Anahi POV
Eu fechei os olhos sentindo os lábios afoitos de Dulce deslizar por meu pescoço, para depois sentir seu dente cravar devagarzinho na minha pele. Soltei uma forte lufada de ar, apertando minhas pernas para não piorar nossa situação. Mas ela estava a mil, Dulce estava agora sobre mim, beijando minha boca como se o mundo fosse acabar, sua mão direita se encontrava sobre minha coxa, flexionando a mesma para a mulher se encaixar entre minhas pernas. Era cedo demais, umas 6:33 para ser mais exata. Havíamos acabado de acordar, e resolvemos nos despedir para ir trabalhar.
Na noite de ontem, depois do piquenique Dulce resolveu nos levar ao boliche. Ela estava destinada há fazer o dia com Mari ser maravilhoso. E realmente foi,nos divertimos muito enquanto jogávamos boliche no qual eu nitidamente fui a campeã entre todas. Mari ficou um tanto brava, e Dulce apenas deu a ideia que fossemos comer um bom sanduíche no lugar, a menina rapidamente se animou novamente. Conversamos e brincamos por mais algumas horas até que voltamos para meu apartamento. Com jeitinho consegui fazer Dulce ficar e dormir comigo, Mari estava no quarto de Melany, de acordo com ela a cama de molas era mais divertida. Dulce obviamente dormiu comigo, e se comportou bem depois de levar três foras. A greve de sexo estava deixando minha namorada completamente maluca, e eu também.
- Dulce...
A mesma nem sequer me deu ouvidos, chupou o lóbulo de minha orelha que me fez arfar. Maldita. Suas mãos subiam e desciam rápidas, arranhando de leve, causando um tesão gostoso por mais. Levei a mão até seus cabelos, puxando seu rosto em direção ao meu. Dulce capturou meus lábios em poucos segundos, e os chupou com força. Estávamos nos agarrando loucamente no sofá de meu apartamento. Aquele não foi o plano inicial, a mulher disse que queria apenas uns carinhos e olha só.
- Alguém pode nos ver, Mari está dormindo..- Sussurrei quando ela desceu com os beijos para o meu colo.
- É só você não fazer barulho, amor. – sussurrou deslizando a língua por minha pele.
Droga, ela estava me enlouquecendo. Sua respiração pesada, e quente contra minha pele me fazia querer desistir da maldita greve que impus.
- A g-greve!
- Deixe essa greve pra lá,ok?
Dulce se sentou no sofá, puxando meu corpo com certa força para junto do seu. Obrigando-me a sentar sobre seu colo. Suas mãos pousaram sobre minhas coxas no qual apertou com força. Eu suspirei e levei as duas mãos para sua nuca, entrelaçando os dedos em meio aos fios de seu cabelo. Ela me fitou, e sorriu de canto. Eu neguei com a cabeça e a beijei.
No inicio, o beijo foi apenas um contato dos lábios, Dulce deslizou a ponta da língua sobre meu lábio inferior bem devagar, indicando o que queria e eu apenas aceitei. Sentindo sua língua serpentear sobre a minha com malicia. Eu suspirei com contato, e chupei com vontade. Senti suas mãos habilidosas se esgueirarem por dentro de minha blusa, deslizando os finos dedos pela linha da minha coluna. Fechei os olhos quando a mesma deixou minha boca, e desceu com a trilha de beijos por meu pescoço parando sobre meu ponto de pulso no qual chupou, porra. Aquilo ficaria marcado. Cravei as unhas em seu ombro, e aquilo apenas deu um gás para ela continuar.
Com rapidez, Dulce levou as mãos para o botão do short que eu usava, desabotoando tão rápido que nem notei até ela começar a puxa-lo para baixo. Nossas respirações estavam pesadas e falhas, eu me inclinei para cima, recebendo beijos desesperados sobre meus seios, mesmo por cima da fina blusa aquilo estava me excitando. Dulce deslizava a língua bem em cima de meu mamilo, enquanto suas mãos esfregavam forte meu sexo por cima do grosso jeans.
"Deus, eu preciso de mais!"- Exclamei em pensamentos.
