Fanfics Brasil - 2. The Duff - Adaptada Vondy (Finalizada)

Fanfic: The Duff - Adaptada Vondy (Finalizada) | Tema: Vondy


Capítulo: 2.

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Capítulo 2


Não há nada mais tranquilizador do que a paz de um sábado à noite — ou uma madrugada do domingo. Os roncos abafados de papai ecoavam pelo corredor, mas o resto da casa parecia bem quieto quando entrei rastejando, alguma hora depois da uma da manhã. Ou talvez eu tivesse ficado surda com o volume da música na festa de Oak Hill. Sinceramente, a ideia de perder a audição não me incomodava muito. Se isso significasse que nunca mais ouviria techno de novo, tudo bem por mim.


Tranquei a porta atrás de mim e atravessei a sala escura e vazia. Vi o cartão-postal sobre a mesa de centro, enviado sabe-se lá de qual cidade mamãe estava agora, mas nem me dei ao trabalho de lê-lo. Ele ainda estaria ali pela manhã, e eu estava morta de cansaço, então me arrastei escada acima até o meu quarto.


Reprimindo um bocejo, pendurei o casaco nas costas da minha cadeira e me joguei na cama. A enxaqueca começou a incomodar menos quando tirei meu All Star e chutei-o para o outro lado do quarto. Eu estava completamente exausta, mas meu TOC gritava meu nome. A pilha de roupas limpas no chão, junto ao pé da cama, precisava ser dobrada antes que eu pudesse finalmente dormir.


Com cuidado, peguei cada peça de roupa e a dobrei com uma precisão embaraçosa. Em seguida, fiz pilhas separadas para camisas, jeans e roupa íntima. Por algum motivo, o ato de dobrar a roupa amassada me acalmava. Enquanto fazia aquelas pilhas perfeitas, minha mente ficou mais clara, meu corpo relaxou, e a irritação que eu sentia, depois de uma noite de música alta,repleta de babacas ricos que só pensavam em sexo, diminuiu. A cada peça dobrada em sua pilha, eu ia renascendo.


Depois que terminei de dobrar tudo, me levantei deixando as pilhas separadas no chão. Tirei o suéter e o jeans, que fediam a uma noitada sufocante, e os joguei no cesto de roupas sujas no canto do meu quarto. O banho podia esperar até amanhã de manhã. Estava muito cansada para enfrentar o chuveiro.


Antes de me enfiar debaixo dos lençóis, dei uma boa espiada no espelho de corpo inteiro na parede do quarto. Examinei meu reflexo com novos olhos, sob um novo ponto de vista. Cabelo castanho-avermelhado incontrolavelmente cacheado. Nariz comprido. Coxas grandes. Peitos pequenos. Sim. Definitivamente um corpo de Duff. Como eu não tinha notado?


Quer dizer, nunca me achei particularmente atraente, e não era difícil notar que Maite e Anahí, loiras e magras, eram belíssimas, mas mesmo assim... ser meu o papel da amiga feia daquela dupla de garotas incríveis nunca tinha passado pela minha cabeça. Graças a Christopher Uckermann, agora eu podia encarar essa realidade.


Às vezes, a ignorância é uma bênção.


Puxei o cobertor até a altura do queixo, escondendo meu corpo nu da análise do espelho. Christopher era a prova viva de que a beleza é uma característica superficial, então por que suas palavras me afetaram tanto? Eu era inteligente. Era uma pessoa bacana. Então, por que me importar se alguém me considerava uma Duff? Se fosse atraente, eu teria de aguentar sujeitos como Christopher dando em cima de mim. Credo! Por esse lado, ser uma Duff tinha lá suas vantagens, não tinha? Ser pouco atraente não era assim tão horroroso.


Maldito Christopher Uckermann! Não conseguia aceitar que ele tinha feito com que eu me preocupasse com uma coisa idiota, sem sentido e fútil.


Fechei os olhos. Não pensaria nisso amanhã. Não pensaria nessa palhaçada de Duff nunca mais.


