Fanfic: << Eu Pego Esse Homem! >> TERMINADA
MEIA-NOITE. SÓ MAIS DOZE HORAS, Alfonso pensou debaixo do chuveiro, enquanto se ensaboava com o aromático sabonete liquido da Barbie. Se fosse necessário, ele agüentaria mais doze dias, mais doze semanas.
Mas se tudo saísse como previra, estaria livre na metade de um dia.
O perfume do sabonete o levava de volta à coleção de figurinhas de beisebol, às bicicletas e aos skates. Na época em que ele não ligava para as meninas - nem tinha que lidar com suas mães patológicas e possessivas.
O primeiro ato de Alfonso como homem livre? Ele se deleitava ao imaginar a contratação de uma equipe de advogados. A arregimentação de algumas testemunhas e psiquiatras capazes de declarar que Thalia Portilla era demente, mas responsável por suas ações. E se divertia ao imaginar o súbito aparecimento dos homens da SWAT fazendo o cerco a Thalia Portilla no instante em que ela tomava chá no solário.
Alfonso ria e se ensaboava. Limpava minuciosamente as costas e as pernas. Desde a sua captura dois dias antes, pela primeira vez se sentia bem, limpo, purificado.
Mas quando ele ouviu um rangido e o som de passos no quarto de brinquedos, a magia do banho se quebrou.
“Merda!", disse para si mesmo, pulando fora do chuveiro e do banheiro e dirigindo-se para o quarto, onde se chocou contra a porta que se fechava. A colisão se deu bem na hora em que a porta se trancava, e ele quase tropeçou na nova bandeja. A comida estava empilhada numa montanha de proteínas, com uma batata sobressaindo precariamente no topo.
Alfonso investiu contra a porta trancada e lhe deu uma última pancada com a mão. E fez tudo que pôde para se cobrir com as mãos (grandes, mas inadequadas para essa função) na longa jornada de volta à privacidade do banheiro.
"Da próxima vez, te pego", ele prometeu.
Sem resposta, retornou ao chuveiro.
Ouviu um outro rangido e passos vindos do quarto de brinquedos.
"Porra!", ele gritou. Com xampu nos olhos, correu novamente para o quarto com os braços esticados e o pênis balançando entre as coxas. Agarrou a maçaneta e tentou girá-la. Mas seus dedos estavam escorregadios. A porta bateu mais uma vez. O som da chave que travava a fechadura era bem claro.
"Espero que você esteja se divertindo!", ele berrou enquanto tentava esconder outra vez as partes íntimas com as mãos.
"Dê uma olhada no saco", disse uma voz.
"Que saco?", ele perguntou.
"Perto da bandeja", disse a voz. Ela continuava distorcida, mas naquela noite estava mais leve. Mais amistosa.
Alfonso olhou para o chão e lá estava uma sacola de compras com o logotipo The Pampered Pup. Olhou para dentro dela. De cara, viu uma toalha de banho branca e limpa, que enrolou na cintura. Depois, um barbeador, creme de barbear, escova de cabelo, escova de dentes, um jeans limpo, uma camiseta e um par de cuecas. Cada item, exceto a toalha, viera de sua mala.
"Muito obrigado", ele disse sorrindo na direção do espelho.
Nada. Aproximou-se do espelho e pela milionésima vez tentou vislumbrar o que estava atrás, do outro lado. Mas só pôde ver seu próprio reflexo (visivelmente mais largo). Recolheu então o barbeador e o creme de barbear e levou-os para o banheiro.
"Você é bem-vindo", ela disse com suavidade, com terna reflexão.
Pego de surpresa, Alfonso girou rapidamente. A toalha se desprendeu e caiu aos seus pés.
"Sua atmosfera é reveladora", ela disse, rindo das tentativas que ele fazia para se cobrir. "Vamos conversar."
"Sobre minha libertação?"
"Vamos chegar lá."
"Fiz uma descoberta fascinante", Alfonso falou enquanto se sentava na cadeira.
"Então, conte."
``A tecnologia do chega-de-lágrimas realmente funciona. O xampu da Barbie é tão suave nos olhos quanto a água pura."
Ela riu. O som da risada o deixou aquecido e aliviado, como o banho quente que acabara de tomar. Era uma sensação estranha, pois Thalia Portilla era sua inimiga declarada. A risada de Anahí é que costumava aquecê-lo por dentro. Nada mais lógico que mãe e filha tivessem o mesmo timbre.
"Nunca tinha ouvido você rir", ele disse. "Devia fazer isso mais vezes."
Ela ignorou o comentário.
"Você falou com alguém sobre a sua decisão de abandonar Anahí?", ela perguntou. "Um amigo, um psicanalista, seu pai?"