Apertei os dedos em seus cabelos, e aquilo nitidamente mostrava a ela que eu estava me rendendo, pois a maldita soltou uma risada cínica acompanhada de um olhar malicioso.
- Se você soubesse o quanto é gostosa srta. Portilla...
Mordi os lábios com força, eu quase não ouvia muita coisa, a fricção de sua mão sobre os meus jeans estavam me enlouquecendo, e me deixando visivelmente alterada. A falta do contato mais forte me deixava irritada.
- Arranca essa porra de short do meu corpo! – Ordenei.
E quando Dulce começou a puxar com força a porta da sala se abriu rapidamente, nos assustando ao ponto de eu praticamente pular do colo dela, e cair no chão.
- Annie! – ela me olhou assustada.
E eu jogada no chão a fitei. Dulce se levantou e me estendeu a mão, ajudando-me a levantar. Fiquei de pé rapidamente, e encarei Selena e Melany que nos fitavam assustadas. Eu ajeitei rapidamente minhas roupas e Dulce também.
- Nós não vimos nada meninas fiquem tranquilas! – Selena falou andando com a mão tampando os dois olhos.
- Ah nós vimos sim, ô se vimos! – Melany falou maliciosa.
Dulce pigarreou e eu fitei Melany com os olhos arregalados.
- Melany! – Selena a cutucou.
- O quê? Sel elas estavam quase se comendo no nosso sofá.
Melany tentou sussurrar, mais alto do que deveria. Eu fitei Dulce que estava um tanto vermelha, eu só não sabia se era de vergonha ou excitação.
- Você cala essa boca! – Selena cutucou Melany que resmungou.
Ficamos em silêncio por alguns segundos constrangedores.
- Bom, Annie, eu já vou. Preciso...- Dulce colocou a mão sobre a têmpora esquerda, confusa – Ir para minha casa.
Eu mordi os lábios e sorri sem jeito.
- Tudo bem, amor, nos vemos na empresa mais tarde.
Dulce assentiu e se aproximou roubando um rápido beijo. Para depois me soltar e fitar as meninas paradas perto da porta. As duas sorriram e Dulce soltou um sorriso amarelo para caminhar até a saída.
- Bom dia para vocês, senhoritas.
- Bom dia, Sra. Savinon.
- Bom dia, Dulce! – Melany falou acenando para Dulce que saiu.
Assim que a porta se fechou Selena fitou Melany.
- Dulce? Está intima assim?
- O quê? Óbvio! Querida, ela estava quase transando com a Náh no meu sofá, se eu não puder chamar ela pelo primeiro nome, não vou permitir essas safadezas aqui.
Selena soltou uma risada divertida e caminhou até a cozinha.
- E você, mocinha?! Não tem quarto mais, não? – Melany se aproximou de mim com um olhar malicioso.
Eu suspirei e dei de ombros.
- Mari está dormindo na minha cama.
- E por isso estavam transando no sofá?
- Nós não estávamos transando! Dulce ainda está de castigo. – Falei abotoando meu short.
- Pareciam estar! – Selena falou antes de beber agua.
- Estavam a ponto,né? Engatilhadas minha querida. Você estava sentada em cima dela! Não ia aguentar muito tempo.
- Eu sou forte Mel, Dulce precisa desse castigo.
- Até quando? Tem medo que ela vá atrás de outra não?
- Dulce ama a Náh, Mel! – Selena falou calmamente.
- Isso aí, ela me ama!
- Parece amar mesmo, ver a chefa tão solta assim é até estranho, ela era tão séria.
- Pra mim, ela ainda é. – A menor deu de ombros.
- Dulce é muito carinhosa.
Sentei ao lado de Selena que sorriu para mim.
- Sério? Ela tem cara de ser aquelas mulheres frias e rudes, que adoram sadomasoquismo. Tipo uma versão mais foda e feminina de Christian Grey.
- Jesus, parece mesmo.
- Mas ela não é! Não sempre, ela é carinhosa e ousada. Ela sabe usar ambos os lados na hora certa.
- Náh fica toda boba falando de Dulce! – Selena falou me abraçando.
