A Lowbridge Shakespeare Company? Minha mãe levava eu e meu irmão para assistirmos às produções deles quando éramos crianças. Acho que é por isso que Christian e eu escolhemos as carreiras que escolhemos.


— Ah, é? Vocês trabalham em teatro?


— Sim. Nós dois estamos nos candidatando para estudar na Grove, em Westchester.


Christopher parece impressionado.


— Uau. Boa escola. Então você é uma atriz? Eu deveria saber. Uma mulher tão linda como você, faz sentido que esteja no palco.


Com esse tipo de conversa, meu rubor não desaparecerá tão cedo.


— Na verdade, prefiro os bastidores. Sou diretora de palco.


A expressão de Christopher se intensifica.


— Uau. Não tenho certeza de por que acho que isso é muito mais sexy do que ser uma atriz, mas acho. Esquisito.


Esse cara tem uma lábia e tanto, isso é certo. Eu me pergunto que gosto teria a boca que diz essas palavras.


— E você? — pergunto. — Você não é um ator, é?


Christopher sorri.


— Ops. Não gosta de atores, hein?


— Por que diz isso?


— Porque você parece prestes a me queimar com sua visão de raio X se eu disser que sou. Se importa de explicar?


— Na verdade, sim. É uma longa história. — Minha aversão a atores é forte, mas não sabia que eu era tão transparente. — Só não saio com atores, isso é tudo.


Ele me olha por alguns segundos e, em seguida, diz:


— Bem, não estamos exatamente saindo, não é? Então não importa o que eu sou. No entanto, se você for ao teatro comigo… Bem, isso é outra história.


Olho para os ingressos. Os lugares são fantásticos, e eu realmente quero ver essa produção.


Christopher percebe minha hesitação.


— Para roubar uma frase de Poncho, eu adoraria que você viesse comigo. — Ele me lança mais um daqueles olhares que me fazem derreter. — Entenda isso como quiser, contanto que você diga sim.


A insinuação sexual é muito mais eficaz vinda dele.


— Tudo bem. Posso pelo menos pagar pelo ingresso? Esses lugares são caros.


— De jeito nenhum — diz ele. — Mas você pode pagar pela pizza. Combinado?


— Você paga centenas de dólares pelos ingressos e eu pago vinte dólares pela pizza? Não parece justo.


— Três centenas de dólares pelo prazer da sua companhia, bela Dulce? Parece ser uma pechincha, se você quer saber.


Meu Deus. Essa gentileza está me matando.


Como regra geral, arrogância costuma me deixar totalmente desinteressada, mas não esta noite. Há uma sinceridade na abordagem dele que liga todos os meus botões.


Uma hora mais tarde, quando deixamos o restaurante rindo como bobos, estou ainda mais cheia de conflitos. Nunca pensei que encontraria alguém que se encaixasse na dinâmica especial que Poncho e eu compartilhamos, mas Christopher consegue. Facilmente.


— Tudo bem, gente — diz Poncho, enquanto olha para o fim da rua. — Tenho um encontro com a garota que está interpretando Elphaba em Wicked, e se eu tiver sorte, antes da meia-noite terei a tinta verde do rosto dela espalhada nos lugares mais estranhos e incomuns do meu corpo. — Christopher estende a mão, e Poncho a sacode. — Foi um prazer conhecê-lo, Christopher. Espero que possamos nos ver novamente. Por favor, tenha em mente que, ainda que você possa esmagar minha cabeça com as mãos, preciso insistir para que trate Dulce com respeito ou terá de enfrentar as consequências.


— Quais consequências?


— Minha cabeça golpeando seu punho de novo e de novo. Bem, considere-se avisado. Eu tenho uma cabeça dura. Suas juntas nunca mais serão as mesmas.


Christopher lhe dá um sorriso.


— Não me esquecerei disso. Prometo me comportar.


— Dulce, telefono para você amanhã. — Poncho me abraça e sussurra no meu ouvido. — Comporte-se como uma mocinha. E se resolver não se comportar, trate de se cuidar. Escondi um preservativo na sua bolsa para o caso de você decidir quebrar a sua regra de ouro. Não tenha medo de usá-lo.


