Dulce POV
Olhei para ela, pela oitava vez em menos de quinze minutos. E Anahí ainda parecia perdida em seus pensamentos. A minha frente o gerente de Marketing explanava suas novas propostas para o começo do ano seguinte com o intuito de fazer da Savinon Industry a melhor imobiliária de todo o continente. As idéias eram incrivelmente animadoras, entretanto ver Anahí tão aérea me deixava perdida. Desde que voltamos de N.Y ela estava assim, e por algum motivo desconhecido resolveu não compartilhar, apenas disse que estava de tpm. Eu sei o que aquilo causa nas mulheres, até porque sou uma. Então, apenas resolvi respeitar e dar seu espaço.
- Vou deixar todos os relatórios, para que a senhora analise com calma. – O rapaz falou enquanto ajeitava seu terno.
- Claro, é uma ótima idéia Jared.
- Assim que tiver uma resposta, se caso aprovou ou não. Eu ficaria feliz em saber senhora.
- Não se preocupe, a Srta. Portilla vai cuidar de marcar a próxima reunião para fazermos alguma alteração caso seja necessário.
- Tudo bem, com licença Sra. Savinon.
- Toda.
O rapaz levantou-se e caminhou em direção a saída. Anahi devagar se levantou e me fitou, ajeitou seus pequenos óculos em seu rosto.
- Assim que analisar os relatórios do rapaz me avise, eu o chamo novamente. – Disse paciente.
- Claro.Deseja alguma coisa?
Eu respirei fundo, e me levantei. Caminhei até a bancada de bebidas recebendo um olhar repreensivo de Anahí, que parou no exato momento em que peguei um café. Nos últimos tempos ela estava controlando a quantidade de uísque que eu tomava. De acordo com a mesma aquilo era um exagero. E só me deixaria tomar em ocasiões especiais.
- Prontinho. – Disse com um sorriso, levantando a xícara com o café.
Ela sorriu e se aproximou.
- Só quero cuidar de você. – Disse calmamente.
Depositei a xícara sobre a bancada onde me encostei lentamente. Anahi ficou próxima ao ponto de eu poder envolver sua cintura com meus braços.
- Dulce... – Sussurrou, olhando para porta.
- Relaxa, eu não vou fazer nada demais. Quero apenas ficar um pouco com você.
Eu apertei mais Anahí em um abraço confortável, podendo a sentir respirar fundo e relaxar em meus braços. Ficamos assim por alguns longos minutos, que confesso terem sido maravilhosos.
- O que acha da gente tirar a tarde livre?
Ela me fitou com os olhos semicerrados, e abriu um sorriso.
- Já reparou que temos mil coisas para resolver, meu amor?
- Eu sei, mas Paul é o gerente, apesar de um tanto perdido ele consegue desenrolar por uma tarde.
- Não sei Dulce, tem coisas que só você pode resolver.
- Não é nada que não possa esperar até amanhã, Annie.
Anahí mordeu os lábios, mostrando uma expressão pensativa. Ela estava maravilhosa aquela manhã, o que não era diferente dos outros dias é claro. Hoje ela estava totalmente de preto, o que caia muito bem para ela, confesso. Calça social justa, que destacava perfeitamente bem as curvas sinuosas de seu corpo. Um suéter preto, de gola alta e mangas longas. Seus cabelos estavam soltos e lisos, caindo perfeitamente bem por sua costa.
- Vamos, podemos sair daqui e ir ao Le café comprar algumas coisas e depois ficar em minha casa, sozinhas vendo um filme qualquer.
- Programinha de casal?
- Claro, apesar da loucura de nossas vidas, somos um casal normal não é?
Ela sorriu.
- Claro que somos, meu amor. – falou puxando meu rosto para um beijo calmo.
No começo ela apenas moveu seus lábios macios e delicados sobre os meus, em um carinho inocente. Mas aquilo não durou muito tempo, já que novamente apertei o corpo da morena junto ao meu, e no mesmo instante senti sua pequena mão pousar em minha nuca, onde puxou para aprofundar mais nosso beijo. Eu a senti suspirar quando nossas línguas entraram em contato uma com a outra. Aquele beijo durou alguns bons minutos quando ela se afastou.