- O amor, minhas queridas, invadindo essa casa.
- Talvez. – Falei sorrindo. – Me digam onde as duas estavam que chegaram agora, senta aqui, Mel! – Falei batendo com a mão no estofado do sofá.
- Estávamos na casa da avó de Sel, foi aniversário dela ontem. E eu não vou me sentar ai, vai que está molhado com você sabe o quê...
- Misericórdia, está molhado? – Selena pulou do sofá me fazendo rir.
- Sim! Está molhado com o gozo delas.
- Claro que não! Melany cala essa boca! – Joguei uma almofada nela.
- Chocada em Cristo! Náh, trate de limpar esse sofá agora. – A menor falou caminhando em direção ao quarto.
Melany soltou uma gargalhada alta e se jogou no sofá ao meu lado.
- Você não cansa de perturbar ela assim, não é ? – Falei fazendo um carinho leve nos cabelos de Melany que estava com a cabeça em meu colo.
- Eu amo esse jeito santo da Sel, Náh. Somos o trio perfeito.
- Quarteto! Maite disse que vai largar o apartamento dela para morar com a gente.
- Sério? Vai ser bom ter ela aqui.
- Vocês poderiam começar a animar aqui também, não é? – Falei sugestiva.
- O quê? Quando caiu do colo de Dulce sua cabeça bateu no chão? Sou hétero, meu amor.
Eu soltei uma risada.
- Até provar do outro lado querida, vai por mim. May é linda e você bem que poderia testar o lado colorido da vida.
Me levantei do sofá deixando Melany jogada lá.
- Náh, isso é falta de sexo, viu? Vá transar, isso está afetando sua cabeça.
Ouvi ela gritar da sala, e eu apenas ri. Caminhei em direção ao quarto vendo Mari deitada dormindo. Deus, eu ainda tinha que levá-la para casa antes de Tisha voltar.
[...]
- Eu não quero ir para casa Gigi!
Essa frase foi repetida dezenas de vezes desde que saímos de meu apartamento. Mari estava praticamente tentando pular para fora do carro e voltar para meu apartamento.
- Mana, esse foi o trato lembra?
- Mas eu não quero! É chato ficar lá.
Eu suspirei vendo a menina de braços cruzados no banco do passageiro.
- Eu vou te visitar mais vezes,tá? Eu prometo.
A menor me olhou triste e suspirou.
- Não faça essa cara, você sabe que não tenho escolha. Se dependesse mim você estaria morando comigo.
- E por que não posso morar com você e Dulce?
- Queria morar com nós duas?
- Claro! Seria muito divertido! – Ela falou animada.
- Não pense que seria sempre essa farra, mocinha. Tanto Dulce quanto eu trabalhamos muito!
- Eu sei Gigi, não esqueço disso. Mas eu me sinto muito feliz quando estou com vocês.
Eu estava com toda atenção na estrada, mas neste instante dei uma rápida olhada para Mari que parecia pensativa.
- Não está feliz com seus pais?
- Nossos pais. – Ela me corrigiu de forma rápida e inteligente para uma criança. – As vezes eles brigam muito. E mamãe está estranha ultimamente.
- Estranha como?
- Não sei explicar Gigi, ela as vezes parece fraca, outro dia caiu na cozinha sem mais nem menos.
- Sabe se está doente?
- Perguntei ao Papai, mas ele disse que ela estava bem. Só não tinha comido bem.
Eu suspirei pensativa, apesar de tudo eu me senti um pouco estranha ao pensar que ela não estivesse bem. Tisha sempre foi uma mãe carinhosa, até Enrique entrar para um mundo perdido. Talvez ele seja o culpado de tudo ter dado errado para nós.
- Hum, ele tem ficado direto lá?
- Sim, as vezes, ele fica uns três dias fora, mas depois volta pra casa. Semana passada ele voltou bem machucado, disse que bandidos roubaram ele.
"Mentira", pensei rapidamente.
- Fora isso, não tem nada de estranho lá? Ninguém diferente?
