Fanfic: << Eu Pego Esse Homem! >> TERMINADA
“O QUE VOCÊ FEZ”?, PERGUNTOU Thalia, apontando atônita para a trouxa que Ninel segurava. Ambas estavam na cozinha da mansão de Overlook Lane.
"É um terrier moscovita miniatura. É macho, tem um ano de idade. Só no abrigo de animais de Short Hares você encontra uma raça tão rara."
"Leva de volta!", Thalia gritou, deixando bem claro a aversão que tinha por cachorros, mesmo sendo pequenos, de pernas finas e orelhas de marciano mutante, como aquela coisa canina enrodilhada feito uma trouxa.
Ninel aninhou o filhote nos braços e pressionou o focinho dele contra o peito.
"Em Moscou, tínhamos um cachorrinho assim. Nikita. Seu lugar favorito era um enorme sofá perto da fornalha da sala, que também servia de cama para os meus cinco irmãos. Na minha casa viviam dezenove pessoas,"
"Enquanto em Short Hares uma mulher de meia-idade vive sozinha numa mansão", Thalia rebateu. "Correção: duas mulheres de meia-idade."
"Trinta e seis anos não é meia-idade", Ninel afirmou, corrigindo a própria idade. "Pois é, o tio Ványa perdeu uma perna na Segunda Guerra; ele sofria do coração e ainda por cima tinha psoríase. Costumava descascar a pele e jogar as cascas na fornalha. Um dia se sentou no sofá sem olhar e esmagou o Nikita. Ele o matou. Ficamos com o sofá e nos livramos do cachorro."
"Não estou nem um pouco interessada em saber se o seu tio perdeu as pernas. E um braço. Você não pode ficar com esse cachorro”, Thalia afirmou.
"Meu tio não perdeu braço nenhum!", protestou Ninel. "Ele foi atropelado por um ônibus na praça Vermelha. O coitado teve que esperar quatro horas por uma ambulância, e o braço dele gangrenou."
"Eu gosto muito dessas histórias coloridas da sua terra natal", Thalia ironizou.
"Eu quero esse cachorro", Ninel declarou. "E a Annie tambérn quer."
"Como é que ela ia querer um cachorro que nunca viu?"
"Mas essa é a natureza do querer! As pessoas querem coisas que elas não conhecem", disse Ninel. "Pega ele. Olha só que carinha linda!" A russa estendeu o filhote para Thalia, mas o fedor fez com que ela desse um passo para trás.
"Esse cachorro fede que nem carniça."
"Vou dar um banho nele", a russa falou enquanto se movia furtivamente na direção do seu quarto para dar banho e amor ao cachorro.
"Mas não vamos chamá-lo de Nikita", Thalia foi logo avisando. “Ele é castrado?"
"Se não for, pode deixar que eu mesma o castro", a voz de Ninel ecoou enquanto ela se afastava.
O fusquinha verde de Dulce apareceu do lado de fora da janela. Instintivamente, Thalia se escondeu atrás do balcão. Ela odiava Dulce desde o dia em que Anahí a levara para casa na época em que as duas estudavam na NYU. Dulce era uma influência negativa para Anahí, com sua mania de caçar homens e atuar em novelas idiotas. Os melhores atores atuam na Broadway, Thalia pensava. E os outros têm que se contentar em atuar num canal a cabo. Além disso, com que direito ela podia acusá-la de barbeiragem no volante? Não tinha esse direito mesmo se isso fosse verdade.
Uma sombra insinuou-se na cozinha. Era alguém que entrava. Do seu esconderijo, Thalia só conseguia enxergar um par de sapatos altos vermelhos que caminhava sobre os ladrilhos de terracota. Depois, teve a visão completa de uma mulher. Thalia a observava de baixo para cima. Sapatos vulgares, jeans esfarrapados, sacolas de compras em mãos com unhas pintadas de preto, camiseta apertada, coleira de cachorro no pescoço, batom preto, delineador e sombra pretos nos olhos, cabelo cheio de musse.
Olhou mais uma vez. Por mais incrível que fosse, era sua própria filha.
"Oi, mãe", Anahí falou. "Perdeu alguma coisa?"
"Já achei", ela disse enquanto se levantava.
"Furei as orelhas. Você tem água de hamamélis? Imagine só, Dulce fez sexo num carro. Ah, eu me fartei com seu cartão.”
"Foi a moça do balcão da Chanel que fez isso?", Thalia quis saber, referindo-se à maquiagem vulgar de Anahí.