- Não podemos abusar, vai que alguém entre. – Sussurrou.
- Eu não me importo. – A puxei novamente, selando meus lábios no dela.
Nos soltamos quando sentimentos alguém pigarrear atrás de nós, fazendo Anahí se assustar.
- O amor é lindo – Mariana falou com um largo sorriso enquanto jogava sua bolsa sobre o sofá.
Soltei uma risada baixa, vendo Anahí ruborizar violentamente.
- Oh, Máh! Que prazer em vê-la aqui. Eu, bom..
- Calma cunhada, não precisa ficar assim.
- É Annie, Mariana já tinha visto o futuro, e me viu com você.
- Exatamente! Sempre soube que Dulce cairia por você.
- Mariana. – Repreendi, o que fez as duas rirem.
- Mesmo assim, você deve pensar que ficamos assim o tempo aqui. Mas não é, Dulce que às vezes esquece que estamos na empresa.
- Eu imagino, minha irmã não é normal quando está perto de você.
Agora foi a vez de Anahí rir, me fazendo encarar Mariana.
- Você já pode parar, eu deixo.
- O que? É verdade maninha. Você fica com cara de idiota perto dela. – Falou, apontando para Anahí que deu de ombros feliz.
- Posso saber o que veio fazer aqui? – Perguntei caminhando até minha mesa.
Mariana soltou uma risada ao perceber a bruta mudança de assunto.
- Eu vou para minha mesa, qualquer coisa me chame Sra. – Anahí falou em tom formal.
- Tudo bem, Annie. – Disse antes dela se retirar.
- Então, eu vim escolher um apartamento para morar, quero voltar para Miami.
Franzi o cenho na direção de minha irmã que me olhava calmamente.
- Você está bem? Desde quando quis morar aqui?
- Desde sempre, você sabe que eu moro em L.A por causa dos nossos pais, mas agora quero morar aqui.
- E eles deixaram?
- Sou de maior, Savinon.
- Oh, ok! – Disse levantando os braços em sinal de rendição. – E o que quer de mim?
- Quero que você me leve para ver um bom apartamento no litoral. Hoje.
- Justamente hoje?
- Sim, eu sei que você não tem nenhuma reunião. Perguntei a Anahi ontem.
- Você pare de ficar de complô com a Anahí.
Ela soltou uma risada nasal, e se sentou a minha frente.
- Ela é minha cunhada, e me adora. Eu tenho esse direito.
- Não, você não tem. – Bufei. – Posso pedir a Alfredo, ou a Vero que leve você.
- Dulce, eu quero que você me leve. Você sabe que isso é importante para mim. Qual motivo de não querer ir?
- Eu ia sair com Anahí.
Mariana revirou os olhos de forma tediosa.
- Vocês não cansam? Passam o dia todo grudadas.
Soltei uma risada baixa, tomando um gole do meu café.
- Eu não, agora ela, eu não sei.
- Vamos lá Candy, você pode ver Anahí a noite.
Eu suspirei pesado, e assenti. Mariana bateu as mãos animada e se levantou.
- Almoçamos juntas e passamos tarde procurando apartamentos!
A menor nem sequer me deu tempo de responder, quando saiu da sala saltitante.
- Mariana saiu bem alegre. – Ouvi Anahí comentar com largo sorriso ao entrar na sala.
Eu suspirei.
- Ela quer que eu vá com ela ver alguns apartamentos.
- E porque essa cara?
A morena se aproximou, envolvendo meu pescoço com seus braços.
- Vou ter que passar a tarde com ela, e já tínhamos programado ficar juntas. – Disse emburrada.
- Não fique assim Dul, podemos dormir juntas essa noite. O que acha?
- Mesmo?
- Claro, fazemos o que você quiser.
- Eu acho a ideia maravilhosa. Vou te esperar em minha casa.
- Tudo bem, meu amor. Eu vou assim que sair do ensaio na Imperium.
Revirei os olhos ao lembrar que ela ainda dançava naquele lugar. Eu todos os dias me perguntava quando seria o feliz dia que ela sairia de lá.