Ela pensou por alguns instantes e então falou:
- Só um homem que vem nos visitando. Ele parece bem bravo quando vai lá, pergunta pelo nosso pai. Mas meu pai nunca fala com ele, manda dizer que ele não está.
- Não quero você perto desse homem, ok? Fique bem esperta, e qualquer coisa me ligue Mana.
- Tudo bem Gigi, relaxa.
Soltei um sorriso fraco, parando o carro na frente da casa de Madalena.
- Chegamos.
Ela olhou pela janela para casa e depois me fitou.
- Não se preocupe, eu vou visitar você mais vezes. E garanto que estou trabalhando em uma coisa muito legal para você.
- O quê? – Perguntou curiosa.
- Isso é um segredo, mas você vai adorar.
- Me da pelo menos uma dica Gigi! – Ela pulou no banco do carro me fazendo ri.
- Tem haver com você, Dulce e eu.
- Oh, Deus! Se for o que estou pensando!
- No que está pensando, pequena?
- Vai me levar pra morar com vocês?
- Quem sabe – Dei de ombros e ela me olhou mais animada do que o normal. – Mas isso é um segredo,tá? Não pode contar para ninguém, ou tudo pode dar errado.
- Não vou contar Gigi! Eu prometo.
Ela falou com uma das mãos levantadas como se fosse um juramento.
- Perfeito, agora vá lá. E lembre-se, me ligue sempre que precisar de algo. Eu vou sentir saudade Mana.
- Eu vou sentir saudade também Gigi, mande um beijo para Dul, e diga a ela que vamos comprar nosso cachorro da próxima vez!
Eu sorri, e depositei um beijo no rosto de Mari que logo em seguida me abraçou apertado. Era sempre difícil ter que deixar ela lá, queria poder conviver com minha irmã todos os dias, mas eu ainda não tinha escolha. A menor me soltou e sorriu, para logo depois abrir a porta de meu carro e sair em direção à casa de Madalena. Eu fiquei esperando até vê-la entrar na casa. E só assim sai.
[...]
- Eu vou esperar você lá.
- E se eu não for? – Dulce perguntou irritada.
- Eu vou ficar muito chateada com você, e a greve vai prolongar.
A mulher bufou, e cruzou os braços. E eu lentamente me aproximei. Ela estava encostada em sua mesa, me fitando com aquele par de olhos castanhos intensos. Eu devagar deslizei os dedos pela gola de sua blusa social e perfeitamente feminina, eu amava Dulce com elas. A deixa sexy e séria.
- Não faz essa cara, meu amor.
Ela suspirou, e envolveu minha cintura com os braços. A sala estava fechada, e as persianas impediam que qualquer pessoa do lado de fora tivesse visão de como estávamos. Ultimamente, sempre estava assim.
- Tenho ciúmes Annie, você fica seminua pra aquelas pessoas.
- Você gostava. – Disse sorrindo, tocando com a ponta do indicador no nariz de Dulce.
- Gostava quando eu só podia ter aquilo, agora eu tenho Anahí Giovanna pra mim, não quero dividir com ninguém.
- E você não divide, eu sou sua.
- Minha.
Eu sorri e selei meus lábios no dela, sentindo sua boca se mover devagar sobre a minha.
- Eu vou dançar e você vai me assisti. E depois vamos embora, fechado?
- Eu tenho escolha? – Perguntou.
Eu neguei com a cabeça e sorri.
- Seja boazinha Dulce, amanhã você vai ficar longe de mim.
- Vou?
Ela franziu o cenho confusa.
- Claro, já esqueceu que amanhã é a premiação? Business Awards USA?
Ela arqueou as sobrancelhas como quem tivesse acabado de lembrar.
- Tem certeza que não quer ir comigo?
- Não acho adequado ir com você.
- Tenho direito a levar quem eu quiser.
- Dulce...
- Você vai comigo, ou eu não vou à Imperium hoje.
- Chantagista!
- Esperta,meu amor!
- Eu não tenho roupas para esse tipo de evento. – Disse me soltando dos braços dela, dando qualquer desculpa para não ir.
Fitei ela que sorriu.