O domingo foi fantástico: agradável, tranquilo, uma delícia do começo ao fim. Óbvio, as coisas costumavam ser bem calmas quando a minha mãe não estava em casa. Quando ela estava, o lugar era mais barulhento. Sempre tinha música ou risadas ou alguma bagunça acontecendo. Mas parecia que ela ficava em casa pouco mais de alguns meses seguidos e, no momento em que saía, o silêncio retornava. Como eu, meu pai não era lá uma pessoa muito sociável. Ele costumava ficar enfiado no trabalho ou assistindo à televisão. E isso significava que a casa da família Saviñón era bem silenciosa.


E, na manhã seguinte a uma noitada barulhenta e infernal, uma casa tranquila era o mais próximo que eu poderia chegar do céu.


Mas a segunda-feira foi uma droga.


Todas as segundas-feiras são uma droga, claro, mas aquela segunda-feira realmente foi horrenda. Começou logo cedo, quando Anahí apareceu na aula de espanhol com o rosto marcado por lágrimas e máscara para cílios.


— Anahí, o que foi? — perguntei. — O que aconteceu? Está tudo bem?


Eu admito; sempre fiquei maluca nas poucas vezes em que Anahí chegava à sala de aula parecendo estar menos do que incrivelmente feliz. Quero dizer, Anahí estava sempre saltitante, sempre dando risadinhas. Por isso, quando ela chegou com um ar tão deprimido, fiquei apavorada.


Anahí sacudiu a cabeça tristemente e desabou em sua carteira.


— Tudo bem, mas eu... eu não posso ir ao Baile de Boas-Vindas! — Mais lágrimas brotaram em seus grandes olhos cor de chocolate. — Minha mãe me proibiu!


Era isso? Ela me deu esse susto por causa daquela bobagem de Baile de Boas-Vindas?


— Por que sua mãe proibiu? — perguntei, ainda na tentativa de ser simpática.


— Estou de castigo. — Anahí deu uma fungadela. — Ela viu meu boletim no meu quarto hoje cedo, descobriu que fui reprovada em química e teve um ataque! É muito, muito injusto! O Baile de Boas-Vindas da equipe de basquete é, tipo, meu baile favorito do ano... depois do Baile de Formatura e do Baile de Boas-Vindas Sadie Hawkins, em que as meninas tiram os meninos pra dançar… Ah, e do Baile de Boas-Vindas da equipe de futebol.


Baixei o rosto e olhei para ela fazendo graça.


— Uau, você tem quantos bailes favoritos?


Anahí não respondeu. 


Nem riu.


— Sinto muito, Anahí. Sei que deve ser terrível pra você... Mas eu também não vou. — Não mencionei que considerava bailes escolares um processo degradante, ou que eram um desperdício enorme de tempo e dinheiro. Anahí já conhecia minha opinião sobre o assunto, e não achei que falar de novo sobre isso faria com que ela se sentisse melhor. Mas eu estava bem feliz em saber que não seria a única garota a perder a festa.


— E se fizéssemos assim: vou pra sua casa e assistimos filmes a noite toda. Você acha que sua mãe deixaria?


Anahí concordou e enxugou os olhos com a manga da blusa.


— Sim — disse ela. — Minha mãe gosta de você. Acha que você é uma boa influência pra mim. Ela vai deixar. Obrigada, Dulce. Podemos assistir a Desejo e reparação outra vez? Ou já está cansada desse filme?


Sim, eu estava muito cansada dos romances bobocas pelos quais a Anahí desmaiava, mas podia aguentar. 


Sorri para ela.


— Nunca me canso do James McAvoy. Podemos assistir a Amor e inocência se você quiser. Faremos uma sessão dupla.


Ela sorriu — até que enfim — no mesmo instante em que a professora foi para a frente da sala e começou a ordenar obsessivamente os lápis sobre a mesa, antes de fazer a chamada. Anahí deu uma olhada na professora magricela. Quando olhou de volta para mim, novas lágrimas brilharam em seus olhos castanho-escuros.


— Sabe o que é pior, Dulce? — sussurrou. — Eu ia convidar Derrick para ir comigo. Agora, tenho de esperar até o Baile de Formatura pra chamá-lo.