"Eu mesma me pintei", ela respondeu toda orgulhosa.
"Você está horrorosa", Thalia rebateu. "Vê se sobe e lava o rosto."
"Como é que você pôde deixar uma criança de sete anos vagando pelo Short Hares Mall? Por que você não ficou me vigiando?", Anahí inquiriu.
Como Thalia não respondesse (ela perdeu a respiração só de ouvir a mera menção daquele dia medonho), Anahí completou:
“Nunca tocamos nesse assunto. Parece que você acha que nada aconteceu ou que não me lembro. Mas lembro. Claramente. Você estava pechinchando na Precious. Fiquei entediada e saí da loja. E depois a mulher me agarrou pelo braço e me levou para o banheiro."
Se fosse possível, certamente o queixo de Thalia se soltaria da boca e rolaria pelo chão. Ela estava chocada e ferida pela acusação de Anahí. E também pela culpa. Quando finalmente recuperou o fôlego, ela conseguiu dizer:
"Eu não estava pechinchando".
"Então, o que é que você estava fazendo?"
"Estava tentando vender um casaco do Valentino", Thalia respondeu. "O vendedor me ofereceu um quarto do que valia, e eu não podia vendê-lo por menos da metade."
"Você estava vendendo suas roupas? Por que faria isso?", perguntou Anahí, incrédula. Pelo que sabia, Thalia só acumulava. Juntava qualquer coisa - um hábito que adquirira quando começara a luta pelo divórcio.
Russell deixou Thalia à míngua desde que saíra de casa com Jemima, a babá. Fechou as contas conjuntas, cancelou os cartões de crédito. Mas continuou pagando a hipoteca e as contas do Kings, o supermercado. Thalia ficou então por sua própria conta, com uma criança de três anos de idade. Como Anahí ainda não freqüentava a pré-escola e Thalia não tinha dinheiro para pagar uma babá, obviamente não podia procurar emprego.
A estratégia de Russell era arruiná-la completamente, para que ela logo concordasse com os termos dele para o acordo judicial. Mas Thalia agüentou firme, vendendo algumas jóias para comprar roupas e livros para Anahí e para pagar as contas do telefone. Passados quatro anos, Russell se cansou de esperar pelo fracasso total de Thalia. Anunciou (por meio do seu advogado) que não pagaria mais as contas do Kings. Russell pretendia matar Thalia (e também sua própria filha) de fome para que ela assinasse os papéis. Ela recebeu essa notícia quando saía de casa a caminho do shopping, onde mandaria furar as orelhas de Anahí e lhe daria os brincos que ela tanto ansiava. Como não havia mais jóias para vender, ela tirou do armário alguns casacos de estilistas famosos.
"Eu precisava de dinheiro", ela se justificou.
"Você estava tão preocupada em faturar umas poucas centenas de dólares que me deixou escapulir", Anahí argumentou.
Thalia já tinha vivido esse dilema. Devia conversar com Anahí sobre a crueldade do pai ou seria melhor deixá-la acreditar que ele era um homem decente, apesar de fraco? Ela morria de vontade de contar para Anahí que muitas vezes fora ameaçada por ele com uma faca. Mas também queria proteger a filha da verdade sobre as águas turvas que havia em sua piscina genética. O que ela mais queria era apagar todo aquele período, mas mantivera-o intacto na memória, aguardando com terror e ansiedade o dia em que teria que compartilhá-lo com Anahí.
Ela se perguntava: será que enfim havia chegado o momento? Suas costelas pareciam estar comprimidas, partidas, como se os seus segredos se espremessem para fora do corpo.
"Não sei por que tudo isso está de volta agora", Thalia explodiu. "Para mim, Poncho é o grande culpado. A tensão entre nós começou no dia em que você o conheceu. E a tensão continua até mesmo agora que ele..."
"Ele o quê?", Anahí perguntou.
"Se foi", Thalia respondeu. "Alfonso se foi, sumiu, escafedeu-se. Que bons ventos o levem; ele é o único de quem você devia ter raiva. Nunca fiz nada para magoá-la. Eu a protegi de milhares de sofrimentos. E aquela tarde, pode acreditar, me partiu o coração. Eu me senti cortada ao meio. Na manhã seguinte acordei diferente. Eu estava lutando pela nossa vida, Annie. Da missa, você não sabe a metade."