- Não faça essa cara, já conversamos.
- Não estou fazendo nada. Quando sair de lá, me ligue.
- Deixe comigo.
[...]
Já devia ser o quarto apartamento que olhávamos aquela tarde. E Mariana não se decidia por nenhum. Estávamos agora em uma cobertura, na região litorânea de Miami. O apartamento era muito sofisticado e amplo, aparência bem jovial. Se encaixava perfeitamente bem para o estilo de minha irmã mais nova.
- Não querendo ser chata, mas já sendo. Eu não acredito que não gostou desse.
- Eu ainda estou analisando Dulce. Tudo tem que estar em perfeita harmonia para minha decoração.
- E demora tanto assim?
- Claro! – Bufou irritada. – Eu sei que pra você tanto faz o estilo do apartamento, mas pra mim não. Vou morar sozinha pela primeira vez.
- Não é questão de pra mim tanto faz, eu tenho o meu e ele é de muito bom gosto. – Soltei rapidamente.
- Eu sei, mas temos estilos diferentes. Seu apartamento é sofisticado e luxuoso, você gosta de cores claras e escuras misturadas. Tudo muito moderno e robótico, já eu prefiro coisas mais rusticas e menos exageradas.
Eu sorri, vendo a menor analisar cada cômodo de maneira minuciosa. Mariana sempre foi uma garota independente, nunca precisou de ajuda para nada. Talvez isso seja uma característica de nossa família.
- Então, gostaram desse? – Angel perguntou sorrindo ao entrar no cômodo no qual estávamos.
Tive que arrastar minha melhor amiga pra me acompanhar naquela tarefa árdua.
- Ela ainda esta analisando. – Sussurrei.
Angel arqueou as sobrancelhas e sorriu.
- Acho que esse está ótimo!
- Finalmente! – Levantei as mãos para o alto fazendo as duas rirem.
Depois de Mariana receber todas as papeladas e assinar tudo corretamente. Resolvemos tomar um café aquela tarde para comemorar o novo apartamento de minha irmã. De acordo com ela, teria uma grande festa para inauguração de sua casa nova, no qual chamaria todos para apreciar.
- Pode ser uma ocasião perfeita para anunciar seu namoro com Anahí para nossos pais.
- E eles não já sabem? – Angel perguntou confusa.
- Não oficialmente. – Mariana respondeu.
"Aqui está meninas" – Gerald falou nos servindo com cappuccino e chocolate quente. E algumas porções de croissant.
- Muito obrigada Gerald! – Sorri.
- Desculpe me intrometer no assunto, mas não pude deixar de ouvir que a menina Dulce está namorando. É isso mesmo?
- Isso é o fim do mundo, não é Gerald? – Vero falou animada, repousando a mão sobre o braço do senhor ao nosso lado.
Soltamos uma risada baixa, e eu neguei mentalmente.
- Só estou um pouco surpreso. Você sempre tão fechada filha. Posso saber quem é?
- Fechada é o que ela não é mais, não perto de Anahí. – Mariana falou , tirando uma risada de Angel e um olhar repreensivo meu.
- Anahí? Oh! Anahi Portilla, a Srta. que lhe acompanhou da ultima vez, não é?
- Sim, essa mesmo Gerald.
- Sempre soube que ela seria sua companheira, desde o primeiro dia que as vi juntas.
Fitei o senhor que me encarava com uma expressão serena.
- Quando foi isso? – Angel perguntou.
- Já faz um tempinho, eu as vi aqui comendo croissant e tomando chocolate quente.
- Há Gerald, nós nem nos conhecíamos direito naquela época.
- Mesmo assim filha, eu já sou um bom velho, sei reconhecer o brilho nos olhos de alguém. E vi esse brilho nos olhos de ambas.
- Ai Deus, isso é tão bonito! – Mariana sussurrou sentimental.
- Céus, não me venha com amor Gerald!
Soltamos uma risada ao ouvir Angel falar.
- Angel é traumatizada. – Falei rindo.
- Deveria abrir os olhos Angelique, seu amor estar bem perto de você agora.