Eu o abraço com força.


— Você é o melhor. E o pior.


Depois de me beijar no rosto, Poncho desaparece no meio da multidão noturna e, então, meu porto seguro desaparece. Estar a sós com Christopher aumenta ainda mais a tensão entre nós.


Encaramos um ao outro por uns poucos segundos, antes de Christopher pigarrear.


— Bom, ouvi dizer que o Rei Lear é um filho da mãe. Nós provavelmente não deveríamos deixá-lo esperando. — Ele me oferece o braço. — Vamos? O gesto é tão antiquado e galante que rio.


— Bem, acho que sim. Vamos.


Assim que lhe dou o braço, Christopher respira fundo.


— Você está bem?


Ele baixa o olhar até nossos braços enlaçados e assente, de olhos vidrados.


— Sim. Só estou preocupado por ter mentido ao Poncho quanto a garantir que me comportaria.


Seguimos na direção do teatro, e passo o tempo todo bastante consciente da sensação de sua pele macia sob meus dedos.


— Melhoraria um pouco as coisas se eu te dissesse que não durmo com caras que acabo de conhecer?


— Não, não mesmo. Geralmente também não durmo com garotas que acabo de conhecer, mas você está me fazendo querer assassinar essa regra e dissolvê-la em ácido.


Dou uma gargalhada.


— Bom, temos três horas de Shakespeare pela frente, e tudo vai girar em torno de loucura, violência e monarquia misógina. Tenho certeza de que, quando a peça acabar, sexo vai ser a última coisa a passar pela nossa cabeça.


Ele me dá uma olhada cheia de ceticismo.


— Se você diz…


Quando deixamos o teatro três horas depois, é bem evidente que o ceticismo de Christopher tinha razão de ser.


Meu corpo inteiro vibra de tanta energia. Não apenas a produção era inacreditável, mas ficar sentada próxima a ele por todo aquele tempo, em uma sala de espetáculos às escuras, foi como uma eletrocussão em baixa voltagem.


Eu jamais reagi de forma tão intensa a um homem.


— Então — diz ele. — Isso foi incrível.


— Foi mesmo. Obrigada pelo convite.


— Obrigado pela companhia.


Escuto nossa conversa casual, mas não há nada de casual no que está acontecendo entre nós. Há tanta adrenalina correndo em minhas veias que sinto como se pudesse, a qualquer minuto, pular no meio do trânsito como se fosse o incrível Hulk e virar um táxi de cabeça para baixo.


Christopher olha em volta e se balança, quase imperceptivelmente, sobre os calcanhares.


— Não sei você, mas eu estou agitado demais para conseguir ir para casa tão cedo.


— Ah, eu também.


— Eu esperava que você dissesse isso. Venha comigo.


À medida que abrimos caminho em meio à multidão que sai do teatro e seguimos na direção da Times Square, Christopher pousa a mão nas minhas costas para que não nos percamos um do outro. O gesto adiciona mais uma camada de tensão às minhas já sobrecarregadas glândulas adrenais.


A essa hora da noite, a atmosfera na região da Broadway é elétrica. Há milhares de pessoas deixando os teatros, rindo, encantadas, tomadas pela magia que só o teatro é capaz de transmitir a alguém. Christopher e eu nos esquivamos e serpenteamos através da multidão, mas não tenho ideia de para onde estamos indo. Depois de um tempo, ele desiste de tentar me orientar tocando minhas costas e segura a minha mão para me mostrar o caminho. Seus dedos são quentes e ásperos, e a sensação da minha mão na dele é tão familiar que chega a ser bizarro.


— Aonde estamos indo? — pergunto.


Ele olha para mim e sorri.


— Isso importa?


Racionalmente, entendo que deveria ser cautelosa porque sei tão pouco sobre ele, mas por alguma razão me sinto segura. Tudo sobre ele é novo e conhecido ao mesmo tempo. É como se uma melodia tivesse soado na minha cabeça durante toda a minha vida e, graças a ele, agora ela tivesse letra.