- Dulce, eu não posso ir com você, ainda não é a hora para todo mundo saber. Você é uma pessoa pública, todos querem saber de sua vida.
- Não quero esconder pra sempre o que temos, Anahí.
- Nem eu, mas espere um pouco tá?
Ela suspirou derrotada, e assentiu.
[...]
Depois de mais algum tempo insistindo, Dulce aceitou me ver na Imperium. De acordo com ela, era melhor esta perto vendo tudo do que longe imaginando. Eu ri no momento de sua mente ciumenta, Dulce podia ser um tanto possessiva. Ok, um tanto é modéstia, muito seria a palavra mais adequada. Mas eu gostava dela assim, a mistura de personalidades que ela carregava era o conjunto perfeito de uma mulher. Pelo menos ao meu ver.
- Sua admiradora não arreda o pé nem te namorando, não é? – Maite perguntou sorrindo ao entrar em meu camarim.
Eu soltei um riso baixo, mas continuei a me maquiar.
- Ela veio quase obrigada hoje May.
- Foi?
A morena perguntou sentando ao meu lado, Maite stava maravilhosa como sempre. Vestida de policial sexy, com direito a farda super curta.
- Sim, Dulce é muito ciumenta. Não gosta de me dividir.
- Com razão Náh, ninguém iria gostar.
- Eu sei, às vezes acho que impor isso a ela é errado sabe? – Suspirei largando o lápis na bancada. – Mas tenho receio de abandonar Taylor, ela foi sempre tão boa comigo.
- Sim, nós sabemos. Mas acho que você deu ótimos frutos à boate. Já pagou essa dívida que acha que tem.
- Você acha?
- Claro, Anahí! Você não pode trabalhar o resto da vida para ela. Taylor não é sua dona. Isso seria exploração, ela também não é uma santa. Anda muito estranha esses dias.
Semicerrei os olhos, e Maite deu de ombros.
- O que houve?
- Acho que ela esta se envolvendo com uma mulher, que tem uma cara de nojenta.
Arregalei os olhos assustada, eu não sabia que Taylor se envolvia com mulheres, até o momento acreditava em sua heterossexualidade.
- Isso é sério?
Ela soltou uma risada.
- Não é só você que anda por esse mundo colorido, Náh!
- Eu estou realmente surpresa, você sabe o nome dela?
Maite negou com a cabeça enquanto ajeitava seus cabelos negros que agora estavam curtos. A mulher sempre tinha uma grande facilidade de mudar de estilo, e sempre ficava bela com todos.
- Não sei, é um mistério sem fim. Elas se encontram, conversam e sei lá o que fazem. Mas ela nunca fala nada, não gostei da mulher sabe? Tem cara de má.
- Não pode falar assim de sua futura patroa May.
- Ah não, Deus me livre! Vire essa boca pra lá.
Soltei uma risada para ela que se levantou.
- Quem sabe minha futura patroa não seja você um dia, hein?
- May, você bebeu demais. Dulce não me quer aqui dentro, esqueceu? Além de que nunca que eu conseguiria ser dona desse lugar.
- Não podemos subestimar o futuro que nos espera, Giovanna! Agora levanta daí, coloque sua máscara e vamos ao show!
Em um solavanco me levantei da poltrona e me virei de frente para o espelho, aquela noite minha roupa era puro couro, uma espécie de espartilho que se modelava perfeitamente bem em minhas curvas. Minhas pernas estavam cobertas por uma cinta-liga vazada, e nos pés um sapato bem alto. Meus cabelos estavam presos em um coque bem feito, e só faltava apenas uma coisa para deixar tudo completo. A máscara.
Caminhei para fora do camarim até o fundo do palco, atrás da enorme cortina vermelha. Respirei fundo já ouvindo o barulho forte do salão do outro lado. Eu já estava mais do que acostumada a me apresentar, e mesmo assim ainda sentia certo receio nesse momento. Mas saber que Dulce estaria ali me deixava mais calma. Eu dançava bem melhor quando me concentrava unicamente nela. Suas reações me instigavam a provocar, e transparecer sensualidade por todos os poros do meu corpo. Ela era o meio que me induzia a ser Giovanna como nunca havia sido antes.