Em respeito ao estado frágil em que Annie se encontrava, decidi não lembrá-la de que Derrick não se interessaria por causa dos peitos dela, digamos assim...os grandes peitos dela. 


Em vez disso, eu disse:


— Eu sei. Sinto muito, Anahí.


Assim que aquela pequena crise foi superada, a aula de espanhol correu tranquila. As lágrimas da Anahí secaram, e quando o sinal tocou ela estava rindo feito uma boba enquanto Angela, uma de nossas amigas, contava sobre seu novo namorado. Descobri que tinha conseguido um  A na minha última prueba de vocabulario. Além disso, entendi como conjugar verbos regulares no presente do subjuntivo. Realmente estava de muito bom humor quando Anahí, Angela e eu deixamos a sala de aula.


— E ele trabalha no campus — tagarelava Angela enquanto abríamos caminho para atravessar o corredor lotado.


— Onde ele estuda? — perguntei.


— Na Faculdade Comunitária de Oak Hill. — Ela pareceu um pouco envergonhada e, no mesmo instante, acrescentou: — Ele vai tirar um diploma lá, antes de ir pra alguma universidade. E a FCOH não é uma faculdade ruim nem nada disso.


— Eu também vou estudar lá — disse Anahí. — Não quero me mudar pra muito longe de casa.


Anahí e eu éramos o oposto uma da outra, e isso às vezes era meio engraçado. Você sempre poderia saber o que uma de nós ia fazer escolhendo o contrário do que a outra tinha feito. Eu queria era dar o fora da Hamilton o mais rápido possível. Terminada a formatura, no instante seguinte eu iria a Nova York para cursar a universidade.


Mas a ideia de viver tão longe de Anahí — não vê-la saltitante por aí todos os dias nem ouvi-la matraqueando sobre bailes e meninos gays — subitamente me assustou. Eu não sabia muito bem como lidar com isso. Anahí e Maite eram uma espécie de ponto de equilíbrio para mim. Não tinha certeza de que encontraria mais alguém disposto a aturar o meu cinismo quando fosse embora da cidade.


— Precisamos ir pra aula de química, Annie — disse Angela, enquanto soprava sua franja comprida e escura para longe dos olhos. — Você sabe como o sr. Rollins fica quando a gente se atrasa.


Elas dispararam na direção do departamento de ciência, e eu desci o corredor para a aula de organização política avançada. Minha mente divagava por outros lugares, por um futuro sem minhas melhores amigas para me manter nos eixos. Nunca tinha pensado nisso, e, agora que pensava, a ideia toda me deixava muito nervosa. Sabia que elas ririam de mim por isso, mas eu teria de encontrar uma forma de me manter em contato com elas o tempo todo.


Acho que meus olhos se desligaram do meu cérebro, porque quando voltei a mim, estava esbarrando em Christopher Uckermann.


Meu bom humor acabou ali.


Cambaleei, e todos os meus livros e cadernos acabaram no chão. Christopher me segurou pelos ombros, suas mãos grandes me contiveram antes que eu tivesse a chance de tropeçar em meus próprios pés e seguir meu material.


— Ei, cuidado — disse ele, mantendo-me de pé.


Nós estávamos muito perto um do outro. Tive a sensação de que insetos rastejavam sob minha pele, espalhando-se por onde as mãos dele me tocavam. Estremeci de desgosto, mas ele interpretou mal minha reação.


— Ei, Duff, calma aí — disse ele, baixando o rosto para me encarar com um sorriso arrogante. Christopher era mesmo muito alto; tinha me esquecido disso, naquela noite sentada ao lado dele no Nest. Ele era um dos únicos garotos da nossa escola mais alto do que Maite — tinha pelo menos 1,88 metro, trinta centímetros a mais do que eu. — Deixo você de pernas bambas, é isso?


— Até parece. — Eu me espremi para longe dele, sabendo muito bem que tinha falado como Alicia Silverstone em As patricinhas de Beverly Hills, mas não me importei com isso. De joelhos no chão, comecei a juntar meus livros, e para meu imenso desprazer Christopher fez a mesma coisa. Ele estava fazendo seu papel de cara bacana, claro. Aposto que esperava que alguma líder de torcida bem linda, como Maite, passasse por ali bem naquele momento e pensasse que ele estava sendo um cavalheiro. Que nojento. Sempre tentando se dar bem.