Depois que passamos pela confusão da praça principal, descemos alguns poucos quarteirões e seguimos na direção do rio. Por fim, ele para em frente a uma porta em formato de calçadeira, que fica entre um brechó e uma tinturaria.


— Eu moro neste prédio — diz ele, e acaricia a palma da minha mão com o polegar. — Meu apartamento é pequeno e antigo, mas… quer subir?


Encaro a porta encardida.


— Eu preciso?


Ele ri.


— Claro que não. Eu só… — Ele dá um passo na minha direção e eu prendo a respiração. — Ainda não quero dizer boa noite. Não tenho álcool no meu apartamento, mas tenho leite e biscoitos. E se você for boazinha, levo você ao meu jardim no telhado.


— Isso é um eufemismo? — Estou surpresa com a rouquidão da minha voz.


Pela forma como Christopher parece hipnotizado pelos meus lábios, acho que ele gosta desse tom. Ele se inclina na minha direção e eu pressiono meu corpo contra a porta.


— É o que você disser que é. — A voz dele faz minha pele se arrepiar.


— Ainda que eu suba com você, Christopher, mantenho minha afirmação sobre não dormirmos juntos.


O canto de sua boca se contorce, mas ele não sorri.


— Sem problemas.


Ponho minha mão em seu peito.


— Estou falando sério.


Ele olha para a minha mão e, em seguida, a cobre com a dele, pressionando-a em seu peito. Minha respiração acelera. A dele também.


— Não vou levá-la lá para cima para seduzi-la, Dulce — diz Christopher, enquanto acaricia levemente meus dedos. — Apesar de ter certeza de que conseguiria.


— Uau. Quanta arrogância. — Ele me dá um sorriso sensual, e eu estreito meus olhos. — Você não acha que posso resistir a você?


Christopher põe a mão na parede ao lado da minha cabeça e se aproxima. Ponho minha outra mão em seu peito. Não para impedi-lo. Só para sentir mais seu corpo.


Ele fecha os olhos e respira fundo antes de olhar para mim novamente.


— Se você estiver sentindo só a metade da atração que estou sentindo por você, então, não, eu não acho que você possa resistir. Na verdade, acho que se a beijasse agora, nós mal teríamos tempo de atravessar essa porta antes de rasgar as roupas um do outro e transar como se não houvesse amanhã. Mas prometo que se você vier comigo, vou me comportar. E talvez você devesse prometer fazer o mesmo. A maneira como você está me tocando… faz com que eu pense no quanto você quer estar sobre mim, no quanto você quer acalmar o meu desejo. Devo te lembrar de que sou apenas um homem, Dulce. Não um brinquedo sexual.


A respiração se congela dentro de meus pulmões quando observo a sua boca.


Ele devia ir para o inferno por me fazer pensar em meu corpo sobre o dele.


— Entendi. — Relutante, afasto minhas mãos de seu corpo. Estou tentando manter a calma, mas sua proximidade faz meu coração disparar. — Christopher, juro pela vida do meu hamster não usá-lo como meu brinquedo sexual.


Ele parece abatido.


— Nem mesmo se eu pedir?


Sorrio.


— Nem mesmo assim.


— Então, vamos recapitular — diz Christopher quando se inclina para sussurrar no meu ouvido. — Se você implorar para ser meu brinquedo sexual, isso vai acontecer em tempo recorde. Mais de uma vez, se necessário.


— Ah, você é tão altruísta.


— Eu realmente sou. — Ele me dá um sorriso sexy antes de recuar para abrir a porta. Eu o sigo, e subimos cinco lances de escadas para ir até o seu apartamento. No momento em que chegamos lá, meu desejo por ele parece queimar meus pulmões.


— Você está bem? — pergunta Christopher e, gentilmente, toca meu ombro.


— Sim. Apenas tentando disfarçar minha incrível aptidão física para não intimidá-lo.