Flexionei as pernas, os braços me aquecendo antes de começar. Eu fechei os olhos, me permitindo apenas a ouvir todos lá fora. O som de risadas altas, conversas e a musica me tiravam do mundo de Anahí. Respirei fundo pela ultima vez quando as cortinas se abriram e a minha musica começou a tocar, abri os olhos através da mascara negra encarando a multidão alvoroçada e apenas sorri, sorri maliciosamente.
Em passos lentos e perfeitamente calculados caminhei até o centro do palco, parando um pouco a frente do bastão de poli dance. Dando-me conta dos olhares perdidos em luxuria sobre mim. Eu sorri de canto, e caminhei ao redor do ferro, enquanto desabotoava o sobretudo preto que estava usando. Eu deixei que meus olhos corressem por todos na plateia em procura dela. Dei a ultima volta ao redor do bastão de ferro e parei de frente para todos, quando automaticamente meus olhos pararam sobre ela. Dulce estava lá, sentada bem no meio com um sorriso cafajeste nos lábios, assim que a mesma percebeu que eu a fitava, levantou o copo de uísque e piscou.
Mordi os lábios e sorri, tirando devagar o sobretudo para que todos, ou melhor, ela pudesse aproveitar cada pedacinho do que iria ver. Eu movia meu corpo devagar de um lado para o outro de acordo com o ritmo que a musicava ditava. E quando o mesmo foi completamente ao chão à euforia começou. Os homens da primeira fila soltaram palavras de cobiça e desejo. Mas eu nem sequer escutava, eu estava concentrada demais em Dulce, que me assistia como a primeira vez.
Eu virei de costa para ela, levando a mão no pequeno objeto que prendia meus cabelos, e o puxei soltando as madeixas onduladas por minha costa. Eu sabia o quanto ela amava meus cabelos daquela maneira, desgrenhados e selvagens. Virei o rosto de perfil para ter uma visão parcial de Dulce que tinha os olhos concentrados em mim, enquanto tomava mais um gole da bebida. Eu sorri e comecei a rebolar de forma puramente sensual, remexendo meus quadris devagar enquanto meu corpo descia até o chão.
"Meu Deus, você não pode ser desse mundo!"
Um rapaz moreno falou, ele aparentava ter uns dezoito anos. Seus olhos estavam, vidrados sobre mim, e sua expressão era estática. Eu juro que senti vontade de ri, mas aquela não era hora para isso. Eu apenas continuei, subi com meu corpo que roçou sobre o ferro no qual me segurava. Naquele instante eu iniciei a parte de minha coreografia que envolvia o pole dance, e confesso que amava essa parte. Meu corpo tinha a enorme facilidade de se mover ali, com as duas mãos segurei na barra de inox e suspendi meu corpo do chão, entrelaçando as pernas para deixar que meu tronco se soltasse. Estiquei um dos braços devagar, e arqueei a cabeça para trás, recebendo sobre mim cédulas e mais cédulas de dinheiro. Aquilo literalmente era uma chuva de poder. Movi meu corpo, lançando minhas pernas para o alto do bastão de inox, deixando que meu corpo ficasse de cabeça para baixo. Lentamente desci até o chão, caminhando em volta do palco com os olhos sobre ela.
As castanhas brilhantes se mantinham conectadas em mim, sua expressão de desejo me movia a instigar mais. Eu segurei na barra de inox e rebolei, mas rebolei da maneira mais provocante que poderia, fazendo-me ouvir os gritos das pessoas na plateia.
"Eu me caso com você, querida, durma comigo"
"Quanto você precisa?"