- Tio, você sabe quem é o meu amor. E ela não está mais aqui em Miami.
- Tem certeza? – O Senhor perguntou.
Ficamos em silencio, até Gerald sorrir enquanto limpava as mãos no pequeno pano que estava sobre seu ombro.
- Aproveitem o café meninas, e não percam a oportunidade que a vida nos dá. – Falou antes de se retirar.
Angel me olhou confusa, e tomou um grande gole de seu cappuccino.
- O que ele quis dizer com isso? Eu fiquei um pouco assustada.
- Calma, apenas abra os olhos.
- Será que Lucy voltou? – Mariana sussurrou, fazendo Angel automaticamente se engasgar com o liquido quente.
- Oh Jesus! – Exclamei ajudando a mesma.
- Não fala isso nem brincando! – Disse de olhos arregalados.
- O que? Isso seria bom!
- Vamos mudar de assunto ok? Lucy está no passado.
- Vamos fingir que acreditamos nisso. – Mariana falou me tirando um risinho baixo.
Ficamos cerca de uma hora no Le café, apenas conversando e dando boas risadas. Era bom ter aqueles momentos no meio conturbado de minha vida. Pagamos a conta e trocamos alguns abraços com Gerald que sempre nos tratava perfeitamente bem, ele era como um familiar próximo, uma espécie de tio ou avô conselheiro. Sempre tinha as palavras certas para todos os momentos. Saímos da cafeteria entre boas risadas quando esbarramos com Alfredo.
- Opa meninas! Saindo agora que chegamos? – O rapaz falou sorrindo, segurando tranquilamente nas mãos de Melany.
- Ficamos um bom tempo aqui. Olá Srta. Castro.
- Olá Sra. Savinon – Falou educadamente.
- Grudou em Melany que não quis mais desgrudar hein Alfredo.
Angel sempre intimida demais, pensei. Melany soltou uma risada, e abraçou o moreno com um sorriso feliz. Eles faziam um belo casal.
- Fazem um belo casal, não acha Angel? – Mariana falou como quem lesse meus pensamentos.
- Fazem sim!
- Obrigada meninas! Sabe não é? Tive sorte.
- Graças a mim que a apresentei a você. – Soltei de forma descontraída.
- Obrigada por isso. Tem certeza que não querem sentar com a gente?
- Eu tenho. Eu só queria falar um instante com você Srta. Castro.
Melany assentiu e caminhou ao meu lado, nos deixando um pouco mais distante dos outros.
- Algum problema Sra. Savinon?
Eu respirei fundo, e encarei a morena a minha frente.
- Eu não sei bem, queria saber de você. – Disse, deixando um semblante confuso na mulher.
- Eu não entendi Sra.
- Melany, eu vou ser bem direta. Espero que não me leve a mal.
Ela ficou parada, apenas esperando meu pronunciamento. Olhei para trás vendo Alfredo junto das meninas em uma boa risada, e depois encarei Melany novamente.
- Você sabe que eu amo sua amiga, não é?
- Sim, acho que você deu muitas provas disso.
- Então, justamente por isso. Eu a conheço muito bem, e sei que ela está com algum problema. Anahí está distante demais, ultimamente anda perdida e distraída. Eu sei que você é amiga dela, mas preciso que me ajude.
- Com o que posso lhe ajudar?
- Me contanto se sabe de alguma coisa. Bom, ela não me conta, diz que está apenas com a cabeça cheia. Mas eu preciso saber, para poder ajuda-la.
Ela suspirou e me fitou calmamente.
- Dulce, se é que me permite lhe chamar assim. Anahí é uma pessoa bem reservada, apesar do sorriso aberto e jeito meigo. Eu notei sim que ela está distante, que tem algo acontecendo. Mas eu não sei de nada ainda. Já tentei perguntar e recebi as mesmas respostas que você.
- Sei que são melhores amigas Melany, mas não minta pra mim. – Falei calmamente.
- Não estou, juro que estou falando a verdade. E mesmo que soubesse Dulce, eu não posso dividir algo que ela confidenciou a mim. Dividiria se fosse um caso de vida ou morte, é claro. Mas veja, a relação de vocês está se fortificando, e eu vejo em Anahí o quanto ela está confiando em você. Tenha paciência com ela.