— Espanhol, é? — perguntou ele, lendo meus papéis enquanto os juntava. — Você consegue falar alguma coisa legal?


El tono de tu voz hace que quiera estrangularme. — Eu me levantei e esperei que Christopher me desse os papéis que tinha recolhido.


— Isso parece bem sexy — disse ele, levantando-se e me entregando a pilha de deveres de espanhol que tinha juntado. — O que você acabou de dizer?


O tom da sua voz faz com que eu queira me estrangular.


— Hum, que menina malvada.


Sem dizer mais nada, arranquei os papéis de suas mãos, enfiei-os dentro de um dos meus livros e me afastei, saindo em disparada na direção da sala de aula. Precisava manter a maior distância possível entre aquele babaca mulherengo e eu. Duff? Jura? Ora, ele sabia meu nome! O idiota egocêntrico não podia simplesmente me deixar em paz. Sem mencionar que minha pele ainda formigava nos pontos onde ele tinha me tocado.


A turma de organização política avançada do sr. Chaucer tinha apenas nove alunos, e sete deles já estavam na classe no momento em que entrei pela porta. O professor me olhou feio através dos olhos semicerrados, para deixar claro que o sinal soaria a qualquer momento. Estar atrasado era um delito grave na opinião do sr. Chaucer, e estar quase atrasado também era, ainda que menor. Mas não fui a última a aparecer, o que ajudou um pouco.


Ocupei meu lugar no fundo da sala e abri o caderno, pedindo a Deus que o sr. Chaucer não me desse uma bronca enorme pelo meu quase atraso. Do jeito que estava nervosa, eram grandes as chances de que eu o xingasse. Mas ele não gritou comigo, o que poupou um bocado de drama.


O último aluno da turma entrou exatamente no mesmo instante em que o sinal soou.


— Desculpe, sr. Chaucer. Eu estava pregando os cartazes da cerimônia de inauguração da próxima semana. O senhor ainda não começou a aula, começou?


Meu coração pulou quando ergui os olhos e vi o garoto que tinha acabado de entrar.


Tudo bem, não é segredo algum que odeio os adolescentes que namoram no ensino médio e vivem em estado delirante, falando sem parar sobre o quanto amam seus namorados ou suas namoradas. Admito honestamente que odeio as garotas que dizem que amam alguém antes mesmo do primeiro encontro. Não escondo minha opinião: o amor leva anos — cinco ou dez, no mínimo — para se desenvolver, e, para mim, relacionamentos do ensino médio são totalmente idiotas. Todo mundo sabia que eu pensava assim... Mas o que ninguém sabia é que eu era quase uma hipócrita.


Bom, tudo bem, Maite e Anahí sabiam, mas elas não contavam.


Pablo Lyle. 


Se deixássemos de lado a trágica aliteração, Pablo era perfeito em todos os sentidos. Não era um jogador de futebol imerso em testosterona. Não era um hippie-meigo-tocador-de-violão. Não escrevia poesia, nem usava lápis de olho. Claramente Pablo não poderia ser considerado uma beleza, mas isso ra uma vantagem para mim, certo? Os esportistas, membros de bandas e garotos emo não olhavam duas vezes — como Christopher tinha afirmado com tanta gentileza — para uma Duff. Era mais provável que eu tivesse uma chance com caras inteligentes, politicamente ativos e, como o Pablo, de algum modo socialmente inadequados. Certo?


Errado, errado, errado.


Pablo Lyle era o cara perfeito para mim. Infelizmente, ele desconhecia esse fato. Isso se devia, em grande parte, à minha incapacidade em formar frases coerentes cada vez que ele se aproximava. Eram grandes as chances de Pablo acreditar que eu era muda ou alguma coisa do tipo. Ele jamais me olhou ou falou comigo, nem sequer pareceu reconhecer minha existência no fundo da sala de aula. Para uma garota com uma bunda tão grande, eu me sentia completamente invisível.


