Fanfic: << Eu Pego Esse Homem! >> TERMINADA

THALIA ESGUEIRAVA-SE pelo balcão de recepção do Plaza, como se uma morena vestindo um conjunto negro de calça e blazer Jill Sander com enormes óculos escuros pudesse passar despercebida. A cada minuto um conhecido, um empregado do hotel, um estranho lhe oferecia condolências. Um casamento cancelado é como a morte. Toda de preto, Thalia parecia estar de luto.

Fazia dez minutos que o recepcionista estava ocupado com uma senhora trêmula e senil. Thalia olhava o relógio, já sabendo que àquela hora Anahí devia estar acordada. Só precisaria de dez segundos para deixar a carta de Alfonso para Fernando sobre o balcão, mas não podia fazer isso enquanto o recepcionista estivesse nas imediações.

Se dê uma folga, seu infeliz, pensava consigo mesma.

Era uma espera interminável. Já estava pronta para ler o folheto do hotel - no qual se estampava a palavra "elegante" repetida cinco vezes no primeiro parágrafo - quando finalmente o recepcionista se ausentou da recepção. Thalia tirou a carta - escrita numa folha amarela - de dentro da bolsa. Furtivamente, virou-se de costas para o balcão e encostou-se nele. Depois, deixou que a carta escorregasse por trás da mão.

Afastando-se a passos largos (em frente!), ela olhou de soslaio para trás, apenas para se certificar de que a carta estava em segurança (anônima) no balcão, de modo que o recepcionista pudesse encontrá-la quando voltasse.

- Merda! - disse Thalia quando viu que o papel amarelo não estava em cima do balcão, e sim no chão. Além disso, o recepcionista acabava de voltar. Ela não teve outro remédio senão esperar. Outra vez. Sentou-se no sofá de veludo e, nervosamente atenta, cravou os olhos na carta. Talvez alguém a visse e a entregasse ao recepcionista ao perceber que pertencia a algum hóspede. Umas seis pessoas se aproximaram do balcão. Mas ninguém viu a carta nem se abaixou para pegá-la.

- É um amarelo tão escandaloso! - ela exclamou para si mesma.

Quantos míopes havia entre os hóspedes do hotel? Ela sentiu pena de como eles se consumiam em si mesmos, da visão com antolhos e da assombrosa falta de capacidade de observação que todos tinham.

- Thalia - uma voz masculina ecoou atrás dela. - É você?

Thalia se virou com um esgar. Fernando Herrera sorria às suas costas.

- Oi - ela disse.

- Hoje você está parecendo mais misteriosa - ele falou. - Toda de preto. Como se estivesse a ponto de fazer uma extravagância.

- Não seja ridículo! - disse Thalia num tom três oitavas acima do normal.

- O que veio fazer aqui? - perguntou Fernando, parecendo não perceber.

- Algumas pendências na recepção - ela mentiu.

- Meus pais já voltaram para a Flórida - ele disse. - Meus outros convidados também já foram embora. Sou o último Herrera no hotel. E odeio comer sozinho. - Ele apontou para a entrada do Coq et Boule, o restaurante duas estrelas do hotel.

- Recomendo crêpes Suzette - ela disse.

- Por favor, me acompanhe - ele convidou com franqueza, sem nenhuma insinuação.

- Preciso realmente ir pra casa ver minha filha - disse Thalia enquanto se levantava.

- Dê-lhe lembranças minha - Fernando falou, claramente desapontado.

E despediu-se com uma singular reverência. Thalia exalava pressa. Agora não podia perder tempo. Sem se preocupar em olhar a folha amarela, caminhou apressada para a saída.

- Espere! - Fernando gritou do saguão.

Thalia gelou. De braços cruzados, virou-se para trás.

Fernando corria na direção dela, sacudindo a folha amarela.

- Olha só isto! - ele falou, quase esfregando a carta no nariz dela.

A abordagem de Fernando, o cheiro de lápis de cera, a tensão pela insônia, tudo isso combinado fez com que a cabeça de Thalia girasse subitamente. Para não cair, ela se amparou no braço dele.

Fernando segurou as mãos de Thalia, que não deixou de notar a maciez das mãos dele.

- Está tudo bem com você? - ele perguntou.

- É só cansaço.

- Você precisa se alimentar - disse Fernando enquanto entrava com ela no salão de paredes em tons de lilás e limão do Coq et Boule.