Anahí olhava embasbacada para Thalia, e sua boca formava um círculo perfeito. Com a luz da cozinha, seus novos brincos cintilavam. Mesmo no auge da raiva pela filha ingrata, Thalia esperava do fundo do coração que Anahí não tivesse sofrido muito ao furar as orelhas.
``A verdade é que eu estava pensando em vender meu anel", disse Anahí, girando-o no dedo. "Ou devolvê-lo ao Poncho."
"Oh", disse Thalia.
"Mas não posso. Não agora. Com o anel eu me sinto perto dele. E nesta casa também me sinto perto dele. Não consigo explicar a razão, já que nunca passávamos muito tempo aqui.”
A conversa foi interrompida por um tamborilar de pés peludos seguido pelo ruído característico de sapatos plataforma.
"Você o encontrou!", disse Anahí. Com o rosto iluminado, ela saiu apressada da cozinha rumo ao objeto de sua comoção. Thalia aproveitou a ocasião para se acalmar. Depois seguiu a filha pelo saguão de entrada, a tempo de ver o cachorrinho correr desajeitado pelo chão e escorregar com as patas molhadas até colidir contra a parede de caixas de presentes e derrubar uma delas, que na queda emitiu um barulho de coisa quebrada.
"Travessa de cerâmica", Thalia conjeturou.
Ninel pegou a caixa e balançou-a.
``Aposto dez dólares que são castiçais de cristal."
"Fechado", disse Ninel.
``Ah, ha!", Ninel exultou quando os castiçais apareceram.
"De qualquer forma, você não me pagaria se fosse eu que ganhasse", Thalia comentou.
``Alô, amiguinho", Anahí agarrou o cachorrinho ainda trêmulo e com resquícios de espuma. "Ele ainda está molhado, mas acho que deve pesar uns dois quilos."
"Ele estava lá fora, numa armadilha", Ninel mentiu.
"Uma ratoeira?", Thalia falou baixinho.
"Você tinha dito que ele era de tamanho médio", Anahí comentou enquanto o animal lambia seu rosto (o que fez Thalia agradecer por ele estar limpando um pouco daquela maquiagem horrorosa).
"Pequeno, médio, isso não faz diferença", Ninel replicou.
"Este cachorro comeu três frangos assados?", Anahí quis saber.
"Ele é quase do tamanho de uma baqueta de bateria!"
"E faz um cocozão", disse Ninel, mostrando um saquinho plástico como se fosse necessário confirmar a informação.
"Você pretende premiar isso?", Thalia resmungou.
"O cocô é para o veterinário", Ninel objetou. "Para checar os vermes."
Cerrando os olhos (mas visualizando anéis de vermes por tudo quanto é canto), Thalia anunciou:
"Odeio esse cachorro".
"Eu gosto dele", disse Anahí enquanto o segurava no ar e rodava com ele. "Quero que fique comigo para sempre. É tudo que eu sempre quis e esperei... ai, meu Deus, eu preciso sentar."
Ninel esticou as narinas.
“Você está bêbada", ela falou para Anahí. "Bebeu vodca com ostras!". Suas narinas se dilataram outra vez. "Sete doses."
Thalia se questionava sobre a possibilidade de estar perdendo o olfato; não detectara um só átomo de álcool no ar. A bebedeira explicava a explosão de Anahí na cozinha, o andar cambaleante e o sentimentalismo quando ela pegara o frágil terrier.
Agora o cão tinha que ficar.
"Que nome vamos dar a ele?", ela perguntou.
"Nikita", Ninel sugeriu.
"De jeito nenhum."
"Que tal Snuggles?", Ninel replicou.
"Poncho!", Anahí gritou.
“Onde?" disse Thalia, virando-se para olhar o alto da escada.
“Eu quero dizer é que devemos chamar o cachorro de Poncho."
Thalia pôs a mão no coração, que palpitava fortemente contra a blusa. Conjeturava se conseguiria agüentar um outro susto como aquele.
"Que tal Boris?", ela sugeriu.
"Eu gosto de Boris", disse Ninel.
``Alô, Boris", Anahí falou, esfregando o nariz no focinho do cão.
Autor(a): narynha
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 89
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nathmomsenx Postado em 09/06/2013 - 17:19:03
Perfeita a web <3
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kikaherrera Postado em 24/04/2010 - 21:55:47
Final perfeito como todas as outras.
-
rss Postado em 24/04/2010 - 20:29:51
o final foi lindo
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besossssssssssss -
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kikaherrera Postado em 24/04/2010 - 03:17:33
A Annie e a Thalia são loucas.
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