— Bom trabalho. Você teria me enganado completamente.


— Não é? Talvez eu devesse ter sido atriz, afinal de contas. — Respiro fundo e tento recuperar o fôlego. Meu Deus do céu, como estou fora de forma.


Ao entrarmos, percebo que ele não estava brincando sobre o tamanho de seu apartamento. É um estúdio com uma pequena cozinha de um lado e o que parece ser um pequeno banheiro do outro. No meio, há espaço suficiente apenas para um sofá-cama.


— Então — diz Christopher —, permita que eu te leve a um tour especial. — Ele não se move. — Eeeeeee, pronto! Você já conhece tudo.


Posso ver que ele está envergonhado, mas não precisa estar. Em Nova York há uma porção de microapartamentos exatamente como este. Na verdade, eu já vi piores.


O que distingue o dele dos demais é que está imaculado. Os móveis e os eletrodomésticos são antigos, mas estão impecáveis. Não há uma única coisa fora do lugar. Até a cama está arrumada.


Estreito os olhos.


— Você pretendia trazer alguém aqui esta noite?


— Não. Por quê?


— Porque está tudo tão limpo e arrumado. E sua cama está feita. Pelo que vejo da vida do meu irmão, posso afirmar que a maioria dos homens vem sem o gene da arrumação de cama como opcional de fábrica.


Ele se inclina, e sinto sua respiração quente em minha orelha.


— Você ainda não me conhece bem o suficiente para ter percebido que não sou como a maioria dos homens. Mas se isso te faz se sentir mais confortável, poderíamos desfazer a cama. Basta dizer uma palavra.


Um estremecimento de prazer percorre minha espinha.


— Ah, nem em sonho eu destruiria tal perfeição. Você prende os cantos dos lençóis com a técnica de hotéis cinco estrelas?


— Se você achar isso sexy, sim.


Deixo escapar um gemido.


— Ah, sim. Isso me deixa maluca. — Ele ri, pensando que eu estou brincando, mas não estou, não. Sou uma assumida maníaca por limpeza e arrumação, e saber que ele mantém a casa assim, impecável, realmente me deixa excitada.


— Bem, chega de falar sobre a minha cama — diz ele. — Tenho outra coisa para te mostrar.


— Se for um banheiro incrivelmente limpo, sério, não acho que meu corpo esteja pronto.


Christopher solta um muxoxo.


— Ah, droga. Eu sabia que deveria ter esfregado a banheira hoje pela manhã.


Christopher se espreme para passar por mim e segue na direção da cozinha. Em um segundo, apanha um saco de biscoitos de chocolate, dois copos e uma garrafa de leite da geladeira.


— Vem comigo. Se o apartamento deixou você louca por mim, espere até ver meu jardim no telhado.


Ele me leva para fora do apartamento e subimos mais dois lances de escadas. Droga. Não admira que ele seja tão sarado. Se eu precisasse subir tantas escadas todo santo dia, poderia esmigalhar tijolos entre as coxas.


No topo da escada, ele liga um interruptor antes de abrir a porta para o telhado. Quando saio, o que vejo quase me tira o fôlego.


O lugar é como um oásis tropical. Dezenas de palmeiras em vasos de vários tamanhos estão por toda parte, e no meio deles há uma pérgula de madeira trabalhada, envolvida por centenas de pequenas luzes.


— Uau. Isso é simplesmente… — Meu Deus do céu. Eu raramente fico sem palavras, mas esse é um desses momentos.


— Construí a pérgula para o aniversário de casamento dos meus pais no ano passado. E depois eles venderam a casa onde cresci para se mudarem para um apartamento, e não tinham nenhum lugar para deixá-la, então eu a trouxe para cá.


— É linda. — A madeira escura tinha sido cuidadosamente esculpida com videiras e flores. — Aposto que eles adoraram.


— Sim, minha mãe chorou. Meu pai me deu um tapinha no ombro e ficou em silêncio por um tempo, o que, para ele, é o equivalente a chorar.


Sorrio.