Mas eu percebi a presença de Pablo. Notei seu antiquado, mas encantador, cabelo loiro cortado no estilo tigela e sua pele pálida, cor de marfim. Notei seus olhos verdes escondidos sob as lentes de óculos ovais. Notei que ele usava um casaco que combinava com tudo, e notei a forma comovente como mordia o lábio inferior enquanto pensava muito em alguma coisa. Eu estava... bem, não apaixonada, mas certamente gostando dele. Eu estava gostando bastante de Pablo Lyle.


— Ah, tudo bem... — murmurou o sr. Chaucer. — Trate de ficar de olho no relógio amanhã, sr. Lyle.


— Pode deixar, senhor.


Pablo se sentou na primeira fila, ao lado de Jeanine McPhee. Como uma stalker, prestei atenção na conversa deles, enquanto o sr. Chaucer escrevia os pontos principais da aula no quadro-negro. Não costumo me comportar de forma tão esquisita, mas bem... gostar de alguém leva as pessoas a fazer umas coisas malucas. Pelo menos essa é a desculpa que se ouve por aí.


— Como foi seu fim de semana, Pablo? — perguntou Jeanine, que estava sempre com o nariz entupido. — Algum programa emocionante?


— Foi bom — disse Pablo. — Meu pai levou Nina e eu para fora do estado. Fomos visitar a Universidade Southern Illinois. Foi bem divertido.


— Nina é a sua irmã? — perguntou Jeanine.


— Não. É a minha namorada. Ela estuda na escola Oak Hill. Nunca falei dela? Bom, fomos aceitos lá, então quisemos dar uma olhada. Estou visitando outras universidades, mas estamos juntos há um ano e meio e queremos ir para o mesmo lugar para evitar o problema do namoro a distância.


— Que amor! — exclamou Jeanine. — Eu, na verdade, estou pensando em fazer apenas alguns cursos na FCOH antes de decidir para qual universidade ir.


Minha pele não estava mais formigando, mas agora meu estômago dava cambalhotas idiotas. Pensei que ia vomitar, e precisei lutar contra o impulso de sair correndo da sala de aula com a mão na boca. Por fim, acabei vencendo a batalha para manter o meu café da manhã no lugar devido, mas ainda me sentia péssima.


Pablo tinha uma namorada? Já fazia um ano e meio? Ai meu Deus! Como nunca soube disso? E eles iam para a universidade juntos? Isso significava que ele era um desses românticos estúpidos e cafonas de quem eu vivia zombando? Esperava muito mais de Pablo Lyle. Esperava que ele fosse tão cético quanto eu sobre a natureza do amor adolescente. Esperava que encarasse a universidade como uma decisão muito importante, e não como alguma coisa a ser escolhida de comum acordo com o namorado ou a namorada. Esperava que ele fosse… bem, esperto!


Mas de qualquer forma, ele jamais namoraria com você, sussurrou uma vozinha dentro da minha cabeça, aflitivamente parecida com a voz de Christopher Uckermann. Você é a Duf , lembra? A namorada dele é provavelmente mais magra do que você e tem peitos grandes.


Ainda nem era a hora do almoço, e eu já queria pular de um precipício. Ah, tá, tudo bem, sou meio que chegada a um drama. Mas, definitivamente, queria voltar para casa e ir para a cama. Queria esquecer que Pablo tinha namorada.Queria limpar a sensação das mãos de Christopher em minha pele. Mas queria, mais do que tudo, apagar a palavra Duff da minha mente.


Ah, sim, e as coisas conseguiram piorar nesse dia.


Lá pelas seis da tarde, o cara do telejornal começou a falar de uma tempestade de neve que aconteceria “no começo da manhã”. Acho que o Conselho Escolar teve pena de nós, já que não tínhamos enfrentado nenhum dia de neve até então, porque suspendeu as aulas do dia seguinte antes mesmo de a tempestade chegar. Por isso, Maite me ligou às sete e meia da noite e insistiu para irmos ao Nest, já que não teríamos de levantar cedo no dia seguinte.