- Não consigo ter paciência sabendo que está acontecendo algo.
- Eu já percebi. Mas seja lá o que estiver acontecendo, você precisar esperar ela contar. Mesmo que seja algo bobo.
- O pior de tudo é que eu não faço ideia do que seja.
- Muito menos eu, mas vou tentar conversar com ela.
- Faça isso.
A morena assentiu e sorriu.
- Vamos, Melany? – Alfredo gritou ao fundo.
Eu respirei fundo.
- Obrigada de qualquer maneira.
- Não tem que agradecer, estou aqui para ajudar.
Ter algo oculto de meus conhecimentos me deixava em pura agonia. Era como se algo estivesse fora de meu controle, fora do meu campo de visão. E para mim, controladora e possessiva aquilo era o fim. Mas por algum motivo, por Anahí eu me controlava meus instintos, de uma maneira que eu jamais esperei conseguir. Talvez ela fosse a única peça que desmontaria a muralha que eu demorei tanto tempo para construir.
Anahi POV
Eu fechei os olhos deixando que as batidas lentas e sensuais guiassem meu corpo. Era incrível como a musica tomava conta de mim, uma espécie de hipnose que me domava de uma maneira indescritível. Naquelas situações eu me sentia totalmente forte e poderosa, como se o poder de sedução me cegasse os olhos. Ali, eu era somente Giovanna Puente, uma stripper que tinha como objetivo deixar todos caídos aos seus pés.
- Isso querida, incline mais a coluna para trás. – O coreografo falou calmamente, pousando uma das mãos sobre o meio de minha costa.
Eu obedeci sua ordem, prosseguindo com a dança. Era apenas um ensaio, aquela semana eu teria apenas um show. Taylor queria impressionar alguns empresários importantes que fariam uma despedida de solteiro no sábado. E de acordo com ela, teria que apresentar o melhor. Confesso que assim que cheguei não estava com o menor animo para tudo aquilo, ultimamente minha cabeça estava totalmente revirada com ideias que eu jamais esperava ter. Tudo parecia ilógico, mas no fundo algo me dizia que era real.
- Você sempre maravilhosa. – O rapaz loiro falou sorrindo para mim.
Eu continuei minha dança no pole dance, movendo meu corpo da maneira mais sensual que poderia fazer. Modéstia parte aquilo já era fácil para mim, que praticava há tantos anos. Mas tudo se tornava ainda mais fácil quando nós tínhamos um alvo, ou seja, um cliente. E para mim, em todos esses anos, apenas uma pessoa me fez explorar todo o meu poder de sedução. E essa pessoa era ninguém menos que Dulce María.
Eu sorri involuntariamente quando a dona daquele par de olhos verdes invadiu meu pensamento sorrateiramente. Era incrível nossa conexão, nossos olhares e o poder que nos atraia uma para outra. Eu sempre me entregava mais quando dançava para ela, eu sempre seduzia mais quando tinha seus olhos carregados de cobiça sobre mim. Talvez Dulce fosse o botão de acesso ao meu lado mais perverso e selvagem.
"Em passos lentos e perfeitamente calculados caminhei até o centro do palco, parando um pouco a frente do bastão de poli dance. Dando-me conta dos olhares perdidos em luxuria sobre mim. Eu sorri de canto, e caminhei ao redor do ferro, enquanto desabotoava o sobretudo preto que estava usando. Eu deixei que meus olhos corressem por todos na platéia em procura dela. Dei a ultima volta ao redor do bastão de ferro e parei de frente para todos, quando automaticamente meus olhos pararam sobre ela. Dulce estava lá, sentada bem no meio com um sorriso cafajeste nos lábios, assim que a mesma percebeu que eu a fitava, levantou o copo de uísque e piscou.