"Caralho, você é tão gostosa"
"Deve ser uma fera na cama"
Um senhor de mais idade, com aparência requintada falou depois de dar uma forte tragada em seu charuto, deixando que a fumaça se espalhasse no ar. O mesmo se levantou e se aproximou de mim colocando um bolo de dólares em minha cinta-liga soltando uma rápida piscada. Eu que estava abaixada, me levantei e sorri para ele. E logo em seguida caminhei para o centro do palco, pegando o bolo de dinheiro no qual joguei para o alto. Vendo as cédulas se espelharem no ar e descerem lentamente sobre mim. Coloquei os olhos no homem que ficou pasmo e depois em Dulce que soltou uma risada atraente, pisquei para ela e joguei um beijo. A musica já estava quase no fim, continuei a coreografia acompanhando as ultimas batidas, rebolando em direção a minha mulher que estava visivelmente adorando tudo aquilo, quando nos últimos segundos eu levantei e fitei todos ali presentes e atrás de Dulce, um pouco mais ao fundo eu a vi.
Keana Marie me encarava com a cobiça que seus olhos tinham por dinheiro e poder.
E naquela fração de segundos eu só consegui pensar em uma única coisa: fodeu!
Se Dulce notasse a presença dela ali as coisas não iriam ficar nada boas. A luz do palco se apagou e caminhei rapidamente para o fundo, rezando que Dulce viesse atrás de mim.
- Droga, droga! – Exclamei nervosa.
- O que houve, Náh?
- Eu preciso que Dulce venha me ver May, faça ela vir aqui rápido por favor.
Ela me encarava assustada, mas rapidamente assentiu e saiu em busca da mulher.
Desde quando Keana frequentava a Imperium? Durante todo esse tempo nunca a vi aqui. Sempre tive medo é claro, apesar de há anos atrás ter revelado minha outra vida a ela, a mesma nunca me viu como Giovanna Puente e nem sequer sabia que eu trabalhava aqui. Fechei os olhos com força, praguejando céus e terra por aquilo. Ela me fitava com desejo, e Taylor estava ao seu lado sorrindo triunfante.
- Que porra estava acontecendo?
Caminhei em direção ao meu camarim, vestindo meu sobretudo rapidamente. Eu andava de um lado para o outro em nervosismo. Se para Dulce já era difícil aceitar que eu continuasse na boate, imagina se ela visse Keana ali? Seria o fim. Eu respirei fundo até ver a porta se abrir.
- Visita especial ao camarim? – Dulce perguntou sorrindo.
Eu suspirei de alivio, ela ainda estava a mesma. Ou seja, não viu nada.
- Claro, você é única que tem esse direito.
Ela sorriu mais uma vez e se aproximou, puxando-me devagar por minha cintura. Seus olhos me fitavam intensamente, e eu procurei ao máximo me manter calma. Ter Keana dentro da Imperium era um perigo que eu ainda não estava disposta a correr. Fechei os olhos assim que senti os lábios delicados da mulher em meu pescoço, deslizando em um beijo instigante. Recuei três passos, até sentir a cômoda atrás de mim. Dulce adentrou com suas mãos por dentro do sobretudo que me cobria, e eu suspirei.
- Está tudo bem Annie?
Seus olhos preocupados me fitaram de perto. Eu pisquei algumas vezes tentando afastar o meu nervosismo mais que evidente.
- Sim, eu só quero ir embora.
- Está se sentindo mal?
- Um pouco, eu não sei..
- Então vamos logo, eu te levo comigo. – Disse preocupada.
Eu assenti rapidamente, e ela se afastou. Ficou caminhando pelo camarim enquanto eu arrumava minha bolsa.
- Já usou tudo isso? – Perguntou apontando para a arara de roupas.
- Sim, todas.
Ela arqueou a sobrancelha analisando as minúsculas peças, até que alguém entrou.
- Oh, desculpe, Giovanna. – Maite disse ao ver Dulce ali dentro.
- Tudo bem, aconteceu alguma coisa?
Maite fitou Dulce que sorriu, e depois olhou para mim como se quisesse me dizer algo.
- Eu acho melhor esperar você no carro. Não demore. – Dulce falou para depois sair.
- O que aconteceu?
- Taylor está vindo para cá, com uma mulher para conhecer você.
- Diga que eu já fui embora e que não posso aten..
Nem pude termina a frase para ver Taylor entrar em meu camarim ao lado da srta. Issartel. Eu suspirei temerosa e fitei Maite.
- Diga a Dulce que me espere no carro, vou falar rápido com Taylor.