— Um presente bem incrível para dar aos pais. Tentando ganhar o prêmio de melhor filho do mundo?


Christopher baixa os olhos e não posso deixar de notar uma mudança sutil em sua postura.


— Bem, eles passaram por momentos difíceis ao longo dos últimos anos. Eu queria fazer algo bonito pra eles.


Vejo nomes esculpidos na madeira do topo da pérgula.


— Angus e Eileen. Excelentes nomes irlandeses.


— Sim.


Vejo outro nome e aperto os olhos para tentar entender.


— E ali está escrito… James?


Christopher pisca algumas vezes.


— Sim. Meu irmão gêmeo.


Eu praticamente engasgo com a minha própria língua.


— Gêmeo? Gêmeo idêntico?


Senhor, não sei se eu posso lidar com dois homens tão perfeitos neste mundo.


Christopher respira fundo.


— Sim. Nós éramos idênticos.


— Eram?


— Ele… ele está… — Christopher baixa os olhos. — Ele morreu.


— Ah. Christopher...


— Dois anos atrás.


Meu coração dói por ele. Perder um irmão já seria ruim, mas sempre ouvi dizer que gêmeos compartilham um vínculo especialmente forte.


— Meu Deus, sinto muito.


A forma como Christopher encolhe os ombros e gesticula deixa claro que ele não quer falar sobre isso.


Antes que eu possa dizer qualquer outra coisa, ele muda de assunto.


— Ah, vamos lá. Não te trouxe aqui pra você me ver choramingando. Faço isso quando estou sozinho.


Embaixo da pérgula, dois sofás antigos e uma mesinha de centro esperam por nós. Desabamos cada um em um sofá, e ele coloca o leite e os biscoitos sobre a mesa e enche nossos copos.


Christopher ainda parece tenso e procuro desanuviar o clima.


— Adoro leite, mas acho que uma cerveja seria mais legal.


— Nada disso, senhorita — diz ele, a boca formando uma linha apertada. — Você é menor de idade, mocinha, e eu me recuso a contribuir ainda mais para a corrupção de um menor. Agora, beba o seu leite como uma boa menina.


Ele me dá um meio sorriso.


— Sim, vovô.


Ficamos em silêncio por alguns momentos enquanto mastigamos nossos biscoitos. Quando acabamos, Christopher se levanta e gesticula para que eu o siga.


— Vamos lá. Eu ainda não te mostrei a melhor parte.


Ele me leva até a mureta do telhado e sobe na borda.


— Isso é seguro? — pergunto, tentando espiar sem me aproximar demais.


Em momentos como esse, odeio ser baixinha.


Ele me oferece a mão.


— Confie em mim.


Por mais estranho que pareça, confio mesmo, e assim que aceito, Christopher me puxa para cima com tão pouco esforço que chega a ser surreal. Por um momento, entro em pânico e me agarro aos seus braços, mas então vejo que a borda não é tão estreita quanto parecia à primeira vista. Além disso, há uma escada de incêndio abaixo de nós.


— Tudo bem aí? — pergunta ele, com as mãos plantadas bem firmes na minha cintura.


— Ah… sim.


— Tente olhar para cima. A escada de incêndio é legal e tudo, mas não é o que eu queria que você visse.


Quando ergo os olhos, entendo o que ele quer dizer. Do outro lado da rua há um prédio de apartamentos. Ele é novinho e a estrutura é coberta de vidro reflexivo. Alguma espécie de milagre da tecnologia permite que eu possa ver a cacofonia visual que é a Times Square piscando para nós.


Fico boquiaberta.


— Para o que estou olhando?


— Transmissão ao vivo — diz Christopher. — Inacreditável, não é? Quem projetou o edifício percebeu que uma das melhores coisas de se viver nesta área é poder experimentar a emoção da Times Square, portanto, incorporou-a ao design. É uma transmissão ao vivo do que está acontecendo a seis quarteirões de distância.


Estou atônita, a projeção é espetacular.


— Você já descobriu onde a câmera está?