— Não sei, não, Maite — falei. — E se as ruas estiverem ruins? — Eu admito. Estava procurando qualquer razão que servisse como desculpa para não ir. Meu dia tinha sido bem ruim até ali. Não sabia se conseguiria suportar mais algumas horas naquele lugar infernal.


— Dul, a tempestade não deve chegar antes de, tipo, três da manhã por aí. Desde que estejamos em casa até essa hora, vai ficar tudo bem.


— Tenho um monte de lição de casa.


— Mas você não precisa entregar nada até quarta-feira. Pode fazer amanhã, pode passar o dia todo fazendo lição se quiser.


Eu dei um suspiro.


— Você e a Anahí não conseguem outra carona? Realmente não estou a fim. Foi um dia péssimo, Maite.


Eu sempre podia contar com Maite se adiantando ao menor sinal de problemas.


— O que houve? — perguntou. — Você está bem? Você não parecia muito bem no almoço. É alguma coisa sobre a sua mãe?


— Maite...


— Conte o que aconteceu.


— Nada — garanti. — Mas hoje o dia foi uma droga, entende? Não aconteceu nada importante ou coisa assim. Só não estou com paciência para ir para a farra com vocês esta noite.


Houve um momento de silêncio do outro lado da linha. Finalmente, Maite disse:


— Dulce, você sabe que pode contar qualquer coisa pra mim, né? Sabe que pode conversar comigo se precisar. Não fique guardando as coisas pra você. Isso não é saudável.


— Maite, estou be...


— Você está bem — ela me interrompeu. — Certo, sei disso. Só esto dizendo que, se tiver um problema, estou aqui pra ajudar.


— Eu sei — murmurei. E me senti culpada por deixá-la aflita com algo tão estúpido. Eu tinha o péssimo hábito de esconder as minhas emoções, e Maite sabia disso muito bem. Ela sempre estava tentando cuidar de mim. Sempre tentando fazer com que eu compartilhasse meus sentimentos para que depois eles não explodissem na minha cara. Aquela intromissão podia ser bem irritante, mas saber que alguém se preocupava comigo... bem, era bacana. Não podia me irritar de verdade com isso. — Eu sei, Maite. Mas estou bem. É só que... hoje eu descobri que Pablo tem namorada e fiquei meio desanimada. Só isso.


— Ah, Dul — murmurou ela. — Que droga! Sinto muito. Talvez, se você vier com a gente esta noite, Anahí e eu conseguimos animar você. Sabe, com duas bolas de sorvete e tudo o mais.


Dei uma risadinha.


— Obrigada, mesmo assim, não. Acho que vou ficar em casa esta noite.


Desliguei o telefone e fui para o andar de baixo, onde encontrei meu pai usando o telefone sem fio na cozinha. Eu o ouvi antes mesmo de vê-lo. Ele estava gritando. Fiquei parada na porta, achando que ele me veria e imediatamente falaria mais baixo. Pensei que algum atendente de telemarketing estivesse levando uma bronca de Mike Saviñón, mas aí meu nome foi citado.


— Pense na Dulce e no que você está fazendo com sua filha! — Os gritos de meu pai, imagino que de raiva, soavam mais como uma súplica. — Isso não faz bem para uma garota de dezessete anos. Ela precisa de você em casa, Gina. Nós precisamos de você aqui.


Escapuli para a sala de estar, surpresa em vê-lo falar assim com mamãe. Para ser sincera, não sabia como deveria me sentir a respeito das coisas que ele dissera. Quer dizer, claro que sentia falta da minha mãe. Se ela estivesse sempre em casa, a vida seria muito legal, mas àquela altura já estávamos acostumados a ficar sem ela.


Minha mãe era palestrante motivacional. Quando eu era pequena, ela escreveu um livro de autoajuda, inspiracional, desses que ensinam você a fortalecer sua autoestima. Não tinha vendido muito bem, mas ela recebia convites para falar em universidades, grupos de apoio e formaturas por todo o país. E, como o livro não era um campeão de vendas, as palestras dela não eram tão caras.