Mordi os lábios e sorri, tirando devagar o sobretudo para que todos, ou melhor, ela pudesse aproveitar cada pedacinho do que iria ver. Eu movia meu corpo devagar de um lado para o outro de acordo com o ritmo que a musicava ditava. E quando o mesmo foi completamente ao chão à euforia começou. Os homens da primeira fila soltaram palavras de cobiça e desejo. Mas eu nem sequer escutava, eu estava concentrada demais em Dulce, que me assistia como a primeira vez.
Eu virei de costa para ela, levando a mão no pequeno objeto que prendia meus cabelos, e o puxei soltando as madeixas onduladas por minha costa. Eu sabia o quanto ela amava meus cabelos daquela maneira, desgrenhados e selvagens. Virei o rosto de perfil para ter uma visão parcial de Dulce que tinha os olhos concentrados em mim, enquanto tomava mais um gole da bebida. Eu sorri e comecei a rebolar de forma puramente sensual, remexendo meus quadris devagar enquanto meu corpo descia até o chão.
Continuei, subi com meu corpo que roçou sobre o ferro no qual me segurava. Naquele instante eu iniciei a parte de minha coreografia que envolvia o pole dance, e confesso que amava essa parte. Meu corpo tinha a enorme facilidade de se mover ali, com as duas mãos segurei na barra de inox e suspendi meu corpo do chão, entrelaçando as pernas para deixar que meu tronco se soltasse. Estiquei um dos braços devagar, e arqueei a cabeça para trás, recebendo sobre mim cédulas e mais cédulas de dinheiro. Aquilo literalmente era uma chuva de poder. Movi meu corpo, lançando minhas pernas para o alto do bastão de inox, deixando que meu corpo ficasse de cabeça para baixo. Lentamente desci até o chão, caminhando em volta do palco com os olhos sobre ela.
As castanhas brilhantes se mantinham conectadas em mim, sua expressão de desejo me movia a instigar mais. Eu segurei na barra de inox e rebolei, mas rebolei da maneira mais provocante que poderia, fazendo-me ouvir os gritos das pessoas na platéia.
E logo em seguida caminhei para o centro do palco, pegando o bolo de dinheiro no qual joguei para o alto. Vendo as cédulas se espelharem no ar e descerem lentamente sobre mim. Coloquei os olhos no homem que ficou pasmo e depois em Dulce que soltou uma risada atraente, pisquei para ela e joguei um beijo. A musica já estava quase no fim, continuei a coreografia acompanhando as ultimas batidas, rebolando em direção a minha mulher que estava visivelmente adorando tudo aquilo, quando nos últimos segundos eu levantei e fitei todos ali presentes e atrás de Dulce, um pouco mais ao fundo eu a vi."
- Você sempre é maravilhosa! – Ouvi uma voz familiar, me tirar abruptamente de meus pensamentos.
Parei a coreografia e abri os olhos em direção à pessoa que me encarava. Oh, não.
- O que faz aqui? – Perguntei totalmente na defensiva.
- Isso é jeito de tratar uma cliente Giovanna? Boa Noite pra você também – Keana perguntou com um sorriso largo.
Eu neguei com a cabeça ajeitando minha mascara. Apertando no pequeno botão que desligava a musica.
- Não é permitido a entrada de clientes nos ensaios.
Pude ouvir uma risada nasal enquanto a mulher se aproximava de mim lentamente. Fazendo com o que o barulho de seus saltos ecoassem no vácuo que a musica deixou.
- Clientes normais Srta. Puente. Faixa essa que não me encaixo.
Isso não podia estar acontecendo. Como se o mundo já não estivesse contra mim, ainda aparecia isso. Meu Deus, o que eu havia feito de mal? Respirei fundo, procurando controlar minha mente e afastar o nervosismo que me consumia.
- Escute aqui Keana, eu estou sendo muito educada com você. Mas já deixei claro que não quero nenhum tipo de contato.
- Comigo? Ou com todos?
- Com todos.
- Dulce não se encaixa nesse todos não é?
Eu respirei fundo, olhando para todos os lados. Estávamos sozinhas ali o que me deixava mais tranquila. Eu não queria ninguém espalhando o maldito boato pela casa noturna, eu tinha medo que chegasse nos ouvidos de quem eu mais me preocupava, Dulce.