Alfonso cruzou as pernas e discretamente puxou a toalha até os joelhos.
"Não falei com ninguém."
"Por quê?", ela inquiriu em tom gentil. "É difícil tomar uma decisão tão importante sozinho."
"Achei que ninguém entenderia."
"Por que você não conversou com a Anahí?"
Ele balançou a cabeça.
"Se eu contasse o meu problema pra ela, a situação ficaria pior."
"Você terá que se explicar."
"Não posso", ele falou e levantou-se, mostrando desconforto com a conversa. "Tenho que me barbear e me vestir."
"Está bem", ela disse.
Interrupção na estática.
"Espera", ele disse repentinamente, diante da perspectiva de ficar mais tempo sozinho (como ele tinha ansiado por uma conversa!).
O sistema de som foi outra vez ligado.
"Sim?", ela disse.
"Eu posso explicar."
"Mas?"
"É pessoal."
"É claro!", ela exclamou, paciente.
"Você me odeia", ele acrescentou.
"Todo ódio começa com um mal-entendido."
Alfonso almejava compreensão. Sofrera na tentativa de encontrar um confidente. Alguns meses antes do casamento, ele chegara até a pensar em procurar um psicanalista. Mas sabia perfeitamente que qualquer terapeuta o faria compartilhar seu problema com Anahí. Noite após noite sentava-se à mesa com Anahí para jantar o que ela preparava com tanto amor, sentindo a preocupação dela com sua aprovação e seu silêncio a cada garfada. A presença de Anahí o paralisava.
"Se você confiar em mim", disse a voz de Thalia Portilla, "eu te solto".
"Quando?"
``Amanhã de manhã", ela respondeu em tom tentador.
Ela estava mentindo. Mas isso não importava. De um jeito ou de outro, ele fugiria nas próximas doze horas. Ela não fazia a mínima idéia do inferno que a esperava e de como Alfonso gostaria de desabafar, mas ele não podia.
``Agora estou muito cansado", ele se desculpou. "Mas podemos, nos encontrar amanhã na hora do almoço. Explicarei tudo. Inclusive as agressões em Anahí."
"Então, temos um encontro."
"E agora já posso me vestir pra isso", ele apontou para as roupas recém-chegadas. "Pensei que você me tiraria o resto de dignidade não me permitiria vestir roupas limpas."
"Os planos mudaram", ela disse. "Decidi ser boazinha."
"O que não devo ter feito para merecer..."
"Boa noite", ela interrompeu e desligou o som.
Alfonso esperou por um minuto mais, e depois percebeu que ela se fora. Naquela noite ela lhe pareceu quase humana. As roupas limpas e o tom amistoso suavizaram a antipatia que sentia por ela.
Ela me golpeou com toda a frieza e me trancou, ele se lembrou.
Depois de se barbear, Alfonso desdobrou o jeans para vesti-lo. Alguma coisa pesada estava oculta no meio da calça dobrada. Uma fotografia emoldurada.
Ele olhou para a foto de Anahí vestida em roupas esportivas, tirada no dia em que ficaram noivos. Passou o dedo polegar pela moldura e pelo sorriso de Anahí. Ela estava linda, especialmente naquela tarde: fresca como a brisa de outono. Pôs a foto na mesa, terminou de se vestir e pegou a bandeja. Enquanto ingeria o seu terceiro jantar, a foto de Anahí em cima da mesa sorria para ele.
Naquela foto, Anahí não o deixava preocupado nem desconcertado. Era tudo com que ele sempre sonhara. Ela e ele, simplesmente, um ao lado do outro, compartilhando o espaço e a vida. Duplicando a alegria e dividindo a dor. Ela não tinha que preparar o jantar dele, nem chupar o pau dele, nem lavar as meias dele. Para ele se sentir imensamente feliz, transbordando de felicidade, bastava ela estar com ele. Bastava a dançarina traquinas que podia se dobrar em formas surpreendentes e depois desfazê-las.
Depois de comer os brócolis embebidos em molho holandês congelado, Alfonso raspou o excesso de molho com pedaços de pão. Ele sorria para a foto de Anahí, curtindo-a em duas dimensões e lastimando o que eles tinham perdido naquele grande dia.
Autor(a): narynha
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 89
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nathmomsenx Postado em 09/06/2013 - 17:19:03
Perfeita a web <3
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kikaherrera Postado em 24/04/2010 - 21:55:47
Final perfeito como todas as outras.
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rss Postado em 24/04/2010 - 20:29:51
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kikaherrera Postado em 24/04/2010 - 03:17:33
A Annie e a Thalia são loucas.
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