— Não, mas procuro por ela de vez em quando. Do ângulo que vemos, acho que está instalada em um poste de luz. Olhe ali, você pode ver a escadaria onde nos conhecemos hoje.


Ele tem razão. A escadaria agora está repleta de pessoas.


Há um velho ditado que diz que não importa de onde você vem, se você ficar parado no meio da Times Square por quinze minutos, vai encontrar alguém que conhece. Não sei se é verdade, mas eu deveria tentar um dia. Não há outro lugar no planeta como a Times Square. O ambiente, a energia, a conexão com todas as coisas da Broadway. Sinto como se fosse uma parte de mim.


— Eu poderia olhar pra isso a noite toda.


— Bem, assim o meu plano maligno de passar mais tempo com você seria bem-sucedido. Excelente. — Christopher se senta na borda e me puxa para que eu o acompanhe. Quando nos ajeitamos, nossas pernas ficam penduradas e nossas coxas se encontram.


Aquilo quase me faz esquecer da vista.


Christopher recua para se apoiar nas próprias mãos.



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Autor(a): leticialsvondy

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— É por isso que passo tanto tempo aqui no telhado. Posso sentar aqui e assistir a todas essas pessoas, sem ter de sair de casa. Legal, não é? — Muito legal. Invejo a vida que Christopher tem aqui, praticamente no meio do mundo. A casa geminada de meus pais na rua 64 parece estar a quilômetros de distância. E ser tediosa como o ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 33



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • anne_mx Postado em 05/07/2020 - 18:20:05

    Nossa, que fanfic incrível, não tive o prazer de acompanhá-la mas a história foi linda, fiquei apaixonada por cada detalhe, isso só reafirma uma frase que eu amo ¨Não importa o que ocorra, quanto tempo vocês ficarem separados, o que tiver de ser seu vai achar o caminho de volta para você¨ Obrigada por essa história lindaaaa <3

  • princesauck0818 Postado em 29/06/2020 - 23:32:09

    Essa fanfic é incrível!!!! Não tive o prazer e a oportunidade de acompanhar ela mas eu quero te dar os parabéns pq ela é excepcionalmente perfeita. Obrigada por adaptar ela pra nós! Eu amei cada segundo da leitura!

  • Dulcete_015 Postado em 27/06/2020 - 18:16:17

    Eu ameii a fanfic,vou sentir saudades

  • Dulcete_015 Postado em 26/06/2020 - 20:07:37

    Continuaa,já quero saber qual é o plano

    • leticialsvondy Postado em 26/06/2020 - 20:08:49

      Postando!!

  • Dulcete_015 Postado em 24/06/2020 - 21:00:56

    Q ranço do Anthony, continuaa

    • leticialsvondy Postado em 24/06/2020 - 21:02:44

      Sim, ele é um imbecil

  • Dulcete_015 Postado em 20/06/2020 - 21:47:57

    Acho tão fofo o Poncho todo preocupado com a Dulce,continuaa

    • leticialsvondy Postado em 21/06/2020 - 15:26:22

      A amizade deles é muita bonita! Postando!

  • Dulcete_015 Postado em 20/06/2020 - 18:53:33

    Meu Deus Christopher só faz merda,continuaa

    • leticialsvondy Postado em 20/06/2020 - 21:18:19

      né kkkkk Será que tem explicação dessa vez? kkkk

  • Dulcete_015 Postado em 18/06/2020 - 23:14:11

    Continuaa

    • leticialsvondy Postado em 19/06/2020 - 15:49:08

      postando!!

  • Dulcete_015 Postado em 18/06/2020 - 23:13:42

    Poxa bem que a Dulce podia sair com o Anthony para fazer um pouco de ciúmes para o Christopher

    • leticialsvondy Postado em 19/06/2020 - 15:50:50

      Acho que é o que aquela música diz: o coração quer o que ele quer kkkk

  • Dulcete_015 Postado em 17/06/2020 - 16:15:15

    Coitada da Dulce,continuaa

    • leticialsvondy Postado em 18/06/2020 - 19:38:36

      Postando!!


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