- Droga, o que você quer de mim? Já disse na ultima vez que não atendo clientes daqui. Eu não faço esse tipo de trabalho.
Ela soltou uma risada e negou com a cabeça.
- Você sabe muito bem o que eu quero. Pare de fugir, não seja idiota.
- Eu não estou fugindo.
- Oh querida, você está sim. Você e eu sabemos que está. – Keana sussurrou calmamente se aproximando de mim.
- Mas sabe que não precisa disso. – Continuou.
Ficamos perto uma da outra, e ela com delicadeza colocou uma mecha de meu cabelo para trás. Eu estava suada devido aos exercícios e a dança, minha respiração estava ofegante em decorrência do nervosismo evidente.
- Eu não quero problemas para mim, então me deixe em paz.
- Problemas? Que problemas que posso lhe causar?
Eu bufei irritada, e me afastei.
- Os piores! – Exclamei.
- Dulce é tão possessiva assim?
- Sim, ela é. E não vou faltar com respeito com ela.
- Não seja ingênua. Olhe para mim, acha que quero fazer mal a você? – Seu sorriso desafiador me dava medo. – Só quero seu bem, Anniezinha.
Eu senti meu coração fraquejar por longos segundos ao ouvir aquele nome em sua boca. Oh Deus, aquilo não podia ficar pior.
Taylor POV
Beatrice sentou em meu colo, segurando em meus cabelos com força para prolongar nosso beijo. Eu apertava seu corpo contra o meu com certa força, fazendo ela roçar em mim. Aquela mulher estava virando minha cabeça, eu estava totalmente perdida.
- Taylor! – Kellen gritou ao entrar em minha sala.
Eu levantei da poltrona rapidamente deixando Beatrice de lado, lançando um olhar quase mortal a garota que me encarava feliz.
- O que diabos pensa que está fazendo ao entrar assim em minha sala?! – Exclamei irritada.
Beatrice sorriu e deu de ombros enquanto ajeitava suas roupas.
- Me desculpe, eu não queria interromper!
- Cala essa boca, e fale de uma vez! – Beatrice falou irritada, levantando em direção ao barzinho que havia em minha sala.
- Vocês não vão acreditar! – Falou animada.
- No que criatura?!
- Keana está aqui!
Aquele nome fez um estalo de animação dentro de mim, como se fosse a melhor noticia de meu dia.
- Onde? Tem certeza?
- Sim! Está no palco secundário, com Giovanna.
No mesmo instante lancei um olhar para Beatrice que sorriu animada. Nós estávamos na mesma frequência de pensamentos.
- Tem alguém com elas?
- Não, estão sozinhas. E pelo visto estão bem próximas.
- Oh Deus, você está brincando?!
- Tem certeza que é Giovanna? – Beatrice perguntou.
- Sim eu tenho certa, e não estou brincando!
- Se você estiver mentindo, eu arranco seus cabelos!
- Claro que não! Venha veja! Pelo visto Giovanna não é tão santinha assim.
Eu sorri e caminhei em direção à porta, percebendo Beatrice se movimentar rapidamente em minha direção.
- Você fica! Não podemos correr o risco de Giovanna ver você comigo.
- Eu preciso ver isso, preciso ver que aquela vagabunda não vale nada.
- Beatrice, se controle. Nós vamos ter tempo para comemorar isso.
A mulher assentiu e pediu que eu não demorasse. Caminhei em passos cuidadosos e quase perfeitamente silenciosos pelos corredores escuros da Imperium. O movimento era fraco, quase nulo se não fosse por alguns funcionários da limpeza caminhando de um lado para o outro.
- Veja, ali no fundo.
Estreitei os olhos devagar quando as vi. E realmente não poderia ser melhor. Keana estava sentada em uma das poltronas enquanto Giovanna estava a sua frente encostada em uma das mesas. As duas pareciam ter uma conversa longa, o que me rendia bons pensamentos.
- Isso é maravilhoso! – Sussurrei.
A empresaria olhou para os lados, e depois em minha direção, fazendo-me recuar um pouco. Por sorte consegui me esconder antes que ela ou Giovanna me visse.