Ela assentiu e saiu da sala.
- Aqui está Keana, minha melhor dançarina. – A loira falou como se exibisse um troféu.
- Realmente, você é a melhor de todas. Muito prazer. – Issartel estendeu a mão para mim em um cumprimento educado, mas seu olhar era de pura malicia.
- Me esforço bastante é o que posso dizer. – Soltei com um tom mais rouco.
- Keana fez questão de querer te conhecer de perto Giovanna, falei maravilhas de você para ela.
- Imagino – Soltei um sorriso amarelo.
Eu estava visivelmente incomodada com tudo aquilo, e ainda mais nervosa. Se Dulce resolvesse voltar e me ver aqui dentro com as duas garanto que o teto daquela boate ia ao chão.
- E ela não exagerou em nada, Giovanna. Você é magnifica.
- Agradeço sua visita,srta Keana, mas eu realmente tenho que ir agora.
- Compromisso com alguém? Parece um pouco apressada. – Taylor perguntou. – Mas garanto que esse alguém não se importará de esperar para você conversar um pouco com nossa amiga aqui.
- Eu não tenho nada o que conversar. Desculpe a você – Falei em direção a Keana – Mas eu não tenho contato com os clientes da boate, com licença.
- Virei visitar você mais vezes, Giovanna.
Ouvi Keana falar antes de me retirar daquela sala. Caminhei pelos corredores até sair pela porta dos fundos, estava frio do lado de fora, eu esfreguei as mãos pelos braços em busca de calor. O barulho de meus saltos ecoavam entre os prédios, até ouvir a musica baixa vindo do carro de Dulce. Ela estava encostada no mesmo de braços cruzados me fitando com um belo e largo sorriso. Graças a Deus e a Maite o pior tinha sido evitado, as coisas com Dulce estavam se ajeitando gradativamente e um novo problema não ajudaria em nada.
- Finalmente,srta. – Ela falou me abraçando. – Entre no carro.
Eu obedeci no mesmo instante, e Dulce logo correu para o seu lado.
- Agora pode revelar sua identidade secreta. – Sussurrou para mim fingindo ser um segredo.
Eu sorri para ela, e a beijei. Para depois tirar minha máscara.
- Oh, Deus, eu já vi você antes!
- Para! Não seja boba Savinon, vamos embora você ainda tem um voo para essa noite lembra?
Dulce suspirou derrotada e assentiu.
O caminho para minha casa foi em repleto silencio, minha cabeça fervilhava com a ideia de Keana na boate. E se ela tivesse me reconhecido? Não, não! Keana nunca nem sequer me viu assim, e desde nossos tempos juntas eu já havia mudado demais, meu corpo agora nem se comparava ao de antes. Seu olhar observador e minucioso havia me deixado intrigada, mas o que realmente me preocupou foi sua promessa de voltar.
- Aconteceu alguma coisa? – Dulce perguntou parando o carro em frente a meu prédio.
- Por quê?
- Como por quê? Você veio calada o caminho todo amor, está estranha desde que terminou de dançar.
Eu não queria mentir para Dulce, eu realmente não queria. Mas naquele instante eu não tinha alternativa. Entre ela saber da presença de sua pior inimiga ou não dentro da Imperium, eu ficaria com a segunda opção.
- Eu estou normal Dulce.
Seu olhar sobre mim foi de quem não acreditasse em absolutamente nada.
- Conheço você, o que está te preocupando?
Eu neguei com a cabeça e me virei para ela.
- Só são os problemas com Mari, nada demais.
Ela me olhou por alguns segundos, buscando a certeza em meus olhos que tratei de desviar dos seus rapidamente.
- Vou acreditar em você, Anahí.
Eu sorri fraco e me aproximei dela que me envolveu com os braços. Era no mínimo reconfortante estar ali nos braços dela. Eu não sabia o que estava por vir para nós, mas eu não sentia algo bom. Eu amava Dulce, e o medo de perdê-la havia ficado mais forte, eu sabia que ela odiava mentiras, e eu havia prometido não mentir. Mas valeria se fosse por nós?