Durante um tempo, minha mãe aceitou apenas palestras na região. Das que podia fazer e voltar para casa dirigindo, assim que terminasse de ensinar as pessoas a se amarem. Mas depois da morte da minha avó, quando eu tinha doze anos, mamãe ficou meio deprimida. E meu pai veio com a ideia de ela tirar umas férias. Queria que ela desse uma escapadela por umas duas semanas.


Quando mamãe voltou, contou sobre os lugares que tinha visto e as pessoas que tinha conhecido. Acho que talvez tenha sido isso que instigou sua mania de viajar. Porque, depois de suas primeiras férias, minha mãe começou a agendar palestras em todo canto. No Colorado e em New Hampshire. Eram verdadeiras turnês de palestras motivacionais.


Só que a turnê em que estava agora tinha sido a mais longa. Ela estava longe de casa havia quase dois meses, e eu nem sabia mais por onde ela andava. Obviamente era por isso que o meu pai estava tão irritado. Porque ela estava ausente havia muito, muito tempo.


— Droga, Gina! Quando você vai deixar de se comportar como uma criança e voltar pra casa? Quando você volta para nós... para ficar? — A forma como meu pai hesitou para pedir aquilo quase me fez chorar. — Gina... — murmurou ele. — Gina, nós amamos você. Dulce e eu sentimos sua falta e queremos que volte.


Eu me espremi contra a parede que me separava de meu pai, mordendo o lábio. Deus, aquilo estava ficando patético. Quero dizer, por que eles simplesmente não pediam o divórcio? Eu era a única que enxergava que as coisas não iam bem? Por que continuavam casados se mamãe estava sempre indo embora?


— Gina... — disse papai, e pareceu que ele ia cair no choro a qualquer instante. Então o ouvi desligar o telefone. A conversa tinha acabado.


Dei a ele alguns minutos antes de entrar na cozinha.


— Oi, papai. Tudo bem?


— Sim — respondeu ele. Deus, ele mentia muito mal. — Ah, está tudo bem, Abelhinha. Acabo de falar com a mamãe e... ela mandou dizer que ama você.


— Onde ela está agora?


— Ah... em Orange County — disse ele. — Visitando a sua tia Leah enquanto dá palestras em uma escola de ensino médio de lá. Bacana, né? Você pode dizer aos seus amigos que a sua mãe está lá em O.C. Você gosta dessa série, não?


— Sim — concordei. — Bem, gostava... mas foi cancelada há alguns anos.


— Ah, bem... parece que estou atrasado, Abelhinha. — Segui o olhar dele para o balcão, onde ele tinha deixado as chaves do carro. Ele notou e desviou o olhar no mesmo momento, antes que eu pudesse dizer alguma coisa. — Quais são seus planos pra hoje à noite? — perguntou meu pai.


— Bom, eu poderia fazer alguma coisa, mas... — Limpei a garganta, sem saber como continuar. Papai e eu não estávamos realmente acostumados a conversar. 


— Eu poderia ficar em casa também. Quer que eu fique e, tipo, assista televisão com você ou alguma coisa assim?


— Ah, não, Abelhinha — disse ele com um sorriso nada convincente. — Vá divirta-se com as suas amigas. Até porque acho que hoje vou dormir bem cedo.


Olhei dentro dos olhos dele, esperando que mudasse de opinião. Meu pai sempre ficava muito triste depois das brigas com mamãe. Eu estava preocupada com ele, mas não sabia muito bem como dizer isso.


E, lá no fundo, eu tinha medo. Era bobagem, na verdade, mas não conseguia apenas esquecer. Meu pai era um alcoólatra em recuperação. Quero dizer, ele tinha parado de beber antes de eu nascer e não tinha bebido sequer uma gota desde então... mas às vezes, quando as brigas com a minha mãe ficavam feias, eu realmente me assustava. Tinha medo de que ele pegasse o carro e fosse direto para a loja de bebidas ou qualquer coisa desse tipo. Eu disse que era bobagem, mas era um medo do qual não conseguia me livrar.