- Droga, tome cuidado Kellen! Elas não podem nos ver.
A mulher assentiu e se encolheu atrás da enorme pilastra que ali havia. Fiquei alguns segundos a observando quando Keana Marie se levantou e se aproximou de Giovanna, fazendo um leve carinho em seu braço no qual foi rapidamente interrompido pela stripper.
- Burra! – Exclamei baixinho.
Keana parecia concentrada, fitava Giovanna de forma intensa e a mesma a encarava de forma recuada.
- Essa Keana é maravilhosa. – Kellen sussurrou.
- Sim, mas tire os olhos. Ela foi escolhida para nossa Stripper.
Kellen bufou irritada e se afastou. Eu sorri divertida e olhei novamente para as duas, e agora Keana fazia um carinho leve no rosto de Giovanna que não recuou. E por um instante eu tive a certeza, que agora ninguém poderia ir contra meus planos. Tudo iria dar certo. Graças a Keana.
Voltei a minha sala, vendo Beatrice sentada em minha poltrona com os dois pés sobre a mesa de vidro. Degustando de um copo do meu mais caro uísque.
- Como foi lá?
Eu sorri e me aproximei da mulher, roubando um beijo de seus lábios que tinham gosto de bebida alcoólica e cereja.
- Giovanna está caindo na rede.
- Perfeito! – Beatrice exclamou levantando-se da cadeira.
- Admito que subestimei Keana. Não sabia que ela era capaz de fazer Giovanna mudar de lado tão rápido. – Falei pegando o copo de uísque sobre a mesa, tomando um gole do liquido que desceu esquentando todo meu interior.
- Keana Marie é uma mulher maravilhosa, atraente e muito poderosa. Não tem quem não resista a seu charme. – Beatrice falou calmamente caminhando para próximo de mim.
- Nem você? – Perguntei incomodada, puxando a mulher para mais próximo de mim.
Ela soltou um sorriso diabólico, e provocante.
- Isso eu não posso confirmar.
- Você que não se atreva Miller.
Segurei firme em sua nuca, puxando seu rosto para um beijo forte. Sentindo a língua dela entrar em minha boca com agressividade perfeita, movendo-se em sincronia com a minha. Quando ouvimos fortes batidas em minha porta, fazendo nos afastar.
" Taylor?"
" Eu quero falar com você!"
Ouvi a voz de Giovanna do outro lado, Beatrice no mesmo instante arregalou os olhos em minha direção.
- Porra, Porra! – Sussurrei agoniada.
- O que eu faço? – perguntou nervosa.
- Se esconda! Vai, para o banheiro. Só saia de lá quando eu mandar.
Ela assentiu rapidamente e correu em direção ao banheiro. Olhei em volta, percebendo que sua bolsa ainda estava sobre a bancada ao lado. Peguei o objeto e entreguei para a mulher que se escondia no outro cômodo.
- Não faça barulho. – Sussurrei para a mulher que apenas assentiu.
"Taylor?!" – Giovanna gritou.
- Eu já vou! – Gritei caminhando em direção à porta.
Eu respirei fundo, levando a mão até a maçaneta no qual virei abrindo a porta.
- O que houve? Que desespero é esse?
Perguntei, vendo ela entrar em minha sala um pouco nervosa.
- Giovanna?
Ela virou de frente para mim, respirou fundo.
- Eu preciso te dizer algo muito importante.
Confesso que sua expressão me deixava com certo medo. Será que ela havia descoberto tudo? Meu Deus, aquilo nem em sonhos. Se ela realmente soubesse o que estava acontecendo, todo meu plano iria por agua a baixo. E todos meus projetos para o fundo do poço.
- Primeiro se acalme Giovanna, você me parece nervosa.
Falei tentando me aproximar, mas ela se afastou rapidamente.
- Não quero me acalmar, eu estou bem! Só preciso falar.
- Pode dizer querida, você sabe que pode me contar qualquer coisa. – Falei tentando passar total confiança a menina.
Ela engoliu em seco e me encarou, com os olhos misteriosos e confusos.
- Eu quero sair da Imperium, Taylor. Não quero mais ser stripper.