Papai interrompeu nosso contato visual, parecia desconfortável. Deu as costas para mim e foi até a pia lavar o prato no qual tinha comido espaguete. Eu queria ir até lá, tirar o prato da mão dele — sua desculpa patética para evitar uma conversa — e jogá-lo no chão. Queria lhe dizer que toda essa história com a mamãe era estupidez. Queria que ele percebesse que enorme perda de tempo eram todas essas brigas e discussões idiotas, que ele só precisava admitir que as coisas não iam bem.


Mas, é claro, não podia fazer isso. 


Tudo o que consegui dizer foi:


— Pai...


Ele me encarou, balançando a cabeça, com um pano úmido na mão.


— Saia daqui, vá se divertir — disse ele. — Falo sério, quero que vá. Só se é jovem uma vez.


Não tinha como discutir. Aquela era a maneira sutil de meu pai me informar que ele queria ficar sozinho.


— Tudo bem... — respondi. — Se você tem certeza... Vou telefonar pra Maite.


Subi a escada para o meu quarto. Apanhei meu celular em cima da cômoda e chamei o número de Maite. Depois de dois toques, ela atendeu.


— Oi, Maite. Mudei de ideia sobre irmos ao Nest... E... você acha que estaria tudo bem se eu dormisse na sua casa esta noite? Conto tudo mais tarde, mas... é que não quero ficar em casa hoje.


Dobrei novamente as roupas limpas do chão antes de sair, mas isso não me ajudou tanto quanto costumava ajudar.


...Vondy...


Fofuríneas,


Por hoje é só, mas amanhã estarei de volta aqui! Espero que estejam gostando da história!


Comentem y Favoritem!


Besos y Besos, líndezas!!!S2



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Autor(a): Srta.Talia

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 36



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  • Vondy Forever❤ Postado em 29/02/2020 - 01:10:05

    Adorei essa web do começo ao fim, e gostei do final o Pablo incentivando ela ir encontrar com o Christopher, e uma pena ela ter terminado, pode deixar que eu vou dar uma olhada nas suas outras webs, e também, vou aguardar você vim com novas histórias para gente, abraços fica com Deus...

  • Vondy Forever❤ Postado em 27/02/2020 - 18:21:27

    Ai que lindo eu também amei essa declaração super fofa do Christopher, tomara que a Dulce acorde para vida e fique com ele, continua...

    • Nat Postado em 28/02/2020 - 16:00:51

      Continuei! :)

  • Vondy Forever❤ Postado em 27/02/2020 - 15:28:28

    No aguardo pelo quatro capítulos..

  • lariiidevonne Postado em 27/02/2020 - 10:55:16

    Já quero mais cinco haha

    • Nat Postado em 27/02/2020 - 14:49:59

      Postei um já! :)

  • Vondy Forever❤ Postado em 26/02/2020 - 20:33:21

    Humm a Dulce já esta toda apaixonadinha pelo Christopher, só que não admite. Essa vó do Christopher e inconveniente mesmo, por mais que a Dulce e ele esteja tendo um caso, ela jamais poderia tratar a garota dessa forma. Ainda bem que ele a defendeu, continua....

  • vondy_sienpre Postado em 25/02/2020 - 17:08:59

    Mulher cade tu? Estou aqui no aguardo.

    • Nat Postado em 26/02/2020 - 19:25:34

      Ah, desculpa ter sumido! Passei muito mal, mas já postei e cap. é bem grandinho! :)

  • Vondy Forever❤ Postado em 22/02/2020 - 03:19:12

    Continua, finalmente a mãe da Dulce apareceu..

    • Nat Postado em 26/02/2020 - 19:24:03

      Continuei! A mãe dela apareceu e já chegou virando a vida da Dulce de cabeça para baixo! :)

  • vondy_sienpre Postado em 21/02/2020 - 21:29:12

    Aaaaaa, uma pena q só segunda para mais. Divirta-se noq tens q fzr no feriado. Beijos.

  • vondy_sienpre Postado em 20/02/2020 - 19:52:49

    Continuaaaa, to amando a fic... <3

    • Nat Postado em 20/02/2020 - 21:03:13

      Continuei! S2

  • Vondy Forever❤ Postado em 19/02/2020 - 13:07:30

    Continua flor...

    • Nat Postado em 19/02/2020 - 18:43:52

      Continuei, amore! :)


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